Vinte anos depois

17 setembro 2011
Coleção completa (11 livros) da Série D'Artagnan
Quando descobri que “Vinte Anos Depois” e não “O Homem da Máscara de Ferro” seria a continuação do romance “Os Três Mosqueteiros”, dei início a minha caçada pela obra. Naquela época, os sebos virtuais ainda eram um sonho distante e se quisesse comprar um livro antigo tinha de ir pessoalmente à loja. Isso demandava viagens – algumas cansativas – já que os melhores sebos estavam localizados em cidades distantes de onde eu morava, mas ao final o esforço era recompensado. Exemplo disse foi a minha aquisição dos três volumes de “20 Anos Depois”. Lembro que ao chegar no sebo, o proprietário não queria me vender, de maneira alguma, os três volumes que faziam parte de uma coleção de 11 livros chamada Série D’Artagnan. Mas depois de ouvir os meus “lamentos” acabou se compadecendo da “pobre alma” e me vendeu os três livros.
Posso dizer de “boca cheia” e de “peito aberto” que valeu toda a viagem (mais de 100 quilômetros), toda choradeira, todo cansaço, todas e mais todos e todas (rs). Não me decepcionei com a leitura em nenhum momento; pelo contrário me surpreendi.
“Vinte Anos Depois” marca o início do fim de uma grande amizade que emocionou milhares de leitores. O distanciamento dos quatros mosqueteiros tem uma única culpada: a política. Na história, o ardiloso e astuto cardeal Mazarino é quem dá as cartas na França, já que o rei Luiz XIV, por não ter atingido a maioridade, não pode assumir o trono. Quanto a mãe do garoto, a rainha Ana da Áustria, é totalmente submissa às decisões do cardeal que por sua vez não fica devendo nada ao seu antecessor Richelieu. O “caldeirão político” ferve na França porque contrário à realeza está o partido popular, conhecido por La Fronde, formado por importantes integrantes da nobreza. 
Como D'Artagnan é tenente dos mosqueteiros, acaba sendo obrigado a lutar pelo partido de Mazarino. O manipulador cardeal, manda então, que D’Artagnan vá procurar  os seus três velhos amigos – Athos, Porthos e Aramis - para que eles também passem a defender as causas da realeza nesta disputa política com o La Fronde. A decepção de D’Artagnan é grande porque somente Porthos concorda em segui-lo e ainda, assim, com a promessa de que o amigo conseguirá que Mazarino lhe conceda o título de Barão, além de muitas terras. Quanto a Athos e Aramis são partidários ativos do La Fronde e rejeitam o pedido de D’Artagan.
Cardeal Mazarino

Dessa maneira, a briga das duas facções políticas na França acaba causando uma divisão no grupo de amigos, outrora tão unidos, que fez da frase: “Um por todos e todos por um”, o verdadeiro lema da amizade universal. De um lado Athos e Aramis e de outro, D’Artagnan e Porthos. Os dois primeiros defendendo as causas populares, enquanto D ‘Artagnan e o gigante Porthos tomam partido do lado do rei; melhor dizendo, do lado do cardeal Mazarino.
Athos é quem consegue unir os quatro amigos novamente. Aqui vale um adendo; sempre achei esse personagem o mais inteligente e ponderado dos quatro mosqueteiros, além de ser um líder natural, do tipo que é seguido pela confiança e não pelo cabresto. Prova dessa liderança é que Athos consegue “fazer a cabeça” de D’Artagnan para que se reúnam e tentem salvar a vida do Rei Carlos I, da Inglaterra, inimigo declarado de Mazarino. Na realidade, o maléfico cardeal tem um plano ousado que consiste em matar o Rei Carlos e colocar em seu lugar o general Cromwell. Dessa forma, Mazarino também passaria a dar as cartas na política inglesa.
É o mosqueteiro Athos quem convence D’Artagnan de que Mazarino só respira maldade e que o lema dos quatro amigos, no passado, sempre foi o defender a justiça, liberdade e honestidade. Os argumentos de Athos são tão fortes que D’Artagnan acaba desobedecendo o cardeal e com isso perde o seu posto de tenente dos mosqueteiros. Quanto a Porthos, convencê-lo foi mais fácil do que à uma criança, já que o “gigante”- como era conhecido – sempre teve a tendência de seguir as opiniões de D’Artagnan.
Unidos, novamente, lá vão os quatro mosqueteiros para a Inglaterra na esperança de salvar o Rei Carlos I das garras de Cromwell. Mas ao chegar naquele país, eles acabam se deparando com uma terrível surpresa: Mordaunt, o filho de Milady está vivo e é um dos aliados de Cromwell. Pior do que isso: é ele quem mata o Rei Carlos I, com as próprias mãos, durante a rebelião. Ao tomarem conhecimento de que Mordaunt está vivo e que ainda foi o responsável pelo assassinato do rei da Inglaterra, Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnam iniciam uma verdadeira cruzada em busca do filho de Milady. Essa caçada ao traiçoeiro vilão é um dos pontos altos do livro, quando Dumas opta por deixar de lado as tramóias políticas para centrar-se unicamente na aventura. Devorei página por página; o filho de Milady, à exemplo de sua mãe, deu muito trabalho aos mosqueteiros.
Rainha Ana D'Austria e seu filho Luis XIV
“Vinte Anos Depois” também explora outra sub-tramas, como a de Raoul, filho de Athos; o duque de Beaufort e a do próprio Mordaunt, filho de Milady.
Mas acredito que o grande mérito de “Vinte Anos Depois” é explorar em detalhes a personalidade dos quatro personagens principais. Em “Os Três Mosqueteiros”, Dumas optou por centrar-se na aventura e tramas políticas; já na segunda parte da trilogia, um dos focos principais – além das tramas políticas - foi apresentar aos leitores Athos, Porthos, Aramis e D’Artagnan. Dessa forma, nós ganhamos a oportunidade e o presente de entrarmos na intimidade desses personagens tão famosos, passando a conhecer os seus defeitos, virtudes e fraquezas.
Como já escrevi acima, Dumas deixa evidente que Athos é o líder nato dos mosqueteiros, enquanto Porthos é o mais apolitizado e inculto. Aramis, por sua vez, é o mais ambicioso, tanto é, que na série “O Visconde de Bragelonne”- que encerra a trilogia dos mosqueteiros – a sua ambição chega a um limite por demais perigoso, sendo a responsável pela ruptura total de sua amizade com Athos, considerado o seu melhor amigo. Quanto a D’Artagnan, posso dizer que depois de Athos é o mais honesto dos mosqueteiros. Dumas, transveste ainda o herói que veio da Gasconha de uma fidelidade à toda prova. Se D’Artagnan fosse um soldado dos tempos atuais, ele seria o melhor dos militares no aspecto moral, do tipo servil e incorruptível. Mas, como o leitor poderá conferir em “O Visconde de Bragelonne” será essa servilidade que provocará a ruína do mosqueteiro.
“Vinte Anos Depois” pode ser considerado o início do eclipse na amizade de D’Artagnan e seus três amigos de muitas aventuras. Neste livro, Athos conseguiu evitar uma separação brusca e foi além, resgatando a velha amizade entre o grupo. Pena que em “O Visconde de Bragelonne”, a ruptura entre os quatro amigos foi total. E novamente, tudo por culpa dos ardis políticos que acabaram por aflorar os sentimentos mais negativos de nossos heróis. A ambição desmetida de Aramis; o ódio de Athos; a ganância de Porthos e a servilidade de D’Artagnan que o leva a seguir reis e rainhas mesmo sabendo das atitudes nada dignas da realeza..
E agora, que venha  “O Visconde de Bragelonne”!
Inté!

