Ao ler um livro, por acaso, você já ficou em dúvida
se aquele personagem que apronta poucas e boas na história realmente existiu?
Eu já fiquei. Muitas vezes. Quando o personagem que pensamos ser fictício
consegue nos envolver, fica difícil não
perdermos alguns minutos ou até mesmo horas do nosso trabalho ou lazer para
pesquisarmos se, de fato, existiu. Concordam?
Pois é, no post de hoje vou apresentar aos nossos
leitores, 10 personagens que eu imaginava terem sido apenas frutos da mente de
autores criativos. Sem demora, vamos à eles.
01
– O Corcunda de Notre Dame
Livro:
“O Corcunda de Notre Dame”
Autor:
Victor Hugo
O famoso livro de Victor Hugo que povoou o
imaginário de muitas crianças e também adultos nem sempre se chamou “O Corcunda
de Notre Dame”. A obra foi publicada originalmente em 1831 com o título
“Notre-Dame da Paris”. Bem diferente, não acham? Mas agora, vamos ao que
interessa: Quasímodo, o tal corcunda, realmente existiu ou tudo não passou de
fruto da imaginação do escritor francês Victor Hugo? Sim. Existiu. Não com o nome esse nome é
claro.
Recentemente foram descobertos registros de que um pedreiro
corcunda trabalhou na catedral na mesma época em que Hugo escreveu o livro, no
século 19. Este pedreiro se chamava Monseigneur
Trajano e, segundo relatos de documentos encontrados por historiadores naquela
época, era um homem digno e amigável, apesar de sua aparência. Ele também era
escultor e não gostava de se misturar com os outros escultores.
O famoso escritor francês teria encontrado em Monseigneur Trajano a
fonte de sua inspiração para criar o icônico Quasímodo.
02
– Sherlock Holmes
Autor:
Arthur Conan Doyle
Livros:
Coleção de 10 romances e contos sobre o detetive
Apesar de Arthur Conan Doyle afirmar que a
inspiração para a criar Sherlock Holmes tenha sido dois grandes amigos
cirurgiões: Dr. Joseph Bell e Sir Henry Littlejohn que conseguiam grandes
conclusões a partir das menores observações que fossem; a verdade pode ter sido
outra.
No livro The Real Sherlock Holmes, da autora
Angela Buckley, um detetive inglês
chamado Jerome Caminada é exposto como
sendo um fator decisivo, o pilar na formação do herói Sherlock Holmes.
Detetive Jerome Carminada |
Caminada foi um detetive investigativo de pai e mãe
italianos, nasceu (1844) e viveu em Manchester, Inglaterra. A maioria dos casos
que trabalhou enquanto ainda estava na Força Policial foi pela Manchester City
Police Force, um departamento policial que existiu de 1842 a 1968. À
exemplo do personagem criado por Doyle; o detetive inglês de carne e osso
solucionava os casos usando-se de uma metodologia considerada revolucionária
para a época, onde usava a observação dos detalhes, o seu poder de dedução,
além de um vasto conhecimento forense em suas investigações.
As semelhanças entre os dois eram tão latentes que
Caminada, assim como Holmes, tinha fascínio por criminosas atraentes e
inteligentes – no caso de Holmes, geralmente Irene Adler. Além disso, ambos os
investigadores enfrentavam arqui-inimigos: Holmes contra o professor James
Moriarty; Caminada contra Bob Horridge – um criminoso de carreira – os dois
professores de matemática que se viraram contra a lei.
03
- Zorro
Autores:
Johnston McCulley e Isabel Allende
Livros:
A Marca do Zorro e Zorro – Começa a Lenda
Parece brincadeira, mas não é. O emblemático Zorro
existiu na vida real.
Todos conhecem a história de Diego de la Vega, um
jovem rico da colônia espanhola - região que hoje corresponde à Califórnia -
que de noite transforma-se em um herói mascarado.
A narrativa do justiceiro criado em 1919 pelo escritor
norte-americano Johnston McCulley
é baseada na história real de Joaquin Murrieta, o líder de um grupo de
foras-da-lei chamados de “Os cinco Joaquins”. Eles eram uma espécie
de “Robin Hoods del Mexico”, já que roubavam por Sierra Nevada para usar o
dinheiro para ajudar famílias pobres hispânicas da região.
