Stephen King e Sidney Sheldon: competentes nas páginas e azarados no cinema

29 julho 2012
Stephen King
Sabe, às vezes tento entender como um livro lançado por um escritor ‘meia boca’ e com uma história ‘mais meia boca ainda’ consegue se transformar num grande sucesso cinematográfico. Enquanto isso, vejo verdadeiras obras primas de Stephen King e Sidney Sheldon, que venderam milhares de cópias e fizeram o deleite de uma multidão de leitores, dando origem a bagaceiras homéricas no cinema e na TV.
No caso de King e Sheldon, tento imaginar o que foi que deu errado nessa engrenagem das adaptações cinematográficas de bestsellers.
Com certeza, os principais culpados foram os diretores e roteiristas que não souberam transpor para as telonas toda a magia existente nas páginas dos livros. Mas também, não podemos poupar King e Sheldon que tem as suas parcelas de culpa nesse desastre. E parcelas consideráveis, já que concordaram com a escolha dos açougueiros que iriam dirigir e roteirizar os filmes baseados em suas obras. E assim, deu no que deu.
Como é triste ver um livro como “O Concorrente”, em que King escreveu sob o pseudônimo de Richard Bachman, ser transformado numa verdadeira pantomina com o brutamonte Arnold Schwarzenegger. Enquanto a obra literária é uma autentica jóia rara, o filme com o ex-governador da Califórnia é um chute no.... onde você quiser. A cena daquele “caçador” gordo com uma roupa de árvore de Natal - metido a cantor de ópera - perdendo as calças, enquanto tentava estuprar a personagem da Maria Conchita Alonso é para enterrar qualquer filme. Quando vi a bunda branca e perebenta do sujeito não sabia se ria ou se chorava.
Aqueles que enaltecem a produção dirigida por Paul Michael Glaser, com certeza desconhecem o livro de Bachman, cuja história é totalmente diferente, a começar pelos caçadores que não tem nada da comicidade dos personagens do filme. No livro, eles realmente metem meto e são como verdadeiros pitbulls em busca de suas presas. Esqueça o cantor de ópera de bunda branca e com roupa de árvore de Natal; o fogueteiro voador (um homem que voa com um lança-chamas pendurado nas costas); o japonês balofo, vestido de jogador de hóquei e um professor de fisiculturismo com um jeitinho meio “assim e meio assado”. Nas páginas de “O Concorrente”, a conversa é outra. Lá, os caçadores impõem respeito. Prova disso é o chefe do grupo, Evan McCone, descendente direto de J. Edgard Hoover, dos quais, durante os seis anos de programa, nenhum competidor conseguiu escapar com vida.
A árvore de Natal ambulante do risível "O Sobrevivente"
“O Concorrente” é apenas um pequeno exemplo de obras do autor que foram “destripadas” por diretores e roteiristas açougueiros. Poderia encher um post com estórias e contos geniais que sairam da cabeça de King, mas que ao serem transpostos para a tela se transformaram em lixo.
Para os fãs de King que gostam de números, vale lembrar que cerca de 50 livros ou contos do escritor já foram levados para o cinema. Os roteiros e direções risíveis dos filmes só serviram para aumentar a fama de “pé frio” do grande mestre do terror, que segundo a maioria dos críticos não tem sorte em suas adaptações para a sétima arte.
Apesar dessa fama de pé frio, o autor ainda conseguiu se sair melhor do que Sidney Sheldon que também teve as suas excelentes histórias trucidadas por roteiristas e diretores incompetentes. King teve muita “bagaceira” no cinema, mas no caso de Sheldon, foi pior, já que nenhum filme ou minissérie adaptados de seus livros tiveram a atenção que mereciam. Resultado: um genocídio total com a sua obra.
Nem mesmo “O Outro Lado da Meia Noite”, que na época de seu lançamento nos cinemas (1977) ganhou status de super-produção, escapou. Diretor ultrapassado e elenco de terceira contribuíram para afundar um bom roteiro adaptado pelo próprio Sidney Sheldon. Assisti esse filme na minha adolescência e depois o revi recentemente. Olha, juro que doeu presenciar personagens tão carismáticos como Noelle Page, Larry Douglas e Constantin Demiris sendo vividos por atores tão sem brilho. A exceção fica para Susan Sarandon que fez uma Catherine Alexander mais do que competente. Mas o resto... bem, melhor ficar quieto.
Sidney Sheldon
Como estava falando escrevendo anteriormente, Stephen King ainda teve algumas histórias adaptadas com sucesso para o cinema, algumas até mesmo com maestria, como é o caso de “À Espera de Um Milagre” que recebeu quatro indicações para o Oscar de 2000, uma delas de roteiro adaptado; “Um Sonho de Liberdade” com Tim Robbins e Morgan Freeman, que ‘arrancou’ elogios da crítica especializada e é, claro, o ótimo “O Iluminado”, de Stanley Kubrick. Mas, por outro lado, o que ‘aprontaram’ com as obras de Sheldon foi sacanagem. Cara, não escapou nenhum livro do fracasso no cinema ou na TV!! Como castigo, esses diretores, produtores e roteiristas teriam de ser banidos do mundo da sétima arte. Se bem, que alguns deles acabaram se afundando por si mesmos, já que nunca mais se ouviu falar em seus nomes... ainda bem.
Nos meu devaneios, fico imaginando ver obras como “O Reverso da Medalha”, “Se Houver Amanhã”, “Nada Dura para Sempre” e é claro “O Outro Lado da Meia Noite” sendo produzidas com requintes semelhantes aqueles dispensados as super-produções hollywoodianas atuais.
Quanto a King que tal dar uma ‘viajada’ e imaginar uma adaptação descente dos romances “A Coisa” e “O Sobrevivente”? Pois é, esperança é a última que morre, ainda mais agora nessa onda de reboots que o cinemão de Hollywood mergulhou de cabeça.
Alguns fracassos de Stephen King no cinema: “Cujo, O Cão Assassino” (1983), “Colheita Maldita” (1984), “Chamas da Vingança” (1984), “Comboio do Terror” (1985), “Sonâmbulos” (1992), “Trocas Macabras”(1993) e “Mangler – O Grito de Terror” (1994).
Alguns fracassos de Sidney Sheldon no cinema e TV: “Um Estranho no Espelho” (1992), “A Herdeira (1979), “Se Houver Amanhã” (1976), “Lembranças da Meia Noite” (1991) e “Nada Dura para Sempre” (1995).

