Cinco sequências literárias desastrosas que jamais deveriam ter sido lançadas

23 fevereiro 2015
O Mauro, um colega dos meus tempos de universidade, era um manguaceiro de mão de cheia. O cara chutava todas pra dentro. Com ele não tinha esse lance de bebida destilada ou fermentada. Ele encarava – de peito aberto e de bem com a vida – todas elas, sejam as branquinhas, as amarelinhas ou as vermelhinhas. Mas acontece que nos momentos em que ele entra em ‘alfa’ por causa do álcool, acabava ‘soltando’ umas frases pra lá de filosóficas. Sabe daquelas frases que você não dá nenhuma importância ao ouvi-las pela primeira vez, mas depois, com mais tranqüilidade, descobre que o que entrou pelos seus ouvidos foi uma verdadeira pérola? Pois é, as famosas frases do Maurão eram desse tipo.
E uma delas acabou me inspirando a escrever esse post sobre livros tão bons, considerados verdadeiras obras primas, mas que tiveram a infelicidade de terem continuações desastrosas.
Ah! Vocês devem estar aguardando a frase do ‘Mauro Manguaça’. Ok, lá vai: “Não existe nada além do perfeito”. Cara, é verdade! As vezes exageramos nos pleonasmos e nem percebemos. Por exemplo, quantas vezes você já deve ter ouvido um amigo ou uma amiga dizer: “- Aquela pessoa é mais do que perfeita”. Mêo, o perfeito é o ponto máximo da criação! Não existe nada além disso. Capiche?
Acontece que muitos escritores famosos por não terem entendido a antológica frase do Maurão, optaram por escrever malfadadas sequências de obras com início, meio e fim perfeitos. Nestas horas, O desejo de ter milhares de dólares nos bolsos ‘falou’ mais alto e eles ou elas acabaram sendo seduzidos à, literalmente, matar uma obra prima. Guardada as devidas proporções, imagine um lunático invadindo o Museu do Louvre, em Paris, driblando todo o esquema de segurança e pichando a Mona Lisa original de Leonardo da Vinci. Taí galera; foi mais ou menos isso que alguns autores ou familiares desses autores metidos à besta fizeram. Bem, entenda-se familiares como sendo filhos, mulheres ou parentes de 1º grau, considerados herdeiros do espólio do escritor falecido, que decidiram chamar um ‘açougueiro’ para descarnar e esquartejar a obra original.
Saibam neste post quais foram as tais obras. Vamos à elas!
01 – Scarlett (Alexandra Ripley)
Sequência de “E O Vento Levou”
Pode ser que eu esteja errado, mas Margareth Mitchell ao terminar “E O Vento Levou” já alimentava a intenção de escrever uma sequência para a sua obra máxima. Digo Escrevo isso porque o final envolvendo a heroína Scarlett O’Hara ficou em aberto. O mesmo aconteceu com outros personagens importantes como Mammy e Ashley. Mas então, um táxi conduzido por um motorista distraído acabou colocando um ponto final no sonho de uma possível continuação. Como assim, um táxi?! É verdade galera. Mitchel morreu atropelada em 1949 por um táxi ao tentar atravessar uma rua próxima a sua residência.
Mas, mesmo com os finais em aberto de alguns personagens importantes, “E O Vento Levou” é o tipo do livro que só merecia uma sequência se ela fosse escrita pela própria autora. Depois do lunático que invadiu o Louvre, vamos com uma outra comparação: pense num autor inexperiente escrevendo a continuação de uma história de Stephen King? Que tal se essa continuação estivesse relacionada com a sua criação máxima “A Coisa”? Pois é, essa comparação caberia perfeitamente no contexto de “E O Vento Levou” na época de seu lançamento em 1936.
Galera, o enredo desenvolvido por Mitchel é uma verdadeira obra de arte e nem mesmo o final do tipo: “o leitor é quem decide” atrapalhou a obra. Pare e pense quantos livros ótimos você leu nos últimos anos com final de ‘quero mais’? Nem por isso, eles tiveram uma sequência.
