10 livros polêmicos que provocaram um grande rebuliço em suas épocas

04 junho 2023

Um dia desses; não sei ao certo qual deles – semana passada, mês passado, sinceramente, não sei – por isso vou deixa-lo apenas como “um dia desses”; estava na biblioteca pública de minha cidade quando bati os olhos num livro muito antigo – depois soube que foi escrito em 1946 – e comecei a lê-lo. Acho que me interessei pela capa que trazia a imagem de uma criança; muito parecida com as capas daqueles almanaques de farmácia. E... sabe né... como sou fã desses almanaques decidi encarar a leitura do tal livro. Cara; fiquei abismado com o seu conteúdo; melhor, fiquei chocado. Pensei comigo o cara que escreveu tudo isso é um baita de um sem noção. Caráculas! Quantas ideias malucas, absurdas e tresloucadas.

O tal livro causou um reboliço há 77 anos e as suas teorias esdrúxulas caíram como uma bomba, mas apesar disso muitos pais acharam o máximo e... infelizmente as seguiram. O nome do livro? Eu conto: Meu Filho, Meu Tesouro de um certo Dr. Benjamin Spock. Depois pensei comigo: “Esse sujeito maluco ainda era médico?!!”. Pois é, saiba que essa “obra de arte” teria levado a morte de aproximadamente 50 mil bebês!  Mas vou falar detalhadamente sobre isso mais para frente.

Depois, após o choque inicial que tive com o livro do “Sr. Spock”, percebi que ele estava na estante que recebia a classificação de “Obras Polemicas”. E confesso que havia muita “coisa braba” naquele espaço e que causou um verdadeiro rebu na época de seus lançamentos ou então, pouco tempo depois. Saí da biblioteca com propósito de escrever esse post que você está lendo agora.

Selecionei dez livros que causaram um grande furor na sociedade quando foram lançados devido ao extremismo do conteúdo ou das ideais revolucionárias que apresentam. Vamos a nossa lista.

01 – O Príncipe (Nicolau Maquiavel)

Ano de lançamento: 1532

Em O Príncipe, Nicolau Maquiavel escreveu um guia sobre como subir ao poder e se manter nele. O autor expôs de forma inaudita os meandros e as artimanhas do poder.

Maquiavel discorre sobre os diferentes tipos de Estado e ensina como um príncipe pode conquistar e manter o domínio sobre um Estado. Trata daquilo que é o seu objetivo principal: as virtudes que o governante deve adquirir e os vícios que deve evitar para manter-se no poder.

O autor mostra em O Príncipe que a moralidade e a ciência política são separadas. Ele aponta a contradição entre governar um Estado e, ao mesmo tempo, levar uma vida moral.

Apesar de ter sido redigido por volta de 1513, a obra de Maquiavel foi publicada somente em 1532.

02 – Os Versos Satânicos (Salman Rushdie)

Lançamento: 1989

Imagine um livro capaz de condenar o seu autor a morte. Quer mais polemicidade do que isso? Pois é, Os Versos Satânicos de Salman Rushdie quase conseguiu mandar o seu autor para a cova. Para quem não sabe, Rushdie ficou conhecido após a ameaça de morte por um decreto do aiatolá Khomeini em 1989, como punição por este romance.

Os Versos Satânicos conta a história de dois muçulmanos que, após sobreviverem a um atentado terrorista, começam a sofrer uma transformação: um transforma-se num demônio, enquanto o outro num anjo.

O livro está recheado de críticas e sátiras irônicas contra o islamismo e o Alcorão, o livro sagrado do islão. Vários líderes religiosos muçulmanos ofereceram milhões de dólares como recompensa para a captura e assassinato de Rushdie, que teve que receber proteção policial durante muitos anos!

03 – O Amante de Lady Chatterley (D.H. Lawrence)

Lançamento: 1928

O Amante de Lady Chatterley foi uma publicação censurada em diversos países durante anos. No Reino Unido, país de origem do livro, sua primeira edição final passou a ser comercializada em 1960, ou seja, 32 anos após sua conclusão.

Apesar do sucesso atual, o enredo foi adaptado pela Netflix em 2022, O Amante de Lady Chatterley sofreu forte repressão em diversos países devido ao seu conteúdo. Na época, o livro foi proibido pelas descrições ativas e contundentes dos atos sexuais da protagonista.

