Linguagem rebuscada ou muito erudita, palavras ou
frases difíceis, além das muitas divagações. Tá bom... e você acredita que
todos os leitores pensam assim dos romances que ficaram conhecidos por
“clássicos da literatura brasileira”? Se pensa, pode começar a mudar as suas
convicções porque esse gênero literário está em alta com as livrarias vendendo
“horrores” e consequentemente, as editoras também investindo horrores nesta
categoria. Prova disso são as edições luxuosas de livros de Machado de Assis,
Graciliano Ramos, Mário de Andrade, entre outros, que estão sendo relançadas
pelas editoras.
Por isso, nada mais justo do que escrever um post para
a galera leitora que se enquadra na categoria “fãs de carteirinha de clássicos
da literatura tupiniquin”. E se esses leitores foram colecionadores, daqueles
que passam horas admirando o layout de seus boxes, sagas, trilogias e afins metodicamente
“encaixados” em suas estantes, melhor ainda.
Selecionei cinco romances brasileiros que ganharam ao
longo de décadas e até mesmo séculos, o status de “clássicos” e que numa
decisão arrojada e ao mesmo tempo inteligente de alguns editores foram
relançados. Lembrando que algumas editoras foram até mesmo mais arrojadas e
optaram por republicar mais um de livro do mesmo autor no formato de box.
Vamos conferir?
01
– Biblioteca Machado de Assis – Volumes 1 e 2 (Machado de Assis)
Estes dois lançamentos da editora Itatiaia não podem
faltar na estante de nenhum fã de carteirinha do icônico escritor carioca
nascido em 1839. Cada uma das caixas reúne três obras de Machado de Assis. A
primeira lançada em 2023 inclui: Quincas
Borba; uma trama filosófica sobre a loucura, o destino e a busca pelo
sentido da vida. Memórias Póstumas de
Brás Cubas; um clássico que reimagina a morte como um ponto de partida para
críticas à sociedade e à condição humana. O box fecha com Dom Casmurro; uma narrativa envolvente sobre ciúmes, amor e dúvida,
que levanta questões sobre a subjetividade da realidade.
O volume 02 reúne: Helena
que remete à fase romântica do autor, anunciando traços que fariam de Machado
de Assis o grande nome do realismo brasileiro. Memorial de Aires; o último
romance de Machado de Assis, escrito em 1907 tem um formato de memórias
registradas em um diário. Os relatos do Conselheiro Aires percorrem os anos de
1888 e 1889, ou seja, anos em que ocorreram dois fatos importantes na história
do país: a abolição da escravatura e a proclamação da República.
O último livro do box é O Alienista que dispensa qualquer comentário por der considerada
uma das principais obras escrita por Machado de Assis.
Com uma edição cuidadosamente preparada, a coleção
formada pelos dois boxes oferece não apenas uma viagem ao Brasil do século XIX,
mas também uma reflexão atemporal sobre os dilemas humanos.
02
– Box Trilogia Meu Pé de Laranja Lima (José Mauro de Vasconcelos)
Você acredita que eu não sabia que a história de Zezé
de O Meu Pé de Laranja Lima
prosseguia em mais dois livros? Juro que eu não sabia que José Mauro de
Vasconcelos havia dado sequencia na saga desse personagem que emocionou todo o
Brasil nos livros Vamos Aquecer o Sol
e Doidão. Depois, enquanto buscava
subsídios para escrever essa postagem, descobri que O Meu Pé de Laranja Lima é na verdade uma trilogia.
Como li e adorei a história de Zezé, é evidente, né
galera, que imediatamente inclui o box lançado pela editora Melhoramentos nessa
lista. E que box! Adorei o layout. Dessa maneira, um dos personagens mais
queridos da literatura brasileira ganhou uma nova forma de chegar aos leitores.
A Melhoramentos lançou a caixa com a trilogia em junho
de 2025. A coleção reúne, pela primeira vez, os livros O Meu Pé de Laranja Lima
(1968), Vamos Aquecer o Sol (1974) e Doidão (1963), revelando ao grande público
que a história de Zezé vai muito além da infância retratada no primeiro volume.
Enquanto O Meu
Pé de Laranja Lima apresenta Zezé aos seis anos, em meio à pobreza, à violência
doméstica e à imaginação como forma de resistência, Vamos Aquecer o Sol mostra o menino mais velho, morando com o
padrinho no Nordeste, ainda sensível e melancólico, mas agora em um contexto
mais acolhedor. Já em Doidão, o
leitor encontra um jovem chamado Zé, em pleno confronto com o mundo adulto, em
busca de liberdade e autonomia.
E aí? Se interessou?
03
– A Hora da Estrela (Clarice Lispector)
Último livro escrito por Clarice Lispector, A hora da estrela é também uma
despedida. Lançada pouco antes de sua morte, em 1977, a obra conta os momentos
de criação do escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice) narrando a história de
Macabéa, uma alagoana órfã, virgem e solitária, criada por uma tia tirana, que
a leva para o Rio de Janeiro, onde trabalha como datilógrafa.
