Alfred Hitchcock apresenta: 13 histórias de arrepiar

29 setembro 2011
Antes de qualquer mal entendido deixe-me explicar que “13 Histórias de Arrepiar” não é um livro escrito por Alfred Hitchcock, mas um livro de contos de outros escritores. Outro detalhe: os autores das 13 histórias que compõem a obra são “ultra-desconhecidos”, alguns deles, beirando as raias do anonimato. Ah! E antes que me esqueça, a capa do livro é horrrível: um monte de gangsters em torno de uma mesa, com Hitchcock ao meio segurando um violoncelo ou violino, enquanto um dos bandidos atira num rato que corre sobre a mesa repleta de restos de comida. Etchaa capinha de mau gosto. Péssimos traços!
Você deve estar se perguntando o que me levou a comprar uma coletânea de contos escritos por autores desconhecidos e com uma capa que lembra aqueles livrinhos de rodoviária. É simples: todos os contos do livro foram selecionados pelo mestre do suspense Alfred Hitchcock..
Após algumas pesquisas por esse mundão virtual descobri que Hitchcock não era perfeccionista apenas com os seus filmes, mas também na escolha de histórias de outros autores que compunham coletâneas em livros que levavam a sua marca, ou seja, o seu nome. Para ele, não importava se o conto tinha sido escrito por alguém conhecido ou então por um simples autor anônimo. O importante é que o enredo teria que ser recheado com muito suspense, intrigas e reviravoltas que deixassem o leitor com aquele “Ohhhhh” de surpresa ao final da leitura.
“13 Histórias de Arrepiar” cumpre bem esse papel. Posso dizer que Hitchcock mostrou toda sua competência na escolha dos contos. A maioria deles são excelentes, verdadeiras obras primas. Vejam que grifei a palavra “maioria” , porque como já sabemos, num livro que reúne vários contos, nem todos agradam, sempre há algumas decepções, e em “13 Histórias de Arrepiar” é diferente. O importante  é que a maioria das narrativas convence o leitor. Para ser sincero, não gostei de apenas dois contos: o que abriu a coletânea, chamado “Ouça-me, por favor!” e o outro que fechou a seleção escolhida por Hitchcock, com o título de “Pode confiar em mim”. Acredito que se de um total de 13 contos, conseguirmos obter um saldo positivo de 11 histórias boas, o resultado pode ser considerado espetacular.
Ao contrário de outra obra de coletâneas de Hitchcock chamada “13 Histórias que até a mim assustaram”; o enredo do livro que comento nesse post não tem nenhum elemento de terror que envolva o sobrenatural. A sua narrativa é baseada em enredos policiais e de suspense. Alguns contos tem o poder de deixar o leitor, literalmente, com a boca aberta no final da história por causa da surpresa reservada. Quando você pensa que o conto está caminhando para um desfecho comum, eis que no último parágrafo, acontece uma mudança ou revelação que altera todo o contexto da narrativa. Só mesmo lendo para entender.
Confira agora o resumo das 13 histórias selecionadas pelo mestre do suspense.
01 - “Ouça-me, por favor!”
É o conto de um crime com implicações parapsicológicas. Uma mulher chamada Freda,  certo dia, acorda ouvindo uma voz misteriosa em sua cabeça que passa a conversar com ela diariamente. Essa voz a induz cometer um assassinato. A voz quer que Freda mate, de qualquer maneira, um gangster que supostamente cometeu uma série de maldades e atrocidades. O malfeitor é pintado como um homem horrível na aparência e também na alma. A surpresa ocorre quando Freda – já preparada para mata-lo – encontra-se cara a cara com o tal gangster. Não gostei da história. Muito cansativa. Só salvou – um pouquinho – o final... e olha lá.
02 – “Uma questão de ética”
Esse conto escrito por James Holding, de fato, consegue prender o leitor pela ambigüidade do personagem principal: um assassino de aluguel que é contratado para eliminar uma pessoa. O sujeito é ao mesmo tempo cruel e bom, frio e emotivo. Na história, o criminoso Manuel Andradas acaba sendo salvo da morte por uma inocente criança. O problema é que ele havia sido contratado, exatamente, para eliminá-la durante uma viagem ao Rio de Janeiro e Salvador. O plano engendrado pelo matador profissional para sair dessa sinuca é típico dos filmes de Hitchcock, cheio de reviravoltas e surpresas. Gostei muito.... No final, você caba ficando fã do sujeito por causa do seu plano ousado para evitar matar a criança.
03 - “A armadilha”
Uma mulher bonita e fútil casada com um milionário que só pensa em seus negócios. O pouco caso do marido faz com que Helen Sinclair acabe tendo um caso com outro homem. Sabe quem? O empregado de confiança de seu marido. E de um relacionamento passageiro acaba surgindo uma grande paixão entre os dois amantes. É então que Helen resolve armar um plano para matar o seu marido, ficar com toda a sua fortuna e é claro, fugir com o seu amante. Assim, ela prepara uma armadilha para o seu marido no elevador de uma casa abandonada. Depois foge para se encontrar com o seu amado. Não preciso escrever que o tiro de Helen acaba saindo pela culatra. Ótimo enredo.
