Se alguém me perguntasse se existe um antídoto para
ressaca literária, eu responderia: leia uma antologia de contos. Acredito que
por serem mais curtos, eles tornam a leitura fluida, porque cá entre nós: “após
levarmos uma bordoada nos neurônios por causa de um enredo que amamos ou
odiamos, a nossa cabeça não tem forças para encarar, logo depois, um enredo de
300 páginas ou mais. Temos que dar um refresco. É aí que entram os contos.
Além do mais, podemos ter sorte de encontrarmos
histórias tão boas quanto aquela que acabamos de ler ou então melhores do que a
bomba que nos levou a uma DPL (Depressão Pós Leitura).
Nesta postagem selecionei seis antologias de contos de
ficção científica muito elogiadas tanto por leitores quanto por críticos. Se
você aprecia o gênero, certamente, eles irão lhe proporcionar viagens
incríveis. E se você, também, estiver enfrentando uma DPL, garanto que essas
antologias farão com vocês melhore muito, ficando apto para encarar novos
romances.
E vamos para as nossas oito antologias de histórias
curtas de Sci-fi. Livraços hein galera; garanto.
01
– Sonhos Elétricos (Philip K. Dick)
Sonhos
Elétricos reúne 10 contos de Philip K. Dick que inspiraram a
série “Electric Dreams”, da Amazon Prime e que conquistou o público e a crítica.
Philip K. Dick é um dos nomes mais importantes da
ficção científica e um dos autores com mais textos adaptados para o cinema.
Suas obras inspiraram filmes como “Blade Runner”, “Minority Report”, “O
Vingador do Futuro”, “Agentes do Destino”, “O Pagamento”, entre outros.
Dick publicou seus primeiros contos no início dos anos
1950, e neles já se notava a natureza inquietante de toda a sua obra. Ao
questionar incessantemente o que está por trás das aparências e o que nos
define como seres humanos, o autor sobrepôs realidades, subverteu o tempo,
vislumbrou autômatos e mundos extraterrestres enquanto mergulhava a fundo na
mente humana.
Dessa perturbadora mistura nasceram textos incríveis e
cheios complexidade, que há décadas vêm inspirando o universo do cinema e da
tevê. Os textos publicados em Sonhos
Elétricos abordam realidades paralelas e distópicas, a relação entre homens
e máquinas, além de outras temáticas ao gosto desse mestre da ficção
científica. Um reflexo da maneira muito pessoal e desconfiada que Dick tinha de
ver o mundo.
02
– Mundos Apocalípticos (Vários autores)
A antologia selecionada por John Joseph Adams e que
reúne grandes “feras” da ficção científica reúne 22 histórias
pós-apocalípticas. São narrativas sobre o fim dos tempos, explorando o
científico, o psicológico e o filosófico do que é permanecer humano diante do
Armagedom.
A obra reúne autores consagrados do gênero tais como: Octavia
E. Butler (Kindred), Stephen King (O iluminado, It: a coisa), George R.R. Martin (As crônicas de gelo e fogo) e outros.
Fome, Morte, Guerra e Peste: os Quatro Cavaleiros do
Apocalipse, o presságio do Fim dos Dias. Esses são os pilares das histórias
contidas nesta coletânea. Desde “Blade Runner” a “Mad Max”, passando por Um Cântico para Leibowitz e “Black
Mirror”, escritores e roteiristas de todos os cantos se dedicaram a especular a
respeito do fim do mundo. Ao longo de muitos anos, imaginaram cenários
catastróficos, onde imperam o caos, o desespero e a calamidade. “Mundos
Apocalípticos” explora com perfeição esse gênero.
Sem dúvidas, Joseph Adams selecionou uma grande
seleção de histórias que remontam a 1973, mas também outras que foram
publicadas nos últimos cinco anos. Ele também oferece um índice super útil de
histórias e livros pós-apocalípticos para leitura adicional, caso os leitores comecem
a querer mais. Os destaques ficam para O
povo da areia e da escória de
Paolo Bacigalupi, Quando os Sysadmins dominaram
a terra de Cory Doctorow, Depois do
juizo final de Jerry Oltion, Inercia
de Nancy Kress, Sons da fala de
Octavia E. Butler e O Fim do Mundo como nós
o Conhecemos de Dale Bailey.
03
– Eu, Robô (Isaac Asimov)
Pensem num clássico da literatura de ficção
científica; mas pensem num dos maiores clássicos daqueles com capacidade para
abalar todas as estruturas do gênero. Ok, se você pensou no livro Eu, Robô de Isaac Asimov, pensou certo.
A obra foi publicada originalmente em 1950. O livro
serviu como base para o roteiro do filme homônimo de 2004, no qual Will Smith
interpretou o protagonista, um detetive chamado Del Spooner. Porém, a obra é
bastante diferente da história apresentada nas telonas.