Murrieta acabou sendo preso pelo governo da
Califórnia, foi decapitado, e teve a cabeça exposta publicamente como exemplo —
bem menos glamouroso que o Zorro ficcional.
04
– Robinson Crusoé
Autor:
Daniel Defoe
Livro:
Robinson Crusoé
Acredito que a maioria das ‘crianças de ontem,
adultos de hoje’ já leram ‘As Aventuras de Robinson Crusoé ou simplesmente
“Robinson Crusoé” - dependendo das
edições lançadas. O conhecido romance que o escritor inglês Daniel Defoe
escreveu em 1719 foi uma verdadeira coqueluche, tornando-se o livro mais
vendido na década.
Vale lembrar que o romance de Defoe é ficcional, mas
a história foi inspirada na vida do corsário escocês Alexander Selkirk
(1676-1721). O livro tem muito em comum com a história real, mas Selkirk
naufragou no Pacífico, enquanto a ilha de Robinson Crusoé era imaginária. Além
disso, o escocês viveu por quatro anos e meio no local, e não 28 anos, como no
livro.
Em 1704, Selkirk participava de uma expedição
liderada por William Dampier para saquear navios espanhóis na América do Sul, e
seu navio havia aportado numa ilha localizada na costa do Chile, preparando-se
para retornar à Inglaterra com a pilhagem. O casco da embarcação estava no
‘osso’, mas o ganancioso capitão metido a valente decidiu partir logo, sem
providenciar os reparos necessários.
Selkirk vendo que a embarcação tinha grande chance
de naufragar, pediu para ser deixado sozinho no local, e sua decisão se provou
certa, pois o navio, de fato, afundou a algumas milhas, deixando vários mortos.
Uma cabana abandonada já estava armada na ilha, e lá
Selkirk passou a dormir. Alguns utensílios deixados pelos corsários também o
ajudaram.
Diferentemente de Crusoé, que tinha a companhia do
nativo Sexta-Feira, Selkirk não tinha ninguém, a não ser os animais da
ilha.
Segundo uma reportagem publicada pela revista
Galileu, o náufrago verdadeiro não tinha nenhuma companhia humana na ilha, a
não ser os animais. Como ele fazia as suas roupas? Com o couro de cabras, que
também lhe rendiam carne para a alimentação. De acordo com a matéria da revista,
os gatos lhe ajudavam a se livrar dos ratos, e assim por diante.
Com o passar dos anos, ele foi aprendendo novas
técnicas de sobrevivência até o seu resgate que aconteceu em 1709.
A história do naufrágio do escocês ficou famosa na
Inglaterra após ser publicada num folhetim em 1711. Dafoe escreveria o romance
oito anos depois, em 1719. O livro ficou conhecido em todo o mundo, consagrando
o seu autor.
05
– Cristóvão e o Ursinho Pooh
Autor:
Alan Alexander Milne (A.A. Milne)
Livros:
Winnie-the-Pooh
(1926) e The House at Pooh Corner (1928)
Pooh teria sido inspirado em um urso-negro que
existiu de verdade no Zoológico de Londres, chamado Winnipeg. Um soldado
chamado Harry Celebourn foi o responsável por levar Winnipeg do Canadá até a
Inglaterra durante a Primeira Guerra Mundial.
Harry Celebourn e o ursinho Winnie |
O soldado, na realidade, um capitão, conheceu um
caçador com um filhote de urso numa estação de trem. O caçador tinha atirado e
matado a mãe do filhote que sozinho certamente iria morrer. Colebourn ofereceu
ao caçador $20 dólares (cerca de US $ 400 dólares) pelo filhote. O homem de bom
grado aceitou a troca.
Colebourn batizou o pequeno urso de Winnipeg em
homenagem a sua cidade natal adotiva, pois o capitão era natural da Inglaterra,
mas fez carreira em Winnipeg, rapidamente o nome do urso tornou-se apenas
“Winnie”. O animal acabou sendo doado para um zoológico inglês.
Desde o primeiro dia que o animal foi para o zoológico
em Londres, um garoto chamado Christopher Robin fazia questão de visitá-lo
quase todos os dias. Sabem quem era o pai desse garoto que se tornou fã do
urso? de
A. A. Milne. Ele mesmo, o
autor dos livros do O Ursinho Pooh que acabou escrevendo a história inspirado no
filho e também em seu novo amigo.
