Este post é mais de Lulu do que meu, afinal, a ideia
do tema foi dela, além de ter colaborado na seleção das obras literárias que
fazem parte dessa lista; a maioria dos livros foram escolhidos por ela, a outra
pequena porcentagem “pintou” após sugestões de amigas leitores e zapeadas nas
redes sociais. Estávamos numa lanchonete quando ela me lançou a proposta – Nós
estamos no mês dedicado a mulher, então por que você não aproveita a data para
escrever um texto sobre livros de empoderamento feminino? Tem tantas obras
boas. – Pois é, começamos a conversar sobre o assunto, fomos trocando ideais,
lapidando a proposta e chegamos à conclusão de que a proposta se encaixaria
melhor no formato de lista literária. Pronto, surgiu assim, a postagem que você
está lendo agora.
Com o crescimento gradativo do empoderamento como
pauta na sociedade, mulheres lidam diariamente com diversas responsabilidades e
dificuldades em todas as áreas da vida, mas rompendo com muita perseverança as
barreiras que as colocam à prova. Barreiras que aliás estão sendo rompidas há
muitas e muitas décadas.
Os livros desempenham um papel muito importante no
rompimento dessas barreiras mostrando que é possível enfrentar os maiores medos
buscando o que se deseja. Eles são excelentes estratégias para as mulheres
obterem conhecimento e empoderamento. Sejam ficcionais ou não, os livros têm a
capacidade de abrir a mente, ensinar coisas novas e ainda ajudar as leitoras a
ampliar a visão de mundo e a desenvolver discursos condizentes com as ideias
que acreditam.
Como diz a escritora norte-americana Lisa Kleypas,
“uma mulher que lê muito é uma criatura perigosa”. Talvez por isso, a
literatura feminina seja associada na história a movimentos de independência e
emancipação do gênero fugindo do contexto explorado por publicações habituais,
quase sempre escritas por homens.
Valeu pela ideia Lulu; agora, vamos a nossa lista de
10 livros sobre empoderamento para celebrar o Dia Internacional da Mulher
comemorado neste 8 de março. Livros que toda mulher deveria ler paras se
conscientizar de sua força, de seu poder.
Ah! E claro, feliz mês das mulheres, aliás vocês são
muito especiais para ter somente um dia, vocês merecem muito mais do que isso,
merecem um mês inteiro de homenagem e não apenas um dia. E vamos para as obras!
01
– Mulheres que correm com lobos (Clarissa Pinkola Estés)
O livro traz histórias e mitos, que refletem a
condição da mulher em diversas situações da vida. A obra que pode ser
considerada um clássico continua vendendo “horrores” desde o seu lançamento em
2018.
Segundo a autora e analista junguiana Clarissa Pinkola
Estés, os lobos foram pintados com um pincel negro nos contos de fada e até
hoje assustam meninas indefesas. Mas nem sempre eles foram vistos como
criaturas terríveis e violentas. Ela explica em seu livro que na Grécia antiga
e em Roma, o animal era o consorte de Artemis, a caçadora, e carinhosamente
amamentava os heróis.
Clarissa Estés acredita que na nossa sociedade as
mulheres vêm sendo tratadas de uma forma semelhante. Ao investigar o
esmagamento da natureza instintiva feminina, a autora descobriu a chave da
sensação de impotência da mulher moderna.
Seu livro, Mulheres
que correm com os lobos, ficou durante um ano na lista de mais vendidos nos
Estados Unidos. Abordando 19 mitos, lendas e contos de fada, como a história do
patinho feio e do Barba-Azul, Estés mostra como a natureza instintiva da mulher
foi sendo domesticada ao longo dos tempos, num processo que punia todas aquelas
que se rebelavam. Segundo a analista, a exemplo das florestas virgens e dos
animais silvestres, os instintos foram devastados e os ciclos naturais
femininos transformados à força em ritmos artificiais para agradar aos outros.
Mas sua energia vital, segundo ela, pode ser restaurada por escavações
psíquico-arqueológicas' nas ruínas do mundo subterrâneo. Até o ponto em que,
emergindo das grossas camadas de condicionamento cultural, apareça a corajosa
loba que vive em cada mulher.
02
– Em busca de mim (Viola Davis)
Lulu leu esse livro e adorou. Gostou muito, mesmo.
Antes de escrever esse post, estávamos conversando na lanchonete sobre a luta e
a perseverança da da premiada atriz norte-americana Viola Davis, protagonista de
A Mulher Rei, filmaço que assisti com
Lulu, e adoramos. Ela comentava que nós poderíamos até imaginar que atrizes e
atores famosos de Hollywood vivem num eterno glamour cercado de uma vida
luxuosa e sem problemas. Viola, desmistifica essa visão.
Em seu primeiro livro, a atriz e agora escritora,
descreve sem rodeios toda a sua trajetória, desde a fase de extrema pobreza em
que vivia com os pais e seus cinco irmãos na cidade de Central Falls, no estado
de Rhode Island, sua formação e formatura profissional sempre com muita
dificuldade, até a fase dos testes, as recusas, o preconceito, os primeiros
trabalhos no teatro, TV e cinema e os primeiros sucessos, seguidos de prêmios.
