Vocês se lembram do que escrevi no final da postagem
anterior? Eu “disse” que alguém havia assoprado em meu ouvido direito para que eu
fizesse um post indicando livros sobre papas e conclaves. E justamente, poucos
dias depois, os meios de comunicação divulgaram que já havia uma data para a
realização do conclave que irá escolher o novo papa que substituirá Francisco.
Cara, entenda como um sinal, uma oportunidade, um isso ou aquilo, mas se eu não
aproveitasse esse momento, correria o risco de perder a empolgação de escrever
algo do gênero, então vamos nessa, aproveitando as oportunidades que surgem.
Ah! Vocês querem saber de quem é aquela voz misteriosa
que assoprou em meu ouvido? Tenho a certeza de que todos aqueles que acompanham
as postagens do Livros e Opinião há anos já descobriram (rs). Logo, não preciso
revelar (rs).
Mas chega de divagações e vamos ao que interessa.
Escolhi seis livros que tenham papas em seus enredos – sejam eles de ficção ou
biográficos – além de histórias que exploram os bastidores do Vaticano,
incluindo os conclaves. Na verdade não podemos deixar de admitir que a morte do
Papa Francisco, aos 88 anos, reacendeu a curiosidade da galera leitora pelos
bastidores da Santa Sé. E acreditem, tem muitas opções incríveis ne que
certamente irão agradar até mesmo aqueles que não são tão fãs dos temas.
Anotando aí galera.
01
– Conclave (Robert Harris)
Talvez, o livro do britânico Robert Harris seja o mais
comentado e consequentemente o mais famoso (pelo menos, por ora) e tudo por
causa do filme homônimo baseado na obra literária lançado nos cinemas neste ano
de 2025 e que concorreu ao Oscar de “Melhor Filme”.
Na época de seu lançamento, em 2020, o livro de Harris
não chamou tanto a atenção dos leitores, mas após a explosão do filme, a obra
escrita bombou nas livrarias conseguindo assim, a sua redenção; redenção – que
por sua vez, também bombou com a morte do Papa Francisco. A conjunção desses
dois fatores fez o livro explodir em vendas.
Se Conclave é bom ou ruim? Infelizmente, não posso responder
essa pergunta porque ainda não o li e tampouco assisti ao filme com Ralph
Fiennes. Por isso, não posso dar a minha opinião.
No enredo idealizado por Harris, após a morte do papa,
o cardeal Lawrence reúne um grupo de sacerdotes para eleger seu sucessor.
Cercado por líderes do mundo todo nos corredores do Vaticano, ele descobre uma
trilha de segredos profundos que podem abalar a própria fundação da Igreja.
Juro que me interessei pelo enredo, tanto é verdade
que comprei o livro recentemente. Tão logo conclua a leitura, prometo que
publicarei a resenha. Ele será o próximo da minha lista, taõ logo termine a
releitura de Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas.
02
– A estrada para Gandolfo (Robert Ludlum)
Imagine esta situação: Francisco ou João Paulo II, os
papas mais querido da história e amado por todos, sendo sequestrados. Suponha
que os criminosos consigam ludibriar o forte aparato de segurança de um desses
pontífices e levá-lo para um lugar desconhecido onde o mantém refém. O preço do
resgate: um dólar por cada católico existente no mundo.
Esta situação, como exceção dos dois papas, saiu da
cabeça do consagrado autor de livros de espionagem Roberto Ludlum, criador da Saga Bourne (ver aqui e mais aqui).
Ludlum que faleceu em 2001, fez dessa situação
fictícia, mas dramática, uma história leve e por incrível que possa parecer:
engraçada. Isso, mesmo! Engraçada! Não estou delirando. O mestre dos romances
de espionagem e contra-espionagem “da pesada”, com muitas intrigas, mortes,
traições e violência, criou um enredo carregado no humor.
Em A estrada para Gandolfo, o autor conta a história
fictícia do espetacular seqüestro do também fictício papa Francisco I, o mais
querido pontífice depois de João XXIII, este real.
A história do advogado atrapalhado Samuel Devereaux e
de um general de meia idade aposentado e também ‘maluco de pedra’’, Mackenzie
Hawkins, que um dia resolvem sequestrar
o famoso Papa é hilariante. Mas não se enganem os leitores acreditando que o
enredo só trás risadas e trapalhadas. Nada disso. Afinal de contas, a história
foi escrita por um dos maiores autores de romances de espionagem do mundo e que
num belo dia, sofreu uma recaída e resolveu escrever um “textinho” diferente,
saindo da sua rotina de tiros, traições, mortes e espiões perigosos. Nasceria,
assim, “A Estrada para Gandolfo”.