Escritor A.A. Milne e seu filho Christopher |
Aqui, cabe uma curiosidade. No ano passado, Lindsay
Mattick – bisneta do capitão Celeborun – escreveu o livro “Descobrindo Winnie:
A Verdadeira História do Urso Mais Famoso do Mundo”, onde revela que na
realidade Winnie não era um urso, mas uma ursa. Caraca! Segundo ela, Winnie era
fêmea!
06
– Branca de Neve
Autor:
Jacob Grimm e Wilhelm Grimm (Irmãos
Grimm)
Livro: Branca
de Neve e os sete anões
Pode exclamar à vontade, mas a personagem que você
tinha certeza que era 100 % ficção, na realidade, tem o seu lado realista.
Branca de Neve é um conto de fadas originário da
tradição oral alemã, que foi compilado pelos Irmãos Grimm e publicado
entre os anos de 1812 e 1822, num livro com várias outras fábulas, intitulado
"Kinder-und Hausmärchen" ("Contos de Fada para Crianças e
Adultos").
O conto que encantou e continua encantando crianças
em todo o mundo foi inspirado por uma jovem que viveu no século XVI. A
Condessa Margarete von Waldeck vivia na região que hoje corresponde
ao noroeste da Alemanha. Na época, era uma região predominantemente mineira com
crianças pequenas trabalhando nas minas, porque tinham facilidade de
entrar em corredores estreitos e apertados. Essas crianças tortas e subnutridas
eram conhecidas como “anões de minas”.
Margarete era considerada uma jovem muito bonita e
graciosa, mas odiada pela segunda esposa de seu pai. Aos dezessete anos, a
jovem deixou sua cidade natal por conta de desentendimentos com sua madrasta e
partiu para Bruxelas, onde conquistou o coração de um jovem príncipe que viria
a tornar-se Felipe II da Espanha.
Contudo, antes de viverem o seu “felizes para
sempre”, Margarete morreu — provavelmente vítima de veneno, se considerarmos a
letra tremida de sua carta final (a tremedeira é um dos sintomas do
envenenamento). A morte prematura (aos 21 anos) de uma jovem bela fixou-se no
imaginário popular, dando origem a mitos que podem ter influenciado os Irmãos
Grimm.
As desavenças de outra jovem com sua madrasta, 200
anos depois, pode ter trazido alguns detalhes adicionais ao conto. Maria
Sophia Margaretha Catharina von Erthal, foi maltratada por sua madrasta no
castelo em que vivia com seu pai, em Lohr. Detalhe: a madrasta em questão
recebeu de presente de casamento um espelho famoso, conhecido como “Espelho
Falante”. Muita semelhança, não é mesmo?
07
– Hannibal
Autor:
Thomas Harris
Livros: Hannibal
– A Origem do Mal, Dragão Vermelho, O Silêncio dos Inocentes e Hannibal
Após ver o seu personagem transformar-se numa
verdadeira coqueluche mundial – amado por uns e odiado por outros – Thomas
Harris nunca mais teve paz, pelo menos com relação as perguntas da imprensa e
também de curiosos que queriam saber, a qualquer custo, em quem ele havia se
inspirado para criar o Dr. Hannibal Lecter.
As especulações deram origem a um nome que se tornou
unanimidade entre leitores e críticos: Ed
Gein. Cara, nada a ver. Na realidade, Gein serviu de inspiração para a composição
de Búfalo Bill, outro serial killer também presente em “O Silencio dos
Inocentes”, onde aparece medindo forças com Lecter e a agente do FBI Clarice Starling.
Finalmente em 2013, Harris decidiu revelar toda a
verdade e assim desvendar a aura de mistério que se formou em torno de seu mais
famoso personagem. Afinal, quem serviu de inspiração para a vinda do Dr. Lecter
ao mundo?
Hannibal Lecter e Dr. Salazar |
Então, escute só. O mais famoso serial killer da
literatura policial nasceu graças a um médico mexicano chamado Alfredo Ballí
Treviño ou simplesmente Dr. Salazar que estava encarcerado numa prisão em
Monterrey, no México. Nos meios policiais, antes de ser preso, ele era
conhecido como “O Lobisomem de Nuevo León”. Dr. Salazar cometeu vários
assassinatos, nos quais as vítimas foram desmembradas, além de terem partes de
seu corpo saboreadas pelo médico canibal.
