O Outro Lado de Mim - Memórias

06 abril 2012
Uma boa e outra má notícia sobre o livro “O Outro lado de Mim – Memórias”. A boa: o livro foi escrito pelo próprio Sidney Sheldon e não por qualquer escritor ou escritora “pé rapado” escolhido por meio de concursos. Agora, a má notícia: o livro só tem 376 páginas, ou seja, muito pouco para o seu delicioso conteúdo.
Há mais de sete anos, quando soube que seria lançada uma biografia sobre a vida de Sidney Sheldon, juro que fiquei temeroso porque tinha quase a certeza de que seria preparada por outro autor. Pensava que Sheldon contribuiria apenas com informações sobre a sua vida profissional e particular, mas a missão de redigir a obra caberia a um outro nome do ‘mundo literário’. E como naquela época já estava na moda esse lance de familiares de autores famosos já falecidos ou então muito idosos, selecionarem jovens escritores para prosseguir o legado das “feras”, pensei que a mesma tática seria utilizada pela “Família Sheldon”. Mas nunca fiquei tão feliz por estar enganado. Quando soube que o próprio Sidney Sheldon, apesar da idade avançada, seria o autor de “O Outro Lado de Mim – Memórias” passei a contar nos dedos os dias que faltavam para o seu lançamento. Para ser sincero, preferia o velho mestre, com quase um século de vida, criando o enredo de uma história do que, por exemplo, Tilly Bagshawe  tentando imitar o seu estilo.
Mas vamos ao que interessa: o livro “O Outro Lado de Mim – Memórias”. A obra que Sheldon escreveu pouco tempo antes de morrer é um retrato fiel dos bastidores de Hollywood e também do show bizz. Mas você deve estar se perguntando: “Showbiz??! Onde Sidney Sheldon entra nesse contexto?” Ok, você que tem essa dúvida, saiba que Sheldon antes de se tornar um escritor famoso, trabalhou na “Meca do Cinema” ou seja, em Hollywood, onde foi desde leitor de roteiro até produtor e roteirista de séries que se tornaram antológicas na TV.
Uma das coisas que gostei em “O Outro Lado de Mim” foi a coragem do autor de não esconder absolutamente nada de sua vida, revelando tudo: “tim-tim por tim-tim”. Sheldon foi “hombre” o bastante para não refutar ou mascarar passagens frustrantes de sua vida profissional, incluindo os seus fracassos iniciais em Hollywood, antes de ser escritor. Por exemplo, você sabia que ele foi duramente criticado pelo roteiro e direção de alguns filmes envolvendo grandes  atores o que acabou provocando a sua demissão de estúdio muito famoso na época? Pois é, mas nem por isso, ele desistiu; pelo contrário, continuou escrevendo argumentos e roteiros e enviando-os para diversos estúdios, até que  um deles aceitou produzir “Jeannie é um Gênio” que abriria as portas da fama para Sheldon. Antes, ele também havia escrito o roteiro de “The Patty Duke Show”, outro estrondoso sucesso de sua carreira como roteirista de séries televisivas. O êxito de público e crítica dessas duas séries de TV provaram que o fracasso inicial de Sheldon havia sido apenas um mero acidente.
Com relação a “Jeannie é um Gênio”, Sheldon capricha nos detalhes de bastidores, revelando como era o comportamento de Barbara Eden, que interpretava Jeannie e também de Larry Hagman, o conhecido Major Nelson. Ele conta como as diferenças de personalidade dos dois protagonistas acabaram contribuindo para o fim da cultuada série que surgiu em 1965 e durou cinco anos no ar.
Sheldon ‘passeia’, também, em comentários maravilhosos sobre o seu relacionamento com lendas sagradas de Hollywood como Judy Garland, Kirk Douglas, Groucho Marx entre outros.
Conta passagens tristes e alegres envolvendo diretores, produtores e donos de estúdios que puxaram o seu tapete nos bastidores e daqueles que fizeram de tudo para que ele se tornasse conhecido em Hollywood.
O livro revela ainda certos segredinhos guardados a sete chaves pelos estúdios, como aquele envolvendo Clark Gable, o ator principal de “E O Vento Levou”. Um poderosíssimo magnata da indústria cinematográfica teria dito batido as portas na cara do ator – antes da fama, é claro – dizendo que jamais lhe daria um papel por causa das suas orelhas grandes e pontudas. “Você se parece um macaco! Jamais vou contratá-lo!”, teria dito o executivo. Pouco tempo depois, ele atingiria o estrelato em “E O Vento Levou”, arrancando suspiros apaixonados das mulheres de todo o mundo como o aventureiro Rhett Buttler. Outro drama semelhante teria sido enfrentado por outra lenda do cinema americano: Gary Grant. Ele teria sido rejeitado por vários estúdios por causa do seu pescoço que, segundo os executivos e produtores seria grosso demais!! Há ainda uma revelação surpreendente sobre o filme “Guerra nas Estrelas” envolvendo o cultuado Mestre Yoda que acabou se tornando um ícone da cultura pop dos anos 70. Juro que o meu queixo caiu quando sobre do segredinho sobre esse personagem.
Estas são apenas algumas passagens ‘apetitosas’ de “O Outro Lado de Mim” contadas com maestria por Sheldon. Costumo dizer para os meus amigos que essa parte do livro é apenas um aperitivo – e muito bem preparado - para o prato principal que abrange a fase de escritor de Sheldon. Os capítulos desse contexto, apesar de poucos e curtos, também tem o poder de prender os leitores – principalmente os fãs do escritor – como mosquitos numa teia de aranha. Ele conta como surgiu a oportunidade de publicar o seu primeiro livro, “A Outra Face”, e como descobriu a sua “veia” de escritor de romances. Escreve ainda sobre as reações que os seus livros causaram em muitos leitores, influenciando diretamente na vida dessas pessoas.
Sheldon é uma represa aberta, não escondendo nenhum segredo de sua vida, nem mesmo os mais ocultos, como a revelação de que era portador de psicose maníaco depressiva, o que o levou a tentar o suicídio. Narra também em clima de aventura os seus momentos de piloto de avião durante a Segunda Guerra Mundial; a infância pobre e sofrida e os desentendimentos constantes com os pais.
Enfim, um livro aberto, sem segredos e ultra-revelador, o que convenhamos, está ficando cada vez mais difícil nas biografias e auto-biografias atuais, onde os autores procuram mascarar o lado podre ou negativo de suas vidas e priorizar o lado ‘azul’.
Podem ter certeza, em “O Outro Lado de Mim – Memórias”, isso não acontece. Parabéns a Sheldon pela sua coragem.

3 comentários

  1. Sideney Sheldon com certeza sempre será um dois melhores de todos os tempos.

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    1. Concordo com vc Wemerson. Um escritor fantástico e insubstituível. Qto ao "O Outro Lado de Mim", se ainda não teve oportunidade de ler; leia, pois vale à pena. Leitura obrigatória para todos osb fãs de Sheldon

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  2. Eu gostei de O Outro Lado da Meia Noite, única produção de qualidade baseada num livro seu, mas, como você disse, alguns atores deixaram a desejar.

    http://porquelivronuncaenguica.blogspot.com.br/

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