04 - “Um hábito perigoso”
Este conto sobre um espião que embarca num navio com a missão de eliminar uma pessoa que descobriu importantes segredos de sua agencia de espionagem é, ao mesmo tempo, tenso e hilariante. O autor, Robert Edmond Alter conseguiu imprimir nesse thriller de espionagem uma veia cômica fantástica. É engraçado ver o grande e imbatível agente – especialista na arte de matar - passando de caçador à caça. A cena em que alguém tenta lhe envenenar durante um jantar com a tripulação do navio é impagável. Mas quem estaria querendo matar o todo poderoso agente Krueger? Alguém enviado pela sua própria agência, por achar que ele se tornou perigoso demais? A pessoa se encontra no navio e que deve ser eliminada por ele? Algum inimigo do passado que quer vingança? Estas perguntas só serão respondidas no final do conto. E garanto que vale à pena esperar. As últimas linhas da história deixam o leitor com aquela expressão boba no rosto. Culpa da surpresa final.
05 – “O quarto vazio”
As últimas quinze linhas deste conto, referentes ao diálogo dos dois personagens principais, já vale a história inteira. O leitor ficará surpreso com a revelação macabra feita por uma governanta que cuida de uma mulher morta, pensando que ela esteja viva. Isso mesmo!
Donald Honig escreveu uma história com um final estonteante. Sim! Este é o termo certo: ESTONTEANTE, e com todas as letras maiúsculas. Aliás, acredito que foi o final desse conto que acabou seduzindo Hitichock à incluí-lo em sua coletânea.
Um marido que há anos vem sendo pressionado pela mulher ciumenta, num de seus ataques de fúria, acaba matando a pobre coitada estrangulada. Depois do crime, com a cabeça fria resolve dar sumiço no corpo, mas uma vizinha bisbilhoteira começa a desconfiar da situação. Então, o assassino resolve simular que a sua mulher continua viva! Ele contratada uma governanta para ficar em sua casa e diz que a esposa está muito doente no quarto que fica no andar superior da casa e só pode receber as visitas do médico e de mais ninguém. A porta do quarto fica sempre fechada e trancada à chaves. As refeições preparadas pela governanta são levadas pelo marido assassino até o quarto vazio, onde supostamente a sua mulher estaria; e ao chegar lá, ele se senta na cama e se “entope”com a comida da falecida. Depois é só descer com os pratos vazios e dizer que a mulher comeu tudo. Seria o plano perfeito, se a governanta não se apaixonasse pelo “marido assassino” e decidisse eliminar, por conta própria, a sua esposa... que aliás já está morta!! O final é de derrubar o queixo, literalmente!
06 – Os cães de guarda de Molicotl
Outro triller com pitadas cômicas. Dois ladrões decidem roubar algumas joalherias localizadas numa pequena cidade mineira do México. As lojas são guardadas por cães barulhentos que não param de latir. Os espertos ladrões” acreditam que os cães só sabem fazer barulho e não mordem ninguém. – “Eles são uns covardes, se alguém falar a palavra gato, enfiam o rabo no meio das pernas e saem correndo de medo!!”, diz um dos larápios. Além do mais, a dupla chega a conclusão que por latirem o tempo todo, os cães acabariam trabalhando à seu favor, já que os latidos e os uivos proporcionariam uma excelente cobertura para arrombar um cofre. Então, quando “cai a ficha” da dupla de ladrões, já é tarde demais para voltar atrás. Eles estão completamente condenados...
Mas qual foi a surpresa que os cachorros da pequena cidade mineira de Molicotl reservaram para os dois ladrões? Garanto que foi algo terrível, mas ao mesmo tempo muito engraçado.
07 – “O que  aconteceu lá em cima”
Fantástico! Divinamente fantástico! Na minha opinião, o melhor conto do livro. O homicídio simulado por um homem envolvido num processo de divórcio que a esposa lhe move é uma verdadeira obra prima.
A autora do conto, Helen Nielsen cria uma teia de aranha que vai prendendo o leitor a cada página e que aos poucos se vê engendrado numa situação que não é nada do que aparenta ser. Um conto que daria um ótimo filme dirigido pelo mestre do suspense, Alfred Hitchcock.
Vou parar por aqui para não estragar a leitura daqueles que pretendem comprar o livro. Só digo mais uma coisa: a leitura de “O Que Aconteceu lá em Cima” já vale o livro todo.
08 – “Sou melhor do que você
Conto de apenas sete páginas escrito nos mesmos moldes de “O Quarto Vazio”. Coisa do tipo: “as últimas linhas mudam todo o desenvolvimento da trama”. Quando você acaba de ler a história, sente-se como se tivesse levado um soco no estômago e ficado momentaneamente sem ar, pois tudo que tinha certeza que iria acontecer na trama, acaba acontecendo de modo contrário.
