Cassino Royale

20 dezembro 2011
Sou um fã nato de 007, mas deixe-me frisar: fã do 007 dos livros de Ian Fleming e não fã dos filmes – alguns medonhos – e daquela caricatura sofrível criada por Sebastian Faulks em “A Essencia do Mal”. Faço questão de salientar esse detalhe porque o James Bond de Fleming é inimitável e insuperável. E por ser tão fã do maior agente secreto de todos os tempos, é que batalhei... e batalhei ao longo dos últimos cinco anos para encontrar meios de adquirir todos os livros escritos pelo pai e criador de Bond. A luta valeu à pena, porque consegui reunir os 12 livros escritos por Fleming.
Após ler a obra em sua totalidade cheguei a conclusão que “Cassino Royale” é o melhor dos 12 livros e por inúmeros motivos. O mais importante de todos é que Cassino Royale dá início a toda a série e por isso, pode ser considerado a “pedra fundamental”. É nela que Fleming nos apresenta James Bond que viria se tornar um ícone da espionagem internacional.
Fleming foge dos padrões convencionais de outros autores que preferem apresentar os seus personagens detalhadamente logo no início da trama – dando por menores físicos e emocionais – antes de inseri-los no contexto da história. Em “Cassino Royale”, o agente secreto de Sua Majestade já é “embutido” no enredo logo de cara sem maiores preâmbulos e firulas. Depois no decorrer do romance, o autor vai soltando “homeopaticamente” outros detalhes de seu personagem. O leitor menos avisado pode ter a falsa impressão de que essa técnica adotada por Fleming pode contribuir para deixar o personagem vazio. Ledo engano porque, se isso ocorresse, os livros seguintes de 007 seriam os maiores fiascos; mas não foram, pelo contrário, entraram para a história da literatura romanceada.
A explicação é simples: Ian Fleming era um gênio. Ele conseguiu criar um personagem tão carismático e um enredo tão atraente que dispensou a necessidade de maiores apresentações de seu principal protagonista.
No decorrer das obras subseqüentes, os leitores tem a oportunidade de irem conhecendo um pouquinho mais sobre o agente secreto. A sua famosa cicatriz, o olhar cruel, flashbacks de missões antigas e por aí afora. Fleming poderia ter feito uma apresentação caprichada de 007 logo de cara, no livro de estréia, mas, optou por essa metodologia muito arriscada para a maioria dos escritores; mas como já disse, estamos falando de Ian Fleming, um autor inteiramente diferenciado.
Em Cassino Royale vivemos o clima tenso das partidas de bacará que valem milhões, onde um jogador pode sair em glória ou humilhado. E é nesse cenário que Bond enfrenta Le Chiffre, o falido tesoureiro de um sindicato controlado pela Smersh. O objetivo da missão é derrotar Le Chiffre, deixando-o mais falido do que já está, pois assim, o serviço de espionagem britânico poderia capturá-lo para obter informações importantes, quebrando um braço importante da Smersh (Agencia de contra espionagem russa). O vilão por sua vez, joga a sua vida no bacará, já que precisa ganhar o suficiente para repor todo o dinheiro que desviou da Smersh, caso contrário será um homem jurado de morte.
Com o disfarce de um rico jamaicano, Bond inicia o seu duelo com o tesoureiro do sindicato da agencia de contra espionagem russa e é então que o “negócio pega fogo”. Os dois são excelentes jogadores, bem acima da média. Fleming consegue transferir para o leitor toda a tensão do jogo. É evidente que não vou contar aqui os detalhes dessa parte do enredo para não estragar a surpresa daqueles que ainda não leram o livro que foi escrito em 1954, mas tanto Bond quanto Le Chiffre passam momentos apertados e até mesmo desesperadores durante o jogo.
O chefe de Bond, M, designa a agente Vesper Lynd para apoiá-lo nessa missão. Cabe à ela passar todas as informações necessárias, relacionadas à Le Chiffre, para James Bond. Nesse livro também é apresentado pela primeira vez aos leitores aquele que viria se tornar o melhor amigo de 007 no mundo da espionagem: Félix Leiter. Ao contrário, de Bond; o autor capricha na descrição de Leiter, dando uma noção bem ampla das características do personagem.
“Cassino Royale”, juntamente com “À Serviço de Sua Majestade” podem entrar para a história como os únicos livros da série 007, escritos por Fleming, que apresentaram uma “Bond-girl” capaz de mexer com o coração machista do herói. Em “À Serviço Secreto de Sua Majestade” temos Tracy di Vicenzo” que chegou a se casar com Bond; e em “Cassino Royale” temos Vésper Lynd que quase conseguiu fazer com que o agente inglês anunciasse a sua demissão do Serviço Secreto Britânico. Isto só não aconteceu por que Bond.... bem, reconheço que a maioria já leu o livro e também assistiu ao filme com Daniel Graig, mas não vou estragar o prazer daqueles que ainda não leram e tão pouco assistiram. Mas posso adiantar que se Vésper não tivesse literalmente arrebentado o coração e a alma do nosso Bond, hoje ele seria um agente aposentado em nome do amor.
Fleming descreve em detalhes o relacionamento de 007 e Vesper, ao contrário dos outros livros da série – à exceção, como já disse, de “À Serviço Secreto de Sua Majestade” – onde o agente secreto mantém apenas relacionamentos superficiais com as suas Bond-grils, pensando somente em sexo, deixando os assuntos do coração totalmente de lado.
Como uma bola de neve, o relacionamento “Bond-Vésper” vai ganhando corpo ao longo da história até culminar com uma revelação surpreendente e que acaba mudando todo o rumo dessa união.
Apesar das descrições detalhadas dos jogos de bacará e do relacionamento do casal de protagonistas, a ação também faz parte de “Cassino Royale”. Entre esses momentos, posso citar o sequestro de Vésper que desencadeia uma perseguição desenfreada de Bond aos raptores da moça e aquele instante o qual acredito foi o pior vivido em toda a longa carreira de agente secreto de James Bond. O único momento no qual Bond só não morreu por causa da intervenção de um inimigo mortal.
Fiquei chocado em ler esse trecho do livro, onde 007 foi obrigado a retirar as calças, ficar peladão e se sentar numa cadeira sem fundo deixando a sua genitália exposta para ser cruelmente espancada pelo vilão falido e com a cabeça colocada a premio pela Smersh.
Cara! Cada pancada na genitália do Bond que Le Chiffre dava com aquele batedor de tapetes feito de bambu me doía a alma. O pior de tudo é que Fleming não poupou nenhum detalhes da tortura, fazendo questão em descrever tim tim por tim tim.
Reputo Cassino Royale como uma leitura obrigatória para aqueles que querem se iniciar no universo bondiano.
Até!

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