O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia

22 abril 2012
O livro de Patrick Rothfuss é descritivo ao extremo dos extremos! Uma cena que poderia ser resumida em uma página, o autor faz questão de utilizar duas páginas e meia ou mais! Quer alguns exemplos? Ok, vamos lá. O momento em que Kvothe e Denna encontram o terrível e temível Dracus. Até o momento em que a fera resolve invadir um povoado e promover um verdadeiro estrago, obrigando o nosso protagonista a enfrentá-la, demora... demora... demora... e demora. Nesse meio tempo ficamos conhecendo um pouco mais o esquisito animal, além de torcermos pelo tão aguardado beijo caliente entre Kvothe e Denna ou então aquele famoso “Eu te Amo” - por parte de Denna, é claro - já que o nosso herói é um apaixonado inveterado e enrustido pela moça. Há ainda os famosos interlúdios, quando Kvothe dá um tempo na narrativa de suas aventuras (isso mesmo, o romance é narrado em 1ª pessoa, ou seja, pelo próprio herói) para voltar ao presente, na aconchegante Pousada Marco do Percurso. Esses interlúdios na Pousada se resumem, quase sempre, a três pessoas: Kvothe, seu ‘aluno’ Bast e o Cronista que está escrevendo a história narrada pelo Arcano. Ou os três estão discutindo, ou trocando confidências, ou Kvothe sai da pousada para tomar um ar e meditar, ou.... ou, ou e ou novamente.
Mas pêra aí! Pode Parar!! Este blogueiro “João Ninguém” está tendo a petulância de falar mal de “ O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia”, romance que agradou a gregos e troianos, incluindo os mais ferrenhos críticos?!
Primeiro: não sou petulante. Segundo: não estou falando mal; estou sendo sincero. E terceiro, vou repetir: “O Nome do Vento” é um romance descritivo ao extremo dos extremos e ponto final!! Mas quer saber de uma coisa?? Eu “A-D-O-R-E-I”!! E com todas as letras maiúsculas. Adorei quando Rothfuss criou aquele clima de “Romeu e Julieta” entre Kvothe e Denna, sentados no alto de um monolito, tendo como pano de fundo um Dracus enorme e completamente drogado ou maconhado – qualquer coisa serve - cuspindo fogo azul pelas ventas. Cheguei, até mesmo, a dar algumas gargalhadas só em imaginar um mostrengo daqueles, enorme, ‘mais pra lá do que prá cá’, inteiramente alegrão rolando por cima de fogueiras e bancando o dragão ao ‘vomitar’ fogo azul. E olha que essa enrolação engoliu ‘umas’ três páginas com letras miudinhas; mas não há como negar: “cara! Foi uma enrolação gostosa pra dedéu!.
A descrição dos encontros entre Kvothe e a pequena Auri – uma jovem que vive no subterrâneo da Universidade é repleta de uma magia encantadora que, muitas vezes, chega a emocionar o leitor. “Eu lhe trouxe uma pluma com o vento da primavera” ou “o que existe no sal?” “No sal você vai encontrar o sonho dos peixes e a cantiga dos marinheiros”. Aliás, não há como viajar e se emocionar ao ler as passagens dos encontros entre Kvothe e Auri que ocorrem sempre no telhado da Universidade onde o nosso futuro Arcano vai estudar.
Estes são apenas alguns exemplos dos momentos ‘ultra-descritivos’ de “O Nome do Vento”. Momentos que apesar de longos e demorados, de fato, valem a leitura. Mas aqui vai um conselho para aqueles leitores ávidos por aventuras da primeira a última página: esqueça a obra de Rothfuss. É claro que a aventura e a ação fazem parte do livro, mas não de maneira desenfreada, como uma montanha russa. Acredito que o autor abriu mão desse recurso para centrar poder de fogo na construção dos personagens e também em seus relacionamentos. Basta prestar atenção na crescente amizade que surge no início da história entre o velho Arcano Ben e o Kvothe criança, com os seus 10 ou 11 anos. O autor tinha a opção de resumir esse relacionamento em poucas páginas em detrimento da nossa velha e viciante “ação”; mas não; Rothfuss preferiu explorar essa união até o bagaço da fruta. É Ben quem dá as primeiras lições para o protagonista do romance. É com ele que Kvothe aprende a controlar o seu temperamento impulsivo, e o mais importante: é com o velho Ben que ele começa a desenvolver os seus conhecimentos em magia, ou melhor, onde lê-se magia, entenda como “simpatia”. É Ben quem abre as portas da Universidade para Kvothe ao dar-lhe de presente um surrado, mas importante livro que sempre trazia consigo. O velho Arcano aparece apenas no início do romance, mas apesar disso, a sua presença é de vital importância para o crescimento intelectual e a formação da personalidade de Kvothe; acho até, que bem mais importante do que os próprios pais do menino.
