Hospital

26 abril 2013


Com certeza muitos internautas e blogueiros que passam por aqui com frequencia, ao lerem esse post, irão exclamar: -“ Putz, lá vem ele, novamente, com o Touro!!”. Para essa galera eu peço desculpas, mas não posso ficar calado com o que acabei de presenciar há alguns minutos atrás, antes de começar a redigir esse texto. A cena que vi foi antológica e merece entrar para os anais da comédia da vida real. O que escutei do Touro, então, é digno de registro; digno de risos.... risos não; gargalhadas. Isto mesmo; gargalhadas e daquelas bem esculachadas.
Galera, ao chegar em casa, me respondam o que é que eu vejo na sala de estar que fica anexa ao meu quarto?? O Tourão dormindo e roncando ao lado de uma outra mulher... que, por sua vez, também estava dormindo e roncando!!! Acontece que eu percebi que o ronco do Kid Tourão era meio estranho; sei lá, meio artificial. O da mulher não; esse sim, parecia um ronco original... genuíno.
Quando o Tourão ouviu a minha voz exclamando: “Meu Deus! O que está acontecendo!!??”; ele imediatamente abriu os olhos, fez um sinal de psiuuu com o dedo indicador colocado nos lábios e falou com a voz meio agoniada: “Ajuda euuu!”. Depois fez um sinal para que eu dispensasse a mulher que roncava o ronco dos anjos. Depois disso, voltou a fingir que estava dormindo. Bem, entendi a mensagem e após, educadamente, acordar a senhora dorminhoca e roncadora e agradecê-la pela visita, fui esclarecer o fato com o vovô arteiro. Queria saber o que ele havia aprontado. Ah! Antes que me esqueça. A mulher que dormia sentada na cadeira ao lado do sofá onde estava o Tourão é a dona Dirce, um antiga amiga de solteira de minha saudosa mãe, a Toura (verdade, esse era o apelido de mamãe... Putz que saudades me bateu agora...), e muito conhecida da família. Dona Dirce chegou se sentou na cadeira e começou a conversar com o Tourão, relembrando os histórias engraçadas do passado. O problema é que a dona Dirce fala pelos cotovelos e após mais de uma hora e meia só escutando e pouco falando, o velhinho que ainda não está andando - por isso deixa o seu ‘papagaio’, o qual ele chama de ‘purunguinha’ sempre por perto, ao lado de um lavatório móvel – sentiu uma vontade insuportável de fazer xixi, por causa dos diuréticos que vem tomando no pós-operatório. “- Meu filho, eu queria fazer xixi, mas ela não parava mais de falar. Eu estava desesperado prá tirar prá fora o ‘pingolin” (é assim mesmo que ele chama o dito cujo) mas a Dirce só matraqueava e matraqueava... Jesus amado! Como ela falava!  Então não me restou outra coisa se não fingir que estava dormindo para ela se tocar e ir embora”, disse ele.
Então galera o que é que acontece?? Ok, eu respondo. O plano do Tourão foi completamente implodido pela dona Dirce, porque ao ver a sua “vitima” cair no sono, ela deve ter pensado: - “Bem vou puxar um ‘rango’ também e depois continuo com o assunto!!!” Kkkkkkk!!! Resultado: um dormiu de mentirinha e a outra... de verdade!! O Tourão me disse depois que jamais iria se aliviar ao lado de uma visita, mesmo que ela estivesse dormindo. “Santa madre de Deus!! Isso é falta de respeito!!”, bradou ele. Depois mais descontraído disse: “Meu pingolin é educado”.
Cara! Estou aqui redigindo essa ‘comédia’  e chorando de rir.... Pronto. Me desculpem a enrolação e a fugida do tema desse post, mas não deu prá segurar. Prometo que nos próximos posts serei mais cometido. Pelo menos, vou tentar.
Mas agora,vamos ao que interessa: escrever sobre esta beleza de obra literária que se chama “Hospital”, de Arthur Hailey, o mesmo criador de outra obra-prima chamada “Aeroporto”.
Sabem de uma coisa galera; às vezes os leitores da nova geração, cometem as maiores injustiças com aquelas obras velhinhas das décadas de 50, 60 ou 70. E observem que eu deixei de ir fundo, pois caso contrário poderia ainda citar aquelas das décadas de 20 ou 30! Quase sempre, preferimos menosprezar as tais obras, deixando que elas fiquem esquecidas no fundo das nossas prateleiras. Acredito que alguns de vocês já “bateram” os olhos na capa super brega e mal feita da edição brasileira de 1966 de “O Hospital” lançada pela Nova Fronteira e desistiram, na mesma hora, de lê-la. Mais do que isso, chegaram a sentir ojeriza de encostar as mãos naquele “produto”. Então, após algumas horas, você se depara em, outra livraria, com a capa ultra-trabalhada de um “Fallen”, “Sussurro”, “Despertar” ou então, outros livrinhos descartáveis escritos por escritores e escritoras novatas e desconhecidas e que... me perdoem... escrevem muito mal.
Lanço aqui um desafio para você que fugiu ao ver o livro de Hailey. Que tal voltar aquele sebo e comprar a obra?. Vamos lá! Pode fazer isso sem medo. Leia e depois me conte se gostou ou não. Combinado?
Gente, não tem como falar mal de um livro em que o autor demorou aproximadamente quatro anos para escrever, sendo dois anos só de pesquisas. E foi isso que aconteceu com “Hospital”, lançado nos Estados Unidos em 1959.
