Um romance de redenção. A redenção de 007. É dessa maneira que defino “A Morte no
Japão”, 12º livro da série James Bond, escrito por Ian Flmeing e considerado o
capítulo final do que ficou popularmente conhecido pelos fãs do agente secreto
como a “Trilogia Blofeld”.
A história começa oito meses
após o assassinato de Tracy, que ocorreu no final do romance anterior, A
Serviço Secreto de Sua Majestade. Após perder a esposa em sua lua de mel, morta
por Blofeld, Bond passou a beber e jogar
muito, além de cometer erros infantís, transformando as suas missões em
verdadeiros fiascos. Por isso, o agente inglês acaba se transformando numa
verdadeira piada no MI6. Olha cara, confesso que é triste presenciar nas páginas
essa fase FDP de Bond. Só mesmo quem conheceu, à fundo, nos livros e também nos
filmes aquele sujeito auto-confiante, cruel e infalível na arte de matar para
ficar chocado e boquiaberto com as primeiras páginas de “A Morte no Japão”.
Nosso estimado Bond está
acabadaço, arruinadaço, entregue à baratas. Sei lá, entendam como quiser. Aliás
não quero nem lembrar dessa fase.
Na semana passada, eu estava jogando
conversa fora com um amigo, enquanto traçávamos uma gostosa loira gelada, então
tivemos a idéia de fazer um joguinho meio besta (rs). Vejam só: resolvemos
enumerar os 10 momentos mais humilhantes de alguns heróis da literatura e
também do cinema. Ao final chegamos a conclusão de que para nós dois –
apreciadores intragáveis de loiras geladas, bons livros e filmes – a surra que
o “Morcegão” levou do Bane (no cinema e
nos quadrinhos) e que o deixou aleijado, juntamente com a porrada na alma de
007 dada por Blofeld e que o transformou num bêbado imprestável, lideram a
lista desses momentos humilhantes vividos pelos heróis da literatura e do
cinema.
Bem, voltando ao enredo de “A
Morte no Japão”. Antes de meter o pé nas ancas de Bond, mandando a piada do MI6
para o olho da rua, o seu chefe M – em respeito aos bons serviços prestados por
007 no passado – resolve dar-lhe uma última chance: uma missão semi-diplomática,
à princípio fácil demais, para que ele recupere aos poucos a sua confiança. M,
então, manda o seu pupilo para o Japão com a missão de conseguir alguns códigos
secretos com o chefe do serviço secreto japonês, Tigre Tanaka. O que Bond
desconhece é que Tanaka já liberou esses códigos para a Inglaterra, sem nenhum problema. Ao
chegar na terra do sol nascente, 007 acaba se tornando um grande amigo de
Tanaka que decide fazer uma proposta para Bond: matar o Dr. Guntram Shatterhand
que vem dando uma dor de cabeça danada para as autoridades japonesas. 007
descobre, então, que Shatterhand é na realidade Ernst Stavro Blofeld. Pronto!
Ao saber disso, o bom, infalível e velho Bond ressurge e sai em uma missão de
vingança para eliminar Blofeld e sua esposa, Irma Bunt, os responsáveis pelo
assassinato de Tracy.
Achei o ‘plot’ de “A Morte no
Japão” muito louco, no bom sentido, o
que deixa evidente a genialidade de Fleming que já tinha idéias bem ousadas para o seu tempo.
No enredo, Blofeld
descobre, após várias pesquisas, que o Japão é um dos países com a maior taxa
de suicídio do mundo. Por isso, ele resolve lucrar com a desgraça alheia,
criando em seu castelo um jardim da morte, onde as pessoas decididas a colocar
um fim na vida se reunem para concretizar o seu objetivo.
Edição inglesa do livro de Fleming |
Este jardim da morte é o
paraíso para os suicidas que podem escolher o tipo de morte que desejam, com ou
sem sofrimento. No jardim de Blofeld tem de tudo, desde sapos e plantas
venenosas que ficam camuflados em locais estratégicos para que os futuros
suicidas não os percebam, correndo assim, o risco de quebrar o fator surpresa
da morte. Há ainda lagos infestados de piranhas, armadilhas letais que podem
decepar os mebros dos incautos, efim, um festival de atrocidades. Olha, vou
parar por aqui porque o papo tá ficando meio down, meio sinistro. Sei lá
galera, isso me lembra aquela filme “Jogos Mortais”.
Bom, mas já deu para que você
tenha uma noção do jardim de horrores de Blofeld. E é nesse local que Bond
ingressará em busca de sua vingança contra o vilão. Podem ter certeza de que o
nosso agente encontrará muitos perigos pela frente, antes de ficar cara a cara
com o vila da S.P.E.C.T.R.E.
A redenção de Bond começa a
acontecer a partir do momento em que ele descobre que Blofeld está vivo e
matando outras pessoas inocentes. A partir daí, ele decide esquecer os oito
meses de fracassos de sua vida e sepultar dignamente Tracy em sua memória, prometendo
vingar a sua morte. Neste momento é hora de soltar um Iahuuuuuuuuuu!! Afinal de
contas cara, é o velho Bond que ressurge!! Cruel, letal, inteligente, charmoso
e auto-confiante; enfim, um sujeito fod!! Desculpa aí pessoal, é que nesse
momento da transformação, da redenção, o livro empolga, de fato.
No final de “A Morte no
Japão”, Bond consegue vingar Tracy, mandando Blofeld, o seu castelo e o seu
jardim dos horrores para os quiabos, mas sofrendo algumas sequelas. Sequelas,
aliás, que serviram de gancho para o próximo livro da série “O Homem do
Revólver de Ouro”, onde Bond teve de partir para uma nova redenção, desta vez,
reconquistar a confiança de seu chefe M, mas isso é assunto para um outro post,
quem sabe.
Neste livro que encerra a
“Trilogia Blofeld”, o vilão da S.P.E.C.T.R.E está muito mais louco, egocêntrico
e sádico. Tanaka, inclusive, se refere à ele como um “demônio que tomou forma
humana”.
“A
Morte no Japão” foi o último livro
escrito por Fleming publicado durante a sua vida. Ele morreria cinco meses após
o lançamento do romance no Reino Unido.
Taí
galera e assim, encerro a famosa “Trilogia Blofeld”, três livros indispensáveis
para os iniciados ou estreantes – não importa – no universo bondniano.
Inté!
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