Um dia desses; não sei ao certo qual deles – semana passada,
mês passado, sinceramente, não sei – por isso vou deixa-lo apenas como “um dia
desses”; estava na biblioteca pública de minha cidade quando bati os olhos num
livro muito antigo – depois soube que foi escrito em 1946 – e comecei a lê-lo. Acho
que me interessei pela capa que trazia a imagem de uma criança; muito parecida
com as capas daqueles almanaques de farmácia. E... sabe né... como sou fã
desses almanaques decidi encarar a leitura do tal livro. Cara; fiquei abismado
com o seu conteúdo; melhor, fiquei chocado. Pensei comigo o cara que escreveu
tudo isso é um baita de um sem noção. Caráculas! Quantas ideias malucas,
absurdas e tresloucadas.
O tal livro causou um reboliço há 77 anos e as suas
teorias esdrúxulas caíram como uma bomba, mas apesar disso muitos pais acharam
o máximo e... infelizmente as seguiram. O nome do livro? Eu conto: Meu Filho, Meu Tesouro de um certo Dr.
Benjamin Spock. Depois pensei comigo: “Esse sujeito maluco ainda era médico?!!”.
Pois é, saiba que essa “obra de arte” teria levado a morte de aproximadamente
50 mil bebês! Mas vou falar detalhadamente
sobre isso mais para frente.
Depois, após o choque inicial que tive com o livro do “Sr.
Spock”, percebi que ele estava na estante que recebia a classificação de “Obras
Polemicas”. E confesso que havia muita “coisa braba” naquele espaço e que
causou um verdadeiro rebu na época de seus lançamentos ou então, pouco tempo
depois. Saí da biblioteca com propósito de escrever esse post que você está
lendo agora.
Selecionei dez livros que causaram um grande furor na
sociedade quando foram lançados devido ao extremismo do conteúdo ou das ideais
revolucionárias que apresentam. Vamos a nossa lista.
01
– O Príncipe (Nicolau Maquiavel)
Ano
de lançamento: 1532
Em O Príncipe,
Nicolau Maquiavel escreveu um guia sobre como subir ao poder e se manter nele.
O autor expôs de forma inaudita os meandros e as artimanhas do poder.
Maquiavel discorre sobre os diferentes tipos de Estado
e ensina como um príncipe pode conquistar e manter o domínio sobre um Estado. Trata
daquilo que é o seu objetivo principal: as virtudes que o governante deve
adquirir e os vícios que deve evitar para manter-se no poder.
O autor mostra em O
Príncipe que a moralidade e a ciência política são separadas. Ele aponta a
contradição entre governar um Estado e, ao mesmo tempo, levar uma vida moral.
Apesar de ter sido redigido por volta de 1513, a obra
de Maquiavel foi publicada somente em 1532.
02
– Os Versos Satânicos (Salman Rushdie)
Lançamento:
1989
Imagine um livro capaz de condenar o seu autor a
morte. Quer mais polemicidade do que isso? Pois é, Os Versos Satânicos de
Salman Rushdie quase conseguiu mandar o seu autor para a cova. Para quem não
sabe, Rushdie ficou conhecido após a ameaça de morte por um decreto do aiatolá
Khomeini em 1989, como punição por este romance.
Os
Versos Satânicos conta a história de dois muçulmanos que,
após sobreviverem a um atentado terrorista, começam a sofrer uma transformação:
um transforma-se num demônio, enquanto o outro num anjo.
O livro está recheado de críticas e sátiras irônicas
contra o islamismo e o Alcorão, o livro sagrado do islão. Vários líderes
religiosos muçulmanos ofereceram milhões de dólares como recompensa para a
captura e assassinato de Rushdie, que teve que receber proteção policial
durante muitos anos!
03
– O Amante de Lady Chatterley (D.H. Lawrence)
Lançamento:
1928
O
Amante de Lady Chatterley foi uma publicação censurada em
diversos países durante anos. No Reino Unido, país de origem do livro, sua
primeira edição final passou a ser comercializada em 1960, ou seja, 32 anos
após sua conclusão.
Apesar do sucesso atual, o enredo foi adaptado pela
Netflix em 2022, O Amante de Lady
Chatterley sofreu forte repressão em diversos países devido ao seu
conteúdo. Na época, o livro foi proibido pelas descrições ativas e contundentes
dos atos sexuais da protagonista.
