Começo esse post afirmando o seguinte: “Ninguém
melhor para escrever sobre os caveiras do que alguém que já foi um caveira”.
Rodrigo Pimentel e André Batista, dois dos três autores de Tropa da Elite –
Luiz Eduardo Soares , é o outro – são esses caras. Resultado: um livro que
escancara os ‘causos’ do temido Batalhão de Operações Policiais Especiais do
Rio para os leitores interessados. E confesso que os tais ‘causos’, de fato, conseguem
prender a atenção.
Os três autores foram muito felizes ao adotar um
estilo narrativo de dentro para fora, ou seja, sob o olhar da polícia. Dessa forma,
o leitor tem a oportunidade de acompanhar a rotina de um integrante do Bope –
ouvindo sua própria voz, seguindo os seus passos, seu drama diário. Este tipo
de narrativa transforma o leitor numa espécie psicólogo que ouve o narrador do
livro como se ele fosse num paciente - deitado num divã - se abrindo, contando
os seus dramas, as ameaças que enfrenta todos os dias no cumprimento de seu
dever, os flagras envolvendo colegas corruptos, a descarga de adrenalina toda
vez que é obrigado a subir o morro para enfrentar traficantes, etc e mais etc.
Pimentel e Batista descarregam um vasto material nas
páginas de Tropa da Elite, também não poderia ser diferente, já que os dois
viveram o período mais ativo do Bope, na década de 90. Eles participaram de
importantes operações: algumas, verdadeiros sucessos; outras, grande fracassos.
Para quem não sabe, Batista que é major da Polícia
Militar do Estado do Rio, atuou como negociador do Bope no fatídico caso que
ficou conhecido como “Ônibus 174”. No ano 2000, Sandro Barbosa do Nascimento –
sobrevivente da chacina da Candelária, em que 8 crianças de rua foram mortas em
1993 – sequestrou o ônibus 174 e fez 10 reféns. O Bope foi chamado. Após quase
5 horas de negociação, o desfecho: Sandro desce do ônibus usando Geísa Firmo
Gonçalves como escudo. Um soldado do Bope atira contra o sequestrador, mas
acerta de raspão o queixo da refém. O criminoso dispara 3 tiros contra as
costas de Geísa e a mata. Preso com vida, Sandro é levado em uma viatura e
morto por asfixia. Levados a julgamento, os policiais militares acusados da
morte de Sandro foram absolvidos em 2002.
Quanto a Pimentel que, atualmente, trabalha como
consultor de segurança, comandou inúmeras operações policiais do Bope,
conhecendo detalhes de todas essas incursões.
Por isso, acredito que não haveria pessoas melhores
ou mais capacitadas com condições de escrever um livro com as características
de Elite da Tropa.
O livro é dividido em duas partes. Na primeira,
chamada “Diários de Guerra”, um capitão do BOPE sem nome, negro e estudante de
Direito, conta episódios envolvendo o batalhão. Algumas situações foram
vivenciadas por ele diretamente, outras indiretamente. Ele narra ainda casos
ocorridos com amigos, traficantes ou policiais corruptos.
Esta primeira parte é a cereja do bolo. As histórias
são muito interessantes e fazem com que
o leitor não desgrude os olhos do livro nem um minuto sequer. O capítulo em que
o personagem conta uma conspiração envolvendo os caveiras e Leonel Brizola é
impagável.
Quanto a segunda parte chamada “Dois anos depois: a
cidade beija a lona”, não chega a decepcionar, mas também não tem a mesma
fluidez de “Diários de Guerra”. Além do excessivo numero de personagens –
aproximadamente 60 - Isso mesmo meu amigo: 60!! – o grande número de alianças e
relacionamentos envolvendo personagens principais e secundários deixam o enredo
lento e cansativo. Mas como já disse escrevi acima, não chega a
decepcionar, além do mais, “Diários de Guerra” já vale o livro inteiro.
Ah! Mais uma coisa. Nem tente comparar livro e filme:
ambos são bem distintos. A obra literária foi lançada bem antes da produção
cinematográfica dirigida por José Padilha e estrelada por Wagner Moura como o
emblemático capitão Nascimento. O filme apanhou apenas poucos casos da primeira
parte de Elite da Tropa para servir (bem discretamente) de base para o roteiro.
Coisa bem sutil.
Outra curiosidade é que apesar de Rodrigo Pimentel e
André Batista negarem de pés juntos, fontes ligadas a produção cinematográfica “Tropa
de Elite” garantem que ambos serviram de inspiração para a criação dos
personagens Capitão Nascimento e André Mathias.
E Zefini!
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