“Pronto! Lá vem ele falando, novamente, sobre
Michael Crichton”. Antigamente, pouco tempo antes de ter esse blog, era dessa
maneira que eu era recebido pelos meus amigos nas rodinhas de assuntos em que
nos encontrávamos. E olha que eles tinham razão, aliás muita razão. Sempre fui
um fã fissurado desse autor, ao ponto de ter a maioria de suas obras em minha
estante. Fissurado, ao ponto, de ter ficado hiper abatido com a sua morte que
ocorreu à seis anos.
Olha, Crichton é o cara. Ele é capaz de transformar
temas maçantes, como física quântica e história medieval, tratados de maneira
sonolenta por professores em salas de aula, em assuntos interessantes, capazes
de viciar quem os lê. Agora, se o tema já é interessante, como por exemplo a
teoria do caos e a biogenética, Crichton faz desses assuntos enredos
incomensuráveis. Comparando grosseiramente, seria como se você colocasse um
prato de comida suculento na frente de uma pessoa que não se alimenta há vários
dias. Resultado: o sujeito vai devorar tudo, até o próprio prato.
Em “Linha do Tempo”, o autor faz os leitores
viajarem numa eletrizante aventura no universo medieval, tendo como ponto de
partida a física quântica. Na história, três estudantes do mundo contemporâneo
encontram um meio de voltar à França feudal do século XIV para salvar um
professor em apuros. A narrativa é rica em detalhes, desde a descrição das
lutas e do ambiente medieval. É interessante ver o choque de hábitos dos séculos
XIV e XX (época em que o livro foi escrito – 1999). Imagine você vivendo
naquele período? Pois é galera, saiba que uma expressão corriqueira ou até
mesmo um corte de cabelos considerado comum hoje em dia, naquele século, teria
uma importância enorme, capaz de desencadear uma série de atitudes e
acontecimentos que poderiam beirar a catástrofe. Isso fica evidente quando uma
das estudantes é alertada à usar uma peruca, já que mulheres com cabelos curtos
naquela época eram consideradas bruxas ou desonradas. É nesse mundo que os três
jovens ingressam e apesar de todos os preparativos feitos com esmero e
antecedência, há sempre algo imprevisto. Crichton faz desse imprevisto uma
verdadeira montanha russa.
E como é a máquina do tempo idealizada pelo escritor
para levar os jovens estudantes à França feudal? Bem, esqueça aqueles trambolhões
esquisitos, cheios de botões e alavancas ou então aquelas ‘batidas’ fendas
temporais; o autor teve uma idéia muito mais ousada, ou seja, uma espécie de
fax quântico, que permite "transmitir" pessoas para o passado. Isso
mesmo! Bem louco, não é? Mas você deve estar se perguntando como isso é
possível? Bem, na diluição que ele faz da teoria de Albert Einstein, a
distância que separa duas épocas não seria uma questão de tempo, e sim de
espaço – como se os séculos fossem universos paralelos. Capiche?
Na verdade, “Linha do Tempo” não difere muito de “Micro”,
obra póstuma de Crichton, concluída por Richard Preston. Nos dois livros, o
homem sai de seu habitat natural e acaba sendo obrigado a se virar num ambiente
desconhecido e hostil. Em “Micro”, alguns jovens cientistas, após serem miniaturizados
são deixados numa floresta tropical onde se vêem cercados de várias ameaças,
desde insetos a aves gigantes. Já em “Linha do Tempo”, a floresta tropical e os
insetos cedem os seus lugares para uma terra medieval bruta, povoada por monges e
guerreiros com hábitos bem diferentes do homem do novo século.
Ah! Antes que me esqueça, a história foi adaptada
para o cinema em 2003 e pra variar não chegou aos pés do livro. Por isso, siga
um conselho de amigo: Deixem de lado a bomba do filme dirigido por Richard
Donner e invistam na leitura da obra escrita fantasticamente desenvolvida por
Crichton.
2 comentários
Muito boa a postagem, Jam! O livro parece ser realmente muito bom e confesso que deu vontade de ler. Inclusive, me fez recordar de outro livro do autor que possuo, porém que até hoje não me animei a ler: Assédio Sexual.
ResponderExcluirVocê já leu este? Se sim, recomenda a leitura?
Valeu!
Recomendo e muito!
ResponderExcluirHá pouco tempo comecei a escrever um post sobre o livro, mas como mergulhei de cabeça na leitura de "A Sombra do Vento", o texto acabou ficando incompleto, depois fui escrevendo outros assuntos e o post acabou não saindo. Mas depois do seu comentário, lembrei do meu dever (rs). O livro foi publicado em 1994 pela Rocco com o título de Revelação, depois foi relançado como "Assédio Sexual", aproveitando o lançamento do filme de mesmo nome com Demi Moore e Michael Douglas, baseado no livro. O livro dá de 10 a 0 no filme...