Lecter e Salazar |
Logo após o surgimento de Hannibal Lecter nas páginas começaram as especulações sobre
em quem o famoso serial killer canibal havia sido inspirado. Essas especulações
aumentaram de maneira significativa depois que o ator Anthony Hopkins imortalizou
o personagem na telas do cinema. Todos que assistiram ao filme tinham
curiosidade em saber se o Dr. Lecter teria sido apenas fruto da imaginação da
mente de um escritor, no caso, Thomas Harris ou se por de trás do personagem
fictício se escondia alguém de carne e osso.
Durante anos e até mesmo décadas, surgiram dois nomes que se tornaram
verdadeiras ‘pedras filosofais’: os
psicopatas Albert Fish e Ed Gein. Como o autor dos livros “Dragão Vermelho”, “O
Silêncio dos Inocentes”, Hannibal” e mais recentemente, “Hannibal - A Origem do
Mal” ficasse na dele, sem dizer ‘sim-nem-não’, criou-se uma lenda urbana em
torno de Lecter: a de que ele seria o espelho desses dois serial-killers.
Cara, confesso que fiquei decepcionado. Xinguei Harris de
todos os palavrões possíveis, inclusive aquele considerado o mais ofensivo de
todos, pelo menos para um escritor: “BURRO”!!!!
Meu, não entrava em minha cabeça que um vilão tão requintado,
inteligente e finesse – apesar de canibal - tivesse sido inspirado em dois
verdadeiros escrotos. Fish foi um pedófilo e masoquista da pior espécie. O
“Vampiro do Brooklyn” como ficou conhecido gabou-se de ter “tido crianças em
cada estado” e afirmou que molestou cerca de cem delas. Fish, que era
homossexual, gostava de ser agredido a chicotadas pelos seus amantes. O cara
tinha uma necessidade preemente de masoquismo e como na bastasse, ainda era
‘piradão da Silva’, daqueles que fazem coisas inacreditáveis, como, por exemplo,
pegar bolas de algodão, embebê-las em álcool, atear fogo e depois colocá-las no
anus. Depois começou a se espancar com um remo e por fim, já idoso, teve a
brilhante idéia de ficar espetando agulhas no seu corpo, entre o seu reto e o seu escroto.
Normalmente ele as retirava, mas começou a inseri-las tão profundamente que já
não as conseguiu tirá-las. Raios X feitos posteriormente revelaram 27 agulhas na sua região pélvica.
Quer mais? Ok. Tem ainda o lance das vozes. Ele acreditava
que Deus lhe ordenava torturar e castrar rapazes pequenos e então, ele mandava
ver. Suas vítimas preferidas eram meninos com doenças mentais ou negros, que
ele achava que não seriam procurados.
Cá entre nós; você viu alguma semelhança com Hannibal Lecter?
Com relação a Ed Gein, essa semelhança se torna ainda mais absurda.
O sujeito foi culpado pela morte de apenas 2 pessoas, desta maneira
tecnicamente não se encaixa na definição de serial killer. Ele sofria de
retardo mental e os seus crimes ganharam notoriedade quando as autoridades
descobriram que Gein exumava cadáveres
de cemitérios de sua cidade para conseguir alguns souvenirs. Resumindo,
ele era um ladrão de defunto! Pior: um ladrão de partes de defuntos!!
Repito a pergunta que fiz acima: Cá entre nós; você viu
alguma semelhança com Hannibal Lecter?
Tempos depois, Harris deu a entender nas entrelinhas que Ed
Gein serviu de inspiração para a composição do personagem Búfalo Bill, outro
serial killer, também presente no livro “O Silêncio dos Inocentes”. Quanto ao sósia
de Lecter, o autor continuava em silêncio. Mas no ano passado, esse mistério
chegou ao fim quando Harris decidiu abrir a caixa de Pandora e revelar em quem
se inspirou para compor o seu famoso personagem. Lecter ‘nasceu’, graças a um
médico mexicano chamado Alfredo Ballí Treviño ou simplesmente Dr. Salazar que
estava encarcerado numa prisão em Monterrey, no México.
