Como já havia revelado no facebook do Livros e Opinião,
decidi num desses dias de minha vida, escrever um post sobre a “Trilogia
Blofield”. Com certeza, os iniciados em 007 -
no 007 de Ian Fleming e não nas cópias e aberrações de outros autores -
sabem do que estou “falando”. Já, para os não aficionados, basta dizer que a
“Trilogia Blofeld” corresponde aos três livros onde aparece o pior inimigo de
James Bond: o “Número 2”
Ernst Stravo Blofeld. Vale lembrar que nos cinemas, ele é o “Número 01”.
Para que vocês entendam a importância de Blofeld na
‘literatura Bondniana”, é essencial esclarecer que ele foi o único vilão de 007
que apareceu em três livros de um total de 14 escritos por Ian Fleming sobre o
agente secreto inglês. Três??? Não... não... me desculpem. Em quatro livros.
Isso mesmo quatro livros! Em “Espião e Amante”, Fleming também faz algumas
citações à Blofeld. Quanto aos outros vilões da série só tiveram direito a um
livro; e nem poderia ter sido diferente, já que eles foram eliminados por Bond
ou então fugiram com o rabinho no meio das pernas, excetuando Rosa Klebb que
foi presa após ferir gravemente 007 e Le Chiffre, morto por um capanga da
Smersh, quando estava perto de capar o nosso pobre herói com um batedor de
tapetes, mesmo assim, os dois não apareceram em nenhuma continuação.
Blofeld, ao contrário dos outros vilões que ficaram só no
quase com 007, acabou sendo o seu algoz, infligindo sofrimentos terríveis e que
deixaram cicatrizes profundas no corpo e na alma de Bond. Estas marcas foram
tão profundas que por pouco não transformaram 007 num trapo humano, fazendo com
que ele - que sempre foi considerado o melhor agente secreto de Sua Majestade -
se tornasse uma legítima piada devido aos fracassos das missões à ele
confiadas. Aliás, Bond só não foi desligado do MI6, graças ao seu chefe ultra
sisudo o tal do “M”. Mas isso é assunto para “A Morte no Japão”, último livro
da “Trilogia Blofield”. Os outros dois são: “Chantagem Atômica” e “À Serviço Secreto
de Sua Majestade”.
Voltando à “Chantagem Atômica”; nesse livro, Fleming nos
apresenta à Blofield, descrevendo detalhadamente as suas características
físicas, além de sua personalidade. E logo nas primeiras páginas do livro –
para ser exato no capítulo cinco sobre a S.P.E.C.T.R.E - o leitor já tem uma
noção da pedreira que James Bond irá enfrentar. Após ler a apresentação do
vilão feita detalhadamente por Fleming, o blogueiro aqui murmurou: -“ Caraca!
Esse sujeito é capaz de peitar o nosso agentão!” E é mesmo! Olha pessoal,
esqueça o Blofield dos cinemas vivido – diga-se de passagem, brilhantemente -
por Donald Pleasance e Telly Savallas. O vilão original dos livros é bem mais
cruel, mas cruel aos extremos; capaz de matar uma pessoa como se fosse um inseto,
unicamente para atingir os seus objetos. Esta crueldade doentia, onde não há
vez para o remorso e o perdão, fica evidente no momento em que Fleming apresenta
Blofield aos seus leitores e o compara à outros tiranos da história, como Adolf
Hitler, Mussolini e Genghis Khan.
Neste primeiro livro da trilogia passamos a conhecer minuciosamente a
vida de Blofield, desde a sua juventude até a fase adulta. Como ele era antes e
como ficou depois de ter se tornado o fundador e chefe da S.P.E.C.T.R.E
(Sociedade Política Especializada em Contra-espionagem, Terrorismo, Rapinagem e
Extorsão).
Para aqueles que pretendem se iniciar no mundo literário de
007, lendo os 14 livros oficiais do espião, escritos por Fleming, aconselho
seguir a sequência em que foram escritos. Apesar de alguns afirmarem que não há
a necessidade de se seguir uma ordem cronológica de leitura, em minha humilde
opinião, há sim, principalmente no que diz respeito aos três livros sobre
Blofield. O correto é ler primeiramente “Chantagem Atômica”; depois, “À Serviço
Secreto de Sua Majestade” e por último “A Morte no Japão”. Mas se você quiser
fazer o serviço completo, não custa nada incluir nessa listinha o livro “Espião
e Amante”. Eu explico o motivo. É que a obra funciona como uma “meia pós
sequência” de Chantagem Atômica com referencias sobre Blofield e a “Operação
Thunderball ou Chantagem Atômica. Tudo bem que sejam poucas referencias, mas
constam.
Já que toquei no assunto sobre a cronologia dos livros de
007 escritos por Fleming, vamos à ela: Cassino Royale (1953), Viva e Deixe
Morrer (1954), O Foguete da Morte (1955), Os Diamantes São Eternos (1956),
Moscou Contra 007 (1957), O Satânico Dr. No (1958), Goldfinger (1959), Para
Você, Somente (1960), Chantagem Atômica (1961), Espião e Amante (1962), À Serviço
Secreto de Sua Majestade (1963), A Morte no Japão (1964), O Homem Com o
Revolver de Ouro (1965) e Encontro em Berlim (1966).
Acredito que ao escrever “Chantagem Atômica”, Fleming já
havia decidido trazer Blofield numa
continuação e ao concluir “A Serviço Secreto de Sua Majestade”, ficou mais do
que provado que o vilão voltaria num terceiro livro. No final de “À Serviço
Secreto...”, quando todos acreditavam
que Blofield havia fugido como um camundongo assustado, eis que ele volta,
sorrateiramente, e aplica um golpe baixo em Bond, deixando o agente secreto
inglês completamente desnorteado. Talvez o golpe mais doído que 007 tenha sofrido
em toda a sua vida. E como não era hábito de Fleming dar os louros da vitória
para os vilões em seus livros, os leitores tinham mais do que certeza de que
Blofield voltaria num terceiro livro. E isso acabou acontecendo em “A Morte no
Japão”.
“Chantagem Atômica” é um livro de introdução à Ernst Stravo
Blofeld, onde o Nº 2 da S.P.E.C.T.R.E não aparece muito, deixando essa
incumbência para um de seus asseclas: Emilio Largo. Fleming, basicamente
descreve a personalidade e a aparência, além de fornecer informações detalhadas
sobre a origem do vilão. O confronto ‘tête-à-tête’ ocorre, mesmo, entre Bond e
Largo.
Na verdade, Blofield começa a infernizar a vida de 007 a partir de “À Serviço
Secreto de Sua Majestade”, onde pretende colocar em prática um plano bem sui
generis para dominar o mundo e que acaba sendo descoberto pelo agente. A
perseguição de trenós entre “mocinho e bandido” nas páginas finais do livro é fantástica; mas
isso é assunto para o segundo livro da trilogia. Logo, loguinho.
Inté já!
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