Um lugar bem longe daqui

20 novembro 2022

Acabei, nesse momento, de ler Um lugar bem longe daqui. O livro é tão bom, mas tão bom que ao terminar a sua leitura, decidi, logo na sequência, escrever essa resenha para não perder nenhuma das impressões que tive sobre a obra de Delia Owens. Procurarei ser o mais breve possível porque não quero estragar a história com spoilers; isso seria um grande sacrilégio.

Admito que já tinha o livro em minha estante há um bom tempo, mas estava receoso em lê-lo por acreditar ser um texto muito descritivo e consequentemente enjoativo, ´por isso, fui empurrando a leitura com a barriga. Putz! Como fui tolo. De fato, o texto de Owens é bem descritivo, mas essa descrição ao invés de repelir o leitor, acaba prendendo-o cada vez mais na trama de Catherine Danielle Clark ou simplesmente: Kya, conhecida como a “menina do brejo”.

Kya foi desprezada pelas pessoas em sua infância, adolescência e parte da vida adulta, sofrendo todos os tipos de discriminações, dentro e fora de sua família, o que a fez se apegar cada vez mais à “mãe natureza” que a recebeu de braços abertos. Confesso que me emocionei muito, mas muito mesmo, quando Owens descreve a interação de sua sofrida personagem com os vários elementos dessa natureza que a acolheu nos seus momentos mais tristes.

A interação de Kya com as gaivotas é um dos momentos mais belos da narrativa; emociona, de fato. Nem mesmo os vagalumes escapam dessa interação. A autora transforma esses momentos da trama em descrições maravilhosas e repletas de emoção.

Identifiquei-me com Kya logo no primeiro momento em que ela apareceu na história. Me apaixonei por aquela criança que apesar de ter levado tantas rasteiras da vida – que poderiam ter quebrado ao meio a força de vontade de uma pessoa adulta – conseguiu superar essas situações e tocar a sua vida em frente com coragem e determinação. Sempre ao sentir que iria fraquejar perante as adversidades, ela corria para os braços da “mãe natureza” para renovar as suas energias.

Além desse convívio, é comovente ver o relacionamento de Kya com outros dois personagens: Pulinho e Tate. Aliás a amizade de Kya com Pulinho lembra um pouco a relação entre de Zezé e Portuga do romance O meu pé de laranja lima de José Mauro de Vasconcelos. Pulinho, à exemplo de Kya, consegue conquistar os corações dos leitores por causa de suas atitudes; ele é um dos poucos que aceita a “menina do brejo” do jeito que ela é, com toda a sua simplicidade. Confidente, esteio, ombro amigo; enfim, ele é um verdadeiro anjo da guarda em terra. Em determinado momento da trama envolvendo esse relacionamento, foi difícil segurar as lágrimas.

A ligação de Kya e Tate, apesar dos momentos conflituosos, também emociona. Tate, da mesma maneira que Pulinho, tem uma grande admiração por Kya; além do mais vive – pelo menos em grande parte da trama – no mesmo ambiente da “menina do brejo”, nos pântanos. O convívio desses dois personagens também reserva momentos marcantes no enredo.

Um lugar bem longe daqui é uma história que trabalha com temas fortes como: preconceito; abuso, inclusive familiares; miséria, exploração e abandono. O enredo também tem um mistério que só é solucionado nas duas últimas páginas do livro – por isso, cuidado heimm.... não banque o curioso para lê-las. Você vai estragar toda a história (rs). E, cá entre nós, esse final, foi um verdadeiro soco no estômago; me surpreendeu até a última gota. Juro que esperava tudo, menos aquele desfecho. Delia Owens, com certeza, surpreendeu os seus leitores com aquele “The End”.

Ah! Antes que me esqueça, o livro ainda tem momentos eletrizantes que rolam num tribunal durante um julgamento envolvendo Kya. Os embates entre defesa e acusação prendem demais a atenção dos leitores. Neste mesmo trecho da trama, prestem atenção num gato chamado “Justiça de Domingo” – Ahahaha!! É esse mesmo o nome do bichano – ele é o elemento que distensiona as etapas mais tensas do julgamento.

O plot de Um lugar bem longe daqui gira em torno de Kya, que ainda criança foi abandonada e por isso obrigada a crescer e sobreviver nos perigosos pântanos da Carolina do Norte. Sensata e inteligente, ela sobreviveu por anos sozinha no pântano que chama de lar, tendo as gaivotas como amigas e a areia como professora. Se eu revelar mais do que isso, com certeza, vou liberar spoilers indesejados; se bem que aqueles que já assistiram ao filme baseado na obra de Owens, estão profundamente inteirados sobre esses spoilers, já que a produção cinematográfica é muito fiel ao livro.

E por falar em filme, gostei tanto obra literária que agora quero ver a história nas telas. Os comentários sobre o filme são muito positivos. Dizem que a atriz Daisy Edgar-Jones deu um show, vivendo uma Kya que lembra muito a personagem do livro.

Já li; agora bora assistir!

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