As decepções Wake e Sussurro

17 março 2011
Atualmente, a literatura adolescente vem dominando as prateleiras das livrarias em todo o País. Vampiros bonzinhos, puros sangues da mitologia grega, nefilins, adolescente com poder de entrar nos sonhos alheios, anjos caídos. Ufaaa!! É uma invasão pior do que os alienígenas de Independence Day!
E tudo o que é novidade atrai a nossa atenção, afinal de contas, somos meros mortais. Por isso, após ler tantos comentários, resenhas, fotos e fóruns de discussões sobre alguns desses livros, resolvi comprar “Wake” e “Sussurrro” (confesso que as capas muito bem produzidas das duas obras pesou em minha decisão). Resultado: decepção total.
Em “Wake”, até que a escritora Lisa McMann teve uma idéia inteligente: escrever uma estória enxuta com capítulos curtos, o que resultaria num livro com poucas páginas, possibilitando uma leitura dinâmica e nem um pouco cansativa.
Ocorre que como diz o ditado popular: o “feitiço virou contra o feiticeiro”. Na ânsia de resumir ao máximo a história de Janie, uma garota de 17 anos, que frequentemente é sugada para dentro dos sonhos de outras pessoas, sem poder controlar esse dom, Mc Mann transformou o enredo numa verdadeira salada russa.
A obra que segue o modelo tradicional de narrativa - onde Janie é personagem da estória e não a narradora – começa no presente com a adolescente entrando involuntariamente no sonho de um colega de classe. Após uma página e meia, o leitor é atirado no passado de Janie, ou seja, há nove anos, quando ela era apenas um criança com 8 anos de idade. Em aproximadamente 25 linhas (descontando o sonho que ela tem em um ônibus) ficamos conhecendo o passado da personagem! Em 25 linhas!
Acredito que o que torna um personagem marcante para o leitor em um romance é o seu passado, as suas origens.  Harry Potter e vampiros da saga Crepúsculo que o digam. Mas no caso de Janie, sabemos apenas que ela era uma menina pobre (pelo menos me pareceu) e vivia com sua mãe alcoólatra e... e... e... só. Esta falta de identidade com o passado, deixa a personagem superficial e – pelo menos para mim – chata demais, sem sal e açúcar.
A maneira como Janie também é sugada para dentro dos sonhos não tem nenhum atrativo. Ela simplesmente entra nos sonhos e apenas os assistem, não participando diretamente deles. Lembro-me de dois filmes (um ótimo e outro “meia-boca”) que abordaram temas semelhantes: personagens com o dom de entrar nos sonhos ou pensamentos de outras pessoas. Em “A Morte nos Sonhos” (o ótimo) e “A Cela” (o meia-boca), Dennis Quaid e Jennifer Lopez, respectivamente, conseguiam penetrar nos sonhos alheios, além de influir neles, correndo, assim,  inúmeros riscos, tornando a história muito mais interessante.
Além da capa, outro motivo que me fez comprar “Wake” foram os enredos desses dois filmes, principalmente “A Morte nos Sonhos” que marcou muito a minha pós-adolescência. Mas confesso que me decepcionei.
Quanto a Cabel, outro protagonista do livro, também não desperta interesse. Perto do final da trama quando descobrimos quem ele realmente é, o desapontamento é grande, pois a sua profissão não tem nada a ver com o personagem do início da obra.
Juro que ainda não entendi o que fez a Paramount Pictures comprar os direitos da obra de Mc Mann para transforma-la em filme com a atriz Milley Cyrus. Confesso que não terei fôlego e paciência para ler os outros dois livros seguintes da trilogia: “Fade” e “Gone”.
Quanto a Sussurro, primeiro livro da série “Hush, Hush”, baseado no relacionando de uma garota, Nora Grey com um anjo, Patch, também não decola.
O estilo literário da autora Becca Fitzpatrick, lembra muito a saga Crepúsculo onde Bella Swan é a narradora de suas aventuras com o vampiro Edward Cullen. Em Sussurro, Nora Grey também exerce esse mesmo papel, mas ao contrário de “Crepúsculo”, a obra de Fitzpatrick carece de personagens carismáticos que se tornem íntimos do leitor. Em “Crepúsculo”, a antipatia mutua existente entre Bella e Edward durou por pouco tempo; depois que os dois passaram a se conhecer melhor, parte dos conflitos foram resolvidos. Com isso, eles passaram a “funcionar” como um casal normal (excetuando que ele era um vampiro – rs) tendo as suas brigas, crises, mas depois tudo voltando ao normal. Em “Sussurro”, Nora e Patch são dois vulcões em plena ebulição, dificilmente se entendendo. Esse relacionamento tenso que ocupa a maior parte das páginas do livro - até o momento em que Patch , pelo menos tenta, se tornar um bom menino, abandonando o gênero rebelde sem causa - cansa o leitor. O fio narrativo não muda, só fica gravitando em torno desse relacionamento tenso e nervoso, quebrando a empatia do leitor com os dois personagens.
“Sussurro” também transcorre no mesmo erro de “Wake” ao abordar superficialmente (quase omitindo) o passado do personagem principal. Na obra de Fitzpatrick, sabemos “muito por cima” como o anjo Patch perdeu as suas asas e caiu na terra, o que considerei um engodo à bela capa do livro. Com certeza, isso vai servir de lição para que nas próximas vezes eu descarte totalmente o quesito “Capa” na hora de comprar um livro.
E para finalizar, não sei se depois de “Sussurro” terei coragem de encarar “Fall en”, outro livro sobre anjos caídos, que ganhei de presente e está na prateleira de minha biblioteca esperando ser lido.

2 comentários

  1. Olha, acabo de descobrir isso aqui e estou gostando muito. Você é um dos poucos que parece realmente ler o livro antes de começar a criticá-lo e dispensa-lo por isso e assado. E você também não começou a falar mal dos livros mesmo que não tenha gostado deles, isso é muito difícil de encontrar quando não falam "amei, super recomendo" falam "é uma bosta e eu não usaria o papel pra limpar a bunda com isso". Não faço resenhas, porque sei que não sei fazê-las de modo que fique impessoal mas também não as postos rsrs, por isso fico animada ao descobrir pessoas que sabem diferenciar resenha de engodo.

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    1. Obrigado Strega :)
      Acredito que não cabe aos blogs literários desrespeitar qualquer obra, por pior que seja. Entendo que ao escrever um livro, o autor coloca um pedacinho de sua alma lá dentro; dando vida ao enredo. Sei lá, algo meio parecido com "A Sombra do Vento" de Zafon. Já ouviu falar de Julian Carax? Pois é, penso dessa forma. Criticar é bem diferente de esculhambar; mesmo assim, aqui vai um mea culpa: acho que já cometi esse pecado, infelizmente, e me arrependo. Mas não somo perfeitos.
      Volte sempre!
      Abcs!

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