O livro de Andreas Englisch caiu como uma bomba na net.
Qualquer blog ou site ou ainda qualquer tipo de rede social não traz outro
assunto a não ser a obra “O Homem Que Não Queria Ser Papa”. E não poderia ser
diferente, já que o livro do jornalista que trabalha como correspondente alemão
do Vaticano promete revelações surpreendentes sobre os motivos que levaram o
cardeal – também alemão – Joseph Ratzinger a deixar o papado.
Tão logo tomei conhecimento do lançamento de “O Homem Que Não
Queria Ser Papa” escrevi algumas poucas linhas no Facebook do blog, deixando
evidente o meu receio. E posso confessar prá vocês que é um baita receio! Cara,
fico pensando com os meu botões: como esse jornalista conseguiu escrever um
assunto tão complexo num recorde?! É muito estranho. Aliás, chega a ser
inacreditável! Passaram-se, apenas, poucos dias da renuncia de Ratzinger e
pronto! Lá estava um livro exposto nas principais livrarias de todo o mundo
falando sobre o tema.
Sei não... Talvez por isso, fico com os dois pés bem para atrás.
A impressão que tenho é que se trata de uma obra oportunista. Daquelas que são
lançadas - após a ocorrência de um fato polarizador de atenções em todo o mundo
- unicamente com o intuito do malfadado autor colocar alguns milhões no bolso.
“facinhu”, facinhu”.
Já cai em muitas dessas armadilhas e juro que me senti o
sujeito mais cretino do mundo. Pensei comigo depois de ter caído na arapuca: -
“ Mêo! Como você pôde ser tão tonto!!” Nessas obras infelizes que tive o
desprazer de ler – quer dizer, ler pela metade, já que não consegui terminar –
ficou provada a má intenção do escritor, já que as obras foram escritas de
afogadilho para aproveitar aquele momento em que o fato estava bombando. Então,
nada de pesquisas, nada de seriedade, nada de honestidade, nada de nada e mais
nada.
Só faltei dar cabeçadas na parede após cair no conto do
vigário e comprar a bibliografia do Michael Jackson escrita e produzida por seu
pai. Tudo o que está no livro foi tratado de maneira superficial, sem muitos
detalhes. Os fatos revelados na obra, já haviam sido explorados à exaustão pela
imprensa.
Mas como dizia minha saudosa avó: -“ É fio, burro véio não
aprende andar”. E fazendo jus a essa pérola da Dona Francisca, lá vai o burro véio
de novo. Há alguns anos, após várias redes de TV terem explorado a notícia de
que um grupo de arqueólogos teria, supostamente, descoberto o local onde a arca
da aliança, que continha os 10 mandamentos, teria sido enterrada; no impulso
comprei o livro de Laurence Gardner sobre o assunto. A obra chamada “Os
Segredos Perdidos da Arca Sagrada” foi o pior pesadelo de minha vida. Gastei
uma fortuna, na época, para adquiri-lo e a linguagem rebuscada, complicada,
misturando religião com física, esoterismo, cabala e o escambau a quatro me
tirou do sério. Hoje, faço questão de guardar esse livro em minha estante para
lembrar da minha inocência ou burrice em ter comprado alguns calhamaços ruins
sem pesquisar.
Portanto, acho que deu pra entender todo o meu receio com
relação ao livro de Englisch. Por mais otimista que eu seja, não dá para
acreditar que o sujeito teve tempo hábil para realizar uma pesquisa séria e
apurada sobre os motivos que levou o cardeal Ratzinger a abandonar o trono de Pedro.
Me desculpem, mas definitivamente não dá.
Acredito que ao contrário do que penso, muitos leitores já
mergulharam de cabeça nas informações chamativas sobre o livro e adquiriram-no sem pestanejar. E cá entre nós; a intensidade do fato somado
ao eficiente trabalho de divulgação promovido pela Editora Universo dos Livros,
se transformam numa verdadeira armadilha para que as vítimas façam aquela
compra por impulso... sem pensar.
O autor disse durante entrevistas de divulgação que promete
apresentar com exclusividade em sua obra todas as polêmicas vividas nos sete
anos em que Ratzinger
foi papa. Entre as polêmicas que ele garante ter explorado estão as especulações
sobre uma possível relação entre o papa e o exército de Hitler, durante a
Segunda Guerra Mundial; crimes de lavagem de dinheiro; além de supostas
ocultações em casos de pedofilia.
