O homem invisível

13 outubro 2011
6ª edição do livro de Wellls lançado
pela Ediouro em 1997
Existem livros de ficção científica verossímeis e inverossímeis. Quer exemplos? Vamos lá! Uma obra inverossímil: “Tropas Estelares”; outra verossímil: “O Homem Invisível”. Não estou querendo, aqui, enaltecer H.G. Wells e por outro lado, descer a paulada em Robert Anson Heinlein. Nada disso! Simplesmente estou afirmando que o enredo elaborado por Wells tem subsídios suficientes para convencer o leitor de que é possível criar uma fórmula para a invisibilidade do corpo humano. Por outro lado, a história de Heinlen possui elementos por deveras fantásticos e jamais fará com que o leitor – em seu perfeito juízo – acredite ser possível, um dia, soldados do exército usarem trajes especiais que lhe aufiram super-poderes como dar saltos enormes, esmagar o que encontrar pela frente, além de carregar nas costas armas nucleares, capazes de devastar uma cidade inteira, como se estivessem carregando uma bomba relógio. Mais difícil ainda acreditar que esses soldados - vestindo exoesqueletos poderosos - tenham como adversários comuns uma raça de insetos gigantes com a capacidade de expressar pensaamentos.
Quero deixar claro que sou um dos admiradores da obra de Robert Anson Heilein pela sua coragem em tocar em assuntos de cunho político e social tão delicados em nossos tempo democráticos. Imagine, então, o impacto em 1959, época em que foi lançado o livro “Tropas Estelares”. Logo de cara, já dá para entender a mensagem ácida do autor contra o exército, o qual chama de irracional, funcionando como um inimigo declarado da democracia, já que na história, quem não faz o serviço militar é considerado cidadão de segunda classe, um ser inferior, sem direito a voto e a expressar as suas opiniões na sociedade.
Parabéns pela ousadia em criticar as falhas de algumas instituições consideradas infalíveis pela maioria, mas que acabam tolhendo o livre arbítrio do cidadão; mesmo que essa crítica esteja embutida num enredo fantástico; mas daí afirmar que “Tropas Estelares” é uma obra verossímil, devagar com o andor.
H.G Wells
“O Homem Invisível”, ao contrário, se enquadra perfeitamente no contexto da verossimilhança, já que H.G. Wells consegue convencer o leitor – até mesmo o mais cético que não é fã do gênero ficção científica - que é possível descobrir a fórmula da invisibilidade. Veja se ao ler o diálogo dos cientistas Griffin e Kemp – personagens principais do livro “O Homem Invisível” - sobre alguns conceitos científicos, você não consegue dar um chute em seu ceticismo: “Considere que a visibilidade de um corpo depende de sua ação em relação à luz. Um corpo pode absorver a luz, pode refleti-la, pode refratá-la, ou pode fazer uma combinação dessas três coisas. Se não faz nenhuma das três, ele não é visível.” Viu só? Bem convincente, não é mesmo?! Wells ainda apresenta outras teorias baseadas em princípios científicos que faz com que o leitor comece a acreditar que não é difícil encontrar um meio do corpo humano parar de refletir ou refratar a luz. Resultado: Wells conseguiu imprimir realidade em seu romance, criando um enredo plausível mesmo dentro do gênero ficção científica.
Tai! Primeiro ponto para “O Homem Invisível”: a plausibilidade. Como é bom ler uma história fantástica, mas ao mesmo tempo ficar com uma pontinha de dúvida se aquilo que você julgava inadmissível possa, de fato, acontecer um dia. H.G. Wells conseguiu essa proeza em 1897! É por isso que muitos o consideram o “pai da ficção científica”, o verdadeiro e único criador do gênero no mundo.
Outro ponto positivo de “O Homem Invisível” é alertar a comunidade científica dos perigos de tratar a ciência sem nenhuma responsabilidade. Um aviso que cabe bem nos dias atuais, onde vemos cientistas e pesquisadores brincando de “bancar” Deus, preocupados apenas em romper os limites imaginários da ciência, sem dar atenção as conseqüências de suas descobertas. O que importa para esse pesquisador é ser o primeiro a romper determinado paradigma científico, mesmo desconhecendo se terá o controle do resultado final de sua criação.
O personagem Griffin do romance de H.G. Wells deixa bem claro esse detalhe ao sonhar se tornar invisível, um dia, sem dar a devida atenção aos problemas e dificuldades que essa descoberta geraria para si próprio. Na ânsia de concretizar o seu sonho, o obcecado cientista estuda durante seis anos, centenas e mais centenas de fórmulas, além de efetuar uns cem números de cálculos até descobrir uma droga capaz de tornar invisível os seus tecidos, células, ossos; enfim, o seu corpo.
Neste momento, Griffin se sente mais poderoso do que o próprio Deus, acreditando ser capaz de fazer coisas que nenhum ser humano jamais conseguiria. E então... vem a decepção, pois ele descobre que a realidade é muito diferente. Para se fazer valer de sua invisibilidade, Griffin tem de se livrar de todas as roupas do corpo, em outras palavras, ficar peladinho da Silva. Imagine, o pobre coitado sem roupa no rigoroso inverno londrino. Triste, não? Outro probleminha, ou... problemão é que.... Bem, vou deixar que o próprio personagem explique: “Eu não poderia andar ao ar livre quando estivesse nevando, pois os flocos se acumulariam sobre mim, denunciando minha presença. A chuva também iria me cobrir com uma camada úmida, uma silhueta tridimensional de um homem como uma bolha reluzente. O mesmo quanto ao nevoeiro.”
O que a natureza fez com que Griffin entendesse, tardiamente, é que a invisibilidade lhe traria mais desvantagens do que vantagens. Só que, então, já era tarde de mais para se arrepender e voltar atrás, pois o dom da invisibilidade era irreversível, e assim, ele seria obrigado a conviver com a sua maldição.
“O Homem Invisível” também tem momentos de humor e descontração. É impossível que o leitor não ache engraçado a relação conflituosa de Griffin com os hóspedes do hotel “Coches e Cavalos”, onde se encontra recluso para conclusão de suas pesquisas. A dona da pensão, a Srª Hall, bisbilhoteira e curiosa até o limite do limite também tem boas sacadas de humor.
Esta obra de Herbert George Wells foi uma das primeiras adquiridas por mim, ainda na minha fase pré-adolescente; e por causa da história interessante e da empatia dos personagens, a mais lida, também.
Um verdadeiro clássico da ficção científica!

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