Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída...

05 outubro 2014


Há livros que marcam as nossas vidas como verdadeiras tatuagens, daquelas gravadas e cravadas na pele e na carne. Obras que passam a nos perseguir (no bom sentido, é claro) para o resto de nossas vidas. É incrível como esses livros tem o poder de fazer-nos retornar ao período mágico e vibrante de nossas adolescências ou pré-adolescência. Puxa! Como é gostosa  essa viagem! Só mesmo aqueles leitores inveterados para entender e sentir essa magia.
Hoje, ao chegar na minha casa ‘Cansadaço da Silva’, deitei-me na cama e até que aparecesse a coragem para tomar uma ducha gostosa, me assolou uma sessão de nostalgia. Sem mais nem menos, comecei a recordar momentos que marcaram a minha adolescência: o primeiro beijo, o primeiro fora, o primeiro emprego, aquela professora que pegava no meu pé, os amigos que se foram e mais isso e aquilo. E nesse revival de memórias, lembrei-me de dois livros que marcaram essa fase de minha vida: “Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída...” e “Feliz Ano Velho”.
Como estou muiiiito cansado, prá ser sincero, arrebentadaço, vou escrever apenas sobre o primeiro livro para não trocar Jesus por Genésio. Prometo que amanhã ou o mais tardar terça-feira falo escrevo sobre a obra do Marcelo Rubens Paiva.
Sempre fui um rato de biblioteca. A primeira coisa que fazia após ouvir o sinal do recreio ou então do final das aulas era ‘zarpar’ para a biblioteca da escola. Chegando por lá, fazia a festa! Lembro que o meu primeiro contato com “Eu, Christiane F...” aconteceu naquele espaço amplo e silencioso, onde se encontravam apenas eu e a minha estimada e saudosa bibliotecária Dona Alice.  Naquela época, os livros não podiam sair da biblioteca, por isso, os alunos tinham de ler por ali mesmo. Mas com jeitinho consegui convencer Dona Alice que abriu a chamada ‘exceção das exceções’. Acho que fez isso por me considerar um ratão de biblioteca (rs). Li o livro em dois ou três dias, não mais do que isso. Confesso que marcou. Foi uma leitura impactante. Sei que hoje, a história da vida de Christiane Vera Felscherinow perdeu parte de seu impacto em virtude dos tempos em que vivemos, onde alguns – incluindo a própria ON U – sugerem a descriminalização do consumo de drogas. Mas na década de 70, para ser exato em 1979, quando o livro foi lançado, não existiam essas idéias revolucionárias e chocantes. Se hoje, vários artistas famosos e suicidas não ficam nem um pouco encabulados de fazer apologia as drogas, afirmando que a ‘mardita’ faz um bem danado para o corpo e para alma; naqueles tempos idos o sujeito não podia se gabar tanto de sua coragem ou burrice em consumir o ‘produto’: ele fumava, cheirava ou ‘se injetava’ nas sombras do silencio.
Imagine, agora, nesse tempo repressivo e puritano, uma criança de apenas 13 anos ‘soltar a bomba’ publicamente ‘que além de se drogar, também se prostituía à vontade? Tenso, não é mesmo?!
No livro escrito pelos jornalistas Kai Hermann e Horst Hieck – que acompanharam o julgamento de Christiane num Tribunal de Infância e Juventude na Alemanha – a jovem com 13 anos, na época, literalmente, abre o jogo, não escondendo absolutamente nada, tanto é, que os autores da obra – dois profissionais experientes e acostumados a cobrir tragédias e mazelas humanas - ficaram de queijo caído com as revelações.
Cristiane afirma que começou a fumar maconha em 1974, quando tinha apenas 12 anos de idade. Com essa mesma idade também se iniciou no consumo de medicamentos como Valium e Mandrix, além de LSD.
Quando a heroína ainda era uma novidade em Berlim, algo desconhecido entre os dependentes químicos; Cristiane já entrava de cabeça na droga. Ela revela em seu depoimento que inalou heroína pela primeira vez em um show de David Bowie e depois disso, vieram as picadas no braço em banheiros públicos abandonados, até ir se afundando cada vez mais no vício.
Olha galera,  já li “Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída...”, pares e pares de vezes, e confesso que em todas elas, a narrativa não deixou de ser perturbadora, densa, pesada.
É f.... ler que uma criança começou a se prostituir com 14 anos para ganhar dinheiro para comprar heroína. Cara, mexe com você, ver uma criança contando os detalhes de como fazia para selecionar os seus clientes e como agia com eles. É f... ir vendo, aos poucos, a degradação do corpo e da alma e consequentemente da vontade de viver dessa criança que encontrou nas drogas, ao mesmo tempo, a alegria e a tristeza, mas não uma tristeza comum... uma tristeza de morte.
Os leitores que devorarem “Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada e Prostituída” irão se interessar tanto pela história que passarão a vasculhar na web informações sobre Christiane Vera Felscherinow na esperança de encontrar várias respostas para as suas dúvidas e curiosidades, tais como:
“Ela está vida ou morta?”. “Conseguiu abandonar o vício”?. “Tem filhos?”. “É casada?”. “Trabalha?”, etc, etc e mais etc.
Posso garantir que todas essas dúvidas são respondidas em outro livro auto-biográfico de Felscherinow, o não menos polêmico: “Eu, Christiane F., A Vida Apesar de Tudo”. Aqueles que quiserem conhecer mais detalhes sobre a obra acessem aqui.
Bem, é isso aí galera; no mais só gostaria de acrescentar que “Eu, Christiane F., Treze Anos, Drogada, Prostituída...” é o livro que todas as mães deveriam incentivar os seus filhos a lerem. E olha que quem disse isso não foi o menino aki, mas sim, uma mãe exemplar de um amigo meu.
Inté!

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