"Sobrevivente": um conto de Stephen King que merece um post só dele

31 julho 2013


Foto/ fonte: baudostephenking.wordpress.com

Já vou logo alertando que esse post está cheio de spoilers. Minto. Cheio, não. Ele está contaminado, abarrotado, empesteado, enfim, descaradamente insuflado de spoilers. Portanto, se você tem intenção de ler o conto “Sobrevivente” que faz parte da coletânea do excelente “Tripulação de Esqueletos”, esqueça essas linhas. Esqueça mesmo! Mas se o amigo ‘leitor-internauta’ não liga para spoilers, pelo contrário, até gosta de ficar inteirado sobre as revelações  “profundas” do enredo; tudo bem... tudo bom, fique à vontade.
O motivo que me fez criar um post sobre um único conto é simples: a história é fantasticamente boa! Boa demais! O mestre do terror e suspense, Stephen King estava inspiradíssimo quando escreveu “Sobrevivente”. Fiquei muito impressionado com o tema. Não com medo, mas impressionado. Sinceramente não sei como explicar. Sei lá, medo é quando você tem aquele calafrio  na espinha no momento em que lê algo perturbador que lhe impede de se levantar da cama durante a madrugada para ir até o banheiro fazer xixi. Agora, existem histórias ou contos que lhe fazem sentir... sentir.... Caraca! Não consigo encontrar a palavra certa. Juro, é verdade! Vamos ver... talvez inquieto, desconfortável... Tipo está exclamação: “Caramba! E se esse fato surreal ou fantástico, mas possível, acontecesse comigo? Será que eu teria coragem de fazer o que o personagem do conto fêz?!” Pronto! É isso, Desculpe aí galera, mas esta foi a melhor definição que encontrei para o conto “Sobrevinte”.
Li a história há mais ou menos três anos e ainda não consegui retirá-la da minha cabeça. Ela é muito forte, impressionável.
Bem, vamos ao âmago do assunto. Me responda uma coisa: “Até que ponto um paciente suporta um trauma?” Vou ser mais claro. “Até que ponto uma pessoa consegue suportar uma sequência de amputações em seu corpo?” Detalhe: sem... – arghhhhhhhhhhhh – anestesia! Isto significa à sangue frio!! Malemá tomando uma morfininha vencida...
Pronto pessoal; esta é a essência do conto de King que está no livro “Tripulação de Esqueletos”, lançado originalmente em 1986.
É o que acontece com um médico cirurgião, único sobrevivente de um naufrágio, que vai parar numa ilha deserta. E quando digo deserta, estou dizendo deserta meeeeesmo!! Completamente estéril, sem nada que possa aliviar a sua fome. ‘Entonce’ para não morrer à míngua e faminto, ele começa a comer pedaços do próprio corpo!
E é aí que entra o gênio de King. A descrição meticulosa das amputações feitas pelo médico em si mesmo chega a ser repulsiva, fazendo com que o leitor se sinta escabrosamente mal... péssimo. O impacto é maior porque o conto é escrito na forma de um diário, com o personagem narrando o seu drama para os leitores.
Lembro agora que um dos livros que me tirou a fome por vários dias foi “Primeiro Sangue” de David Morrell; tudo por culpa daquele trecho em que o personagem Rambo, refugiado numa mata fechada, no auge de sua fome resolve devorar uma coruja crua e com algumas peninhas extras. Morrel faz questão de narrar de maneira sádica os detalhes sobre o preparo da ‘deliciosa’ guloseima e também o que o herói de guerra sentiu ao morder o bicho. Mil vezes Ecaaaaaaa!!!! Agora, vou dizer uma coisa, as passagens do conto “Sobrevivente” colocam no bolso a tal “coruja do Rambo”.
Para escrever o conto, King consultou um médico aposentado – vizinho seu – chamado Ralph Drews que lhe deu todas as informações sobre o assunto. Por isso mesmo, as cenas de amputações do cirurgião perdido numa ilha deserta, são por demais realistas, tendo todo o embasamento médico. King diz que levou mais de uma hora conversando com Ralph Drews. E embora, ele ficasse receoso a princípio, finalmente concordou em assessorá-lo no conto. O médico esclareceu que – se necessário – um indivíduo poderia subsistir durante um bom período, vivendo à custa do próprio corpo. King, então, teria perguntando ao amigo: “E quanto ao choque repetido das amputações? Até que ponto o paciente pode suportar o trauma” O médico aposentado teria respondido com uma outra pergunta: “Até que ponto o paciente deseja sobreviver?”.
E posso garantir que o desejo de sobrevivência do personagem do conto, Dr. Richard Pine, é enorme. Portanto, você não precisa ser nenhum bidú para adivinhar o que o cirurgião vai aprontar. Cara! Ele, simplesmente, vai transformar o seu corpo numa mesa de frios!!!
O festival de ‘auto-mutilações’ começa, por acaso, quando o náufrago, completamente alucinado pela fome, torce o tornozelo ao tentar subir num monte na esperança de sinalizar para um avião que sobrevoava o local. O pé de Pine vai inchando, inchando, até ficar vermelho. Temendo que o membro machucado evolua para uma gangrena, ele decide “se operar” e extirpar o pé. Sente só o drama descrito em seu diário: “O inchaço e a vermelhidão estão piores. Vou esperar até amanhã. Se a operação se tornar necessária, acho que conseguirei levá-la a cabo. Tenho fósforo para esterelizar a faca amolada, além de agulha e linha do estojo de costura...” Quer mais? Segura aí: “Decidi amputar o meu pé. Há quatro dias que não como. Se esperar mais tempo, corro o risco de desmaiar de choque e de fome no meio da operação, e sangrar até morrer. E mesmo estando um trapo, eu quero viver...” Ehehehehe.... Adivinhe o que ele fez depois de amputar o referido membro? Tá bem, eu conto: Pegou o pé inchado, inflamado, doente e.extirpado e glub, glub, glub...deglutiu.
Olha, não vou descrever os detalhes narrados pelo médico durante e após a cirurgia porque não sei o que você, caro internauta, que lê essse post está fazendo agorao. Sei lá, talvez você esteja comendo um delicioso X-Burguer” ou então beliscando uma tabuinha de frios acompanhada de uma loira gelada... então é melhor esquecer. Apesar dos spoilers, aconselho ler o conto. É melhor... prá você e principalmente para mim que não serei obrigado a reler aqueles trechos r-e-p-u-l-s-iv-o-s, mas escritos com tanta maestria pelo mestre King.
Bem, resumindo, o Dr. Pine foi ‘se comendo’, ‘se comendo’ até que... Chega vai! Vou parar por aqui porque a grande sacada da história está reservada para o final. E... tudo bem que eu possa ser sacana de rechear esse post de spoilers, mas revelar o fim da história, jamais. Isto seria descaramento total.
Taí! “Sobrevivente” foi, um conto que mexeu muito comigo e por isso mereceu um post só dele.

3 comentários

  1. É um dos melhores contos da coletânea, sim. Mas o melhor mesmo é A Balada do Projétil Flexível.

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  2. É um ótimo conto sim, mas acho um exagero dizer que é uma história pra quem tem estômago forte,não achei nada demais,não fiquei tão impressionado como a maioria das pessoas que leram, disse ter ficado.

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  3. Alguém sabe me explicar qual a sacada do final? Eu não entendi

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