Pretendia escrever esse post um pouquinho depois do carnaval, período em que terminei a leitura do tal “calhamaço” de 1.160 páginas e mais de 1,6 Kg . Mas acabei justamente num período meio conturbado de minha vida, quando estava enfrentando alguns problemas de saúde em família, além de coincidir com o início da montagem desse blog. Resultado: a resenha do tal calhamaço ficou para trás. Então, ontem, recebi um telefonema do Afrânio, um velho amigo dos tempos de universidade, que me estimulou a fazer a tão adiada resenha.
- E aí Zé, leu o livro?
- O livro do seu amigo?
- Credo em Cruz!
Após rir do Credo em Cruz assustado do Afrânio, disse que havia lido sim e que tinha achado uma obra muito esclarecedora. Enfim, tinha gostado do livro apesar do seu tamanho fenomenal e assustador.
Hitler foi o amigo que o Afrânio esconjurou pelo telefone e que, com certeza, a maioria (para não dizer todos) os leitores desse blog também iriam querer manter distância absoluta.
Não me pergunte porque fui deixando essa resenha pra depois e colocando outras menos importantes neste blog... sei lá. Talvez, tenha sido alguns trechos – de fato – perturbadores da obra, como os detalhes descritos sobre a matança de judeus que chegou muito perto do aniquilamento de uma raça ou a infância complicada do Fuhrer, principalmente no que se refere ao relacionamento com os seus pais. Não consigo explicar, mas creio que por ter lido uma obra “pesada” (nada a ver com quilos – rs) e “densa” me senti um pouco “down”, com as baterias descarregadas e então, quis manter uma certa distância do tema. Fuga? Falta de coragem? Fragilidade? Tudo bem, entenda como quiser; só sei que após mais de 1.100 páginas sobre a vida de um personagem tão maligno, responsável pelo massacre de um número assustador de judeus, além de ter deixado um saldo de 50 milhões de mortos, resultado de uma guerra provocada por ele, preferi arejar um pouco a mente, procurando leituras mais leves. Vejam bem, não estou querendo dizer que o livro é ruim. Nada disso. Para aqueles que querem conhecer o perfil completo desse homem que abalou as estruturas do século XX, e mais do que isso, se inteirar sobre detalhes importantes relacionados às duas guerras mundiais, trata-se de uma leitura obrigatória. Mas antes de iniciar a leitura, prepara-se muito bem, porque o teor é pesadíssimo. O autor Ian Kershaw abre as comportas sobre a vida de Hitler, narrando em profusão de detalhes todas as monstruosidades cometidas com o endosso do Fuhrer, desde o sacrifício de milhares de judeus até as experiências médicas atrozes realizadas em outras pessoas que eram consideradas uma raça impura pelos nazistas.
Se analisarmos o seu aspecto bibliográfico, o livro é tão interessante que nem mesmo o meu amigo Afrânio conseguiu escapar da sua sedução. Logo o Afrânio que dificilmente lia um livro, apenas quadrinhos da Marvel.
Ian Kershaw inicia a sua obra discorrendo sobre a infância de Hitler, e a partir daí passamos a conhecer numa riqueza de detalhes a personalidade de seus pais. O pequeno Adolf Hitler tinha um pai despótico e uma mãe submissa aos extremos, tão submissa que mesmo após a morte do marido optou por manter numa estante os seus cachimbos com os quais conversava antes de tomar uma decisão, como que pedindo permissão ao finado esposo.
Kershaw explora detalhadamente não só a infância do Fuhrer como também a de seu pai. Como ele – mesmo pertencendo a uma família humilde – conseguiu se ascender socialmente tornando-se um agente alfandegário do governo. O egocentrismo e a falta de humildade de Alois Schicklgruber – pai do líder nazista – eram tantos que ele chegou ao ponto de trocar o seu sobrenome porque achava que Schicklgruber era difícil de ser pronunciado e consequentemente memorizado pelas outras pessoas. E assim, nasceria o sobrenome Hitler que entraria para a história mundial de uma forma trágica e cruel, que todos nós queremos esquecer.
Segundo pesquisa do autor, Alois era um verdadeiro tirano não só com a sua esposa Klara, mas também com Adolf, o que explica o amor ultra-protetor e sufocante da mãe com o filho.
O livro deixa no ar que talvez, esse amor protetor “aos extremos” da mãe somado ao pavor do pai tenham sido os responsáveis pela mediocridade de Adolf Hitler nos estudos. O ditador sonhava ser artista e tentou ingressar na Escola de Artes de Viena, mas sem sucesso, pois foi reprovado duas vezes nos exames, ficando ao mesmo tempo sem estudar e trabalhar. É a partir daí que o leitor começa a entender que a vida de Hitler teve mais perdas do que conquistas.
O perfil cruel, dominador e genocida de Hitler, como conhecemos, surge após ele ingressar no exército alemão e lutar a Primeira Guerra Mundial. Kershaw explica como Hitler, da noite para o dia, se transformou na grande sensação do Partido Nazista, ou seja, de um João Ninguém a líder de uma nação. Como uma criança mimada e superprotegida pela mãe e depois um jovem com uma inteligência limitada e medíocre nos estudos conseguiria levantar multidões e reestruturar todo o exército alemão, após a Primeira Guerra Mundial? Kershaw tenta explicar esse enigma.
Kershaw mostra um Hitler megalomaníaco, hipocondríaco e que não aceitava jamais ser contrariado por ninguém. Os poucos que ameaçavam, discordar de suas idéias acabavam tendo um final trágico.
A relação de Hitler e Eva Braun também é dissecada por Ian Kershaw que mostra em sua obra como os dois se conheceram em 1929 e o que levou a jovem a manter um relacionamento tão atípico, já que a relação dos dois era mantida em segredo absoluto na Alemanha. Hitler não aparecia com Eva Braun em público de maneira alguma.
Mas, sem dúvida alguma, os capítulos que mais me impressionaram foram aqueles relacionados ao holocausto, onde a cada invasão alemã, grupos de judeus eram exterminados de uma maneira impiedosa e que manchou a história no passado. Um verdadeiro genocídio. Como já escrevi no início do post, para ler esses capítulos é preciso se preparar antes. Eles são por demais sombrios, já que o autor explana em detalhes esse período negro da história mundial.
“Hitler”, de Ian Kershaw também traz informações importantes sobre as duas guerras mundiais; a derrota sofrida pelo exército alemão na primeira guerra e que acabou originando instabilidade política, miséria e até mesmo reflexos negativos na cultura alemã.
Enfim, um livro completo... mas denso e pesado. Talvez, por esse motivo, tenha adiado tanto essa resenha, e só tenha criado ânimo para fazê-la após o telefonema do Afrânio.
Ah! Antes que me esqueça. Ian Kershaw lançou essa obra em dois volumes nos anos de 1998 e 2000, mas devido ao estrondoso sucesso de público e crítica, ele decidiu compilar os dois volumes num só livro, com várias ilustrações e relançá-lo em 2010. Para isso, ele teve de abolir cerca de 400 páginas e mesmo assim, o livro “Hitler”, lançado pela editora Companhia das Letras, ainda ficou enorme com 1.160 páginas.
Inté!
Um comentário
Valeu!
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