Quando “ O Exorcista” foi lançado em 1973, a maioria
dos cinéfilos tinha certeza de que nenhuma outra produção do gênero terror conseguiria
repetir o êxito da história sobre aquela criança possuída pelo demônio. Pensei
que nenhuma cena superaria a “virada” de
cabeça de 360 graus sobre o próprio pescoço de uma menina endemoniada com a
expressão toda distorcida. Então, um ano depois (1974) o diretor Tobe Hooper lançaria “O Massacre da Serra Elétrica”. E pronto;
e lá iriam todas as minhas convicções de pré-adolescente para o lixo. Após
assistir o filme com o coração na mão, a Regan possuída sairia do meu
imaginário para ceder espaço para o homicida Leatherface.
O calafrio provocado por um serial killer com
problemas mentais que matava as suas vítimas com uma moto-serra e depois
retirava a pele para se vestir com o estranho “souvenir” era muito maior do as
vomitadas de gosma verde e “giradas de
cabeça” de Regan. Tão maior que após quase 40 anos, ainda não consigo rever o
filme de Hooper. Sei lá; me chamem do que quiser: covarde, medroso, poltrão;
mas a verdade é que não consigo... Pô!!
Pois é, os tais quase 40 anos ainda não conseguiram
amenizar o incômodo e a sensação de mal estar que o filme provoca. Acredito que
muitos de vocês que estão lendo esse post pensam como eu; e tem na figura de Leatherface
o motivo de seu principal medo “interior-adolescente”.
Bem galera, a boa notícia para aqueles que se “deliciaram”
(deliciaram??!!) ou melhor tremeram de medo com o filme de Hooper é que a
editora Darkside, especializada em livros de terror e suspense, acabou de
lançar neste mês de março, o livro “ O Massacre da Serra Elétrica: Arquivos
Sangrentos”, inaugurando a “Coleção Dissecando: Clássicos de Terror”.
Ed Gein: o Leatherface real |
Pera aí gente! Para os mais apressadinhos que estão
pensando se tratar de uma simples adaptação do roteiro cinematográfico, de
1974, para as páginas, já adianto que não tem nada a ver. A obra escrita pelo
inglês Stefan Jaworzyn vai muito mais além. É algo profundo mesmo! Diferente,
fugindo dos padrões convencionais e que, por isso, certamente irá agradar
tantos cinéfilos quanto leitores. O livro é uma verdadeira enciclopédia de
informações e curiosidades sobre a obra de Hooper. “O Massacre da Serra
Elétrica: Arquivos Sangrentos” conta a história da produção do filme, além de
reunir diversas entrevistas com o elenco, abordando a repercussão na
época.
O livro reúne ainda histórias dos bastidores dos
filmes da série, perfis do diretor e do psicopata que inspirou o longa,
críticas da época, além dos relatórios que recomendavam a censura do filme,
tudo amplamente ilustrado com fotografias raras e inéditas.
As lendas urbanas criadas pelos filmes da série, ao
longo dos anos, também estão incluídas na obra literária de Jaworzyn que já foi
editor do fanzine de horror Shock Xpress (1985-1990), que
deu origem à série de livros homônimos, além de fundador do festival de filmes
de horror Shock Around the Clock.
Talvez, muitos de vocês estejam questionando nesse
momento se uma película de baixo orçamento, com atores desconhecidos e ainda
por cima sem a devida e merecida atenção do estúdio que aceitou filmá-la
merecia um livro tão aclamado como esse. Eu respondo: “Merecia e muito”.
Livro capa dura edição limitada |
Apesar de desacreditado pelos próprios produtores
que destinaram uma verdadeira merreca para a produção do filme, “O Massacre da
Serra Elétrica” levou verdadeiro pânico
aos jovens da época, com Leatherface inundando o imaginário das pessoas com ao mais
terríveis pesadelos.
O filme de Hooper causou uma revolução após o seu
lançamento, abalando todas as estruturas, fugindo completamente do
convencional. Nenhum outro filme do gênero havia conseguido chegar tão fundo no
que se refere ao medo visceral. Imagine bem; no meio do puritanismo
cinematográfico do início dos anos 70, no que se referia à cenas de violência
explícita, surge um roteiro que tem como personagem principal um homicida com deficiência
mental que mutila as suas vítimas com uma moto-serra!!! Para romper de vez as
convenções, esse homicida ainda arranca a pele de suas vítimas para se vestir e
fazer uma máscara. Mais ainda... tem uma família de canibais tão desequilibrada
quanto ele que saboreia alguns filés extraídos das pobres vítimas. E para
finalizar... as cenas do serial killer “partindo” as suas presas humanas ao meio com a tal
serra elétrica são mostradas quase que explicitamente!! Nunca esqueço a cena em
que Leatherface pendura um cadáver num gancho de açougue para extrair a sua
pele. Arghhhh!!!