Em 2014 escrevi um post sobre o assunto onde dei
todos os detalhes de como Harris chegou até o Dr. Salazar e qual foi o
destino do médico. Confiram aqui.
08
- Mônica
Autor:
Maurício de Souza
Livros,
Gibis e Tiras:
Turma da Mônica
Mônica Spada e Souza, 54 anos, filha do famoso
escritor e desenhista brasileiro Maurício de Souza, foi a inspiração para a
criação da personagem Mônica que juntamente com Cebolinha, Cascão e Cia
conquistaram crianças e adultos ao longo dos anos.
Mônica, filha de Maurício de Souza |
Quando criança, Mônica era gorducha, dentuça e
baixinha, exatamente como a personagem que inspirou. Inicialmente, ela foi criada
nos quadrinhos para ser coadjuvante das aventuras de Cebolinha (inspirado
em um amigo de infância de Maurício), mas aos poucos foi erguida ao posto de
protagonista pela preferência do público.
Maurício explica que “quando leitores e amigos
começaram a pedir mais histórias dela, eu percebi que a Mônica ia sobrepujar o
dono da rua. Mesmo assim, teimei muito. Incluí ela para atrair atenção, mas a
história continuou a ser do Cebolinha por muitos anos. Só em 1970, na hora de
lançar a revistinha, eu aceitei, e passou a ser Turma da Mônica”.
09
– Macbeth
Autor:
William Shakespeare
Livro:
Macbeth
Macbeth, assim como parte dos personagens que Shakespeare criou
para a peça de mesmo nome, foi inspirado em uma pessoa real, Macbeth, rei
da Escócia (ou Mac Bethad).
De fato, foi Macbeth que levou à morte o rei Duncan
— que, contudo, não era um senhor idoso, mas um jovem rei — e tornou-se o
soberano em 1040 ao lado de sua esposa, Gruoch ingen Boite.
Macbeth reinou durante 17 anos e era muito querido e
respeitado pelos súditos. Seu único defeito, segundo Holinshed, era o exagero
com que ele aplicava castigos àqueles que cometiam algum delito, fosse leve ou
grave. O filho de Duncan, Malcolm III, chamado de "Canmore" (Cabeça
Grande), derrotou Macbeth na Batalha de Lumphanan em 15 de agosto de 1057. Macbeth
ainda foi sucedido por seu enteado, Lulach, mas Lulach foi derrotado e morto
por Malcolm alguns meses depois.
10
– Os Três Mosqueteiros (D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis)
Autor:
Alexandre Dumas
Livro:
Os Três Mosqueteiros
Sentem-se nas cadeiras para não levaram um
tombo. Vem surpresa por aí! D’Artagnan, Athos, Porthos e Aramis existiram na
vida real. Podem acreditar.
Charles de Batz-Castelmore, também conhecido por
Conde D’Artagnan foi o capitão dos mosqueteiros do Rei Luís XIV. Ele nasceu em
1611 e morreu em 25 de junho de 1673 em batalha, após muitos anos à serviço do
Rei da França.
Com relação a Athos ou se preferirem Armand de
Sillègue d'Athos d'Autevielle, ao contrário do romance de Dumas, onde foi
considerado o mosqueteiro mais velho; na vida real ele foi quatro anos mais
novo do que D’Artagnan, tendo nascido em 1615.
Porthos, considerado o mosqueteiro mais forte dos
quatro foi inspirado no soldado francês Isaac de Portau. Ele entrou para a
guarda francesa em 1640 e segundo os historiadores, Porthos e D’Artagnan
prestaram o serviço juntos. Porthos passou a integrar o corpo dos mosqueteiros
do rei em 1643, no mesmo ano da morte de Athos, o que prova que os dois não
chegaram a servir juntos na guarda de elite do Rei da França.
E finalmente, Aramis. Henri d’Aramitz, o famoso e
conquistador mosqueteiro do rei, era um abade laico de uma família protestante
de Béarn, na Gasconha e que por ser sobrinho, por afinidade, de M.
de Tréville, comandante da Companhia dos Mosqueteiros, não encontrou nenhuma
dificuldade para ingressar na guarda de elite do Rei da França.
Se quiserem saber mais sobre os verdadeiros
mosqueteiros, acessem aqui.
Galera, por hoje é só.
Um comentário
Os únicos que eu conhecia era de Sherlock Holmes e da turma da mônica,o resto eu realmente fiquei surpreso.Por isso que amo esse blog...
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