‘Quebrar, triturar, destruir’... Acredito que essa tenha
sido a diretriz principal seguida pelo jornalista Leandro Narloch ao escrever o
impagável “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. Digo escrevo
impagável porque o livro publicado pela editora LeYa é ótimo! Mesmo que você
não concorde com o conjunto de idéias de Narloch – o que acho difícil, já que
ele apresenta argumentos convincentes baseados em fontes confiáveis – a
diversão e a surpresa são garantidas. O autor desmitifica momentos da história
do Brasil e de muitos de seus personagens famosos de uma maneira engraçada,
deixando de lado aquele sadomasoquismo literário que alguns escritores adoram
usar; coisa do tipo: “Fulano fez isso porque era um mau caráter e bem feito
para ele”. Narloch rompe os mitos “zuando”. É isso aí: zuando. Tirando sarro
nas situações difíceis que o Brasil viveu por culpa de ciclano ou beltrano; mas
esse sarro tem um embasamento sólido, alicerçado em bibliografias e depoimentos
de historiadores consagrados e acima de qualquer suspeita. Resultado: uma
leitura leve, agradável e confiável. Por isso, acabei lendo o livro em apenas
três dias.
Narloch implode, com muito bom humor, figuras
hiper-conhecidas da história do país, as quais nós - em nossa vã ignorância -
acreditávamos ser os bambambans mais imaculados do mundo. Estão na lista das
desmitificações: Santos Dumont, Zumbi dos Palmares, Luís Carlos Prestes, Dom
Pedro I, Dom Pedro II, Euclides da Cunha, Olga Benário, Leonel Brizola e muitos
outros. Caramba, nem mesmo Virgulino Ferreira, vulgo Lampião, conhecido pela
alcunha de “O Rei do Cangaço” conseguiu escapar! Quanto aos momentos da nossa
história, se preparam para receber informações sobre o descobrimento do Brasil,
comunismo e ditadura bem antagônicas aquelas que você aprendeu nos bancos
escolares. Posso garantir que algumas revelações farão com que você solte um ‘Ohhhh!’
‘Caramba!’ ‘PQP!’ ‘Não é possível!’, ou o tradicional: ‘Eu jamais esperava que
isso tivesse acontecido!’
Logo de cara, Narloch rompe os paradigmas sobre o
descobrimento do Brasil, declarando que os índios não eram simplesmente seres
incivilizados ou passivos que não tinham outra alternativa senão lutar contra
os portugueses ou então se submeterem à eles. O autor solta a bomba revelando
que a colonização também foi marcada por escolhas e preferências do povo
tupi-guarani. Ele afirma que muitos índios foram grandes amigos dos brancos,
vizinhos de bebedeira e principalmente aliados em guerra
Esqueça também Peri, o personagem épico de José de Alencar
no livro “O Guarani”. Segundo estudos do autor, a imagem do índio em harmonia
com a natureza nunca existiu. Consta que antes dos portugueses chegarem, eles
já haviam extinguido várias espécies nativas e feito um verdadeiro estrago nas
florestas brasileiras. Fiquei boquiaberto quando Narloch disse que se os índios
não acabaram com as matas, completamente, é porque eram poucos para uma enorme
floresta. Algumas palavras de origem indígena deixam evidente o costume das
tribos antigas em atear fogo nas florestas. Por exemplo: caiapó que significa
que “tráz o fogo à mão” e caiuruçu que na linguagem tupi quer dizer “incêndio”.
E quanto aos bandeirantes? Será que eles foram heróis ou
bandidos? Será que eles eram verdadeiros facínoras que invadiam e incendiavam
aldeias onde os índios viviam com os jesuítas? Ou será que tudo não passou de
informações plantadas por algum grupo interessado em transformar Antônio
Raposo Tavares e Cia em verdadeiros bandidos ao longo da história?
Narloch apresenta argumentos sólidos de que tudo aquilo que alguns professores
nos ensinaram sobre os bandeirantes não era verdade.
Lembro-me que ao concluir a leitura de “Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil” disse à um ex-colega de universidade que se
tratava de um dos livros mais corajosos que já tinha lido. Não posso negar que
independente de você concordar ou não com as colocações de Narloch, o sujeito
teve muita coragem, muito peito para expor os resultados de suas pesquisas e também
o seu ponto de vista. Abordar temas tão polêmicos como comunismo e ditadura é muito
complicado; é o mesmo que mexer em um vespeiro.