O conto de Henry Slesar fala de uma jovem atriz que vai até as últimas conseqüências para “roubar” de uma colega o papel principal em uma peça da Broadway.
09 – “Um assassinato simples e fácil”
Um conto apenas mediano, mas mesmo assim, não irá decepcionar o leitor que é fã das histórias de suspense. O pobretão Norman Landers se apaixona pela cunhada bonita e escultural e resolve matar o próprio irmão. Landers é tão obcecado pela mulher alheia que acredita estar prestando um grande favor ao irmão, já que ele encontra-se moribundo e completamente entrevado por causa de uma doença rara. Assim, o esperto Landers decide abreviar a vida do doente e ainda, por cima, ficar com a sua mulher. O que ele não imaginava era que o “brinde” dessa união seria o seu sobrinho; um garotinho que de bobo nada tem e que acaba descobrindo o segredo do tio. Não preciso nem dizer que a vida de Landers se transformará num verdadeiro inferno, já que será obrigado a cumprir as mais loucas e absurdas exigências do menino para que ele não o entregue para a polícia.
10 - “Bêbado de morrer”
Típica história da moral: “olho por olho, dente por dente”. Um calhorda tem o hábito de sair por aí, completamente embriagado, com o seu carro atropelando e matando pessoas. O problema é que esse homem sempre consegue escapar da prisão porque alega que na hora da tragédia não estava bêbado, mas apenas com a taxa de glicose elevada. – “Não estou bêbado, é a minha diabetes. Estou precisando de insulina. Claro que tomei dois drinques, mas estou completamente sóbrio!”, diz o cara de pau. Vale lembrar que no período em que a história foi escrita, ainda não tínhamos o famoso bafômetro.
E assim, o assassino das estradas vai matando e escapando da Justiça, até o dia em que atropela o filho de uma mulher casada com um professor, considerado “expert” em química. Muito tempo depois do acidente, ela arquitetará um plano macabro, orientada pelo marido, para vingar a morte da criança, sem deixar nenhuma pista. O típico crime perfeito. Moral da história: “o feitiço virou contra o feiticeiro”.
11 – “A última autópsia”
Imagine essa situação: Você é uma pessoa tão importante para a sua comunidade e aparenta ser tão íntegro, que após assassinar uma pessoa, mesmo confessando o seu crime, ninguém, absolutamente ninguém acredita em sua história. Esta é a primícia do conto “A última autópsia”.
Um médico legista muito querido pelos moradores de uma pequena cidade acaba matando uma garota, após ter um rápido relacionamento. Para esconder o crime, ele decide cortar a cabeça e as mãos da vítima e depois enterra-las num pântano juntamente com o resto do corpo. Para a sua infelicidade, a polícia consegue localizar o cadáver juntamente com as partes desmembradas e pede para que o legista faça uma autópsia na esperança de encontrar o criminoso.
Após entregar vários relatórios falsos da autópsia, a consciência do Dr. Doc Crowell começa doer e então ele resolve confessar o crime, em detalhes, para o xerife da cidade. Depois de ouvir toda a história, surpreendentemente, o policial não acredita e pensa que Crowell está querendo aplicar uma “pegadinha”. Mas como para todo crime sempre deve haver um criminoso, o xerife acaba tomando uma decisão surpreendente. Leiam e descubram.
12 – “Uma família unida pelo ideal”
Dois irmãos: um inteligente e o outro, burro como uma porta. Um deles é venerado pelo pai, enquanto o outro, é constantemente menosprezado. O mais inteligente assume os negócios do pai que é um rico banqueiro, enquanto o outro decide sair de casa e seguir o seu próprio caminho. Certo dia, o filho que sempre era deixado de lado decide fazer uma visitinha rápida para o seu pai e prova que de burro não tinha nada.
Um conto que seguramente consegue manter o grau de interesse de leitura. Outra história da coletânea de Alfred Hitchcock que vale a pena.
13 – “Pode confiar em mim”
Com já disse no início desse post, “Pode confiar em mim” juntamente com “Ouça-me por favor” foram os dois contos que me decepcionaram nessa fantástica coletânea.
A narrativa que fecha o livro “13 Histórias de Arrepiar” é sobre um gangster que confia cegamente em seu braço direito, um sujeito acostumado a fazer alguns serviços sujos. O “amigo da onça” mostrará as garras no momento em que recebe a missão de solucionar o complicado caso do seqüestro de um importante funcionário de seu chefe. História comprida e bem fraquinha.
Juro que após ler essa coletânea publicada pela editora Record fiquei fã da série de livros que levam a marca “Alfred Hitchcock”. Prova disso é que já comprei, através da estante virtual, o exemplar “13 histórias que até a mim assustaram”. Estou aguardando a chegada do livro com muita expectativa para começar a lê-lo.

