O “cinéfilo-leitor” que não estiver familiarizado com
o chamado “Universo Fleming”, certamente irá levar um baita susto ao assistir
um filme de 007 e logo depois ler um livro do agente secreto. E olha que será
um susto tão grande quanto o do Luciano, o Lucião, um primo bem distante que
mora lá em Morrinhos, Goiás. Há muitos anos, ele esteve por aqui, e decidimos
assistir um ‘filme em família’. Estávamos, então, vivendo a saudosa época dos
VHS e saímos da locadora com o filme “O Espião que me amava”. Lucião que já
tinha lido o livro de Ian Fleming e gostado, ficou catatônico ao final da fita
com o Roger Moore. “- PQP!! Que pôrra é essa?!” Exclamou ele, após voltar a si.
– “Acho que li o livro ou então assisti ao filme errado!”, concluiu após o
susto.
O meu primo distante tinha assistido a maioria dos
filmes sobre o agente britânico e após se encantar com aquelas superproduções
cinematográficas decidiu também se iniciar na ‘literatura bondniana’. Por
infelicidade, ele escolheu para o seu ‘debut’, justamente, “O espião que me
amava”, obra que não tinha nada em comum com o filme, à não ser o nome.
Esta situação vivida pelo meu primo distante,
desavisado e frustrado, acabou me inspirando a escrever um post sobre as
gritantes diferenças existentes entre os livros de Fleming e os filmes
envolvendo o seu personagem principal. E aproveitando a brecha, gostaria de dar
um conselho para a galera que pretende
encarar a leitura dos livros da série 007 escritos por Fleming. Um conselho
valioso de quem já leu todos os 14 livros oficiais e assistiu aos 23 filmes
sobre James Bond. Lá vai: “Quando começar a ler, esqueça os filmes e se preparem
para algo totalmente diferente”.
Acredite amigo, esta é a mais cristalina das
verdades porque – excetuando dois ou três livros – quase nada das páginas foi
transferido para as telas dos cinemas. Vamos conferir? Então, mãos à obra.
01
– Cassino Royale (1953)
Cassino Royale marca o debut de 007. Podemos
defini-lo como um livro de apresentação do agente inglês, onde ele diz pela
primeira vez a clássica e imortal frase: “Bond... James Bond’. Quem quiser
saber mais sobre o livro clique aqui e vejam um post específico sobre a obra.
Mas agora vamos nos ater apenas as diferenças
gritantes entre livro e filme. Pera aí... Talvez... talvez... nem tanto. Até
que o filme Cassino Royale que marcou a estréia de Daniel Craig como o famoso
agente secreto de Sua Majestade não foge tanto da história original de Fleming,
exceto a descrição cansativa de um capítulo inteiro de como funciona um jogo de
bacará.
A cena da tortura é muito parecida com a história
escrita por Fleming, com Bond sentando-se completamente nú numa cadeira de
palhinha – com os órgãos genitais expostos - e levando porrada atrás de porrada
naquele lugar sagrado dos homens. A diferença é que na produção
cinematográfica, Bond é torturado com uma corda de marinheiro, enquanto que no
livro, o vilão Le Chiffre utiliza um chicotinho comumente usado em competições
de equitação.
O acidente com o carro do agente inglês
“arranjado’ pelos vilões de Le Chiffre
também é fiel ao livro, bem como o relacionamento entre 007 e Vésper. No mais
esqueça, nada de brigas, luta corpo a corpo, tiroteio, socos e pancadas. Não,
não e não. O livro Cassino Royale é arrastadíssimo, com Fleming se preocupando
muito mais em descrever como funciona um jogo de bacará, mesmo assim, é claro,
a obra tem as suas virtudes,, uma delas: a apresentação detalhada da
personalidade de James Bond. Cassino
Royale é o início de tudo; a pedra angular da série.
02
– Viva e Deixe Morrer (1954)
Acredite, tive que fazer uma leitura dinâmica do
livro “Viva e Deixe Morrer”, além de assistir ao filme de Guy Hamilton, numa pré-madrugada e
embriagado de sono, para ter condições de escrever essa ‘micro-parte’ do post. Cara, precisei fazer isso porque as
minhas lembranças sobre livro e filme eram muito vagas. Sei lá, lembro que
tinha o Roger Moore fugindo de uns crocodilos, enquanto pisava no lombo e na
cabeça dos animais. Eheheheh! Ri muito.... Melhor, gargalhei à exaustão. Mas
vamos ao que interessa: as diferenças entre filme e livro.