Hailey chegou ao ponto de cometer uma loucura para buscar subsídios que deixassem a sua obra ainda mais completa. Sabem o que ele fez? Pasmem: o autor se disfarçou de médico e se infiltrou numa grande clínica nos Estados Unidos, com o objetivo de conhecer melhor o drama dos profissionais que por lá trabalhavam. Não me perguntem como Hailey conseguiu fazer isso. Com certeza deve ter contado com a ajuda de um “padrinho” poderoso, mas a verdade é que ele conseguiu e pronto. Dessa forma, pôde entender como funciona um “novo mundo”, bem diferente daquele mundo em que nós vivemos. Hailey se tornou um expert no mundo onde homens e mulheres vivem por apenas um ideal: salvar outras vidas. E como será que é a vida desses médicos e enfermeiras na intimidade? Como é um hospital na sua intimidade, longe dos olhos dos pacientes? Todos estes questionamentos são discutidos de maneira profunda e sem meias verdades no romance de Hailey.
Cara! Parece coisa de cinema, mas pelo que pesquisei, o autor se passou despercebido nessa clínica ultra conceituada, sem que ninguém descobrisse que ele fosse um escritor. Não deu outra: o espertalhão acabou se passando por um cara da turma de branco, conseguindo ouvir revelações e confidências importantes.
“Hospital” pode ser considerado um romance referencia na área médica. Por isso, médicos, enfermeiros, provedores e diretores de hospitais de todo o mundo tem o dever e a obrigação de lerem a obra. Quanto aos leigos no assunto, também devem ler, pois duvido que nunca tenham sido obrigados a fazer uma visitinha para alguém num hospital.
O livro aponta abertamente e sem meias palavras os problemas enfrentados por médicos, diretores e pacientes num grande hospital, tendo como pano de fundo o romance cheio de reviravoltas envolvendo um jovem médico e uma enfermeira.
O enredo desenvolvido por Hailey é tão detalhista que mostra ao leitor os riscos de uma contaminação alimentar num hospital. Isso mesmo! Contaminação alimentar!! Eu já ouvi falar de pessoas que sofreram o diabo em hospitais ou clínicas após terem contraído infecções urinárias e – Deus me livre!!! – septicemia; mas infecção alimentar??!!  Pois é, já na década de 50, Hailey mostrava aos seus leitores que isso era possível. Mas como isso acontece? Jura que quer mesmo saber?? Tudo bem; então você que conseguiu chegar até aqui e agora está se preparando para almoçar, jantar ou lanchar, eu aconselharia que... bem... primeiramente comesse e depois do tradicional “kilo” recomeçasse a leitura.
Você já imaginou como um grande hospital consegue lavar centenas de pratos onde são servidas refeições aos seus pacientes? É evidente que essa limpeza não é feita manualmente, devido a grande quantidade de pratos e talheres, mas por meio de lavadores de louças e talheres. Mas... e se esses equipamentos não estiverem funcionando adequadamente, deixando de eliminar grande parte dos resíduos? Quantas pessoas com doenças graves e contagiosas utilizam esses pratos que passam de boca e boca numa grande rotatividade? E se houverem resquícios alimentares nos pratos ou talheres mal lavados? Acho melhor parar por aqui. Hailey aborda com detalhes esse assunto. E pensar que naquela época, os hospitais americanos e ingleses já se preocupavam com esses detalhes ignorados pela maioria dos grandes centros médicos.
Há ainda muitos outros segredos que acontecem entre quatro paredes de um hospital e que são desvendados por Hailey ao longo do enredo.
O leitor terá a oportunidade de conhecer um pouco mais o drama dos patologistas que trabalham nos laboratórios dos hospitais, camuflados de microscópios, tubos de ensaio e outros equipamentos.  “O médico que o paciente nunca vê” – é assim que muitas pessoas se referem ao patologista que tem a missão de realizar  sombrias autópsias e freqüentemente é consultado para o diagnóstico final que pode salvar uma vida. Em “Hospital”, O Dr. Joseph Pearson, é um áspero patologista de meia-idade, dirigente autocrático em seu pequeno império no Hospital Três Condados, transformando-se no desespero de seu novo cirurgião-chefe, Kent O´Donnel que já vinha percebendo que os padrões do hospital estavam caíndo muito, ameaçando a vida de seus pacientes.  Dr. Pearson se recusa a adotar métodos modernos e dirige sua equipe de maneira autocrática, surgindo assim, um verdadeiro embate entre os dois profissionais de saúde. O legal nesse conflito é que ambos, apesar de suas diferenças, reconhecem a capacidade um do outro. Essa queda de braço envolvendo Pearson e O’Donnel atinge o clímax quando um diagnóstico errado, um julgamento clinico incompleto pode  ameaça modificar a vida de um paciente... para pior.
Enfim, “Hospital” mostra para o leitor um mundo que os pacientes desconhecem.  Vale a pena procurar o livro num sebo e devorá-lo, apesar da capa (rsss).

2 comentários

  1. E eu achando que o Seu Tourão já estava dando umas escapulidas.

    Parece que durante a recuperação pós-operatória, eles - os pais - ficam engraçadinhos...

    http://gatosmucky.blogspot.com.br/2010/10/tragicomico.html

    Abraço.

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    1. A época das escapulidas já se foram. As quase nove décadas estão pesando e muito. O Tourão está mais prá comer, beber e dormir (rsss)

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