9 comentários

  1. Acho o máximo seu blog pois ele me proporciona uma percepção maior das obras que leio. Por favor, não deixe de escrever!!! Ah, gostaria que vc falasse sobre a trilogia de Jogos Vorazes!!

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    1. Obrigado, de coração, Priscila. Fico muito feliz que tenha gostado dos textos. Qto a "Jogos Vorazes" ainda não dei início à leitura. Assim, que conclua a trilogia, com certeza, darei as minhas impressões nesse espaço.
      E obrigado por linkar o endereço do livros e Opinião em seu blog,"Diário de Bordo de uma Jornalista"(http://primelprestes.blogspot.com.br), que por sinal, é muito legal. Vc é bem autêntica em suas opiniões. Esta postura do blogueiro é fundamental, pois os seus post ganham mais credibilidade. Parabéns
      Abcs!

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    2. coitado naõ sabe o que fala o filme a espera de um milagre ate hoje fas sucesso melhor que ver estes filmes por ai que terminam de forma chata afinal gosto e gosto.

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  2. Não sou especialista das obras de King, mas me orgulho de dizer que sou conhecedor do mundo do Sheldon, meu autor favorito, o eterno mestre. E Infelizmente vou ter que concordar com você. É triste mesmo ver tão bons enredos destruídos e esquecidos.

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    1. Pois é Anderson,
      Quem sabe um dia teremos uma adaptação cinematográfica a altura das obras de Sheldon.. Afinal, esperança é a última que morre..
      Abcs!

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  3. E "Christine - O Carro Assassino", Zé?
    Não entrou na lista de fracassos??

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    1. Marcus, para um grupo considerável de cinéfilos, Christine foi uma grande porcaria, nem tanto pela direção do mestre John Carpenter, mas muito mais pelo roteiro caótico, nem sei de quem. Mas, por outro lado, um segmento considerável de cinfélios e críticos consideram Christine um belo filme de terror. Alguns vão mais além e afirmam que o filme marcou a sua geração. Acho que não chega a tanto, mas no fundo, essa produção cinematográfica divide opiniões. Até mesmo o crítico da Folha Inácio Araújo considera Christine um filme "da hora" (veja aqui esse trocadilho que o crítico faz entre filme e atropelamentos na capital- http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2008201105.htm. Trata-se de um filme bem polêmico nesse sentido. Por isso, não o incluí na lista. Mas, eu particularmente, não gostei.
      Gde abraço!!

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  4. Excelente reportagem!
    Recentemente li que estão querendo transformar a série A Torre Negra de King numa trilogia do cinema e o ator cogitado para fazer Roland serie o Russel Crowe, já estou tendo dores de barriga só de imaginar...
    Não conhecia o blog, e adorei.
    Parabéns.

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    1. Cristiane,
      Fico feliz que tenha gostado do blog,
      Qto a Torre Negra, realmente,estão com um projeto de transformá-la numa trilogia. O papel de Roland Deschain, inicialmente seria de Javier Bardem, mas com a sua desistencia, o nome de Russel Crowe ganhou força. Mas até agora o projeto está bem crú... Alguns, mais pessimistas acreditam que a sua produção - se acontecer - irá demorar muito tempo, ainda...
      Abcs!!

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