Acabei, nesse momento, de ler Um lugar bem longe daqui. O livro é tão bom, mas tão bom que ao
terminar a sua leitura, decidi, logo na sequência, escrever essa resenha para
não perder nenhuma das impressões que tive sobre a obra de Delia Owens.
Procurarei ser o mais breve possível porque não quero estragar a história com
spoilers; isso seria um grande sacrilégio.
Admito que já tinha o livro em minha estante há um bom
tempo, mas estava receoso em lê-lo por acreditar ser um texto muito descritivo
e consequentemente enjoativo, ´por isso, fui empurrando a leitura com a
barriga. Putz! Como fui tolo. De fato, o texto de Owens é bem descritivo, mas
essa descrição ao invés de repelir o leitor, acaba prendendo-o cada vez mais na
trama de Catherine Danielle Clark ou simplesmente: Kya, conhecida como a
“menina do brejo”.
Kya foi desprezada pelas pessoas em sua infância,
adolescência e parte da vida adulta, sofrendo todos os tipos de discriminações,
dentro e fora de sua família, o que a fez se apegar cada vez mais à “mãe natureza”
que a recebeu de braços abertos. Confesso que me emocionei muito, mas muito
mesmo, quando Owens descreve a interação de sua sofrida personagem com os
vários elementos dessa natureza que a acolheu nos seus momentos mais tristes.
A interação de Kya com as gaivotas é um dos momentos
mais belos da narrativa; emociona, de fato. Nem mesmo os vagalumes escapam
dessa interação. A autora transforma esses momentos da trama em descrições
maravilhosas e repletas de emoção.
Identifiquei-me com Kya logo no primeiro momento em
que ela apareceu na história. Me apaixonei por aquela criança que apesar de ter
levado tantas rasteiras da vida – que poderiam ter quebrado ao meio a força de
vontade de uma pessoa adulta – conseguiu superar essas situações e tocar a sua
vida em frente com coragem e determinação. Sempre ao sentir que iria fraquejar
perante as adversidades, ela corria para os braços da “mãe natureza” para
renovar as suas energias.
Além desse convívio, é comovente ver o relacionamento
de Kya com outros dois personagens: Pulinho e Tate. Aliás a amizade de Kya com
Pulinho lembra um pouco a relação entre de Zezé e Portuga do romance O meu pé de laranja lima de José Mauro
de Vasconcelos. Pulinho, à exemplo de Kya, consegue conquistar os corações dos
leitores por causa de suas atitudes; ele é um dos poucos que aceita a “menina
do brejo” do jeito que ela é, com toda a sua simplicidade. Confidente, esteio,
ombro amigo; enfim, ele é um verdadeiro anjo da guarda em terra. Em determinado
momento da trama envolvendo esse relacionamento, foi difícil segurar as
lágrimas.
A ligação de Kya e Tate, apesar dos momentos
conflituosos, também emociona. Tate, da mesma maneira que Pulinho, tem uma
grande admiração por Kya; além do mais vive – pelo menos em grande parte da
trama – no mesmo ambiente da “menina do brejo”, nos pântanos. O convívio desses
dois personagens também reserva momentos marcantes no enredo.
Um
lugar bem longe daqui é uma história que trabalha com temas
fortes como: preconceito; abuso, inclusive familiares; miséria, exploração e
abandono. O enredo também tem um mistério que só é solucionado nas duas últimas
páginas do livro – por isso, cuidado heimm.... não banque o curioso para
lê-las. Você vai estragar toda a história (rs). E, cá entre nós, esse final,
foi um verdadeiro soco no estômago; me surpreendeu até a última gota. Juro que
esperava tudo, menos aquele desfecho. Delia Owens, com certeza, surpreendeu os
seus leitores com aquele “The End”.
Ah! Antes que me esqueça, o livro ainda tem momentos
eletrizantes que rolam num tribunal durante um julgamento envolvendo Kya. Os
embates entre defesa e acusação prendem demais a atenção dos leitores. Neste
mesmo trecho da trama, prestem atenção num gato chamado “Justiça de Domingo” – Ahahaha!!
É esse mesmo o nome do bichano – ele é o elemento que distensiona as etapas
mais tensas do julgamento.
O plot de Um
lugar bem longe daqui gira em torno de Kya, que ainda criança foi
abandonada e por isso obrigada a crescer e sobreviver nos perigosos pântanos da
Carolina do Norte. Sensata e inteligente, ela sobreviveu por anos sozinha no
pântano que chama de lar, tendo as gaivotas como amigas e a areia como
professora. Se eu revelar mais do que isso, com certeza, vou liberar spoilers
indesejados; se bem que aqueles que já assistiram ao filme baseado na obra de
Owens, estão profundamente inteirados sobre esses spoilers, já que a produção
cinematográfica é muito fiel ao livro.
E por falar em filme, gostei tanto obra literária que
agora quero ver a história nas telas. Os comentários sobre o filme são muito
positivos. Dizem que a atriz Daisy Edgar-Jones deu um show, vivendo uma Kya que
lembra muito a personagem do livro.
Já li; agora bora assistir!
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