Parede de Escudos – Parte II

04 junho 2011
Ok, ok... podem me chamar de repetitivo, enganador, chato, até mesmo de um sujeito nada criativo. Tudo bem eu agüento. Mas nada vai me impedir de escrever, novamente, sobre a famosa “Parede de Escudos”. Culpa da trilogia “As Crônicas de Artur”, do grande Bernard Cornwell, principalmente do livro “Excalibur” que fecha a saga arturiana. Na realidade, as temíveis paredes de escudos são elementos indispensáveis do “Universo Cornwell” estando presentes nas suas obras mais famosas: “As Crônicas de Artur” e “Crônicas Saxônicas”.
As pessoas que leram esses livros, com certeza, ficaram curiosas com relação a tática de combate onde guerreiros armados com lanças, espadas ou machados colavam as bordas de seus escudos junto às bordas dos escudos de seus companheiros formando uma muralha quase intransponível. E como fui um ávido devorador de cada página de “O Rei do Inverno”, “O Inimigo de Deus” e “Excalibur”, cá estou eu para bancar o repetitivo e novamente explorar o assunto.
Se você se interessou por esse texto até agora, recomendo que leia antes o post “Parede de Escudos”, no qual explico melhor o que vem a ser essa tática de combate muito utilizada pelos guerreiros medievais. Hoje quero escrever apenas sobre o terror de enfrentar um exército de soldados experientes armados com lanças, espadas e é claro escudos.
Para que você entenda esse pesadelo, imagine sendo transportado através de uma máquina do tempo para 500 d.c e de repente aterrisando no meio de uma batalha entre britânicos e saxões. Então, você olha para frente e dá de cara com cerca de 1.500 homens posicionados em cinco fileiras com 300 homens cada uma; todos eles com escudos travados um no outro, armados  com lanças de ponteiras de metal mais afiadas do que navalha. Essas lanças se projetam através de pequenos vãos entre os escudos. Deu pra sentir o drama? O que você faria? Cara! No meu caso, eu.... eu... sei lá. Nem dá pra pensar.
Agora imagine duas paredes de escudos inimigas se chocando numa batalha. Em “Excalibur”, livro que encerra a trilogia “As Crônicas de Artur”, dá pra se ter uma noção do que um evento dessa magnitude representa.
Durante a famosa “Batalha do Monte Badon” onde o exército britânico liderado por Artur enfrentou os saxões  comandados Cerdic e Aele, o guerreiro Derfel Cadarn descreve o embate entre duas dessas paredes. “No morro ouvimos os escudos se chocarem. Foi um som seco e raspado, como o trovão debaixo da terra, e era o som de centenas de escudos e lanças golpeando, enquanto dois grandes exércitos se chocavam cabeça com cabeça”, narra o famoso guerreiro e conselheiro de Artur.
Quando as paredes de escudos de dois exércitos adversários se entrechocam, quase sempre as armas longas como espadas e machados se tornam quase impossíveis de serem utilizadas, por isso, os combatentes acabam optando por espadas curtas e lanças que nessas circunstâncias se tornam eficazes e mortais. As espadas curtas servem para golpear por baixo do escudo inimigo, acertando as pernas e as lanças são utilizadas para atacar por cima do escudo.
As vezes uma luta nessas circunstâncias se torna tão aguerrida que os guerreiros inimigos só faltam se beijar devido a falta de espaço para fazer movimentos. Derfel, com freqüência, cita nos livros da trilogia que podia sentir o “bafo” de hidromel do inimigo saxão que estava enfrentando.
As vezes as duas paredes de escudos ficavam tão espremidas que era impossível se movimentar para erguer um braço, então só sobravam para aos guerreiros trocarem insultos, xingamentos e cusparadas, até ganharem o mínimo de liberdade para erguerem a espada e desferirem um golpe no inimigo.
A maioria dos soldados medievais que ousavam tentar romper uma parede de escudos acabava morrendo com uma lança “fincada” na virilha ou então se aposentavam para sempre das batalhas graças a um ferimento incapacitante nos tornozelos ou pernas. Derfel narra em “Excalibur” o terror de uma luta “tête a tête” entre duas paredes de escudos: “Agora eu não tinha espaço para usar a espada, porque estava esmagado – escudo com escudo – contra um homem que xingava e me cuspia tentando passar a espada pela borda do meu escudo”.
Outro motivo que fazia duas paredes de escudos se travarem, era os mortos e feridos das primeiras filas que iam tombando no solo. Derfel diz que muitas vezes a “montanha” de britânicos e saxões agonizantes caídos no chão era tamanha que os dois exércitos eram obrigados a pisar por cima desses moribundos para continuar lutando o que provocava o travamento dos combatentes.
Pois é meu amigo. Quer pesadelo pior do que esse? Topas enfrentar uma paredinha de escudos básica?
Mas para não fugir muito do objetivo desse post que “é” ou pelo menos “era” (acho que acabei me empolgando e fugi do tema) falar do medo ou dilema dos grandes guerreiros em enfrentar uma parede de escudos, quero lembrar que o próprio Derfel considerado um dos mais bravos soldados de Artur tremia de medo antes de encarar uma muralha de lanças, machados, espadas e é claro, escudos! Muitas vezes, ele deixou claro que ao ver a “muralha assassina” pela frente, o seu primeiro desejo era virar as costas e sair correndo. Mas como era um guerreiro respeitado, um verdadeiro lord e líder de vários homens, ele acaba dominando esse ímpeto e partia para a luta. O problema, segundo Derfel vinha depois da batalha, quando os pesadelos entravam rasgando em seus sonhos, dilacerando a alma. Mesmo assim, o personagem que narra a saga arturiana nos três livros da trilogia “As Crônicas de Artur” conseguiu romper algumas paredes de escudos saxônicas. E segundo ele, quando isso acontece, é uma verdadeira glória para o soldado que fica imortalizado através das canções dos bardos.
Na trilogia de Cornwell, também há casos de jovens guerreiros que participaram de sua primeira batalha e logo de cara tiveram de enfrentar uma parede dessas. Derfel conta em “O Inimigo de Deus”, o caso de um lanceiro que estava “se tornando homem agora” que se borrou todo após sair vivo de uma batalha com guerreiros com escudos travados. E quando digo “se borrou todo”, estou usando o termo literalmente.
Não adianta. Pode ser Artur, Derfel, Sagramor, Culhwch, Galahad, Issa, Morfans, enfim o mais valente dos guerreiros vai sentir um frio na espinha ao se deparar com uma parede de escudos. Não escapa nem mesmo os leitores das obras de Cornwell.
Está explicado porque muitos guerreiros se entupiam de hidromel, ficando completamente bêbados antes da batalha.
Enfrentar uma parede de escudos não é fácil!   

