“Noite Eterna”, livro que fecha a polêmica “Trilogia
da Escuridão” pode ser definido como uma obra de redenção. Isso mesmo, redenção
de um único personagem que começou a história como um verdadeiro líder aglutinando
seguidores com uma facilidade ímpar, mas que ao longo de dois anos (período
temporal da história) foi se alquebrando até se tornar um ser fraco, impotente,
desprezível e ainda por cima viciado. Quem concluiu a leitura dos três livros
da trilogia - “Noturno”, “A Queda” e “Noite Eterna” – sabem à quem estou me
referindo. Não poderia ser outro, senão o renomado biólogo Ephfrain Goodweather
ou simplesmente Eph.
Por respeito àqueles que ainda pretendem ler os três
livros de Guillermo Del Toro e Chuck Hogan, é evidente que não vou revelar aqui
os motivos que levaram Eph a se transformar num verdadeiro trapo humano. Nada
de spoilers! Basta dizer que o personagem não conseguiu superar certos
problemas familiares que surgiram ao longo de sua vida e acabou se entregando
aos vícios, se tornando um fraco.
O que o leitor presencia, enquanto vai virando as
páginas do romance é a desmistificação de um mito, cujo poder e liderança,
antes de seus problemas particulares, eram absolutos. Eph era um autentico
líder. Seguro e firme em suas decisões. As outras pessoas o seguiam espontaneamente,
pois tinham a certeza de que as decisões tomadas eram as mais corretas e
coerentes. Eph tinha o que chamamos de memória em flash, ou seja, ao surgimento
de um problema, ele não pensava mais do que segundos para tomar a decisão.
Analisava as possíveis soluções e imediatamente escolhia aquela que considerava
mais coerente.
Cara! É triste vermos essa quebra gradativa de
entidade do personagem que atinge o ápice em “Noite Eterna”, onde ele perde o
respeito e a confiança de todas as pessoas que formam o grupo de resistência à
invasão dos vampiros. Nessa parte da história, vemos o surgimento de um novo
líder: Vasiliy Fet, que no início do enredo não passava de um bronco
exterminador de ratos dos esgotos de Manhattan. Nem mesmo a atraente e corajosa
Drª Nora Martinez, que via em Eph o sentido de sua vida, seguindo-o cegamente
onde quer que ele fosse, consegue suportá-lo depois de sua mudança. Ela chega
ao ponto de trocá-lo por Vasiliy. Por aí já é possível imaginar como é grande a
queda de Eph. Costumo dizer para os meus amigos que a derrota do biólogo foi
pior do que a queda do morcego no filme de Nolan. A sensação que temos quando o
personagem de Del Toro e Hogan chega ao fundo o poço é semelhante ao triste
episódio em que o estropiado Batman – completamente desesperado – joga aqueles
foguinhos de artifício inofensivos em Bane, tentando fugir da surra eminente. É
assim que vi o Dr. Ephraim Goodweather em Noite Eterna.
Mas à exemplo do filme do morcegão, Eph também
consegue dar a volta por cima, conquistando a confiança de seu grupo e voltando
a ser o antigo líder. Esse é o seu momento de redenção na história, E olha
amigo... não há como você evitar aquele grito de Valeuuuuuuuuuu!!! È muito
gostoso ver o ex-chefe do Centro de Controle de Doenças de Manhattan voltar a
ser o velho líder. É graças a sua decisão final que... que... Putz! Quase solto
um spoiler! Melhor esquecer.
Se os tateadores – aquelas crianças vampiras cegas,
verdadeiras aberrações que se deslocam agilmente “de quatro” – foram a bola da
vez em “A Queda”, a ‘redenção’ de Eph foi o momento mais importante em “Noite
Eterna”.
O livro que fecha a Trilogia da Escuridão também é o
mais denso de todos eles. Os autores vão descrevendo de uma maneira angustiante
a destruição do nosso planeta, ou seja, a extinção da raça humana. Cara! Del Toro
e Hogan falam dessa destruição de uma maneira tão convincente que o leitor
passa a não enxergar nenhuma esperança de reconstrução. Os próprios personagens
que compõem o grupo de resistência perdem a ilusão de que o mundo em que viviam
voltará a ser como antes. “A esta altura, é tipo... para que estamos fazendo
isso? Estamos tentando salvar o mundo? O
mundo já era. Se os vampiros desaparecerem amanhã, o que nós faríamos?
Reconstruir? Como? Para quem?!” Esse questionamento, feito por um dos
personagens, mostra o caos em que o planeta terra se transformou após o
alastramento do vírus vampírico.
Outro momento pesado e que provoca certo mal estar
no leitor é o trecho em que Gus, um dos integrantes da resistência decide
manter a sua mãe transformada em vampira presa numa masmorra. Todos os dias,
ele desce até o porão onde a monstruosidade está encarcerada, faz um corte no
braço e lhe dá o seu próprio sangue como alimento. Arghhhh!
O trecho em que uma astronauta é obrigada a ficar
mais de dois anos presa numa estação espacial, impossibilitada de descer na
terra, também é angustiante. Del Toro e Hogan, descrevem detalhadamente o
processo de deterioração da moça. “A maior parte dos músculos desaparecera ,
com os tendões atrofiados. A coluna vertebral, os braços e as pernas haviam se
dobrado em ângulos esquisitos e perturbadores...” E isto é apenas o início do
sofrimento da pobre astronauta perdida no espaço, sem poder voltar para o nosso
planeta que se encontra quase que destruído.
“Noite Eterna” é isso aí... Sufocante, denso, pesado
e mais isso e aquilo. Quanto a ação, fique tranqüilo. Há muitas batalhas de
tirar o fôlego. O final, então... Caramba!! É apocalíptico, com direito até
mesmo a intervenções divinas.
Quer saber?? Vou parar por aqui. Leia porque vale a
pena. Agora, se você está pensando em encarar a trilogia de Del Toro e Hogan de
maneira não cronológica, pode esquecer. O ideal é que se leia o primeiro, o segundo
e o terceiro livro na sequência, bem bonitinhos...
Inté!
2 comentários
Cara, terminei o primeiro hoje e já comecei o segundo... vamos ver o que vai dar, mas os dois autores deram uma bela modernizada nas histórias de vampiros, não acha? Biomedicina, genética, química e outras ciências se misturam a elementos clássicos da mitologia vampírica... achei show... dá uma olhada no meu blog www.oppriorado.blogspot.com. Abraços.
ResponderExcluirMarcelo,
Excluirconcordo em gênero, número e grau. Del Toro e Hogan quebraram os padrões tradicionais das histórias de vampiros - ora bonzinhos, ora ruizinhos. Eles deram uma quinada de 360 graus. O lance de associar o lado mau ao surgimento de um vírus, foi uma jogada muito inteligente.
Com certeza irá gostar de "A Queda" e mais ainda de "Noite Eterna". Aliás, esse último é um soco no estômago. Com relação a destruição do nosso planeta, eles foram bem realistas, sem ilusões.
Visitei o seu blog, gostei muito. Achei bem interessante o post "Mundos Além da Imaginação"...
Abcs!!