Rothfuss deixa evidente a relevância dessa linha narrativa que prioriza a descrição minuciosa dos personagens e das situações vividas por eles quando evita dar detalhes de como foi o assassinato dos pais de Kvothe por parte dos Chandrianos. Ele prefere descrever como ficou o ambiente após o ataque. E posso garantir que o clima se tornou bem mais tenso e denso do que se ele tivesse optado por narrar detalhes do ataque dos Chandrianos a trupe de artistas itinerantes da qual os pais de Kvothe faziam parte. “Quando retornei ao acampamento, retalhos dispersos de fumaça se elevavam no ar do crepúsculo. Fazia silêncio, como se todos da trupe estivessem à escuta de algo. Como se todos prendessem a respiração... Vi o corpo de Teren caído junto a sua carroça, espada quebrada na mão. O verde e cinza que ele normalmente usava estava molhado e vermelho de sangue... Uma partezinha racional de mim se deu conta de que eu estava em choque profundo...”
E olha que isso é apenas o começo, já que Rothfuss é detalhista ao extremo em sua descrição do acampamento destruído. Ao ler esse trecho é como se você estivesse ali, junto com o pequeno Kvothe, presenciando aquele ambiente pós-apocalíptico e sentindo a mesma dor do futuro Arcano.
Autor Patrick Rothfuss
Considero, também, “O Nome do Vento” um romance desmistificador, onde Rothfuss procura dar explicações lógicas para todas as histórias fantásticas que foram construídas em torno de Kvothe e que o transformaram num ser lendário. Nem mesmo a poderosa magia aprendida por ele na Universidade escapa ilesa. Aliás, o autor evita utilizar o termo magia, preferindo a palavra “simpatia”. E o realismo que descreve como são feitas as conexões para a criação de uma simpatia é tão grande que passamos a acreditar que essa prática é possível.
Quanto a “Kvothe, O Sem Sangue”, mais uma denominação lendária recebida através dos tempos, à exemplo de outras como “O Matador do Rei”, “Seis Cordas”, “Umbroso”, etc, também é desmistificada pelo autor. Na realidade, “O Sem Sangue” não tem nada de sobrenatural e muito menos envolve magia. Kvothe tem a mesma quantidade litros de sangue no corpo como eu ou você. Ele ganhou esse apelido graças a um engodo promovido por ele próprio, provando toda a sua astúcia nos tempos da Universidade.
Em “O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia”, Kvothe é convencido, por um cronista famoso, a contar as suas aventuras. O historiógrafo, que pára na Pousada Marco do Percurso para descansar, quer escrever a história sobre o Arcano no mesmo dia para depois seguir a sua jornada, já que tem um outro compromisso agendado; mas Kvothe só concorda em abrir a sua alma desde que a história seja escrita durante três dias. O cronista que deseja mais do que nunca publicar as aventuras de uma verdadeira lenda de seu tempo, concorda com a exigência e assim tem início ao primeiro dia da crônica que corresponde ao primeiro livro escrito por Rothfuss.
Poderia ficar aqui escrevendo páginas e mais páginas sobre “O Nome do Vento – A Crônica do Matador do Rei: Primeiro Dia”, citando as belíssimas histórias sobre ‘Grande Taborlin’ que sabia o nome de vários elementos da terra, exercendo assim, o comando sobre eles; a queda de braço entre Kvothe e Ambrose, inimigos mortais na Universidade; os contos mágicos narrados por Skarpi – um contador de histórias que cruza o caminho de Kvothe, ainda criança, após a morte de seus pais - e por aí afora.
Sem dúvida, um livro muito descritivo, mas fantástico! Vale à pena.