“Viva e Deixe Morrer” virou picadinho nas mãos dos
roteiristas e produtores e vou explicar o porquê. O livro emprestou fragmentos
de sua história para três filmes: “007- Viva e Deixe Morrer”, “Somente para
Seus Olhos” e “Licença para Matar”. Com relação à “Viva e Deixe Morrer”, os
fragmentos emprestados foram maiores, entre eles: as características pessoais
do vilão Mr. Big – excetuando a sua doença no coração, já que no livro de
Fleming, o vilão tinha o coração inchado -, a Bond-girl Solitaire também é bem
parecida com a do filme ... que mais... que mais... Ah! Aqueles lances de vodu,
macumba também são bem parecidos. No mais. Zefini. Esqueça a cena de Bond
pisando nas cacundas dos crocodilos, foi pura invenção do diretor Hamilton;
esqueça também a ameaça (apenas ameaça) do capanga de Mr. Big/ Dr. Kananga em
quebrar ou decepar um dos dedos das mãos de Bond após a sua captura, porque no
livro, o agente secreto tem, de fato, o dedo quebrado. Vale lembrar que na
produção cinematográfica, Solitaire salva 007 de perder um dos dedinhos. A morte
de Mr. Big também é completamente diferente daquela que você assistiu nas
telonas.
03
– Monraker (1955)
Pra começar no livro não tem o capanga “Dentes de
Tubarão” e muito menos Pão de Açúcar, Corcovado, bondinho e outras cositas mais
da ‘Cidade Maravilhosa’.
No livro, Monraker é um foguete, de fato, no qual o
vilão pretende colocar uma ogiva nuclear, visando a destruição de Londres. Já,
no filme “007 contra o Foguete da Morte”,
o Moonraker passa a ser uma moderna nave espacial capaz de entrar em
órbita e retornar à Terra como um avião. Ela foi emprestada pelos Estados
Unidos à Grã-Bretanha e sumiu sem deixar vestígios, quando estava sendo
transportada. James Bond, então, é convocado pelo MI6 (o Serviço Secreto
Britânico), par descobrir o paradeiro da nave. A primeira parada de Bond é na
Califórnia, onde estão as Indústrias Drax, que produzem os Moonraker. Ao chegar
no local, ele descobre que Hugo Drax quer lançar 50 grande esferas de vidros
com orquídeas negras dentro delas. As toxinas ao atingir a Terra iriam destruir
qualquer forma de vida humana.
A Bond Girl Gala Brand não aparece no filme. A
personagem acabou sendo substituída por Holly Goodhead, uma agente infiltgrada
nas indústrias Drax que também quer descobrir os planos escusos do do vilão.
No livro, 007 não vai parar no espaço sideral, ele
fica por aqui mesmo. As suas aventuras acontecem em terra firme.
04
– Os Diamantes são Eternos (1955)

Costumo dizer que no caso de “Os Diamantes são
Eternos, livro e filme não se misturam. Ambos são tão diferentes quanto a água
e o óleo. Enquanto o filme é reconhecido como um sequência de “À Serviço
Secreto de Sua Majestade”, com James Bond saindo à procura de Blofeld para
vingar a morte de sua amada esposa Tracy; no livro, o agente inglês é enviado
por M à uma missão em Serra
Leôa para investigar um grande esquema de contrabando de
diamantes. No cinema, Bond quer destroçar Blofield, custe o que custar,
vomitando e cuspindo ódio para todos os lados depois de ter presenciado – no
filme anterior - o grande amor de sua vida morrer em seus braços. Tudo normal
galera, afinal de contas, os filmes de 007 nunca seguiram a ordem cronológica
dos livros de Fleming e com “Os Diamantes são Eternos” não foi diferente. Na literatura, essa obra, escrita em
1955, não tem nada à ver com “A Serviço
Secreto de Sua Majestade” que só seria lançado oito anos depois. Portanto,
diferenças gritantes se compararmos os enredos de filme e livro.
Enquanto no livro o vilão era um rico milionário, no
filme, o personagem foi substituído por Blofeld numa rápida aparição. Com
relação a obra escrita, esqueça também aqueles ‘lances’ de veículos espaçais e
satélites, nada a ver. Este cenário foi pura invenção dos roteiristas e
produtores do filme.
05
- Moscou contra 007 (1957)
O contexto do livro “Moscou contra 007” se passa antes de “O
Satânico Dr. No”, mas – para variar – no cinema aconteceu o contrário, ou seja,
a opção dos ‘hollywoodianos’ foi a de filmar primeiramente “O Satânico Dr. No”.
Resultado: tiveram que mudar completamente o final da história, mesmo assim,
“Moscou contra 007 é muito fiel ao livro de Fleming com poucas exceções. Vamos
à elas.
