Elite da Tropa

23 novembro 2016
Começo esse post afirmando o seguinte: “Ninguém melhor para escrever sobre os caveiras do que alguém que já foi um caveira”. Rodrigo Pimentel e André Batista, dois dos três autores de Tropa da Elite – Luiz Eduardo Soares , é o outro – são esses caras. Resultado: um livro que escancara os ‘causos’ do temido Batalhão de Operações Policiais Especiais do Rio para os leitores interessados. E confesso que os tais ‘causos’, de fato, conseguem prender a atenção.
Os três autores foram muito felizes ao adotar um estilo narrativo de dentro para fora, ou seja, sob o olhar da polícia. Dessa forma, o leitor tem a oportunidade de acompanhar a rotina de um integrante do Bope – ouvindo sua própria voz, seguindo os seus passos, seu drama diário. Este tipo de narrativa transforma o leitor numa espécie psicólogo que ouve o narrador do livro como se ele fosse num paciente - deitado num divã - se abrindo, contando os seus dramas, as ameaças que enfrenta todos os dias no cumprimento de seu dever, os flagras envolvendo colegas corruptos, a descarga de adrenalina toda vez que é obrigado a subir o morro para enfrentar traficantes, etc e mais etc.
Pimentel e Batista descarregam um vasto material nas páginas de Tropa da Elite, também não poderia ser diferente, já que os dois viveram o período mais ativo do Bope, na década de 90. Eles participaram de importantes operações: algumas, verdadeiros sucessos; outras, grande fracassos.
Para quem não sabe, Batista que é major da Polícia Militar do Estado do Rio, atuou como negociador do Bope no fatídico caso que ficou conhecido como “Ônibus 174”. No ano 2000, Sandro Barbosa do Nascimento – sobrevivente da chacina da Candelária, em que 8 crianças de rua foram mortas em 1993 – sequestrou o ônibus 174 e fez 10 reféns. O Bope foi chamado. Após quase 5 horas de negociação, o desfecho: Sandro desce do ônibus usando Geísa Firmo Gonçalves como escudo. Um soldado do Bope atira contra o sequestrador, mas acerta de raspão o queixo da refém. O criminoso dispara 3 tiros contra as costas de Geísa e a mata. Preso com vida, Sandro é levado em uma viatura e morto por asfixia. Levados a julgamento, os policiais militares acusados da morte de Sandro foram absolvidos em 2002.
Quanto a Pimentel que, atualmente, trabalha como consultor de segurança, comandou inúmeras operações policiais do Bope, conhecendo detalhes de todas essas incursões.
Por isso, acredito que não haveria pessoas melhores ou mais capacitadas com condições de escrever um livro com as características de Elite da Tropa.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira, chamada “Diários de Guerra”, um capitão do BOPE sem nome, negro e estudante de Direito, conta episódios envolvendo o batalhão. Algumas situações foram vivenciadas por ele diretamente, outras indiretamente. Ele narra ainda casos ocorridos com amigos, traficantes ou policiais corruptos.
Esta primeira parte é a cereja do bolo. As histórias são muito interessantes  e fazem com que o leitor não desgrude os olhos do livro nem um minuto sequer. O capítulo em que o personagem conta uma conspiração envolvendo os caveiras e Leonel Brizola é impagável.
Quanto a segunda parte chamada “Dois anos depois: a cidade beija a lona”, não chega a decepcionar, mas também não tem a mesma fluidez de “Diários de Guerra”. Além do excessivo numero de personagens – aproximadamente 60 - Isso mesmo meu amigo: 60!! – o grande número de alianças e relacionamentos envolvendo personagens principais e secundários deixam o enredo lento e cansativo. Mas como já disse escrevi acima, não chega a decepcionar, além do mais, “Diários de Guerra” já vale o livro inteiro.
Ah! Mais uma coisa. Nem tente comparar livro e filme: ambos são bem distintos. A obra literária foi lançada bem antes da produção cinematográfica dirigida por José Padilha e estrelada por Wagner Moura como o emblemático capitão Nascimento. O filme apanhou apenas poucos casos da primeira parte de Elite da Tropa para servir (bem discretamente) de base para o roteiro. Coisa bem sutil.
Outra curiosidade é que apesar de Rodrigo Pimentel e André Batista negarem de pés juntos, fontes ligadas a produção cinematográfica “Tropa de Elite” garantem que ambos serviram de inspiração para a criação dos personagens Capitão Nascimento e André Mathias.

E Zefini!

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