Lulu achou o relato de Viola bem íntimo e visceral. A
atriz, de fato, abre o jogo sobre a sua vida narrando em detalhes as derrotas e
conquistas, as tristezas e as alegrias.
03
– Circe: Feiticeira, Bruxa, entre o castigo dos deuses e o amor dos homens
(Madeline Miller)
Indicação minha. Verdade, Li e amei; agora, estarei
repassando para Lulu que também está morrendo de vontade de lê-lo. O livro de
Madeline Miller conta a história de Circe, a famosa feiticeira da mitologia
grega que aparece no Clássico A Odisseia
de Homero. A história é narrada em primeira pessoa pela própria Circe desde o
seu nascimento até a fase adulta quando passou a ser temida até mesmo pelos
deuses olimpianos.
Vemos toda a humilhação sofrida pela personagem quando
criança e adolescente enfrentando bullying de todos os lados, principalmente de
familiares, incluindo o seu poderoso pai, o deus Hélio (Sol) e sua mãe, a ninfa
Perseis que a menosprezavam cruelmente chegando ao ponto de dizer que ela era
um ‘nada’ se comparada ao seu irmão Eetes. As humilhações também vinham de suas
“amigas”, parentes, homens, etc. Enfim, as pancadas chegavam de todos os lados.
A obra mostra a resiliência e o crescimento de Circe
até conseguir se transformar numa mulher temida e ao mesmo tempo amada. Como já citei acima, li e amei (veja resenha)
por isso, super indico.
04
– Eu sou Malala: A história da garota que defendeu o direito à educação e foi
baleada pelo Talibã (Malala Yousafzai e Christina Lamb)
Malala Yousafzai é uma ativista paquistanesa que ficou
internacionalmente conhecida por defender o direito das mulheres de terem
acesso à educação. Ele morava em uma região dominada pelo Talibã e desafiou as
ordens desse grupo fundamentalista de parar de estudar. Seu ativismo fez com
que ela se tornasse alvo do Talibã e fosse vítima de um atentado em 2012. Ela
sobreviveu e, em 2014, recebeu o Nobel da Paz.
Aos dezesseis anos, Malala se tornou um símbolo global
de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio
Nobel da Paz. Eu sou Malala é a
história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à
educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que
valoriza filhos homens. O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os
primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela
desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã. A
obra foi escrita em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb.
05
– Sejamos todos feministas (Chimamanda Ngozi Adichie)
O que significa ser feminista no século XXI? Por que o
feminismo é essencial para libertar homens e mulheres? Estas questões são
abordadas Sejamos todos feministas,
ensaio da premiada autora de Americanah e
Meio sol amarelo.
Chimamanda Ngozi Adichie ainda se lembra exatamente da
primeira vez em que a chamaram de feminista. Foi durante uma discussão com seu
amigo de infância Okoloma. "Não era um elogio. Percebi pelo tom da voz
dele; era como se dissesse: ‘Você apoia o terrorismo!’". Apesar do tom de
desaprovação de Okoloma, Adichie abraçou o termo e - em resposta àqueles que
lhe diziam que feministas são infelizes porque nunca se casaram, que são
"anti-africanas", que odeiam homens e maquiagem - começou a se
intitular uma "feminista feliz e africana que não odeia homens, e que
gosta de usar batom e salto alto para si mesma, e não para os homens".
Neste ensaio agudo e sagaz, Adichie parte de sua
experiência pessoal de mulher e nigeriana para pensar o que ainda precisa ser
feito de modo que as meninas não anulem mais sua personalidade para ser como
esperam que sejam, e os meninos se sintam livres para crescer sem ter que se
enquadrar nos estereótipos de masculinidade. Sejamos todos feministas é uma
adaptação do discurso feito pela autora no TEDx Euston, que conta com mais de 1
milhão de visualizações e foi musicado por Beyoncé.
06
– O canto da estrela (Carla de Paiva)
Um tributo às mulheres do sertão e uma celebração da
resiliência feminina, O Canto da Estrela Dalva, de Carla Paiva, conta a
história de Aparecida, uma mulher que enfrenta as amarras da sociedade
patriarcal na cidade de Iracema, no Ceará, vale do Jaguaribe.
A narrativa, que demorou quatro anos para ser escrita,
se passa entre os anos de 1922 e 1924 — época de uma das maiores secas da
região. “A história ganhou corpo aos poucos, e escrevê-la foi uma jornada de
descobertas e conexões com minhas próprias raízes”, conta a autora cearense,
natural de Iracema, segundo comunicado da editora Patuá.
Paiva, que é graduada em Letras e cursa atualmente
Filosofia, inspirou-se em grandes escritores para escrever a obra, incluindo
Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Albert Camus e Fernando Pessoa. Outra
inspiração destacada por ela são as mulheres com quem conviveu: "através
deste livro, consegui trazer ao mundo uma personagem que se assemelha às minhas
ancestrais; vejo muito da minha mãe, da minha avó e também um pouco de mim”,
reflete.