Mas o filhos de Mtchell não pensaram dessa maneira e acabaram ‘entregando’ de bandeja “E O Vento Levou” para Alexandra Ripley que lançaria o fiasco “Scarlett” em 1991.
Apesar do fracasso da obra, alguns produtores gananciosos pensando em espremer mais alguns dólares da sequência decidiram lançar em 1994 “E O Vento Levou 2”, minissérie de quatro capítulos baseada na obra de Ripley. Resultado: a minissérie televisa repetiu o fracasso de “Scarlett” chegando perto de ganhar o status nada desejado de “bizarra”.
Hô, hô, hô... penseou que terminou a via crúcis de “E O Vento Levou”? No, no,no... logo após os dois retumbantes fracassos, tanto nas páginas quanto na TV, viria ainda outra bomba homérica, um verdadeiro subproduto do livro original: “O Clã de Rhett Butler”. No livro um escritor o qual me recuso a citar o seu nome decide escrever (com o aval dos herdeiros de Mitchell) uma paródia – isso mesmo, uma paródia!!! -  onde Scarlett ganha uma meia irmã. A história é contada a partir do diário dessa meia irmã em termos mais do que apimentados.
Cara, olha... melhor parar por aqui.
02 – A Volta do Poderoso Chefão (Mark Winegardner)
Sequência de “O Poderoso Chefão”
Não vou me alongar muito nos comentários desse livro, mesmo porque, ele já foi tema de dois posts, aqui, no blog (esse e mais esse). Por isso, serei breve. Basta dizer que Winegardner trucidou os personagens criados por Mário Puzo.
Que dó do Michael Corleone dessa obra; perdeu todo o seu carisma, transformando-se num assassino simplório, burro e inocente. Fredo? Melhor esquecer. Virou um homossexual pervertido que transpira prazer ao matar as suas vítimas. Tom Hagen e Francesca Corleone caíram no limbo, já que poderiam ser melhores explorados nessa sequência.
Outro pé no saco é o numero excessivo de personagens. Imagine um romance com quatro famílias mafiosas e cada uma delas com 13 integrantes que insistem em ficar aparecendo toda hora na trama!! Não dá né?! Com certeza, os leitores terão de consultar a cada minuto o índice com os nomes dos personagens!
Mas Mário Puzo continuou se contorcendo e espumando de raiva na cova ao saber que os seus familiares tinham autorizado uma nova continuação de “O Poderosos Chefão”. Desta vez, um terceiro livro, escrito novamente por Winegardner, chamado “A Vingança do Poderoso Chefão”, o qual, de verdade, eu prefeito esquecer.
03 – A Senhora do Jogo (Tilly Bagshawe)
Sequência de “O Reverso da Medalha”
Caraca, estou pensando com os meus botões como seria uma continuação de “O Reverso da Medalha” escrita pelo próprio Sidney Sheldon. Acredito que não seria a ‘catástrofe pornô’ que foi “A Senhora do Jogo”. Mas, à exemplo dos dois livros comentados acima, os milhares de dólares falaram mais alto do que o bom senso e dessa maneira, os donos do espólio de Sheldon, ou seja, seus familiares, aceitaram que uma escritora inexperiente e desconhecida seqüenciasse um livro que encantou gerações de leitores. E como toda ação tem uma reação: a ganância somada a irresponsabilidade de alguns herdeiros resultou numa bomba homérica que foi a história de Tilly Bagshawe.
A personagem principal Lexi Templeton, filha de Alexandra (neta da inesquecível Kate Blackwell) faz coisas que até Deus duvida quando o assunto é sexo. Olha pessoal... não pensem que sou um puritano que acha o sexo algo pecaminoso e imundo ou então um pastor fanático que condena ao inferno todos aqueles que decidem se aproveitar das delícias de Eros na cama, no mato ou no carro; mas é que Bagshawe transformou Lexi numa rameira de quinta categoria.
Recordando as páginas que li de “A Senhora do Jogo”, juro que sinto saudades da maestria de Sheldon em descrever as cenas de sexo envolvendo os seus personagens.