Englisch diz em seu livro que Ratzinger, mesmo antes de ser
nomeado pontífice em 2005, já expressava sua aversão em se tornar a figura
governamental mais conhecida e importante dentro da maior comunidade religiosa
do planeta. Segundo o autor, o cardeal alemão não queria se expor a grandes
multidões e, muito menos, enfrentar os conflitos internos da Igreja Católica.
Seu objetivo era continuar com os trabalhos de teologia num mundo particular.
“O Homem Que não Queria ser Papa” revela que entre os
assuntos polêmicos da gestão de Ratzinger estão os graves casos de pedofilia e
as supostas tentativas de ocultações criminosas realizadas pela Igreja
Católica. Em um desses crimes, o nome de Ratzinger teria sido citado como um
dos responsáveis por esconder o sacrilégio de um padre, quando ainda era
arcebispo de Munique na década de 1980.
Caramba! Na apresentação de sua obra, o autor só torpedeia o papa.
É soco, chute e rasteira pra todos os lados. Bem, não vamos ser inocentes ao
âmago para acreditarmos que o Vaticano é o Éden e o papa um ser humano perfeito
que nunca erra, livre de ambições e pecados. Muitas intrigas, com certeza,
ocorrem nos bastidores do Vaticano e o Papa também cometeu os seus erros, mas
pêra lá! O sumo-pontífice da Igreja Católica também teve os seus acertos, as
suas conquistas; mas Englisch oculta tudo isso na apresentação de seu livro. E
como não bastasse, fecha com chave de ouro lembrando que o leitor viverá através
das páginas da obra, as intrigas explosivas, os encontros secretos, os casos de
mortes e muitos conflitos internos, transportando-os para um universo digno de
romance de suspense.
Sei lá, esse argumento final do autor ficou mais parecido com
o anuncio de “O Código da Vinci” do que uma biografia sobre um ex-papa.
7 comentários
Não tem nada a ver com o seu post, mas talvez goste disso aqui:
ResponderExcluirhttp://gatosmucky.blogspot.com.br/2013/03/os-melhores-temas-romanticos-de-todos.html
Abraço.
Também sou amante da literatura. Descobri seu blog hoje. A partir de agora vou segui-lo.
ResponderExcluirObrigado Severo!
ExcluirEspero que aprecie os posts e que eles possam lhe ajudar na escolha de algumas obras.
Abcs!!
Jam,
ResponderExcluirconcordo plenamente contigo sobre o Livro "O homem que não queria ser Papa". Tive a mesma impressão. Muito sensacionalismo e pouca análise crítica. Em resumo: o livro é muito ruim!
Parabéns pelo blog.
Sempre devemos desconfiar dos livros que exploram fatos recentes e escritos de afogadilho.
ResponderExcluirGrde abraço Zeb!
Estou lendo o livro.
ResponderExcluirLogo entendi porque é tão volumoso: o autor fala da própria história como correspondente no Vaticano; se vai falar do Papa alemão volta no tempo para falar dos papas alemães. Ou seja, é um mestre em "encher linguiça".
Sem contar quão sensacionalista é a linguagem!
E mais: nem parece que está há tanto tempo no Vaticano: Missa de Coroação de Ratzinger? Coroação? Por favor. E mais: faz acusações gravíssimas ao Cardeal Schönborn de Viena.
E fica divagando sobre o que Papa teria pensado. Isso qualquer um faz. Mas a impressão é que ele não é um observador,mas a própria consciência do Papa.
Leio os vaticanistas quase diariamente. Esse, sem dúvida, é o pior deles.
Não só oportunista, mas um péssimo jornalista.
Rudy.
Li o livro e fiquei oscilando entre admirar muito o ex-Papa e odiar o jornalista-autor. Em muitos momentos eu não achei que o autor está criticando Ratzinger, mas avaliando suas reais dificuldades e mostrando como ele se deparou com um cenário totalmente inóspito ao se tornar Papa após o amado João Paulo II. Não achei que ele estava sendo crítico de Bento XVI, mas tentando realmente explicar como as coisas aconteceram. Mas em outros momentos, fiquei profundamente irritada em ver o autor enchendo linguiça e se autopromovendo. Parecia que ele era a estrela do Vaticano. Não sei dizer, portanto, se gostei ou não do livro (escrito às pressas e,portanto, com muitos erros de revisão/tradução). Mas ele conseguiu me fazer chorar com os casos de pedofilia e a forma como Ratzinger teve que encarar e tentar limpar a sujeira encoberta por anos. No final, o Papa ganhou minha admiração e respeito.
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