No livro, na luta final entre James Bond e Rosa
Klebb, o agente inglês acaba sendo atingido pela ponta da lâmina envenenada que
a vilã da SMERSH carrega na ponta do sapato. Após o golpe, Bond “apaga”
completamente e por muito pouco não acaba morrendo. No início do livro seguinte,
“O Satânico Dr. No”, o agente inglês ainda está se recuperando fisicamente do
golpe, tanto é que M lhe dá uma missão – à primeira vista – não muito arriscada
em seu retorno ao trabalho de campo. Já no filme, Klebb acaba sendo morta com
um tiro disparado por Tatiana Romanova, enquanto travava uma luta feroz com Bond
que se defendia com uma cadeira. No mais, livro e filme são bem parecidos.
06
– O Satânico Dr. No (1958)
Há algumas diferenças; poucas, mas existem. Por
exemplo, a morte do Dr. No no livro não tem nada a ver com aquela que vocês
viram na telona. É evidente que não vou revelar o final do vilão para não
contaminar ainda mais esse post com spoilers.
Você que leu o livro deve se lembrar da luta
ferrenha que Bond travou com uma lula gigante, enquanto se encontrava no
cativeiro do vilão. Na época, devido ao baixo orçamento do filme os produtores
optaram por ‘podar’ essa cena juntamente com o monstrengo.
No livro, a Bond Girl Honey aparece na praia
completamente nua, usando apenas um cinto para a sua faca. No cinema, a
personagem interpretada por Ursula Andrews surge vestindo um biquíni branco.
À exemplo de “Moscou contra 007”, o filme “007 Contra
o Satânico Dr. No” foi bem fiel ao
livro.
07
– Goldfinger (1959)
“Goldfinger” é outro livro cuja história é parecida
com a do filme, com os roteiristas não fugindo tanto do contexto criado por
Fleming. Tudo o que tem no livro, você encontrará no filme: explosões,
tiroteios, perseguições de carro e isso e mais aquilo. Mas, nem por isso, as
tais diferenças deixam de existir. Anotem aí.
Oddjob, o icônico capanga coreano de Goldfinger não
morre eletrocutado no livro. Nas páginas, ele enfrenta Bond nas alturas, quer
dizer, dentro de um avião. Quando Bond está em desvantagem contra aquela
montanha de músculos, ele provoca a despressurização da cabine quebrando uma
janela. Então já viu o que acontece com o capanga que usa um curioso chapéu coco
com abas de aço... Não sobra nem a ponta da aba. O conteúdo homossexual presente no livro é mascarado
no filme. Nas páginas, Pussy Galore e suas meninas são assumidamente lésbicas,
já no filme de Guy Hamilton, essa homossexualidade fica bem disfarçada.
Enquanto nas telonas, Galore e suas comandadas são
aviadoras, no livro de Fleming, elas são acrobatas.
Nas telonas, o raio laser que quase corta Bond ao
meio numa mesa de torturas é substituído no livro por uma serra elétrica
circular. É isso mesmo! Semelhantes aquelas usadas por marceneiros. Arghhhhh!!
Pronto. As diferenças mais visíveis foram estas.
08
– Somente para seus Olhos (1960)
Pouco man, muito pouco mesmo. Este livro reúne cinco
contos: “ O Fator Invisível”, “Para Você, Somente”, Quantum de Refrigério”,
“Risico” e “ A Raridade de Hildebrand”, dos quais apenas dois: “Para Você,
Somente” e “Risico” foram utilizados como base para o filme de 1981, o quinto
longa metragem com Roger Moore na pele do agente inglês. Esqueça as fantásticas perseguições de esqui, tiros
e correrias. Ah! Esqueça também aquela trama em torno do roubo de um sistema de
comunicação conhecido por ATAC. Nada disso faz parte do contexto idealizado por
Fleming em seu livro.
No cinema, o governo britânico pede ajuda a um
renomado arqueólogo grego para localizar o dispositivo ATAC, mas antes que
consiga fazer qualquer coisa, ele e a esposa são assassinados, deixando órfã a
bela Melina. Bond é convocado por M com a missão de resgatar o sistema, então
acaba conhecendo e unindo forças à
Melina que busca vingança pela morte do pai. Já no livro, os pais da jovem são
mortos por não terem concordado em vender a sua propriedade para um grupo
criminoso. Por isso acabaram levando chumbo. ‘M’,
que era amigo pessoal do casal, manda Bond investigar o assassinato. Após um
rápido rolê, 007 descobre que a filha dos Havelock, Judy (Melina no filme),
está atrás do matador e do contratante. Ela pretende matá-los para vingar a
morte dos pais.
