Tenho um amigo – desde os tempos de infância – que
filho ama os espetáculos circenses. Para o pequeno Tedy (nome fictício) não tem
malabaristas, trapezistas ou animais adestrados. O seu lance é um só: os
palhaços. Tudo seria normal se não fosse um pequeno detalhe: o seu pai sofre de
coulrofobia, ou seja, tem medo de palhaços.
Man! Toda vez que chega um circo na cidade é um
verdadeiro perereco, já que Tedy quer de qualquer jeito que o seu pai o
acompanhe nos shows. A salvadora da Pátria, nesses momentos, é Simone (nome
também fictício), mãe da criança que se transforma no anjo da guarda do sujeito
que sofre da síndrome de coulrofobia. Quando os palhaços entram em cena, esse
meu amigo dá as desculpas mais esfarrapadas para o filho: diz que vai dar uma
saidinha para fumar, comprar um lanche, pipoca, ir ao toalete; enfim, vale qualquer
coisa para escapar dos ‘malignos’ palhaços. Ele saí; ela, Simone – que já está
familiarizada com a fobia do marido - fica.
Alguns leitores podem achar que tudo isso não passa
de frescura, mas na realidade, aqueles eu pensam dessa forma é o que são os
frescos. Cara, essa fobia é fóda. Só quem tem para comensurar o tamanho do
sofrimento. Ao deparar-se com algum indivíduo vestido de palhaço, os portadores
dessa fobia têm ataques de pânico, perda de fôlego, arritmia cardíaca, suores e
náusea.
Para que vocês entendam a gravidade da síndrome, se
um coulrofóbico – por algum motivo – fosse obrigado a assistir ao filme ou ler o
livro “A Coisa” de Stephen King, acredito que enlouqueceria, porque muitas
vezes o simples pensamento sobre palhaços já deixam essas pessoas muito
abaladas.
Pesquisa realizada em 2014 pelo
instituto YouGov, na Inglaterra, apontou o palhaço como o décimo colocado em um
ranking de elementos com maior potencial para despertar fobia. Participaram da
pesquisa 2 mil pessoas. Outro estudo publicado pela revista New Ideas in
Psychology apontou o fator da imprevisibilidade como algo fundamental para
despertar a desconfiança do público em relação aos palhaços. Cerca de 1,3 mil
voluntários com mais de 18 anos listaram características consideradas por eles
assustadoras e fizeram um ranking das profissões mais arrepiantes. Os palhaços
lideraram com folga.
Cientes do fascínio pela figura do palhaço assassino em várias mídias, o
coletivo Boca do Inferno - formado por Marcelo Milici, Filipe Falcão, Gabriel
Paixão, Matheus Ferraz e Rodrigo Ramos – lançou no final do ano passado “Medo
de palhaço: A enciclopédia definitiva sobre palhaços assustadores na cultura
pop” (Generale, 288 páginas, R$ 59,90). O livro que está a venda nas principais
livrarias virtuais analisa mais de 150 obras e busca explicações para a
coulrofobia na história e na psicologia.
Para o pesquisador e jornalista pernambucano Filipe Falcão, o palhaço é
uma figura facilmente identificável e com potencial para despertar o interesse
do público. “No cinema, por ter ganho essa importância, tornou-se parte de uma
receita fácil. É como um filme de zumbi. Não precisa ter roteiros mirabolantes,
diferentemente de produções de drama e aventura, cuja audiência é mais
exigente”, opina. Segundo o autor, os longas-metragens protagonizados por
palhaços têm grande variedade, indo desde filmes muito bem produzidos até
alguns de baixíssimo orçamento, com um elenco mais fraco.
Um divisor de águas, segundo ele, foi a adaptação,
no fim dos anos 1980, do livro It (A coisa), escrito por Stephen King. Isso
porque o palhaço deixou de ser coadjuvante - em produções “trash”, “bagaceira”
- para se tornar um dos principais vilões da época. Sobre a recente onda de
“palhaços assassinos” em espaços públicos, Filipe diz ter sido uma “feliz
coincidência”, pois se tornou a “melhor divulgação possível” para o livro
recém-lançado. “A brincadeira é válida, mas é preciso ter uma série de
cuidados, principalmente com pessoas mal intencionadas. O problema do palhaço,
assim como todo personagem mascarado, é não saber quem está lá”, finaliza.
O livro do coletivo Boca do Inferno
adentra nos bastidores dos picadeiros, desde os primórdios do circo, buscando
explicações na história e na psicologia para o surgimento do coulrofobia. Os
autores instigam pesadelos em tons rubros ao contar sobre os assustadores
carnavalescos bate-bolas, o mito dos palhaços ladrões de órgãos e John Wayne
Gacy, o verdadeiro palhaço assassino.
Trata-se de uma boa indicação de
leitura para aqueles que desejam conhecer um pouco mais sobre as origens da
coulrofobia.
Ainda não tenho o livro, mas estou com vontade de
adquiri-lo. Vamos ver...
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