A estória de Devereaux, Mackenzie e Francisco I tem muito humor sim;
mas também tem doses na medida exata de suspense, intrigas e porque não,
espionagem; mas no final o que prevalece mesmo é o humor e aquele humor leve,
gostoso que prende o leitor do começo ao fim, fazendo com que devore as páginas
do livro rapidamente.
Li A estrada para Gandolfo e adorei! Confiram a
resenha do livro aqui.
03
– As sandálias do pescador (Morris West)
Taí mais um livro sobre papas da hora e que eu
recomendo. Muitos definem As sandálias do pescador, lançado em 1963, como um
livro profético. No romance ficcional escrito pelo autor e jornalista
australiano, Morris West, um bispo russo se torna cardeal e em seguida papa – o
primeiro papa não italiano em mais de 400 anos. Por que As sandálias do pescador foi considerado por
muitos leitores e críticos, uma obra profética? Eu conto: uma década e meia
após West ter escrito a sua principal obra, eis que o Vaticano também ganharia,
após 400 anos, o seu primeiro papa não italiano, o polonês Karol Wojtyla, o
nosso saudoso e icônico João Paulo II.
Não há como negar as semelhanças entre o fictício
Lakota e o real Wojtyla, A personagem do livro é um cardeal ucraniano que, após
lutar contra os nazistas, torna-se perseguido e encarcerado pelos soviéticos.
Após 20 anos, recebe a liberdade graças a um acordo do premiê russo com o
Vaticano, mas carrega as marcas de seu
sofrimento na memória, na alma e no rosto com uma notável cicatriz. Bem, vamos
agora voltar a realidade: o polonês, João Paulo II também veio do leste europeu
e enfrentou os mesmos regimes totalitários, mas sem o cárcere. Assim como
Lakota que intermediou negociações com Kamenev (chefe do Kremlin no romance);
Wojtyla negociou e atendeu Gorbachev.
A obra ficcional tem muitas outras semelhanças com a
vida real, basta ler para tirar as dúvidas. Resumindo: As sandálias do pescador é o tipo do livro que imita a arte. Veja resenha aqui.
04
– O último papa (Malachi Martin)
O romance de Malachi Martin publicado em 1996, relata
a conspiração para subverter a Igreja Católica, com o objetivo de que o papa
renuncie e seja substituído por uma pontífice apoiador de uma Nova Ordem
Mundial.
Um antigo colega de trabalho leu o livro e disse que o
enredo prende a atenção mas é bem “pesadinho” – palavras dele. Por outro lado
vi algumas opiniões nas redes sociais, incluindo comentários na Amazon e Skoob
de leitores que acharam que o autor “viajou na maionese”. Um desses leitores
disse que no momento em que começou um culto ao demônio, ele parou
definitivamente a leitura porque a “viajada do autor” atingiu o ápice. Mas...
apesar dessas opiniões divergentes, fica registrada a sugestão de leitura.
No enredo, terminada a Guerra Fria, eclesiásticos,
políticos e empresários se unem em um complô maçônico na tentativa de implantar
um novo governo global, no qual a Igreja Católica se tornaria um mero e
complacente servidor da nova ordem mundial, aderindo a um catolicismo sem mais
nenhum vínculo com a tradição. Para tanto, os integrantes dessa conspiração
precisam derrotar seu obstáculo final: o último papa, um notável jogador
geopolítico e profundamente fiel à doutrina e à moral católica.
Cercado dentro do Vaticano e pressionado a abdicar por
seus inimigos, o “papa eslavo” terá de confiar em um jovem sacerdote para
enfrentar a batalha decisiva na guerra contra o mal.
05
– O Homem Que Não Queria Ser Papa (Andreas English)
Agora, vou dar um tempo nos romances ficcionais para
incluir em nossa Toplist uma biografia. Em “O homem que não queria ser papa”,
Andreas English escreve a biografia jornalística de Joseph Ratzinger, o Papa
Bento XVI, desde sua juventude na Alemanha até a surpreendente renúncia.
O autor, considerado um especialista em Vaticano,
traça o perfil de um homem reservado e erudito, com conflitos internos e
resistência à exposição pública.
O autor, considerado um especialista em Vaticano,
traça o perfil de um homem reservado e erudito, com conflitos internos e
resistência à exposição pública.
De acordo com vários críticos literários, são páginas
de uma das mais críticas e corajosas análises sobre a história recente da Igreja.
A riqueza das contextualizações e as análises dos discursos e da postura do
papa Ratzinger somado aos eventos recentes do papado nos levam a crer no complô
estabelecido dentro da Cúria Romana contra o próprio papa. Portanto, a história
aponta para um boicote praticado pelos poderosos da Cúria contra seu próprio
papa. Acusado de reacionário, o papa demissionário deixa claro com seu gesto
que o cargo não é nem vitalício nem sagrado. É político. Surpreende e afronta a
poderosa Cúria Romana, causando-lhe estupor. Ao mesmo tempo que ‘joga a
toalha’, desistindo de enfrentá-la e de se deixar manipular.