Cara, quanto a elementos do conto “Risico”, o filme
traz o ínfimo do ínfimo, apenas referências simplórias sobre a gang que matou
os pais de Melina e só.
09
– Chantagem Atômica (1961)
O plot do filme “007 Contra Chantagem Atômica” é
muito fiel ao livro. Ele gira em torno do roubo de duas bombas atômicas pela
SPECTRE e a posterior tentativa de chantagear as potências ocidentais para o
seu retorno. James Bond viaja até as Bahamas para trabalhar com Felix Leiter. “Chantagem Atômica”
também introduz o líder da SPECTRE, Ernst Stavro Blofeld, na primeira das três
aparições em livros de James Bond.
Com certeza é uma das adaptações mais fiéis de 007
para o cinema; também pudera: este livro foi baseado no roteiro para o que
seria o primeiro filme da série, co-escrito por Kevin McClory
e Jack Whittingham. Simples
man: O livro “Chantagem Atômica” não passa da novelização do roteiro do filme
homônimo. Caraca! Quer história mais fiel do que essa! Pois é, num belo dia, o produtor
cinematográfico Kevin McClory planejou produzir, junto a Fleming e o roteirista
Jack Whittingham, o primeiro filme do espião. Então, os três ‘belezuras’ se
sentaram ao redor de uma mesa, munidos de suas máquinas de escrever (computador
de mesa ainda era um sonho dos sonhos dos deuses) e começaram a trabalhar na
preparação do roteiro daquele que seria o filme inaugural de James Bond, mas
eis que... por algum motivo (queria ser um mosquitinho, naquela época, para
estar na ‘cena do crime’ e presenciar o fato) o trio de ouro se desentendeu e o
roteiro deu uma esfriada, então, reza a lenda que Fleming teria utilizado esse
roteiro como base para o romance “Chantagem Atômica”, sem consultar e tampouco
citar os nomes de seus colaboradores..

A disputa originou em 1963 um julgamento que custou a Fleming 50 mil
libras da época e uma grave piora de sua saúde que, mais tarde, causou sua
morte em 12 de agosto de 1964. Putz, meu! Que história trágica né galera? Por
isso que “Chantagem Atômica é ao mesmo tempo a adaptação cinematográfica mais
fiel de todos os 14 livros do agente secreto e a obra mais controversa de
Fleming.
Uma das poucas diferenças existentes entre livro e filme que poderia ser
citada nesse post é a exclusão dos vilões russos da SMERSH e a entrada da S.P.E.C.T.R.E. Vale lembrar que no início dos anos 60,
russos e americanos já estavam se abraçando disfarçadamente e se beijando escondidos,
por isso, não valia a pena melar essa relação com um simples filme.
10 – O Espião que me Amava (1962)

Só o nome. Isso mesmo galera, esta foi a única colaboração do romance de
Ian Fleming para o filme “007 – O Espião que me Amava”. Caramba, mas por que?
Ocorre que um dos produtores ‘todo poderoso’ da série, Albert Brocoli achou a
história tão ruim que preferiu usar apenas o título do livro em seu filme.
Brocoli com o apoio de seu parceiro Harry Saltzman optou por contratar
roteiristas conceituados de Hollywood para elaborar uma história completamente
independente e diferente do livro de Fleming. Há ainda uma outra historinha,
segundo a qual, a ordem para não utilizar o roteiro completo do livro, mas
apenas o seu título teria partido do próprio autor da obra. O próprio Ian
Fleming! Devido a enxurrada de críticas dos fãs e da imprensa que acharam a
história medíocre, o escritor teria ficado infeliz com o livro e
consequentemente quando vendeu os direitos de filmagem à Brocoli e Saltzman só
deu permissão para que o título fosse utilizado e nada mais. Sei lá, essa ou
aquela história, não me interessa. O que vale à pena é que Brocoli ou Fleming
acertaram em não deixar que o contexto do livro fosse transposto para as telas
porque os roteiristas ‘inventaram’ uma história sensacioonal para 007.
Caramba! O roteiro original foi tão bom, mas tão bom, que até hoje,
alguns críticos de cinema consideram “007 – O Espião que me Amava” o melhor de
todos os filmes da franquia do agente inglês e o melhor de toda a carreira de
Roger Moore.
No livro, a história é narrada em primeira pessoa pela personagem
Vivienne Michel que trabalha num motel de beira de estrada que durante uma
madrugada recebe a visita de dois mafiosos que tem planos de incendiar o local
e matar a moça. Eis então que surge, coincidentemente, 007 no motel, após ter furado um pneu de seu
carro. Ele pede para passar a noite no local, troca tiros com os dois
gangsters, mandando-os para as profundezas do inferno, dorme com a tal Vivienne e no dia seguinte
vai embora. E só!Putz, desculpe aí Fleming, mas etchaa romancinho rebinha...
jamais daria um filme, sequer mediano.