07
– Lute como uma garota – 60 feministas que mudaram o mundo (Laura Barcella e
Fernanda Lopes)
Lulu está lendo e gostando muito. Uma amiga nossa
emprestou o livro, uma amiga, diga-se de passagem, que já é avó e agora bem
próxima de se tornar bisavó. Ao pegar o livro, Lulu perguntando meio em tom de
exclamação – Laura, você leu?! – Na lata, a nossa amiga querida devolveu com
aquele olhar matreiro e divertido – Li sim. Por que? Não sou tão garota assim?
Saiba que sou fã de Madonna e Beyoncé. – Todos nós, rimos muito.
Lute
Como Uma Garota - 60 Feministas que Mudaram o Mundo,
publicado pela editora Cultrix, é um compilado dos perfis de figuras
importantes da militância feminista, abrangendo das pioneiras do século XVIII às
estrelas pop dos dias de hoje, como Frida Kahlo, Simone de Beauvoir, Oprah
Winfrey e Madonna, além de nomes essenciais da luta no Brasil, apresentando um
pouco da história da luta das mulheres para ocupar o seu espaço.
Com prefácio de Mary Del Priore, apresentação de Nana
Queiroz e todo ilustrado, a obra de Barccella e Lopes mostra a força das
mulheres.
08
– Estou com câncer e daí? (Clélia Bessa)
Estou
com câncer e daí?, de Clélia Bessa, é o livro que originou
o filme Câncer com ascendente em virgem, que estreia no próximo dia 27 de março
nos cinemas brasileiros. O drama é dirigido por Rosane Svartman e conta um grande
elenco: Suzana Pires, Marieta Severo e Fabiana Karla.
O enredo do livro retrata a jornada de cura da autora,
diagnosticada com câncer de mama. São textos curtos, contendo muita sinceridade
e bom-humor. Entre os temas abordados, estão a autoestima e a vida amorosa de
quem enfrenta a doença, além das emoções em torno da mastectomia, a temida
cirurgia de remoção de mama.
09
– Os homens explicam tudo para mim (Rebeca Solnit)
Tem uma passagem desse livro de Rebeca Solnit que é
muito engraçada mas que serve para mostrar como alguns homens ainda pensam que
sabem mais do que sabem só para se mostrar para uma mulher. Este episódio
ocorreu numa festa quando um homem passou horas explicando por que ela deveria
ler um determinado livro, sem se dar conta de que estava conversando com a
própria autora. A partir desse evento, Rebecca explora o fenômeno machista do
‘mansplaining’, termo usado quando um homem assume saber mais do que uma mulher
sobre algum assunto e insiste em explicar, mesmo quando ela tem mais
conhecimento.
O livro discute diferentes formas de violência contra
a mulher, desde o silenciamento até a violência física, e apresenta uma visão
corajosa e incisiva de machismos muitas vezes não tão evidentes em uma cultura
patriarcal.
Rebeca é jornalista, historiadora e escritora
premiada, autora de mais de uma dezena de livros sobre assuntos como mudanças
sociais, arte, política e feminismo. É ativista em questões ambientais e dos
direitos humanos desde a década de 1980.
10
– Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço (Adriana Negreiros)
Esqueça aquela visão romantizada das mulheres no cangaço.
Esta visão é completamente deturpada. Elas sofriam e muito nas mãos ou nas
garras dos cangaceiro. Pra começar, elas não entravam no cangaço porque queriam
mas porque eram sequestradas e violentadas pelos homens do bando.
gerando um clima de terror imenso entre as sertanejas.
Não tinha o que pudesse ser feito se um desses sujeitos demonstrasse qualquer
interesse por uma moça (ou menina): se já havia muita violência gratuita contra
as pessoas comuns, apenas para o divertimento dos cangaceiros, pior ainda seria
se alguém tentasse interferir em seus interesses, fossem quais fossem.
Na minha opinião, isso derruba a tese de que eles eram
heróis, justiceiros ou pessoas que lutavam “contra o sistema”, ideia esse que
foi reforçada por serem eles uma espécie de força rival das volantes, grupos da
polícia cuja violência não deixava nada a desejar à dos cangaceiros.
Bem, resumindo, as mulheres sofriam e muito nas mãos
daqueles homens; sem ter o mínimo de voz ativ as eram comparadas a simples
objetos de prazer, mas então surgiu Maria Bonita – uma mulher considerada fora
da curva naquela época – e mudou todo esse contexto.
A mulher mais importante do cangaço brasileiro, que
inspirou gerações de mulheres, ganha agora sua biografia mais completa e com
uma perspectiva feminista. Embora a mitificação da imagem de Maria Bonita tenha
escondido situações de constante violência, ela em nada diminui o caráter
transgressor da Rainha do Sertão. Desde os anos 1990, a data de nascimento de
Maria Bonita passou a ser celebrada no Dia Internacional da Mulher.
Taí mulheres, vamos celebrar esse mês tão especial
lendo; lendo obras que abordem toda a sua força, coragem e perseverança.
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