Cara! Um filme com essas características não poderia
passar despercebido naqueles tempos. Explodiu tudo! Resultado: a censura caiu matando em cima e proibiu a
exibição do filme em vários países, o que só serviu para aumentar ainda mais a
curiosidade dos cinéfilos que faziam filas monstruosas nos cinemas onde a
produção estava liberada.
Tobe Hooper demonstrou toda a sua genialidade ao dar
ao filme um clima realista, quase documental. Percebemos isso logo no início da
história quando uma voz em off faz um resumo do drama vivido pelo grupo de
jovens que numa tarde de final de semana resolvem “pegar” uma das estradas do Texas
para viajar, sem saber que passariam a viver o maior pesadelo de suas vidas ao
cair nas garras de uma família de canibais.
“O Massacre da Serra Elétrica” foi inspirado no
psicopata Ed Gein, talvez o mais famoso sociopata sexual do século XX. Em
16 de novembro de 1957, os policiais
encontraram na fazenda de Ed
Gein, um conjunto de relíquias macabras que entraria para a história da
criminologia e psiquiatria. Eles encontraram em sua fazenda, dentre outros
artefatos: 9 máscaras feitas de pele humana; tigelas de sopa feitas do topo
cerrado de crânios humanos;
10 cabeças de mulheres
com o topo cerrado; cadeiras revestidas e forradas de pele humana; 9 vaginas em
uma caixa (a da sua mãe estava pintada de prata); 1 cinto feito de mamilos
femininos; 1 pucha-cortina feito de lábios humanos; 1 caixa com narizes; 1
abajur feito de pele humana; 1 caixa de aveia contendo pedaços de cérebros; sutiã
e outras “peças” de roupas feitos de pele humana; órgãos e vísceras humanas
dentro da geladeira; crânios enfeitando sua cama e outras souvenires macabros.
Ed Gein – que tinha um
pouco de deficiência mental - nunca disse quantas pessoas matou. Confessou apenas
dois assassinatos, mesmo assim após ser torturado pelo xerife responsável pelo
caso. A maioria dos pedaços e restos de corpos encontrados em sua fazenda eram
de cadáveres que ele havia desenterrado no cemitério local. Nunca ao certo se
soube quantas pessoas ele realmente assassinou.
Além de Ed Gein, o filme
também teve como inspiração um crime ocorrido um ano antes no
Texas e que chocou a sociedade norte-americana, dando origem a uma série de
lendas urbanas.
Ator Gunnar Hansen que viveu Leatherface no filme de 1974 |
O livro conta ainda como aconteceu a escolha do ator
que viria interpretar Leatherface. É evidente que não vou revelar aqui como
Gunnar Hansen ganhou o papel e como ele se preparou para encarnar o personagem.
Deixo isso para as páginas da obra de Jaworzyn.
E como já citei no começo desse post, “O Massacre da
Serra Elétrica”: Arquivos Sangrentos” brinda, também, os seus leitores com um
arquivo de fotos inéditas dos bastidores do filme e também de fatos
epersonagens que inspiraram a obra.
Ah! Pera aí. Acho que deixei o melhor para o final. Depois
de “O Massacre da Serra Elétrica” virão outros ‘arquivos sangrentos’. Explico
melhor. É que a editora Darkside pretende dar sequencia ao projeto que consiste
no lançamento de livros que contenham todas as curiosidades sobre famosas
produções de terror, escancarando as portas dos bastidores desses filmes. Um
verdadeiro “Making of literário”. Tudo indica que o próximo da lista será “A
Morte do Demônio” (The Evil Dare) de Sam Raimi.
E aí gostaram? Então reserve já o seu exemplar que
já está em pré-venda nas principais livrarias virtuais. Faça isso logo porque a
edição de luxo capa dura é limitada. “O Massacre da Serra Elétrica”: Arquivos
Sangrentos” deve ser lançado oficialmente no próximo dia 15 de abril.
Inté!
3 comentários
Opa! Me interessei!
ResponderExcluirhttp://gatosmucky.blogspot.com.br/2013/03/o-massacre-da-serra-eletrica.html
Abraço, José Antônio...
Olá José! :) Só estou escrevendo pra dizer que adoro seu trabalho! Já comprei vários livros por conta dos seus comentários e análises interessantíssimos! O "Deixa ela entrar" foi o mais recente, estou aguardando chegar... Muito obrigada por "reacender" a minha chama literária! ^^
ResponderExcluirGrande abraço!
Obrigado mesmo Nayara!
ExcluirFico estimulado para continuar dando a minha mais do que humilde colaboração na indicação de obras literárias aos meus amigos leitores.
Obrigado e volte sempre!