Além das sessões pornográficas, não gostei da construção da personagem. Enquanto em o “Reverso da Medalha”, Sheldon compôs uma Kate Blackwell calcada na ambiguidade, fazendo com que os leitores a amassem em determinados momentos e em outros a odiassem; em “A Senhora do Jogo”, Bagshawe criou uma Lexi egoísta, vingativa, interesseira e “piranhaça” ao extremo. Por isso, fica difícil simpatizar-se com uma personagem com essas características.
E o pior de tudo é que o chamado ‘final sem fim’ de “A Senhora do Jogo” indica que teremos uma nova provável sequência por aí. Ai... ai... ai!!
04 – O Espírito do Mal (William Peter Blatty)
Sequência de “O Exorcista”
Fugindo um pouco do padrão dos três livros citados neste post, a sequência de “O Exorcista” foi escrita pelo próprio autor da história original, sem a desastrada intervenção de herdeiros, mesmo porque Peter Blatty, pelo que eu sei, ainda estava vivo. Apesar disso, a continuação saiu uma b....
“O Exorcista” é o tipo da obra perfeita com início, meio e fim; sem espaço para nenhuma sequência; os personagens principais tiveram os seus destinos todos definidos da melhor maneira. Aqueles que tinham que morrer morreram e aqueles que tinham que viver viveram. Por isso não sobrou nenhum resquício para continuações, mesmo porque os personagens que restaram não eram tão importantes ao ponto de valer uma “segunda parte”.
Como já escrevi no post sobre o livro (acessar aqui) Não dá para ter uma nova história de “O Exorcista” depois da morte do padre Damien Karras. O sacerdote, simplesmente, deixou de existir naquele capítulo antológico em que conseguiu expulsar “a socos” o demônio Pazuzu do corpo da pequena Reagan. Os dois  personagens principais - os padres Merrin e Karras - morreram; quanto a Reagan, ficou liberta e Pazuzu, dançou; sobrou quem para uma sequencia??? Ninguém! Pera aí... ninguém não! Sobrou o chato do Kinderman, aquele inspetor amorfo que no livro “O Exorcista” foi o responsável pela investigação dos casos de violações e mortes provocados pela pequena Reagan possuída. E o maior erro de Peter Blatty foi, justamente, acreditar que o tal inspetor teria fôlego para ‘segurar’ uma nova sequencia da história.
“O Espírito do Mal” tem um enredo confuso, cansativo e sem graça. Nada à ver com brilhantismo de “O Exorcista”.
05 – 60 Anos Depois, Do Outro Lado do Campo de Centeio (Fredrik Colting)
Sequencia de “O Apanhador do Campo de Centeio”
Cara, a sequencia de “O Apanhador do Campo de Centeio” foi tão ruim, mas tão ruim que o autor do livro original, J.D. Salinger entrou com uma ação proibindo a venda nos Estados Unidos de “60 Anos Depois, Do Outro Lado do Campo de Centeio”.
Quem leu “O Apanhador no Campo de Centeio”, obra antológica de Salinger lançada em 1951, com certeza se apaixonou pelo personagem Holden Caufield, aquele adolescente rebelde e desbocado que desprezava características da vida adulta. O ‘moleque Caufield’ como muitos leitores tinham o hábito de chamá-lo conquistou várias gerações de leitores.
Então, em 2009, o escritor sueco Fredrik Colting decidiu publicar uma sequencia não autorizada da obra de Salinger. Pronto! Nascia assim, o fiasco “60 Anos Depois, Do Outro Lado do Campo de Centeio”. Colting teve a audácia de transformar aquele adolescente rebelde, desbocado e que detestava, um dia, se tornar adulto numa versão idosa, chata e arrogante. Isso mesmo, um Holden Caufield com 76 anos.
É claro que Salinger surtou e mandou que os livros não fossem lançados. A briga judicial foi ferrenha, mas no final, a Editora Verus acabou conseguindo colocar a obra no mercado... Infelizmente.
Taí galera, nem todas as continuações convencem.
Eh!Eh!Eh!... To parecendo o Maurão falando (rs)
Inté!

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