7 comentários

  1. Encontrei seu blog justamente procurando uma imagem de uma parede de escudos. Comecei a ler sem compromisso e já favoritei. Achei muito bacana a sua iniciativa de "dissecar" os livros e dar opiniões condizentes com a opinião de um leitor. Já faz tempo que parei de acreditar na crítica para decidir o que ler ou assistir. Também sou fã de Cornwell e a minha paixão começou justamente através da trilogia das "Crônicas de Artur", hoje já li boa parte de sua obra, faltando apenas os dois últimos livros de Sharpe lançados no Brasil e as "Crônicas Saxônicas" cuja ainda estou no segundo livro "O cavaleiro da morte" quase no finalzinho, é verdade.
    Sou apreciador de romances históricos desde que li a saga Ramsés, mas confesso que depois de ler Cornwell fica dificil interessar-se por outra leitura.
    Um excelente trabalho no blog, agora vou usá-lo sempre como referência para decidir minha próxima leitura.
    Forte abraço!

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  2. Antes de andares por aí a dizer disparates, por favor vai compreender melhor as formações militares na antiguidade, tanto clássica como medieval.

    Analisar a utilização de formações em falange através das obras de Bernard Cornwell? Formações cerradas onde escudos tocam em escudos na Idade Média? Fora Poitiers, isso é um paradoxo colossal!

    Por favor, vai procurar informação fidedigna, com base em fontes verídicas. Ainda por cima Cornwell, que entende de batalhas medievais tanto quanto eu entendo de física quântica..... Só mesmo na internet que uma pessoa encontra coisas dessas.... Infantaria Bretã a utilizar formação em falange contra infantaria saxónica.

    Pelo amor de Deus!

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  3. Ohhhhhh Senhor da Guerra Portugues,sei que eres portugues !!
    Com certeza nao sabias nada disso ai acima escrito,procuraste no GOOGLE so para ferrar o carinha do blog !!
    Ass:Artur Rocha. E nao sou nenhum senhor da guerra !

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  4. Não leio resenhas sobre os livros que quero comprar, sempre acho que a minha opinião deve valer em cima de uma obra. Acho que nunca li uma saga tão cativante como As Crônicas Saxônicas. Uhtred é tão cativante, mesmo naquele mundo brutal das invasões nórdicas.

    Antes disso, só tinha lido Angus, o Primeiro Guerreiro, mostrando um ambiente semelhante, mas Cornwell mostrou com muito mais detalhes a vida medieval na Inglaterra e dissecou toda a brutalidade deste lugar de bárbaros e reis.

    Estou adquirindo os livros do Cornwell e terminei recentemente Stonehenge, também uma obra cativante.

    Abraço!

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    1. Pelo que entendi, vc ainda não leu " As Cronicas de Artur". Então compre "Rei do Inverno", "Inimigo de Deus" e " Excalibur" e prepara-se para uma viagem inesquecivel e maravilhosa no mundo mágico da leitura e que, certamente, ficará guardada para sempre em sua memória. Jamais irei me esquecer de personagens tão cativantes...
      Abcs!!

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    2. Eu comprei os livros, mas estou dando prioridade à outras leituras neste momento. Mas estou ansiosa. =D

      momentumsaga.com

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  5. Boa!!! (rssss) Só não aceite participar de uma parede de escudos se for convidado (rss)

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