No filme do diretor Lewis Gilbert, James Bond e uma linda agente soviética unem-se para investigar o desaparecimento de submarinos atômicos e acabam enfrentando um perigoso e astucioso vilão, o bilionário magnata
e armador Stromberg, logo Bond e sua companheira são a esperança de toda a humanidade. O filme marca também a estréia do ‘capanga de vilão’ Jaws ou “Dentes
de Tubarão” como ficou conhecido. O grandalhão desajeitado com aqueles dentes
de metal fez tanto sucesso que voltou a participar de um novo filme do agente
secreto na chamada “Era Moore”.
11
– À Serviço Secreto de Sua Majestade (1963)
Sabe quando vemos duas pessoas parecidas, mas tão
parecidas que na lata, soltamos aquela famosa frase ‘touriana’: Caramba! A cara
de um é a fuça do outro!” O Kid Tourão vive dizendo isso quando encontra pela
frente pessoas homônimas na aparência. Certamente se ele fosse fã dos livros e
filmes de James Bond, diria essa mesma frase no momento em que lesse e
assistisse “À Serviço Secreto de Sua Majestade”. À exemplo de “007 contra
Chantagem Atômica” e o seu reboot “Nunca Mais Outra-Vez”, a produção
cinematográfica “À Serviço Secreto de Sua Majestade” segue fielmente o livro de
Fleming, com ínfimas alterações. Considero esses dois filmes os mais fiéis ao legado
de Fleming.
Cara, sinceramente, ao comparar livro e filme, não
encontro passagens destoantes em ambos; até mesmo os nomes dos personagens são
semelhantes. Só posso dizer: “Que livraço! Que filmaço!” E Zéfini!
12-
A Morte no Japão (1964)

Nada a ver livro e filme. Para começar, a obra
escrita é uma continuação de “À Serviço Secreto de Sua Majestade”, pois conta
como Bond reagiu após o assassinato de sua esposa Tracy. E a reação não foi das
melhores. Tão logo Tracy morreu pelas mãos de Blofeld, o agente inglês com o
duplo zero se entregou à bebida, vindo falhar em várias missões importantes. A
única mulher que ele havia amado de verdade não saía de sua cabeça e superar a
sua morte trágica era demais. Resultado: um agente perto do fracasso, entregue
a bebida e desmoralizado no Serviço Secreto. Este é o Bond que encontramos no
início de “A Morte no Japão”. Um agente pronto para ser demitido por M; que só
não o faz em consideração a tudo o que ele representou no passado. Dessa
maneira, M decide lhe dar uma nova chance à Bond e o envia numa missão
diplomática no Japão, onde deverá convencer o chefe do Serviço Secreto Japonês,
Tiger Tanaka, a fornecer informações importantes sobre um espião infiltrado
dentro do Serviço Secreto Soviético. Em troca das informações, Tanaka pede a
Bond que assassine Dr. Guntram Shatterhand, que possui uma fortaleza chamada
“Jardim da Morte”, aonde pessoas vão para suicidar-se. Bem, já deu para
perceber que o plot inicial do filme “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes” é
completamente destoante do livro. Na produção cinematográfica, o enredo é bem
mais complicado e diga-se de passagem, menos atraente.

Confira aí: ‘Após o
sequestro de uma nave norte-americana os Estados Unidos acusam os soviéticos
de boicote ao seu programa espacial.
Numa conferência entre o Reino
Unido, a URSS e os Estados Unidos, o representante dos
Estados Unidos dá um ultimato contra a URSS. Porém, os britânicos não acreditam
que foram os soviéticos que sequestraram a nave, afirmando que viram que a nave
sequestradora tinha aterrado no Japão. Assim, o Reino Unido decide enviar James
Bond para o território e averiguar o caso, a fim de evitar uma guerra mundial
entre as duas potências’. Fraquinho, né?
Grande parte da ação do livro se desenvolve no
interior do Jardim da Morte, onde Bond enfrenta
muitos perigos, desde plantas carnívoras e venenosas à lagos com
piranha. O agente de Sua Majestade acaba descobrindo ainda que o Dr. Guntram
Shatterhand é na realidade mais um dos disfarces de Blofeld. Ao saber disso, o
antigo desejo de vingança volta a ferver em suas veias e, então, matar o
assassino de Tracy acaba virando uma questão de honra. Quanto ao filme com Sean
Connery, não vemos nada disso.