9 comentários

  1. Sempre fui fã de carteirinha de fantasias, mas quando eu li O nome do vento, foi como se eu entrasse na historia, adorei todas as paginas, quero que chegue logo as férias e vou ler o temor do sábio.
    Outra serie que está fazendo muito sucesso é As Cronicas de Gelo e Fogo não sei se você conhece? mas é muito bom mesmo :)

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    1. As cronicas de gelo e fogo levam você a um mundo novo, totalmente extremista e inovador o autor. Sem limites aqui é um jogo de vida real, não uma fantasia boba, onde o autor tem que se prender a o protagonista.

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  2. José Antônio,

    Não é porque os livros são muuuuito descritivos que são ruins, né? POr exemplo, achei o Senhor dos Anéis muito descritivo, mas como você, ADOREI! rs
    Assim que a série estiver toda lançada no Brasil, lerei com certeza.

    =)

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  3. Tdo bem Otávio? E aí, Joelma como vai? Sempre que posso visito o Clic Neurótico (cada vez melhor, parabéns). Bem, vamos lá... Otávio, realmente, apesar de ser bem descritivo, "O Nome do Vento" tem o poder de sugar o leitor para o interior de suas páginas. Rothfuss - apesar de ser um debutante no ramo literário - provou que é bom. Ele criou personagens cativantes demais. Kvothe, Denna, Bast, Lorren,entre outros; além de um vilão fantástico, Ambrose. Além de cruel, ele é dissimulado ao extremo. Com todos esses ingredientes, a viagem é certa. Qto "As Crônicas de Gelo e Fogo" ainda não li. Nem sei se vou ler esse ano; minha lista de leituras está enorrrrrrrrrrme e o tempo encurtando cada vez mais. Agora estou encarando Nicholas Sparks, depois pretendo "enfrentar" as quase mil páginas de "O Temor do Sábio". Mas a maioria das críticas sobre o livro "As Crônicas..." são bem favoráveis.
    Joelma,sem dúvida, a saga de Tolkien tbém é bem descritiva, mas tem bem mais ação do que "O Nome do Vento". Enfim, cada um, é bom à sua maneira (rsss)
    Abcs!!

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  4. Oi José Antônio. Comecei a ler essa maravilhosa trilogia há umas duas semanas e já estou aflita com o final do segundo livro, visto que as notícias que li indicam o lançamento do terceiro apenas em 2014. Gostei de ler a sua discrição da história e gostei mais ainda do blog. Me identifiquei perdidamente, sou estudante de jornalismo e completamente apaixonada por livros, de todos os tipos. Me viram a cabeça e fazem com que eu me perca por horas em bibliotecas ou livrarias, tenho um 'fraco' por histórias que me levam a mundos antigos e desconhecidos, como as Crônicas de Gelo e Fogo, o Senhos dos Anéis e outros tantos que seguem essa linha. Sempre quis ter um blog, mas não queria ser igual a toda garotinha e escrever sobre o amor e os sentimentos, pensei em outros assuntos, mas nada nunca me despertou o bastante. Lendo seu blog tive um ímpeto de criar o meu próprio, pra desandar a escrever sobre os milhões de livros que me fascinam (impedindo assim que as pessoas ao meu redor se cansem do meu falatório incessante sobre a nova história que encontrei). Já estou falando incessantemente agora! Então vou finalizar perguntando se você teria algum conselho pra me dar e se gostaria de compartilhar suas experiências e leituras! Desculpe pela enorme quantidade de palavras... sou feita delas e me perco facilmente! (:

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    1. Viva! Viva! Vem mais um blog literário por aí! Lim, vc não imagina como eu fico feliz quando alguém diz que pretende iniciar um blog com essa proposta. Só quem vive no mundo mágico dos livros - como nós - sabe da importância desses espaços. Sem eles, não teríamos condições de conhecer centenas de obras novas, além de trocarmos experiencias pessoais antes de adquirirmos um livro.
      No que estiver ao meu alcance, conte comigo.
      Abcs!

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  5. Na boa...só eu que na gostei de "Senhor dos Anéis"?muito paisagismos...Enquanto as,enquanto,A Canção de gelo e fogo(tradução mais fiel) é "F-O-D-A-S-T-I-C-A",sem lenga-lenga de paisagens,não se deve confiar/odiar/amar/ajoelhar a niguem no reino de Westeros...A sobre a sua critica sobre o "As Cronicas do matador de rei",me cativou para a leitura...Minha próxima aquisição junto com o Trono Sol..

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  6. meu quando sera que vai lançar ou ja tem o livro 3 ??

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    1. "As Portas de Pedra", título provisório do terceiro volume de "A Crônica do Matador do Rei" só deverá ser lançada em 2017. Portanto, vai demorar 'uma eternidade' para os fãs de Kvothe verem o desfecho da saga.
      Abcs!

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