D.H. Lawrence recria as relações entre uma jovem chamada Constance Chatterley, que cresceu em meio a um contexto burguês e liberal. Após ser criada por uma família de aristocratas, ela se casa ainda muito nova e é forçada a ver seu marido indo para guerra meses após o matrimônio.

O que ela não esperava, contudo, era que seu marido fosse retornar para casa com todos os membros inferiores paralisados. Ainda sem saber como lidar, o casal se exila em uma propriedade rural no interior do Reino Unido, herdada pelo Lorde Chatterley. Lá, entretanto, Lady Chatterley é obrigada a ver seu marido se distanciando do relacionamento enquanto se entrega para sua carreira literária e aos negócios da propriedade.

A personalidade única de Lady Chatterley, contudo, impede que ela se isole completamente. Nesse sentido, ela encontra afeto na companhia de Oliver Mellors, guarda-caças responsável pela propriedade. Da mesma forma que ela, o personagem também foi obrigado a isolar-se após diversas decepções amorosas. Agora, eles embarcam em uma jornada mútua de amor, descobertas e muita paixão.

04 – A Origem das Espécies (Charles Darwin)

Lançamento: 1859

Publicado em 1859, A Origem das Espécies, de Charles Darwin, ficou conhecido como O livro que abalou o mundo. Sua primeira edição se esgotou no primeiro dia e o mesmo ocorreu com seis versões posteriores. Até hoje a teoria da evolução do naturalista gera polêmica. 

Segundo Darwin, as espécies competem pela sobrevivência, as que sobrevivem dão origem à próxima geração, que por sua vez incorpora as variações naturais favoráveis e as repassa de maneira hereditária. Até sua morte Darwin reescreveu incansavelmente sua teoria e em cada uma das seis edições foram incluídas novas pesquisas.

Mesmo nos tempos atuais, 150 anos após sua publicação, A Origem das Espécies, de Charles Darwin, continua a alimentar choques entre cientistas convencidos da veracidade de suas teses e críticos que rejeitam a visão da vida sem um criador.

05 – As Caçadas de Pedrinho (Monteiro Lobato)

Lançamento: 1933

Com mais de 70 anos já transcorridos desde a morte de seu criador, os personagens infantis de Monteiro Lobato prosseguem “provocando” dentro e fora da escola. Você acreditaria se eu lhe revelasse que o “Sítio do Pica-pau Amarelo” teria a distribuição repreendida nas escolas brasileiras pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em 2010? Podem acreditar é a mais pura verdade. Uma obra infantil gerando uma baita polemica.

Em 2010, o livro Caçadas de Pedrinho foi acusado de possuir teor racista pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), que recomendou que a obra não fosse distribuída pelo governo nas escolas públicas. Posteriormente, a relatora do caso voltou atrás e decidiu que cada professor deveria dar explicações sobre o preconceito presente no livro para os alunos.

Depois disso, o Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara) junto com o mestre em educação Antônio Gomes da Costa Neto entraram com um mandado de segurança contra Caçadas de Pedrinho e contra o relatório do CNE. Cara, que furor!

A obra de Lobato correu um grande risco de ter a sua distribuição suspensa.

06 – Meu Filho, Meu Tesouro (Benjamin Spock)

Lançamento: 1946

E, finalmente, cheguei à obra que originou esse texto. Como escrevi no início da postagem, supostamente, Meu Filho, Meu Tesouro de Benjamin Spock teria levado a morte de aproximadamente 50 mil bebês! 

O Dr. Spock ensinava as mamães como cuidar dos seus filhos nos primeiros meses de vida. No entanto, algumas de suas dicas chegaram a ser letais para as crianças! O doutor aconselhava as mães a deixarem os seus filhos dormirem com a barriga para baixo, pois acreditava que se estivessem ao contrário poderiam se engasgar com o próprio vômito. Porém, estudos posteriores comprovaram que deixar o bebê com a barriga para baixo aumenta os riscos de sufocamento. Atualmente, esta técnica é totalmente desaconselhada pelos médicos!

Depois da Bíblia, Meu Filho, Meu Tesouro foi o livro mais vendido nos Estados Unidos durante o século XX. My God!!