Eu,
Robô
é um conjunto de nove contos que relatam a evolução dos autômatos através do
tempo. É neste livro que são apresentadas as célebres Três Leis da Robótica: os
princípios que regem o comportamento dos robôs e que mudaram definitivamente a
percepção que se tem sobre eles na própria ciência. A história inicia-se com
uma entrevista com a Dra. Susan Calvin, uma psicóloga roboticista da U.S Robots
& Mechanical. Ela é o fio condutor da obra, responsável por contar os
relatos de seu trabalho e também da evolução dos autômatos. Algumas histórias
são mais leves e emocionantes como Robbie,
o robô baba, outras, como Razão,
levam o leitor a refletir sobre religião e até sobre sua condição humana.
Eu,
Robô
é composto de 10 contos e traz um posfácio escrito pelo próprio autor sobre sua
história de amor com os robôs, tão comuns em sua obra.
04
- Os Melhores Contos de Ficção Científica Brasileira (Vários autores)
E quem disse que brasileiro não sabe escrever ficção
científica? Saibam que temos escritores incríveis de Sci-fi, não só
contemporâneos, mas também de décadas passadas. Aliás, a ficção científica faz
parte do cardápio dos escritores tupiniquins desde a época de Machado de Assis.
Verdade! O próprio Joaquim Maria Machado de Assis escreveu alguns contos
excelentes do gênero. Podemos conferir isso no livro Os Melhores Contos de Ficção Científica Brasileira lançado pela
editora Devir em 2008. Lembrando que a exemplo de Mundos Apocalípticos, essa coletânea de historietas com autores,
aqui da terrinha, foi lançada em dois volumes.
O volume 1 que muitos leitores acreditam ser o melhor
estão onze histórias, de Machado de Assis, o maior nome da literatura nacional,
até o desconhecido Ricardo Teixeira. São contos variados em tom e atmosfera,
que dão conta da diversidade temática e de estilos da ficção científica, e do
seu potencial para combinar-se com outras formas literárias. Apesar da
diversidade que marca a antologia, o medo da guerra atômica e do pós-holocausto
formam um certo núcleo temático, definindo um dos aspectos centrais da ficção
científica brasileira da década de 1960, no auge da Guerra Fria.
A ficção científica espacial também está presente,
assim como histórias de contatos com alienígenas, mostrando que nossos autores
não se furtaram a escrever uma Sci-fi mais característica. A postura pacifista,
a crítica ao consumismo, o comentário sobre o próprio ato da escrita e a sátira
dos clichês, a fusão com outras tradições brasileiras, estão presentes nos onze
contos da antologia.
05
– As Crônicas Marcianas (Ray Bradbury)
Taí outro clássico dos clássicos da ficção científica
mundial. A obra de Ray Bradbury foi publicada originalmente em 1950. A partir
daí vem ganhando sucessivas reedições deixando evidente o seu enorme sucesso
através dos tempos.
O tem central de As
Crônicas Marcianas é a colonização de Marte por humanos com problemas e
eventualmente vindos de uma Terra sob a iminência de ser devastada pela Guerra
Atômica. Há também conflitos entre aborígenes marcianos com os novos
colonizadores.
O estilo do livro varia de contos a novela episódica,
com histórias de Bradbury originariamente publicadas nos anos de 1940 em
revistas de ficção científica. A obra é similar em sua estrutura a outro livro
de contos de Bradbury, chamado O Homem Ilustrado que também usa uma história para ligar várias outras
entrelaçadas.
Os leitores vão encontrar de tudo um pouco. Por
exemplo, há algumas crônicas se passam em Marte e outras na Terra, em algumas o
sonho de partir, em outras o desejo de voltar e a espera e a capacidade do ser
humano de se superar e surpreender tanto pelo lado bom como pelo mal. Temos
alguns personagens que aparecem em mais de um conto, mas o protagonista da
história é o próprio planeta Marte.
06
– Realidades Adaptadas (Philip K. Dick)
Abrimos e também fechamos a nossa lista de Sci-fi com
o gênio Philip K. Dick. Realidades Adaptadas é uma edição inédita que apresenta ao grande público os contos
originais de Philip K. Dick que serviram de base a filmes como “O Vingador do
Futuro”, “Minority Report” e “O Pagamento”. Com certeza, poucos leram os contos
e novelas que deram origem a esses filmes, campeões de bilheteria.
Realidades
Adaptadas contém sete contos que, como escrevi acima, foram
adaptados para as telonas, abordando questões interessantes e instigantes, como
a ideia do tempo e da realidade, o livre-arbítrio, o bem e o mal.
Dick nunca chegou a ver nenhum dos filmes baseados em
sua obra. Ele faleceu três meses antes da estreia de “Blade Runner – O Caçador
de Androides”, que foi o primeiro de vários filmes inspirados em suas
histórias.
Entre os destaques da obra estão Lembramos para você a preço de atacado escrito em 1966 e que deu origem
ao filme “O Vingador do Futuro” (1990), O Relatório Minoritário de 1956 que
originou a produção cinematográfica com Tom Cruise chamada “Minority Report – A
Nova Lei” (2002) e O Homem Dourado
(1954) que foi parar nos cinemas em 2007 com o título: “O Vidente” tendo
Nicolas Cage e Jéssica Biel nos papéis principais.
Taí galera, escolham a sua antologia para combater
aquela horrível DLP.
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