No livro, o leitor é brindado com um confronto corpo
a corpo entre Bond e Blofeld num eletrizante duelo de espadas. No filme,
esqueça... esse confronto nunca ocorre.
Não vou revelar o final de “A Morte no Japão”, para
não detonar o clima daqueles leitores que ainda não devoraram a obra, mas
garanto que o destino de Bond passa longe do roteiro do filme de Lewis Gilbert
e ainda serve como gancho para o livro seguinte de Fleming: “O Homem da Pistola
de Ouro”.
Se você ler “A Morte no Japão” e depois assistir ao
filme “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”, chegará a conclusão que se tratam de
duas obras distintas e muito distintas.
13
– O Homem do Revolver de Ouro (1965)
Taí mais um exemplo de livro e filme distintos. A
não ser os nomes de alguns personagens; os produtores e roteiristas do filme
“007 contra o Homem com a Pistola de Ouro” mandaram as favas o contexto do
livro de Fleming. Acho que foi mais ou menos assim: “Olha, vamos aproveitar só
o nome da obra e de alguns personagens; o resto, a gente inventa”. E até que
inventaram um filme ‘meia-boca’ com Roger Moore vivendo James Bond pela segunda-vez.
No filme, Francisco Scaramanga dá uma de galo de
briga e chama 007 para o terreiro com a intenção de descobrir quem é o “Rei do
Gatilho”. Para isso, ele envia uma bala dourada, calibre 42 com a inscrição 007
à sede do Serviço Secreto Britânico. Com a ameaça feita a seu principal
funcionário, “M” sugere a Bond que tire férias. O agente sabe, porém, que a
chance de ser morto é grande e que tem apenas uma alternativa para virar o jogo
a seu favor: encontrar antes o vilão. Durante a caçada, ele descobre que
Scaramanga roubou uma estranha engenhoca que produz células de energia e que
poderá vir solucionar o problema da falta de petróleo. Fica evidente que o vilão
quer usar essa máquina para destruir Bond.

Caraca! Já perceberam que o plot principal do filme
gira em torno de uma disputa boba para saber quem é o melhor no tiro: o vilão
que é um assassino profissional desde os 15 anos ou o melhor agente do Serviço
Secreto Britânico. Já no livro, a ‘coisa’ é um pouco mais séria. A obra
funciona como continuação de “A Morte no Japão”, onde um ano depois de James
Bond desaparecer durante a missão naquele País,
é dado como morto. Em seguida, um homem que se diz ser Bond,
aparece em Londres para encontrar M.
Após alguns exames e interrogatórios, a identidade do homem é confirmada, mas,
durante sua entrevista de balanço com M, 007 tenta matá-lo com uma pistola de
cianeto, mas a tentativa falha.

O Serviço Secreto Britânico logo descobre que depois
da destruição do castelo de Blofeld no Japão, Bond sofreu um ferimento na
cabeça, ficando com amnésia subseqüente. Tendo vivido como um pescador
japonês durante vários meses, 007 viajou para a União Soviética afim de saber a sua verdadeira identidade. Mas, ele acaba sofrendo uma lavagem
cerebral e é mandado de volta à Inglaterra para matar M. Após passar por um
processo contrário à lavagem cerebral, é dada à James Bond uma chance de provar
seu valor como um membro da seção “00″. “M” lhe atribui uma missão na
Jamaica aparentemente impossível: localizar e matar Francisco “Pistolas”
Scaramanga, um assassino cubano que acredita-se ter matado vários agentes
secretos britânicos. Scaramanga também é conhecido como “O Homem do
Revólver de Ouro”.
Meu!! Quanta diferença!!
14
– Encontro em Berlim (Octopussy) (1966)
“Octopussy” ou “Encontro em Berlim” (título lançado
no Brasil) doou muito pouco para o filme “007 contra Octopussy”. Dos quatro
contos do livro de Fleming – ‘Encontro em Berlim’, ‘James Bond Acusa’, ‘A
Propriedade de Uma Senhora’ e ‘007 em Nova York’ - o filme de 1983 com Roger Moore e a
– na época – estonteante Maud Adams utilizou como base apenas dois: ‘James Bond
Acusa’ e ‘A Propriedade de uma Senhora’. No primeiro conto, 007 é ordenado a
capturar o Major Dexter Smythe, herói da Segunda Guerra Mundial acusado de roubar
ouro nazista. A maior parte é contada em flashback pelo vilão. No segundo, Bond
investiga uma funcionária do Serviço Secreto, Maria Freudenstein, que é uma
agente dupla paga pelos Russos para leiloar um relógio feito por Peter Carl Fabergé
na casa de leilões Sotheby’s em Londres.
