Sinceridade? Cara, eu fujo de livros
autobiográficos! É verdade! Olha, é muito, mas muito difícil encarar esse
gênero literário; tanto é verdade que em minha estante é possível contar nos
dedos os livros com essas características. Acho que o sujeito que se propõe a
tornar a sua vida pública deve ter vivido essa vida muito bem vivida. Ooops!
Desculpe o pleonasmo, mas não encontro outras palavras para ser mais
contundente. Muitos “Zé- Manés” pensam que participar de um “Big-Brother” já lhe
dão o direito de escrever uma autobiografia e não é bem assim. Costumo dizer
que a pessoa que se propõe a publicar detalhes sobre a sua vida deve ter
consciência de que estará publicando um romance. Isto mesmo, um Best Seller que
deve ter emoção, ação, enfim, todos os ingredientes que possam prender a
atenção dos leitores. Ok, responda-me uma pergunta: o que você faz quando
começa ler um enredo amorfo e personagens mais amorfos ainda? No meu caso, se a
leitura não engrenar após duas ou três tentativas, no máximo, abandono no ato.
Agora imagine uma autobiografia de um cantor ou artista que não tem nada de
interessante para contar? Fica complicado, não é mesmo galera?!
Meu receio com autobiografias já é antigo e vem
desde a minha pré-adolescência quando fugia desse gênero, mas certo dia acabou
caindo em minhas mãos – meio que por acidente – o livro do Marcelo Rubens
Paiva, “Feliz Ano Velho”. Uma ex-colega de trabalho iria se mudar para outra
cidade e resolveu doar alguns livros para mim. Dois ou três dias após esse
gesto caridoso, ela me ligou desesperada: -“ José Antônio, acho que lhe doei
algo que não gostaria de ter doado jamais!”, exclamou num misto de pânico e brincadeira. Ela estava
se referindo a “Feliz Ano Velho” que veio junto com o “pacote” de livros. A Márcia
me pediu encarecidamente que lhe despachasse a obra do Paiva pelo correio via
sedex. Bem, diante do desespero da minha colega acabei me interessando pela
obra e então fizemos um trato: assim que acabasse de ler lhe devolveria o
livro. Cara, tive que jurar por todos os santos de que não iria demorar muito
para concluir a leitura porque ela queria a sua pedra preciosa o mais rápido
possível. – “Ok... Ok... Fica fria, Márcia, não vou seqüestrar o seu xodó”
(rs).
Bem pessoal, foi assim que resolvi encarar – muito
receoso – a leitura da primeira autobiografia nos meus vinte e poucos anos de
leitor (naquela época). E posso garantir que não me arrependi.
“Feliz Ano Velho” foi um diamante lapidado que caiu
em minhas mãos. Antes de ler a obra, tinha uma vaga noção de que se tratava do
relato de um estudante universitário que gostava de curtir a vida, mas após
sofrer um acidente acabou ficando ‘condenado’ à uma cadeira de rodas. Comecei a
ler o livro do Marcelo Rubens Paiva, já me preparando para uma sessão lacrimosa
e bem down, coisa do tipo “Uma Janela para o Céu” ou “Love Story”, onde
tragédias, tristezas, sofrimento e desespero se fundem numa coisa só.
Resultado: o leitor termina de ler a obra – se conseguir terminar! -
completamente extenuado, acabado e arrebentado. Mas, pensei comigo, tudo bem,
tudo bom, já que estou com o livro nas mãos vamos à luta. Além do mais, a
Márcia não era o tipo de leitora que se amarrava nesse gênero literário do tipo
“A cruz que carrego”. E assim, comecei a ler.
Mêo! Mêo! E novamente Mêo! “Feliz Ano Velho” era
totalmente o oposto do que eu imaginava. O autor descreve o seu drama com muito
bom humor, não dando tanta ênfase ao lado down do fato. É claro que há os
momentos de tristeza e até mesmo lencinhos nas mãos, mas são raros pacas! E
Graças à Deus, porque, caso contrário, se transformaria num verdadeiro vale de
lágrimas: “ Um Janelão para o Céu”.
Marcelo Rubens Paiva tratou a sua situação de uma
maneira realista e sem auto-piedade. Mais ou menos assim: “Putz! Me quebrei
inteiro, fui parar numa cadeira de rodas e estou dependendo da ajuda de amigos
e familiares para reaprender a viver. Êpa! Mas pêra aí... a vida continua!
Tenho que dar o melhor de mim para se tornar cada vez menos dependente. Por
isso, vou continuar brigando e lutando contra a vida, mas também
desfrutando as coisas boas que essa
mesma vida bandida que me ferrou... me
oferece”. Não sei se consegui explicar como deveria, mas bem resumidamente esse
é o tom da obra de Paiva.
Para aqueles que não conhecem o livro; “Feliz Ano
Velho” pode ser considerado um experiência autobiográfica do autor, que relata
o acidente que o deixou tetraplégico depois de um mergulho em um lago às
margens da Rodovia dos Bandeirantes, em 14 de dezembro de 1979, após bater
acidentalmente com a cabeça no fundo do lago. Como já disse, de maneira bem
realista e sem chororô, mostra a dificuldade que muitas pessoas sofrem com essa
situação e a força de vontade que um homem deve ter para se inserir novamente
na sociedade, enfrentando seus problemas e medos.
Durante esse período de recuperação, Marcelo conta
com carisma e sinceridade detalhes de sua infância e de sua juventude. Desvela
seus casos amorosos, retrata sua carreira musical. Jovem ativo, participava do
quadro político Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde cursava
engenharia agrícola.
Filho do deputado federal Rubens Beyrodt Paiva, ele conta ainda, em um dos momentos mais
aflitivos, como foi o dia em que seis militares invadiram a sua casa e levaram
seu pai, que ele não mais voltaria a ver.
Quando li o livro, poucos anos após o seu lançamento
– a obra foi lançada em 1982 - confesso que foi uma leitura muito importante
naquele período de minha vida, pois passei a dar valor as coisas pequenas que o
mundo nos oferece.
Valeu “Feliz Ano Velho”! Valeu Marcelo Rubens Paiva!
Enfim, valeu a leitura!
Um comentário
EU QUERO QUE UMA PESSOA QUE DOAM (DAR ESTE LIVRO)UM LIVRO CHAMADO FELIZ ANO VELHO- COM AUTOR- MARCELO RUBENS PAIVA- PODE SER USADO- TEL- 011- 2701-73-29. NUMA BIBLIOTECA PERTO JARDIM GRAMALDI ZONA LESTE-SP.
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