Tudo começo quando Harris, ainda um jornalista de 23 anos,
foi até o presídio da cidade mexicana com o objetivo de entrevistar Dykes Askew
Simmons, um assassino que estava sob sentença de morte por ter matado três
pessoas. Mas por uma das diabruras do destino, ele acaba conhecendo um simpático
“Dr. Salazar”. E já viu né, conversa vai... conversa vem, então, Harris fica sabendo que o tal médico teria
salvado a vida de Simmons (o condenado, o qual ele queria entrevistar) quando
aconteceu um acidente numa tentativa de fuga da prisão no ano anterior. Simmons
havia sido baleado e o Dr. Salazar conseguiu, num ato heróico, evitar que o
companheiro de prisão morresse.
Ao cruzar com o diretor da prisão, o então jornalista, Thomas
Harris perguntou sobre o médico mexicano e ouviu a seguinte resposta: “- Ele
nunca vai deixar esse lugar. Ele é louco”. Ao ouvir isso, a sua percepção –
percepção que todos nós jornalistas temos - deu um salto e ele sentiu que ali estava
a sua chance de ‘fisgar’ uma boa matéria. Harris pediu para conversar com o
misterioso médico de gestos requintados e fala envolvente e acabou descobrindo os
seus mais íntimos e sombrios segredos. Vale lembrar que o Dr. Salazar mantinha
um consultório dentro do presídio. Após ouvi-lo, Harris não descansou até
descobrir o seu nome verdadeiro. Muitos anos depois, um conhecido escritor
mexicano, Diego Enrique Osorno que conhecia a fundo a prisão onde o verdadeiro Lecter
estava, recebeu por meio de seu editor uma carta de ninguém menos do que Thomas
Harris - nessa época um escritor hiper famoso, graças ao seu primeiro livro “Domingo
Negro” (1975) – que continha a seguinte mensagem:
“Preciso de informações sobre um
médico, conhecido pela imprensa como “O Lobisomem de Nuevo León”, detido na
Prisão Estadual de Nuevo León no final dos anos 1950 e pelos anos 1960. Não sei
seu nome. O médico foi condenado por matar caroneiros em Nuevo León,
desmembrando-os e desovando os corpos aos poucos à noite com seu carro. O
médico salvou a vida de outro detento na prisão, Dykes Askew Simmons, quando
ele foi baleado pelos guardas enquanto tentava fugir. O médico também tratou
pessoas pobres gratuitamente quando era prisioneiro e chegou a ter um
consultório dentro da cadeia.
Simmons era um texano condenado em
Nuevo León, em março de 1961, por matar três membros jovens da família Perez
Villagomez em outubro de 1959. Ele foi sentenciado à morte, uma sentença depois
comutada para 30 anos de prisão. Ele esteve na Prisão Estadual de Neuvo León de
1961 até sua fuga em 1969. O caso de Simmons, e provavelmente o caso do médico,
foi coberto pelos jornais El Norte de Nuevo León e El Sol de Nuevo León. Os
repórteres do El Norte que escreveram sobre Simmons foram Ricardo Bartres e
Esteban Ardines.
Qualquer ajuda será bem-vinda.”
Osoro saiu em busca de informações do misterioso Dr. Salazar e
acabou descobrindo o seu nome verdadeiro: Alfredo Ballí Treviño. Soube ainda
que o médico havia sido condenado a morte, mas que a sua pena tinha sido
comutada. Balli morreu em 2010 e até aquele ano praticou a medicina num
consultório numa colônia esquecida de Monterrey. De posse desses detalhes, o
escritor mexicano os enviou para Harris que o agradeceu imensamente; e então
Osoro saberia mais tarde que toda essa busca havia sido desencadeada para que o
conhecido autor pudesse completar o
prólogo da edição de aniversário de “O silêncio dos Inocentes”, onde finalmente
conta ao público a verdade por trás de Hannibal Lecter.
Harris, então, explica que o romance precisava de um
personagem com uma capacidade para compreender a mente criminosa de forma
peculiar e essa pessoa teria de ser “Dr. Salazar”, ou como sabemos agora, Dr.
Ballí.
Quanto a conversa que o Dr. Salazar teve com Harris nos anos
60, enquanto estava preso em Monterrey, ele confessou vários assassinatos, nos
quais as vítimas foram desmembradas, além de terem partes de seu corpo
saboreadas pelo médico canibal. Mas tudo indica que após as matanças e o surto ‘canibalístico’,
o Dr. Salazar ou Alfredo Ballí Treviño tenha se regenerado.
Pronto, tai a origem real de Hannibal Lecter.
E zéfini!
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