Um Paciente Chamado Brasil

09 dezembro 2020

 

Quando comprei Um Paciente Chamado Brasil, um ex-colega de trabalho me questionou: - Jam, você vai ver a situação somente pelo ponto de vista do Mandetta - O que ele estava dizendo é que o livro teria um enredo unilateral que favorecia apenas um lado, ou seja, o lado do ex-ministro da Saúde.

Concordei, em parte, com esse meu colega, somente em parte. O livro, de fato, mostra os bastidores da luta contra o coronavírus no Brasil apenas sob a ótica de Mandetta, mas... veja bem, pelo menos para mim, o ex-ministro é uma pessoa confiável e isso ficou evidente na forma como ele lidou com a crise desencadeada pela pandemia, abrindo o jogo nas entrevistas coletivas, dando todos os números, não escondendo nada da população. Além disso, que eu me lembre não vi o Mandetta falando mal do governo nenhuma vez, nem mesmo nos momentos que antecederam a sua demissão da pasta. Ah! Mas você pode dizer - teve aquela entrevista que ele deu para o Fantástico. - Tudo bem, ele pode até ter errado em conceder, na época, uma entrevista exclusiva para um canal de TV, ainda mais a Globo que bate de frente com o presidente Bolsanaro – aliás, em seu livro, o ex-ministro cita os motivos que o levou a dar essa tão comentada entrevista – mas nem mesmo naquele momento ele falou mal do governo. Ele disse apenas que Ministério da Saúde e Presidência da República teriam de começar a falar a mesma língua para evitar confundir os brasileiros.

Estas atitudes de Mandetta foram o aval para que eu comprasse o livro. E tem mais, se Bolsonaro lançar um livro dando a sua visão dos fatos, também comprarei a obra. Comprarei sim, porque quero saber os motivos de muitas de suas decisões tomadas durante a pandemia, como por exemplo, o que o levou a defender o uso da Cloroquina, como era o seu relacionamento com Mandetta (sob a sua visão), por que a opção pela demissão de seu auxiliar, etc.

Mas deixando de lado essas explicações, vamos ao que interessa, ao livro lançado pela editora Objetiva. Um Paciente Chamado Brasil é uma leitura esclarecedora sobre tudo o que aconteceu nos bastidores, em Brasília, durante o início avassalador da pandemia de coronavirus.

Achei o livro completo porque o autor vai muito além do epicentro da crise envolvendo a sua saída do Ministério da Saúde. Ele aborda detalhadamente como se deu a formação de sua equipe técnica; o que o levou a escolher o enfermeiro epidemiologista Wanderson Oliveira e João Gabardo dos Reis para serem os seus “braços direitos” no Ministério. Ele também abre o jogo com os leitores, dando detalhes dos bastidores das reuniões na pasta com os seus assessores, principalmente as divergências com Wanderson envolvendo alguns pontos no combate a epidemia. Conta como conheceu o enfermeiro e descreve a sua dedicação ao trabalho, mesmo sendo responsável pela criação de uma filha especial.

Mandeta também dá detalhes de como era da logística dos sistemas de saúde de estados e municípios no combate ao vírus; as decisões certas e erradas de alguns prefeitos e secretários de saúde; os motivos da demora da Organização Mundial de Saúde (OMS) em reconhecer a letalidade do vírus; a corrida da pasta na identificação dos primeiros casos de Covid-19 e a elaboração de um esquema que evitasse o contágio de outras pessoas.

Mas, sem dúvida, o assunto principal de Um Paciente Chamado Brasil é o conflito entre Ministério da Saúde e Governo Federal no combate a pandemia durante a gestão de Mandetta, incluindo momentos bem tensos, entre os quais uma reunião entre ministros e o presidente onde o clima esquentou, havendo a necessidade da intervenção do vice Hamilton Mourão antes que Mandetta e Paulo Guedes – Ministro da Economia – se agredissem.

Outro tema tratado é o negacionismo de Bolsonaro com relação à doença. O autor narra em detalhes como eram as conversas tensas entre ele e o presidente que insistia em participar de manifestações públicas, enquanto o Ministério da Saúde defendia o isolamento social. Conta, ainda, como foi a reunião, a portas fechadas entre ele e o presidente, e que definiu a sua exoneração.

Outro ponto que deve interessar aos leitores envolve o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni. O livro dá detalhes da rápida ascensão de Lorenzoni e como ele conseguiu se tornar o homem de confiança de Bolsonaro, pelo menos no início de seu mandato como presidente da República. Algo que me intrigou nessa parte do livro foi uma mania estranha que o ministro da Cidadania tinha quando era deputado federal. Uma mania tão censurável que acabou contribuindo para que outros parlamentares perdessem a confiança e se recusassem veementemente de participar de qualquer reunião com o deputado licenciado. Tudo isso antes de Lorenzoni se tornar ministro.

Recomendo demais a leitura de Um Paciente Chamado Brasil para as pessoas que quiserem conhecer a fundo os bastidores da luta contra o coronavírus. Como já escrevi no início desse texto, trata-se de uma obra muito esclarecedora.

2 comentários

  1. Pela resenha, este livro vai para a lista de próximas leituras.
    Um Paciente Chamado Brasil, que está na UTI.

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    Respostas
    1. Olá Ever,
      Recomendo a leitura. O livro, de fato, é muito esclarecedor.
      Abraços!

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