D.H. Lawrence recria as relações entre uma jovem chamada
Constance Chatterley, que cresceu em meio a um contexto burguês e liberal. Após
ser criada por uma família de aristocratas, ela se casa ainda muito nova e é
forçada a ver seu marido indo para guerra meses após o matrimônio.
O que ela não esperava, contudo, era que seu marido
fosse retornar para casa com todos os membros inferiores paralisados. Ainda sem
saber como lidar, o casal se exila em uma propriedade rural no interior do
Reino Unido, herdada pelo Lorde Chatterley. Lá, entretanto, Lady Chatterley é
obrigada a ver seu marido se distanciando do relacionamento enquanto se entrega
para sua carreira literária e aos negócios da propriedade.
A personalidade única de Lady Chatterley, contudo,
impede que ela se isole completamente. Nesse sentido, ela encontra afeto na
companhia de Oliver Mellors, guarda-caças responsável pela propriedade. Da
mesma forma que ela, o personagem também foi obrigado a isolar-se após diversas
decepções amorosas. Agora, eles embarcam em uma jornada mútua de amor,
descobertas e muita paixão.
04
– A Origem das Espécies (Charles Darwin)
Lançamento:
1859
Publicado em 1859, A
Origem das Espécies, de Charles Darwin, ficou conhecido como O livro que
abalou o mundo. Sua primeira edição se esgotou no primeiro dia e o mesmo
ocorreu com seis versões posteriores. Até hoje a teoria da evolução do
naturalista gera polêmica.
Segundo Darwin, as espécies competem pela
sobrevivência, as que sobrevivem dão origem à próxima geração, que por sua vez
incorpora as variações naturais favoráveis e as repassa de maneira hereditária.
Até sua morte Darwin reescreveu incansavelmente sua teoria e em cada uma das
seis edições foram incluídas novas pesquisas.
Mesmo nos tempos atuais, 150 anos após sua publicação,
A Origem das Espécies, de Charles
Darwin, continua a alimentar choques entre cientistas convencidos da veracidade
de suas teses e críticos que rejeitam a visão da vida sem um criador.
05
– As Caçadas de Pedrinho (Monteiro Lobato)
Lançamento:
1933
Com mais de 70 anos já transcorridos desde a morte de
seu criador, os personagens infantis de Monteiro Lobato prosseguem “provocando”
dentro e fora da escola. Você acreditaria se eu lhe revelasse que o “Sítio do
Pica-pau Amarelo” teria a distribuição repreendida nas escolas brasileiras pelo
Conselho Nacional de Educação (CNE), em 2010? Podem acreditar é a mais pura
verdade. Uma obra infantil gerando uma baita polemica.
Em 2010, o livro Caçadas
de Pedrinho foi acusado de possuir teor racista pelo Conselho Nacional de
Educação (CNE), que recomendou que a obra não fosse distribuída pelo governo
nas escolas públicas. Posteriormente, a relatora do caso voltou atrás e decidiu
que cada professor deveria dar explicações sobre o preconceito presente no
livro para os alunos.
Depois disso, o Instituto de Advocacia Racial e
Ambiental (Iara) junto com o mestre em educação Antônio Gomes da Costa Neto
entraram com um mandado de segurança contra Caçadas
de Pedrinho e contra o relatório do CNE. Cara, que furor!
A obra de Lobato correu um grande risco de ter a sua
distribuição suspensa.
06
– Meu Filho, Meu Tesouro (Benjamin Spock)
Lançamento:
1946
E, finalmente, cheguei à obra que originou esse texto.
Como escrevi no início da postagem, supostamente, Meu Filho, Meu Tesouro de Benjamin Spock teria levado a morte de
aproximadamente 50 mil bebês!
O Dr. Spock ensinava as mamães como cuidar dos seus
filhos nos primeiros meses de vida. No entanto, algumas de suas dicas chegaram
a ser letais para as crianças! O doutor aconselhava as mães a deixarem os seus
filhos dormirem com a barriga para baixo, pois acreditava que se estivessem ao
contrário poderiam se engasgar com o próprio vômito. Porém, estudos posteriores
comprovaram que deixar o bebê com a barriga para baixo aumenta os riscos de sufocamento.
Atualmente, esta técnica é totalmente desaconselhada pelos médicos!
Depois da Bíblia, Meu
Filho, Meu Tesouro foi o livro mais vendido nos Estados Unidos durante o
século XX. My God!!