07 – Lolita (Wladimir Nabokov)

Lançamento: 1955

Wladimir Nabokov escreveu muitas outras obras complexas e importantes, mas foi Lolita que, de fato, marcou a sua carreira de escritor. O livro é considerado um dos mais controversos na história da literatura.

O livro conta a história de Humbert, um homem de meia idade, que se “apaixona” perdidamente por Dolores Haze (que ele apelida de Lolita), uma menina de 12 anos e para ficar perto dela, ele se casa com sua mãe, Charlotte Haze. Quando Dolores fica órfã, Humbert vê seu caminho a garota completamente livre e parte com ela para uma viagem pelos Estados Unidos.

Por abordar o tema pedofilia de uma maneira bem aberta a obra foi considerada naquela época escandalosa e inapropriada, causando um grande quiproquó. O livro chegou a ser banido de diversos lugares tornando-se uma obra do tipo “maldita”.

08 – O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)

Lançamento: 1847

Se atualmente, O Morro dos Ventos Uivantes - único livro escrito por Emily Brontë - é tido como um grande clássico da literatura mundial, no passado não foi bem assim. Por ser uma obra polêmica, não foi bem recebida pela sociedade inglesa da época. A redenção viria vários anos após sua publicação quando acabou por ser aceito, e, após o choque inicial tornou-se cânone da literatura inglesa e mundial.

O Morro dos Ventos Uivantes foi vista como uma história de amor muito avançada para a Inglaterra do século XIX, onde a paixão impossível de Heathcliff por Catherine, devido aos preconceitos sociais, se transforma em violenta obsessão por vingança. O romance foi criticado porque não era comum para a época um protagonista com tantos desvios de caráter quanto Heathcliff.

Brontë não chegou a conhecer o sucesso de sua obra, publicada com o pseudônimo de Ellis Bell, tampouco conseguiu escrever outros livros porque morreu aos trinta anos de tuberculose, um ano após o lançamento de sua obra prima.

09 – O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger)

Lançamento: 1951

O livro foi banido de algumas escolas norte-americanas por conter, segundo os críticos, educadores e “especialistas” daquela época, uma linguagem ofensiva. O Apanhador no Campo de Centeio foi assim... como posso dizer... um livro meio que transgressor, mas isso, somente na cabeça da sociedade puritana da década de 1950. 

O romance de J. D. Salinger ficou marcado na história como livro favorito de psicopatas e desajustados. O autor narra a saga de um jovem adolescente chamado Holden Caulfield que conta suas experiências em primeira pessoa. Holden é um péssimo estudante e foi expulso de várias escolas. Sua situação parece não melhorar, porque acabaram de notificá-lo de que ele será expulso de sua escola atual. Holden decide não contar a verdade a seus pais, nem mesmo quer encontrá-los, então, ele foge no meio da noite e retorna para sua cidade, Nova York. Lá, fica em um hotel de classe muito baixa e começa sua aventura.

O Apanhador no Campo de Centeio nos mostra a jornada de Holden, a de qualquer adolescente desencantado com o mundo (e orgulhoso de estar assim), que parece odiar tudo e todos.

10 – Os 120 Dias de Sodoma (Donatien Alphose François – Marquês de Sade)

Lançamento: 1785

Perturbador, chocante, ultrajante e por aí afora. Os 120 Dias de Sodoma ganhou várias definições ao longo doas anos, décadas e séculos. Para ser sincero, até hoje essa obra tem a capacidade de chocar os leitores.

Cenas de estupro, violência gratuita e abusos sexuais contra crianças… são apenas alguns detalhes que recheiam esta novela escrita por Sade, durante a sua prisão na Bastilha, em 1785.

A história mostra quatro aristocratas libertinos que sequestram quarenta e seis jovens (entre meninos e meninas) e praticam a mais hediondas torturas sexuais durante quatro meses ininterruptos!

Em 1975, a história narrada por Marquês de Sade ganhou uma versão cinematográfica, sob direção do cineasta italiano Pier Paolo Pasolini. “Salò ou os 120 Dias de Sodoma” ficou conhecido como um dos filmes mais perturbadores da história do cinema!

E assim fechamos a nossa lista com dez dos livros mais polêmicos do mundo.

Inté galera!

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