Pois bem, o autor de “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” faz
mais do que isso: além de mexer no vespeiro, ele também provoca as vespas ao
afirmar que nos primeiros 15 anos da ditadura, nunca o Brasil experimentou em
toda a sua história uma evolução tão grande no seu Índice de Desenvolvimento
Humano. Ele continua mexendo no vespeiro ao mostrar a outra ‘banda’ do
comunismo, bem diferente daquela ‘banda’ aventureira e honesta que grande parte
dos brasileiros aprenderam a conhecer através de relatos da imprensa e também
dos próprios integrantes do movimento. Narloch expõe o lado mau do comunismo,
como por exemplo, o julgamento e a execução de pessoas ligadas ao grupo, tramadas
pelos seus próprios líderes. Ele vai mais fundo, desmitificando a imagem de um
dos símbolos do comunismo no País: Luis Carlos Prestes, ao qual se refere de
revolucionário trapalhão.
Escritor e jornalista Leandro Narloch |
Narloch provoca uma demolição ao desvendar o lado... digamos
que negro de Prestes, tornando público o seu envolvimento na execução da
militante Elza Fernandes na década de 40, além de revelar detalhes intrigantes
sobre o movimento na época de Prestes, Olga Benário, Leonel Brizola, Lamarca e
outros.
Como não bastassem os torpedos sobre descobrimento do
Brasil, índios, ditadura e comunismo, Narloch continua quebrando, triturando e
destruindo vários outros mitos em seu livro. Um dos capítulos que mais me
agradou, envolveu os personagens, supostamente, imaculados da história do país.
Todos eles tiveram as suas “roupinhas brancas” atingidas pelas bolas de barro
atiradas pelo jornalista e escritor.
Para começar o capítulo, ele já tasca que Santos Dumont não
foi o inventor do avião. Muito antes do 14 Bis dar os seus pulinhos – segundo o
autor, o famoso avião desenvolvido por Santos Dumont só dava pulinhos no chão, sem
nunca ter conseguido voar – os irmãos Orville e Wilbur Wright já faziam
pequenos vôos de até 260
metros com um protótipo de aeronave conhecido por Flyer
1.
Narloch continua derrubando mitos populares sobre os nossos
heróis ao revelar, por exemplo, que uma das maiores lendas da literatura
brasileira teria conseguido defender, ao
mesmo tempo, dois dos maiores tiranos do século 20: Adolf Hitler e Josef
Stálin. Há também o caso de outro escritor, defensor dos negros e mestiços em
suas obras, mas que por outro lado admirava a Ku Klux Klan!
Enfim, vou parar por aqui; nem vou citar as declarações
bombásticas sobre Dom Pedro I, Dom Pedro II, Lampião, Machado de Assis, Antônio
Conselheiro, Euclides da Cunha, Zumbi dos Palmares e a revelação do tipo
Buummm!! Daquelas que arrebentam tudo o que encontra pela frente, sobre Aleijadinho.
Quando li esse lance sobre o nosso Antônio Francisco Lisboa, o popular
Aleijadinho, juro que o meu queixo caiu direto pro chão. Cara, verdade! Esta
informação sobre o escultor, lembra
muito o universo Matrix. Mama mia!!
Para quem não sabe, Leandro Narloch é jornalista, foi
repórter da Revista Veja e editor das revistas “Aventuras na História” e
“Superinteressante”. Acredito que a sua coragem em pesquisar e expor temas
considerados tabus e imexíveis na história do nosso País - contrariando
opiniões que ao longo do tempo, cristalizaram-se como verdades inquestionáveis
- tem muito à ver com o seu “lado
repórter” da Revista Veja, cargo que ocupou um dia. Sabemos da linha editorial
daquela revista que conquistou a confiança de um grande número de leitores ao
fazer denúncias importantes, principalmente na área política.
“Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil” é um
livro divertido para se ler, mas ao mesmo tempo sério e questionador, pois nos
ensina a ver a história do Brasil e de muitos de seus personagens com uma visão
crítica.
Valeu!
Um comentário
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ResponderExcluirhttp://gatosmucky.blogspot.com.br/2012/11/premio-gato-smucky.html