Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil

05 novembro 2012


‘Quebrar, triturar, destruir’... Acredito que essa tenha sido a diretriz principal seguida pelo jornalista Leandro Narloch ao escrever o impagável “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. Digo escrevo impagável porque o livro publicado pela editora LeYa é ótimo! Mesmo que você não concorde com o conjunto de idéias de Narloch – o que acho difícil, já que ele apresenta argumentos convincentes baseados em fontes confiáveis – a diversão e a surpresa são garantidas. O autor desmitifica momentos da história do Brasil e de muitos de seus personagens famosos de uma maneira engraçada, deixando de lado aquele sadomasoquismo literário que alguns escritores adoram usar; coisa do tipo: “Fulano fez isso porque era um mau caráter e bem feito para ele”. Narloch rompe os mitos “zuando”. É isso aí: zuando. Tirando sarro nas situações difíceis que o Brasil viveu por culpa de ciclano ou beltrano; mas esse sarro tem um embasamento sólido, alicerçado em bibliografias e depoimentos de historiadores consagrados e acima de qualquer suspeita. Resultado: uma leitura leve, agradável e confiável. Por isso, acabei lendo o livro em apenas três dias.
Narloch implode, com muito bom humor, figuras hiper-conhecidas da história do país, as quais nós - em nossa vã ignorância - acreditávamos ser os bambambans mais imaculados do mundo. Estão na lista das desmitificações: Santos Dumont, Zumbi dos Palmares, Luís Carlos Prestes, Dom Pedro I, Dom Pedro II, Euclides da Cunha, Olga Benário, Leonel Brizola e muitos outros. Caramba, nem mesmo Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, conhecido pela alcunha de “O Rei do Cangaço” conseguiu escapar! Quanto aos momentos da nossa história, se preparam para receber informações sobre o descobrimento do Brasil, comunismo e ditadura bem antagônicas aquelas que você aprendeu nos bancos escolares. Posso garantir que algumas revelações farão com que você solte um ‘Ohhhh!’ ‘Caramba!’ ‘PQP!’ ‘Não é possível!’, ou o tradicional: ‘Eu jamais esperava que isso tivesse acontecido!’
Logo de cara, Narloch rompe os paradigmas sobre o descobrimento do Brasil, declarando que os índios não eram simplesmente seres incivilizados ou passivos que não tinham outra alternativa senão lutar contra os portugueses ou então se submeterem à eles. O autor solta a bomba revelando que a colonização também foi marcada por escolhas e preferências do povo tupi-guarani. Ele afirma que muitos índios foram grandes amigos dos brancos, vizinhos de bebedeira e principalmente aliados em guerra
Esqueça também Peri, o personagem épico de José de Alencar no livro “O Guarani”. Segundo estudos do autor, a imagem do índio em harmonia com a natureza nunca existiu. Consta que antes dos portugueses chegarem, eles já haviam extinguido várias espécies nativas e feito um verdadeiro estrago nas florestas brasileiras. Fiquei boquiaberto quando Narloch disse que se os índios não acabaram com as matas, completamente, é porque eram poucos para uma enorme floresta. Algumas palavras de origem indígena deixam evidente o costume das tribos antigas em atear fogo nas florestas. Por exemplo: caiapó que significa que “tráz o fogo à mão” e caiuruçu que na linguagem tupi quer dizer “incêndio”.
E quanto aos bandeirantes? Será que eles foram heróis ou bandidos? Será que eles eram verdadeiros facínoras que invadiam e incendiavam aldeias onde os índios viviam com os jesuítas? Ou será que tudo não passou de informações plantadas por algum grupo interessado em transformar Antônio Raposo Tavares e Cia em verdadeiros bandidos ao longo da história? Narloch apresenta argumentos sólidos de que tudo aquilo que alguns professores nos ensinaram sobre os bandeirantes não era verdade.