O livro publicado no Brasil em janeiro de 2020 foi
muito elogiado pelos leitores e também pelos críticos literários.
06
– Esperança – Papa Francisco
O livro lançado no Brasil em fevereiro de 2025 pela
editora Fontanar foi um dos mais vendidos na Amazon atingindo o primeiro lugar
na categoria Religião e Espiritualidade.
Esperança – Papa Francisco pode ser considerada a
primeira autobiografia de um papa. O livro revela detalhes pessoais do Papa
Francisco, sua infância, vocação, crises de fé e visão para o futuro da Igreja.
Um livro sensível e direto, que reforça a mensagem de compaixão e humildade.
Ao narrar suas memórias com coragem e franqueza,
Francisco aborda questões cruciais do pontificado sem deixar de lado alguns dos
temas mais candentes da contemporaneidade: as guerras, a migração, a crise
ambiental, políticas sociais, a condição das mulheres, a sexualidade e o
desenvolvimento tecnológico, bem como o futuro da Igreja e das religiões.
Escrita a partir de depoimentos dados pelo sumo
pontífice ao editor Carlo Musso de 2019 a 2024 — ele assina como coautor —, a
ideia era que a obra fosse publicada somente após a morte do religioso.
No livro, ao contar sua história desde a infância em
Buenos Aires até o conclave que fez dele o primeiro papa latino-americano — bem
como momentos que viveu no comando da Igreja —, Francisco promove reflexões
sobre temas que lhe são caros, como a importância da preservação do meio ambiente,
o acolhimento das minorias, a inserção dos imigrantes e a simplificação da
hierarquia da Igreja, com redução de privilégios dos que gravitam na sua esfera
de poder.
07
– O nome da rosa (Umberto Eco)
O
nome da rosa, romance de Umberto Eco é muito mais
completo e abrangente do que o filme, ampliando o seu foco para questões
históricas e teológicas do século 14. A reunião entre diferentes ordens de
monges realizada em um mosteiro medieval é uma tentativa de arbitrar a então
corrente disputa entre o papa João XXII, instalado em Avignon, na França, e o
imperador Luis II, da Baviera. Eco retrata o conflito como um choque primordial
entre Igreja e Estado.
A história se passa por volta de 1300, época da
inquisição, em uma abadia, na Itália, onde estão ocorrendo mortes inesperadas.
O momento dessas mortes não poderia ser pior, já que a abadia vai sediar uma
reunião entre dois grupos rivais da igreja. De um lado, estão os franciscanos e
aqueles que acreditavam que a igreja deveria ser desprovida de qualquer bem
material como foi Jesus Cristo, grupo este apoiado pelo imperador Ludovico. E
do outro lado, os que repudiavam essa ideia, ambicionando bens e poder e
liderados pelo papa francês João XXII.
A narrativa começa com a chegada do frei franciscano
Guilherme de Barkeville à abadia italiana na companhia de seu discípulo e
escrivão, um jovem noviço beneditino chamado Adso, e será esse noviço que vai
narrar todos os acontecimentos.
08
– Dois papas (Anthony McCarten)
Livraço! Já tinha assistido ao filme da Netflix com
Anthony Hopkins no papel de Bento XVI e Jonathan Pryce como Francisco, mas o
livro de Anthony McCarten – que também é o roteirista do filme dirigido pelo
brasileiro Fernando Meirelles – é muito superior. Os detalhes sobre a vida dos
dois pontífices que na produção cinematográfica são tratados de maneira bem
superficial, sobram no livro. Confiram aqui resenha de Dois papas que escrevi
em 2020.
Talvez para deixar o filme mais maleável, alguns
assuntos polêmicos como o acobertamento
de casos de pedofilia cometidos por alguns padres, bispos e até mesmo cardeais
no pontificado de Bento XVI receberam somente citações e bem diluídas na produção cinematográfica.
Já no livro, esse e outras temas pesados são abordados e analisados de maneira
minuciosa. O polêmico envolvimento do Papa Francisco - na época em que era
cardeal em Buenos Aires - com a ditadura argentina também foi outro ponto
amenizado no filme, mas tratado em detalhes nas páginas de Dois Papas.
Podemos dizer que McCarten, em seu livro, analisa a
fundo a trajetória dos dois pontífices, baseando-se em depoimentos de pessoas próximas
a Francisco e Bento XVI, além de documentos confiáveis conseguidos na época da
ditadura argentina e também junto à Santa Sé.
Taí galera, espero que apreciem a leitura. Vamos ver
agora, qual será a próxima sugestão dessa “vozinha” no pé do ouvido (rs).
Inté!
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