No filme Bond, ao tentar solucionar quem assassinou
o agente 009, segue a pista de um Ovo Fabergé roubado do Kremlin, que aparece
em uma famosa casa de leilões de Londres e que pode ser a chave do mistério,
pois o agente morto foi encontrado com um Fabergé falso.
Em meio à rede que se forma ao redor do ovo, o
agente 007 vai à Índia e à Europa Oriental onde reencontra Octopussy, filha de
um ex-inimigo seu, que para salvar a própria vida, se une a Bond para frustrar
os planos de Kamal Khan, um príncipe afegão que com a ajuda de Gobinda saqueiam
tesouros do último czar da Rússia espalhados pela Europa. Por trás deles está
um general soviético que quer destruir Berlim com bomba atômica.
Nada a ver livro e filme... nada a ver.... ambos bem
diferentes.
Enfil galera, é isso aí. Espero que tenham curtido o
post.
Inté já!
16 comentários
Quero comprar os livros onde eu achooo??
ResponderExcluirEncontrará a maioria neste link:
Excluirhttp://www.estantevirtual.com.br/busca?vmnqm=0&q=Ian+Fleming
Amo os livros do Fleming, são sempre bons.
ResponderExcluirCom raríssimas exceções, eles são fantásticos :)
ExcluirGrde abraço!
Viva e Deixe Morrer, realmente, tem muitas diferenças entre filme e livro. Eu estava comprando aquelas bonitas novas edições da Alfaguara, eles chegaram a lançar 4 volumes. Mas agora que a Objetiva foi pra Companhia das Letras, sei lá quando e se vai ter livro novo...
ResponderExcluirPois é Lucia, parece que as edições dos livros antigos de 007 que vinham sendo relançados pela Alfaguara 'brecaram'. Vasculhei as redes sociais e tbém entrei em contato (via email) com a Companhia das Letras. A resposta é aquela já bem manjada: "Não há nenhuma previsão, por enquanto".
ExcluirSó resta aguardar.
Abraços!
Caro José Antonio,
ResponderExcluirPrimeiro,parabéns pelas suas ótimas resenhas e esta em especial, cotejando os livros de Ian Fleming com os filmes e tirando conclusões precisas e inteligentes.
Segundo, você é uma raridade, no bom sentido da palavra.
Você descobriu o "James Bond literário" que difere, e muito, do "cinematográfico".
O Bond de Ian Fleming é muito mais de "carne e osso", vide, entre outras, a angustiante e arrepiante cena de tortura de "Cassino Royale".
Nós somos mais ou menos da mesma idade e você, como eu, deve ter descoberto primeiro o Bond do cinema. E o impacto, principalmente do Bond de Connery, é muito grande.
Mas quem for ler Fleming esperando encontrar o Sean Connery nas páginas dos livros, pode se decepcionar.
Mas deixar de ler Fleming por causa disso é uma grande injustiça para com o talento dele.
E uma coisa que Fleming tinha era talento para contar uma boa história, mesmo que mirabolante às vezes.
Ele não tinha era altas pretensões literárias como tem até hoje o excelente John le Carré, mas ele, como poucos, tinha um ótimo senso de ritmo e de criação de suspense e Bond, o dos livros, não é uma criação unidimensional ou, se preferir, um "cardboard character".
Termino elogiando você por um outro motivo singelo: você é, além de mim, a única pessoa que eu conheço que leu aqueles dois ótimos contos de Fleming, "Encontro em Berlim" e "James Bond Acusa", no Brasil lançados pela extinta Edições Bloch.
E, justiça seja feita, a Edições Bloch ainda teve outro grande mérito, o de lançar no Brasil outro ótimo escritor de espionagem, o londrino Len Deighton, criador de um espião diferente e sem nome, mas que ficou famoso nos meus tempos (mas infelizmente não mais) como "Harry Palmer" por causa de Michael Caine, que o encarnou em 03 filmes no cinema.
Bem, eu delonguei-me um pouco, queira perdoar.
Grande abraço, parabéns novamente pelo blog e pelas ótimas resenhas e obrigado.
Fique a vontade para expor o seu ponto de vista no blog, quantas vezes quiser, e sem receio de estender-se nos comentários. Se bem feitos, como o seu, servem para complementar as informações publicadas no post.