Lembro-me que ao concluir a leitura de “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” disse à um ex-colega de universidade que se tratava de um dos livros mais corajosos que já tinha lido. Não posso negar que independente de você concordar ou não com as colocações de Narloch, o sujeito teve muita coragem, muito peito para expor os resultados de suas pesquisas e também o seu ponto de vista. Abordar temas tão polêmicos como comunismo e ditadura é muito complicado;  é o mesmo que mexer em um vespeiro. Pois bem, o autor de “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” faz mais do que isso: além de mexer no vespeiro, ele também provoca as vespas ao afirmar que nos primeiros 15 anos da ditadura, nunca o Brasil experimentou em toda a sua história uma evolução tão grande no seu Índice de Desenvolvimento Humano. Ele continua mexendo no vespeiro ao mostrar a outra ‘banda’ do comunismo, bem diferente daquela ‘banda’ aventureira e honesta que grande parte dos brasileiros aprenderam a conhecer através de relatos da imprensa e também dos próprios integrantes do movimento. Narloch expõe o lado mau do comunismo, como por exemplo, o julgamento e a execução de pessoas ligadas ao grupo, tramadas pelos seus próprios líderes. Ele vai mais fundo, desmitificando a imagem de um dos símbolos do comunismo no País: Luis Carlos Prestes, ao qual se refere de revolucionário trapalhão.
Escritor e jornalista Leandro Narloch
Narloch provoca uma demolição ao desvendar o lado... digamos que negro de Prestes, tornando público o seu envolvimento na execução da militante Elza Fernandes na década de 40, além de revelar detalhes intrigantes sobre o movimento na época de Prestes, Olga Benário, Leonel Brizola, Lamarca e outros.
Como não bastassem os torpedos sobre descobrimento do Brasil, índios, ditadura e comunismo, Narloch continua quebrando, triturando e destruindo vários outros mitos em seu livro. Um dos capítulos que mais me agradou, envolveu os personagens, supostamente, imaculados da história do país. Todos eles tiveram as suas “roupinhas brancas” atingidas pelas bolas de barro atiradas pelo jornalista e escritor.
Para começar o capítulo, ele já tasca que Santos Dumont não foi o inventor do avião. Muito antes do 14 Bis dar os seus pulinhos – segundo o autor, o famoso avião desenvolvido por Santos Dumont só dava pulinhos no chão, sem nunca ter conseguido voar – os irmãos Orville e Wilbur Wright já faziam pequenos vôos de até 260 metros com um protótipo de aeronave conhecido por Flyer 1.
Narloch continua derrubando mitos populares sobre os nossos heróis ao revelar, por exemplo, que uma das maiores lendas da literatura brasileira  teria conseguido defender, ao mesmo tempo, dois dos maiores tiranos do século 20: Adolf Hitler e Josef Stálin. Há também o caso de outro escritor, defensor dos negros e mestiços em suas obras, mas que por outro lado admirava a Ku Klux Klan!
Enfim, vou parar por aqui; nem vou citar as declarações bombásticas sobre Dom Pedro I, Dom Pedro II, Lampião, Machado de Assis, Antônio Conselheiro, Euclides da Cunha, Zumbi dos Palmares e a revelação do tipo Buummm!! Daquelas que arrebentam tudo o que encontra pela frente, sobre Aleijadinho. Quando li esse lance sobre o nosso Antônio Francisco Lisboa, o popular Aleijadinho, juro que o meu queixo caiu direto pro chão. Cara, verdade! Esta informação sobre o escultor,  lembra muito o universo Matrix. Mama mia!!
Para quem não sabe, Leandro Narloch é jornalista, foi repórter da Revista Veja e editor das revistas “Aventuras na História” e “Superinteressante”. Acredito que a sua coragem em pesquisar e expor temas considerados tabus e imexíveis na história do nosso País - contrariando opiniões que ao longo do tempo, cristalizaram-se como verdades inquestionáveis - tem muito  à ver com o seu “lado repórter” da Revista Veja, cargo que ocupou um dia. Sabemos da linha editorial daquela revista que conquistou a confiança de um grande número de leitores ao fazer denúncias importantes, principalmente na área política.
“Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” é um livro divertido para se ler, mas ao mesmo tempo sério e questionador, pois nos ensina a ver a história do Brasil e de muitos de seus personagens com uma visão crítica.
Valeu!

Um comentário

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