Em A hora da
estrela, Clarice escreve sabendo que a morte está próxima e põe um pouco de
si nas personagens Rodrigo e Macabéa. Ele, um escritor à espera da morte; ela,
uma solitária que gosta de ouvir a Rádio Relógio e que passou a infância no
Nordeste, como Clarice.
Macabéa, a nordestina, cumpre seu destino sem
reclamar. Feia, magra, sem entender muito bem o que se passa à sua volta, acaba
se apaixonando por Olímpico de Jesus, um metalúrgico também nordestino, que
logo a trai com uma colega de trabalho. Desesperada, Macabéa consulta uma
cartomante, que lhe prevê um futuro luminoso, bem diferente do que a espera..
A edição especial da obra de Lispector lançada em 2020
teve projeto gráfico de Victor Burton e capa criada a partir de pinturas da própria
Clarice, além de trazer posfácio de Paulo Gurgel Valente. Uma edição muito
elogiada e que mesmo após cinco anos continua vendendo bastante.
04
– Vidas Secas (Graciliano Ramos)
Em abril de 2024, a Pandorga Editora, promoveu o
relançamento de Vidas Secas, considerado
a obra-prima de Graciliano Ramos e um clássico da literatura brasileira. A obra
é um marco do Regionalismo Modernista, denunciando a miséria, a exploração e a
luta pela sobrevivência no sertão nordestino.
Publicado pela primeira vez em 1938, a obra conta a história de uma família de retirantes
no sertão nordestino: Fabiano, Sinha Vitória, o menino mais novo, o menino mais
velho e a cachorra Baleia." O autor alagoano constrói uma narrativa sem
idealizações, pois mostra a realidade de seca e miséria da região Nordeste do
país.
Posso garantir que a editora Pandorga caprichou no
layout do livro. Faço essa afirmação porque já tive a oportunidade de ter em
mãos esse relançamento que foi adquirido por um amigo leitor.
A apresentação oferece uma visão abrangente da vida e
obra de Graciliano Ramos, com informações biográficas, incluindo origens
familiares, educação, engajamento político e social.
Os textos suplementares proporcionam uma visão ampla
do conteúdo, temáticas e relevância literária. Isso permite que o leitor tenha
uma ideia do estilo narrativo, das questões abordadas e do impacto cultural da
obra de Graciliano.
Na obra também são apresentadas informações sobre
adaptações cinematográficas e o uso da obra em sala de aula, demonstrando como
ela continua a ser estudada e apreciada em diferentes contextos.
As curiosidades, último tópico da leitura suplementar,
revelam detalhes sobre o reconhecimento internacional de Graciliano Ramos, seu
processo de escrita, traduções de outras obras e o uso de pseudônimos ao longo
da carreira. Tudo isso numa edição de luxo, encadernada em capa dura resistente
e elegante
Imperdível para os colecionadores.
05
– Box Obras essenciais do escritor Aluísio Azevedo (Aluísio Azevedo)
Fecho a nossa lista com o box supimpa da editora
Principis em homenagem ao escritor Aluísio Azevedo que foi o precursor do
movimento naturalista na literatura brasileira. Ele escreveu obras como O cortiço e O mulato, além de exercer outras atividades como caricaturista,
jornalista e diplomata, além de membro fundador da cadeira número 4 da Academia
Brasileira de Letras.
O box da editora Principis traz os livros: O Cortiço, O Mulato e Casa de Pensão
totalizando 528 páginas. Seu enfoque na análise dos ambientes sociais e físicos
em suas obras fornece um vislumbre íntimo da vida urbana do Brasil do século
XIX.
O
Cortiço se situa nesse contexto, destacando-se como um
retrato vívido e crítico das tensões sociais e econômicas da época. A história
inicia-se com João Romão, um imigrante português que, através de trabalho árduo
e práticas desonestas, torna-se dono de uma taverna, uma pedreira e,
posteriormente, de um cortiço chamado São Romão. Ele vive com Bertoleza, uma
mulher negra que acredita ser livre graças a ele, sem saber que, na verdade,
continua sendo escrava.
O
Mulato publicado em 1881 debate a questão racial no Brasil
do século XIX. O nome do livro faz referência a seu protagonista, um mulato
bastardo que nasceu numa fazendo no nordeste do país.
Casa
de Pensão, narrado em terceira pessoa, inicia com a chegada do
jovem maranhense Amâncio ao Rio De Janeiro, que para ali se muda no intuito de
estudar medicina na Corte. Em busca de sua liberdade e independência passa a
ser hóspede na pensão de um casal. O livro trata de racismo, preconceitos,
miséria e injustiças sociais.
Taí cinco relançamentos especiais que certamente irão
agradar todos aqueles que não dispensam a leitura de um clássico aqui da
terrinha.
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