ExcluirAbcs!
meu nobre José Antônio, fiquei muito feliz em saber que existe um site que fala sobre o paralelo entre o James Bond do cinema e o dos livros. Não é novidade pra mim que os filmes são muito diferentes dos livros. Há muitos exemplos disto. Entretanto, gostaria muito de usa contribuição para me ajudar num trabalho acadêmico. Acredito que nao terei tempo de ler todos os livros de Ian até a conclusão de minha monografia. Eu sou um estudante, admirador do personagem de 007, e pretendo escrever uma monografia sobre ele. E como quero apresentar um trabalho bem feito, antes de mais nada tenho uma dúvida. O perfil profissional do personagem do filme é muito diferente do livro? Como eu só conheço o personagem dos filmes, tenho receio de cometer algum pecado ao elevar o perfil profissional do personagem como um exemplo de um bom profissional apenas me baseando pelo que vejo no filme, e de repente ser uma decepção ao ser comparado ao do livro. Meu trabalho acadêmico tem como tema analisar o personagem 007 e aproveitar o que ele tem de melhor enquanto um bom profissional.
ResponderExcluirEspero que eu tenha sido claro na minha colocação, e espero ser entendido.
Pesquisei e não encontrei monografias sobre 007 e queria aproveitar que sou fã dele.
Tenho interesse em ler os livros posteriormente, até pra poder ter uma análise crítica, assim como você o fez. Mesmo sabendo que há em alguns livros um "nada a ver" com os filmes.
Aguardo ansioso sua resposta para que possa me incentivar a conclusão do meu trabalho em Psicologia do Trabalho.
Um abraço fraterno!
Jorge, a versão 007 dos livros é muito mais fria e sombria do que a versão cinematográfica. Acredito que os dois atores que mais se aproximaram das caracteristicas do James Bond dos livros foram Timothy Dalton e Daniel Craig. Nos filmes em que protagonizaram vemos um Bond sombrio, vingativo e totalmente frio na hora de realizar suas missões.
ExcluirNa minha opinião o Bond idealizado por Ian Fleming é muito mais eficiente do que o personagem das telas. Para o 007 dos livros, o que interessa, acima de tudo, é cumprir a sua missão, o resto esqueça. A missão cumprida é mais importante do que mulheres, humor e jogos sexuais. Isto o torna muito mais eficiente em termos profissionais. Na minha opinião, quando James Bond foi adaptado para os cinemas aconteceu uma 'amenização' do seu lado sombrio, cruel e implacável.
Espero ter ajudado.
Abcs!!
Gostaria de sua visão a respeito deste artigo http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/noticia/2012/11/12-licoes-de-james-bond-em-operacao-skyfall-para-sua-carreira.html
ResponderExcluirse existe fundamento, pois em vez de eu usar o personagem como um todo, poderia focar neste filme em específico e sobre este recorte feito no artigo da revista. Já que eu pensei na minha monografia baseada nesta perspectiva do que relatou este artigo, achando e acreditando que os demais filmes pudéssemos retornar os bons aspectos que o personagem pode ensinar.
Cara, achei o artigo fantástico! Os autores transferem o contexto fictício de um filme para o contexto real no mercado de trabalho. Na minha opinião, tem fundamento sim. Artigo muito bem escrito e com argumentos que convencem o leitor. Mostre para o seu orientador e veja o que ele acha, se pode ser utilizado em sua monografia. Na minha visão de leigo, daria um ótimo trabalho.
ExcluirMeu grande amigo José Antônio, fico muito grato pelo seu retorno e quando tiver concluído meu trabalho, irei lhe encaminhar para saber sobre sua crítica. Um grande abraço e agradeço suas contribuições.
ResponderExcluirParabéns pelo artigo. gostei muito. Acredito que onde você escreveu pedra filosofal na verdade que dizer pedra angular.
ResponderExcluirObrigado Marcos. Fico feliz que tenha gostado do post. E tem razão; de fato, o correto é pedra angular e não filosofal, como escrevi.
ExcluirValeu por avisar. O erro já foi corrigido.
Abcs!
Algumas observações:
ResponderExcluir1) 007 - Nunca Mais Outra Vez é um remake, não um reboot!
2) Ian Fleming morreu por excesso de trabalho, ignorando os conselhos do médico que lhe disse para parar por problemas de saúde!
3) 007 - O Espião que Me Amava não foi autorizado a ser fiel por Ian Fleming realmente, ao passo que 007 contra o Foguete da Morte teve um roteiro diferente do romance aproveitando os sucessos de Contatos Imediatos de Terceiro Grau e Star Wars!
4) Kevin McClory não autorizou Albert R. Broccoli e Harry Saltzman a filmarem 007 contra a Chantagem Atômica, pediu ajuda a eles após não encontrar um ator para ser James Bond e os processou depois por só darem os créditos a Ian Fleming pela história original!
De resto, meus parabéns pela ótima matéria!