9 comentários

  1. Alfred Hitchcock organizou várias coletâneas de contos de mistério e suspense com acurácia e qualidade espantosas. Destaco aqui Histórias Assustadoras, em que O Escravo e Prisão na Estrada do Sul valem pelo livro inteiro.

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    1. Me interessei por esse conto. Vou vasculhar os sebos logo, logo...
      Abcs!

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  2. José Antônio, eu possuo essa e mais oito coletâneas da franquia Alfred Hitchcock em PDF. Se estiver interessado, posso enviá-las através de um serviço de e-mail.

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    1. Briduuu Cacilda!!
      Mas qudo vc postou o seu primeiro comentário sobre o assunto, tive a sorte de encontrar o livro num sebo da Livraria Virtual. Além do mais, ao longo dos tempos fui adquirindo grde parte das coletâneas selecionadas por Hitchcock. Pretendo comentá-las todas.
      Obrigado pela sua sugestão e tbém pela sua disponibilidade.
      Agdeço de coração!!

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    2. Olá Cacilda! Puxa, se for possível, pode enviar esses pdfs para o meu email? rafapaz@gmail.com
      GRATO!!

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  3. Tenho uma pasta com as coletâneas do Alfred Hitchcock que gostaria de deixar à disposição dos futuros leitores.

    https://www.box.com/s/ecg18r51l824qgtm4izz

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