07
– Lolita (Wladimir Nabokov)
Lançamento:
1955
Wladimir Nabokov escreveu muitas outras obras complexas
e importantes, mas foi Lolita que, de
fato, marcou a sua carreira de escritor. O livro é considerado um dos mais controversos
na história da literatura.
O livro conta a história de Humbert, um homem de meia
idade, que se “apaixona” perdidamente por Dolores Haze (que ele apelida de
Lolita), uma menina de 12 anos e para ficar perto dela, ele se casa com sua
mãe, Charlotte Haze. Quando Dolores fica órfã, Humbert vê seu caminho a garota
completamente livre e parte com ela para uma viagem pelos Estados Unidos.
Por abordar o tema pedofilia de uma maneira bem aberta
a obra foi considerada naquela época escandalosa e inapropriada, causando um grande
quiproquó. O livro chegou a ser banido de diversos lugares tornando-se uma obra
do tipo “maldita”.
08
– O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)
Lançamento:
1847
Se atualmente, O Morro dos Ventos Uivantes - único livro escrito por Emily Brontë - é tido como
um grande clássico da literatura mundial, no passado não foi bem assim. Por ser
uma obra polêmica, não foi bem recebida pela sociedade inglesa da época. A
redenção viria vários anos após sua publicação quando acabou por ser aceito, e,
após o choque inicial tornou-se cânone da literatura inglesa e mundial.
O
Morro dos Ventos Uivantes foi vista como uma história de amor
muito avançada para a Inglaterra do século XIX, onde a paixão impossível de
Heathcliff por Catherine, devido aos preconceitos sociais, se transforma em
violenta obsessão por vingança. O romance foi criticado porque não era comum
para a época um protagonista com tantos desvios de caráter quanto Heathcliff.
Brontë não chegou a conhecer o sucesso de sua obra,
publicada com o pseudônimo de Ellis Bell, tampouco conseguiu escrever outros
livros porque morreu aos trinta anos de tuberculose, um ano após o lançamento
de sua obra prima.
09
– O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger)
Lançamento:
1951
O livro foi banido de algumas escolas norte-americanas
por conter, segundo os críticos, educadores e “especialistas” daquela época,
uma linguagem ofensiva. O Apanhador no
Campo de Centeio foi assim... como posso dizer... um livro meio que transgressor,
mas isso, somente na cabeça da sociedade puritana da década de 1950.
O romance de J. D. Salinger ficou marcado na história
como livro favorito de psicopatas e desajustados. O autor narra a saga de um
jovem adolescente chamado Holden Caulfield que conta suas experiências em
primeira pessoa. Holden é um péssimo estudante e foi expulso de várias escolas.
Sua situação parece não melhorar, porque acabaram de notificá-lo de que ele
será expulso de sua escola atual. Holden decide não contar a verdade a seus
pais, nem mesmo quer encontrá-los, então, ele foge no meio da noite e retorna
para sua cidade, Nova York. Lá, fica em um hotel de classe muito baixa e começa
sua aventura.
O
Apanhador no Campo de Centeio nos mostra a jornada de
Holden, a de qualquer adolescente desencantado com o mundo (e orgulhoso de
estar assim), que parece odiar tudo e todos.
10
– Os 120 Dias de Sodoma (Donatien Alphose François – Marquês de Sade)
Lançamento:
1785
Perturbador, chocante, ultrajante e por aí afora. Os 120 Dias de Sodoma ganhou várias definições
ao longo doas anos, décadas e séculos. Para ser sincero, até hoje essa obra tem
a capacidade de chocar os leitores.
Cenas de estupro, violência gratuita e abusos sexuais
contra crianças… são apenas alguns detalhes que recheiam esta novela escrita
por Sade, durante a sua prisão na Bastilha, em 1785.
A história mostra quatro aristocratas libertinos que
sequestram quarenta e seis jovens (entre meninos e meninas) e praticam a mais
hediondas torturas sexuais durante quatro meses ininterruptos!
Em 1975, a história narrada por Marquês de Sade ganhou
uma versão cinematográfica, sob direção do cineasta italiano Pier Paolo
Pasolini. “Salò ou os 120 Dias de Sodoma” ficou conhecido como um dos filmes
mais perturbadores da história do cinema!
E assim fechamos a nossa lista com dez dos livros mais
polêmicos do mundo.
Inté galera!
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