Um veto cruel que precisa ser derrubado. Os aposentados por invalidez e pessoas com deficiência não mereciam tanto descaso

06 maio 2025

Sei que nem todos os seguidores do blog gostam quando fujo das resenhas, listas, lançamentos e opiniões literárias e começo a publicar temas bem distintos da proposta do “Livros e Opinião”, ou seja, quando começo a viajar. “Viajadas” que eu batizei, carinhosamente, de “divagações”. Tanto é verdade, que no início queria até colocar um link no menu do blog com esse nome, mas Lulu achou que eu estaria fugindo muito da proposta dessa página; acabei concordando. A saída para esse impasse foi a criação no menu do “Livros e Opinião” de uma aba chamada “Pinceladas” onde publico as minhas divagações.

Pronto, expliquei; e agora deixe-me divagar um pouquinho nesse espaço. Quero voltar a “falar” sobre o veto do governo federal ao Projeto de Lei 5332 que beneficiaria mais de 9 milhões de aposentados por invalidez permanente, incluindo aqueles que fazem parte do BPC Loas. ‘Volta e meia’ algum amigo meu me questiona: “Jam, porque ‘abraçou’ essa causa se você não é aposentado por invalidez?”. Pois é galera, é uma pergunta que eu ouço com uma certa frequência.

O motivo de ter me engajado nessa luta para a derrubada do chamado “Veto 38” foi que como jornalista tive a oportunidade de acompanhar de perto o sofrimento dessa classe. Vi aposentados por invalidez permanente com laudos médicos definitivos de peritos judiciais e também do próprio INSS, sendo obrigados a se arrastarem até uma agência apoiados em seus cuidadores ou então em uma cadeira de rodas para passarem por periciais revisionais humilhantes, simplesmente para provarem que nunca mais terão condições de trabalho porque possuem uma doença incapacitante e irreversível ou então uma deficiência.

* Seo perito, como vou poder voltar a exercer a minha profissão se eu perdi uma perna.

* Doutor, não posso voltar ao trabalho porque fiquei dependente desse andador para sempre.

* Doutor, o meu filho tem esquizofrenia grave. Ele tem delírios de perseguição, ouve vozes e tem ideias de suicídio.

Agora imagine o absurdo das pessoas envolvidas nessas três situações – até mesmo aquele paciente que perdeu uma perna - entregando laudos médicos de especialistas que comprovam as suas limitações, além de receitas médicas e etc.

Cara, não posso concordar com isso. É muita crueldade com essas pessoas, por isso mesmo batizei o Veto 38/2024 de “Veto Cruel”. Tão cruel que chega a ser surreal. Até agora, estou pasmado com a atitude do presidente Lula que optou por vetar um Projeto de Lei (PL) tão importante como esse. Tão importante que já havia sido aprovado por todos os deputados e senadores, inclusive parlamentares da base do próprio governo. O PL 5332 passou com louvores pelas duas Casas de Lei (Câmara e Senado) e quando todos tinham a certeza da sua sanção presidencial, o governo veta o PL. Repito: juro que estou pasmo até agora. Pasmo, pasmado – sei lá – e principalmente decepcionado. Decepcionado porque o nosso presidente, em sua solenidade de posse, subiu a rampa do Planalto tendo ao seu lado uma pessoa com deficiência. E agora, com esse veto, a impressão que fica é que ele virou as costas para as pessoas com deficiências e os aposentados por invalidez – conhecidos pela sigla PCD.

Confesso que fiquei decepcionado e muito triste com o VETO 38 ao Projeto de Lei 5332 dado no dia 28 de novembro de 2024 pelo presidente Lula. Os aposentados por invalidez permanente e as pessoas com deficiência não mereciam isso. Só os familiares de um paciente com Esclerose Lateral Amiotrófica, Parkinson, Esquizofrenia grave e evolutiva, Alzheimer e outras doenças irreversíveis e incapacitantes para entender a gravidade desse veto. Quero deixar claro que não se trata de uma questão partidária ou política, mas de empatia.

Cobri casos de trabalhadores com esquizofrenia e outros transtornos mentais que após terem passado por perícias médicas constrangedoras, perderam não só o seu benefício mas também o seu tratamento, pois sofreram recaídas e quase precisaram ser internadas; um advogado me contou o caso de um pedreiro com problemas cardíacos que foi considerado apto ao trabalho por um perito despreparado, ele voltou às suas funções e acabou sofreu um ataque cardíaco. Cobri jornalisticamente casos de aposentados por invalidez permanente com muitas dores e que mal se locomoviam sendo obrigados a deixar as suas casas e percorrer uma longa distância escorado em seus cuidadores até chegar a uma agência do INSS distante de suas moradias ou até mesmo em outras cidades para serem periciados. Poderia citar outros casos, mas paro por aqui.

Estas pessoas já sofrem demais com as suas enfermidades, então para que acrescentar mais uma cruz em seu calvário?

Infelizmente, ao vetar o PL 5332, Lula acabou dando mais importância para um grupo de pessoas que tenta fraudar a Previdência ao invés de pensar em milhares – mais de 9 milhões – de brasileiros que, de fato, estão doentes e dependem desse benefício para a sua sobrevivência, principalmente no que se refere a compra de medicamentos. O governo, simplesmente, inverteu a lógica dos fatos, já que o correto e o mais humano seria ter se preocupado em primeiro lugar com esses doentes.

Aqui cabe uma mensagem: “Sr. presidente, fique tranquilo porque o INSS tem mecanismos eficazes para identificar fraudadores, principalmente nos auxílios por incapacidade temporária (auxílios doenças), que é onde se encontra o maior número de fraudes. Entenda que o PL 5332 que o sr. vetou não vai atrapalhar em nada nesse sentido. Ele veio para mitigar o sofrimento dos aposentados por invalidez permanente e daqueles que são portadores de deficiência e não podem mais exercer as suas atividades profissionais. Por isso, pense em primeiro lugar nessas pessoas, naquelas que dependem muito desse benefício.”.

Por outro lado, fiquei muito feliz ao saber que vários influenciadores digitais e youtubers também abraçaram essa causa o que deixa evidente a grande indignação com esse veto.

Não há como negar que o PL 5332 traria maior qualidade de vida aos brasileiros com doenças graves e deficiências permanentes. As famílias não deveriam ser submetidas à burocracia desumana de levar pessoas com sérias dificuldades de locomoção a perícias recorrentes para acessar um benefício que garante o mínimo de dignidade humana.

Agora, no dia 27 de maio, o Congresso Nacional estará se reunindo para analisar e votar vários vetos do governo e, com certeza, o Veto 38/2024 também estará no pacote. O Congresso tem o dever de corrigir essa injustiça, garantindo que a avaliação biopsicossocial seja utilizada como instrumento de inclusão e não como barreira ao acesso aos direitos dessas pessoas.

 Penso dessa maneira e continuarei lutando para que esse “Veto Cruel” seja derrubado.

 

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