6 comentários

  1. Jan, não se se vai me responder mas se tu me responder vai me dar uma grande ajuda.quantos livros tem de os tres mosqueteiros, todos os volumes de toda a trilogia e os nomes e o q q o conde de monte cristo tem haver com os tres mosqueteiros?pfpfpfpfpfpfpfpfpfpfpfpfpfpf...me responda,pra mim começar a garimpar

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    1. Olá valéria!
      A ordem de leitura é a seguinte:
      01 - Os Três Mosqueteiros
      02 - Vinte Anos Depois
      03 - Visconde de Bragelonne.
      Você encontrará mais detalhes sobre toda a trilogia neste post:

      http://www.livroseopiniao.com.br/2011/09/os-tres-mosqueteiros-uma-trilogia-com.html

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  2. Sei que ja postou faz tempo, mas só estou começando minha jornada com os mosqueteiros.
    Gostaria de saber qual editora comprar o livro Vinte Anos Depois e se há diferenças entre as editoras "Lello" e "Lello e Irmão".
    Agradeço se puder me clarear o caminho.

    Ps: Me chamo Athos, nome que me foi dado resultante da admiração de meu pai a história.

    Abraços

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    1. Athos, me perdoe a demora em lhe responder. Estava, de fato, impossibilitado, mas vamos tentar esclarecer as suas dúvidas. "Lello" e "Lello Irmão" são a mesma editora. Ocorre que alguns a chamam somente de Lello, enquanto outros optam pela pronuncia do nome completo. Trata-se de uma editora portuguesa localizada na cidade do Porto. Quanto ao livro "Vinte Anos Depois", acredito que a Saraiva seja uma das poucas editoras que publicou a história de Dumas de maneira completa. O inconveniente é que o livro (melhor dizendo, os livros - são três) fazem parte de uma coleção publicada em 1953 - como já expliquei no blog - e por isso está cada vez mais difícil encontrar os famosos livros de capa vermelha; quase impossível. Mas tenho uma boa notícia pra você. A editora Zahar já confirmou para o começo de 2016 a publicação de "Vinte Anos Depois" e o que é melhor: na sua tradução original. Por isso, é só esperar um pouco para ter essa obra prima em suas mãos.
      Grande abraço!

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    2. Agradeço multíssimo a resposta! Estava realmente muito confuso. Achei a versão da Saraiva completa (3 vols) por R$120. E apesar de achar os dois primeiros vols na Estante Online por menos de R$15 o terceiro nao encontro em local algum, me fazendo pensar em adquirir o do ML mesmo estando um pouco acima do preço.

      Agora fica-me a dúvida se devo esperar a republicação da Zahar, acabei o primeiro livro ontem e estou anaioso para continuar o romance.

      Abraço!

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