Os Invasores de Corpos

27 fevereiro 2014


Quando eu era criança e também em minha pré-adolescência sempre tive muito mais medo dos filmes que mostravam seres alienígenas com aparência  humana. Aqueles monstrengos desengonçados com pernas em excesso ou então todos escamosos que chegavam em suas pomposas naves espaciais não conseguiam me assustar, mas em compensação a série “Os Invasores” que tomava conta das TVs na década de 60 me fazia borrar as calças. A história de David Vincent que descobrira uma invasão alienígena em andamento e por isso viajava de um lugar a outro tentando frustrar os planos dos alienígenas e alertar a Terra, metia um medo danado – pelo menos em mim – além de provocar uma baita ansiedade. Quanto aos monstros radioativos, marcianos malvados e venusianos sanguinolentos, olha... Cara, não dava pra engolir.
O livro “Os Invasores de Corpos” escrito por Jack Finney em 1955, exerceu em mim o mesmo fascínio da série televisiva Os Invasores. Acho que por ter a mesma premissa da série televisa, ou seja, não mostrar monstros alienígenas, mas sim alienígenas com ‘casca humana’ acabei me interessando pela obra.
Confesso que comecei a ler o livro sem muitas pretensões, mas conforme a leitura ia evoluindo, acabava preso num enredo fantástico que não me deixava largar o livro em hipótese alguma. Quando percebi, havia devorado todas as páginas em menos de dois dias. E olha que na época estava entupido de serviço. Oh Man!! A obra literária é boa demais! Viciante! E o mais importante, nada de cabeças rolando, membros decepados, mutilações a mil e sangue para todos os lados. O livro de Finney respira tensão, medo, suspense e terror, sem apelar para descrições sangrentas.
Outra grande sacada do escritor foi trazer para o contexto das obras de ficção científica, da época,  uma idéia completamente diferente e revolucionária e que muitos críticos mal informados consideraram uma grande loucura, um verdadeiro tiro no pé.
Cena do filme baseado na obra de Jack Finney
Enquanto os escritores convencionais ‘daqueles tempos’ ainda pegavam carona na idéia de H.G. Wells e o seu fantástico “Guerra dos Mundos”, elaborando histórias de invasões alienígenas com naves espaciais pilotadas por seres hediondos de outros planetas; Finley deu chute nisso tudo e rodou a baiana. Ele substituiu as naves espaciais e os viajantes interplanetários por  vegetais alienígenas que viajam pelo espaço durante milhares de anos em busca de um planeta onde pudessem se reproduzir, substituindo seres vivos. E então, as ‘vagens-aliens’ encontram a  Terra. Os organismos originais padecem, enquanto, de dentro de vagens gigantes, irrompem clones desprovidos de emoção. Cara!! Um verdadeiro golpe de mestre. Imaginem só, como uma idéia dessa natureza foi recebida naquela época.
Meu! Acredito que Finley não estava nem aí para os críticos. Ele deve ter pensado: - “Que se danem todos, o que eu quero é sair da mesmice!” Mil vezes valeu Finley!
O autor narra os fatos de forma fria e irônica, mas apavorante, passando para os leitores uma verdadeira fobia. Na história, as pessoas percebem que os seus familiares deixaram de ser aquelas pessoas que eram antes, mudando as suas atitudes, mas de uma maneira sutil, tanto é, que apenas ‘os mais chegados’ percebem tais sutilezas.
Não vou ficar estragando a história com spoilers – grandes ou pequenos – sabem como é... as vezes acabo me empolgando e quando ‘caio na real’ já estou vomitando spoilers pra todos os lados. E estragar uma história dessas seria um verdadeiro sacrilégio.
Para finalizar gostaria de dar uma dica para a galera que pretende ler “Os Invasores de Corpos”: assistam, também, ao filme dirigido por Phillip Kaufuman, de 1978, com Donald Sutherland, Jeff Goldblum e Leonard Nimoy (o eterno Sr. Spok de Jornada nas Estrelas). A produção cinematográfica é uma verdadeira obra prima. Tudo bem que seja uma refilmagem de “Vampiros de Almas”, de 1956, dirigido pelo saudoso Don Siegel, mas a história de Kaufman é ‘animal’.
Inté!

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