Cinco livros raros que merecem, há muito tempo, um relançamento. Editoras acordem!

27 fevereiro 2024

“Se você os tiver guarde a sete chaves, se não os tiver apenas sonhe, pois dificilmente os terá um dia”. Usei essa frase para escrever uma postagem há mais de 12 anos, ainda nos primórdios do blog (confira aqui). Foi um post sobre livros raros que naquela época haviam deixado de ser publicados há ‘muuuuitos’ anos. Alguns deles foram relançados após poucas editoras terem percebido, mesmo tardiamente, a importância dessas obras e o brado popular de muitos leitores que exigiam um relançamento. Por outro lado, ainda há livros que continuam com o status de raros não sendo encontrados nem mesmo em sebos e quando o são, os preços exorbitantes assustam o mais calmo dos leitores.

Neste post selecionei cinco livros raríssimos que já estão merecendo um relançamento – de preferência em edição luxuosa – há muito tempo. Quem sabe, alguma editora desperte de sua hibernação literária e assim, resolva relançar estas obras incríveis que infelizmente sumiram das livrarias e dos sebos. Vamos a elas.

01 – Primeiro Sangue (David Morrell)

Primeiro Sangue de David Morrell publicado originalmente em 1972 ganhou notoriedade após o lançamento do arrassa quarteirões chamado “Rambo”. O filme produzido em 1982 transformou Sylvester Satallone  num dos atores de filmes de ação mais rentáveis de Hollywood nos anos de 1980; fama que carregou nas costas até há pouco tempo. Quanto a “Rambo” virou uma das sagas cinematográficas mais icônicas de todos os tempos, tanto é que rendeu outras quatro continuações.

Após o sucesso do filme de 1982, o livro de Morrell foi relançado nesse mesmo ano, mas com a capa do filme, depois... caiu no esquecimento das editoras, mas não no esquecimento dos leitores e até mesmo cinéfilos que passaram a exigir uma republicação da história. Infelizmente todo esse clamar popular não foi atendido, até agora, por nenhuma editora.

Há alguns anos surgiram comentários de que a DarkSide havia decidido relançar essa preciosidade, mas os comentários ficaram apenas nos comentários, já que a “caveirinha” não se pronunciou sobre o assunto.  Uma pena.

Li Primeiro Sangue – tenho o livro, ufaaaa!! – e posso garantir que o enredo é muito diferente do filme; bem mais profundo e tenso. Vamos torcer para que alguma editora acorde e perceba a importância desse livro.

02 – “Duro de Matar” (Roderick Thorp)

Ufaaaaa! Também tenho. Há muitos anos atrás, quando ainda não havia ganhado o status de raro, adquiri a obra de Roderick Thorp num sebo e acredite: a preço módico. Trata-se de mais um livro que rendeu um filme famoso de ação. Tão famoso que acabou se tornando uma saga cinematográfica com seis filmes. 

Nothing Lasts Forever (Nada Dura para Sempre, traduzido ao pé da letra) publicado originalmente em 1979 só foi lançado no Brasil após o sucesso do filme “Duro de Matar” com Bruce Willis e que bombou nos cinemas em 1988. Portanto, o livro de Thope no qual o filme foi baseado só chegou nas livrarias brasileiras, nove anos após a sua publicação original. E chegou no Brasil com o mesmo nome e também a mesma capa do filme. A editora Record, na época, optou por dispensar o título original do livro de Thorpe.

A obra teve uma passagem rápida pelas livrarias já que a Record decidiu não colocar no mercado novas edições e assim, o livro foi sumindo... sumindo... sumindo, até se extinguir das prateleiras das livrarias e dos sebos.

Como acontece com qualquer adaptação, existem diferenças entre o romance de Thorp e o filme. No livro, o nome do herói é Joseph Leland, que, como John McClane, é um policial de Nova York. Embora o filme com Bruce Willis e o livro sejam diferentes em algumas áreas, Duro de Matar incluiu muitas das sequências de ação de Nothing Lasts Forever (confiram a resenha que fiz sobre o livro aqui).

Ah! Ia me esquecendo; encontrei um único exemplar no portal da Estante Virtual pela “bagatela” de R$ 129,00!

03 – O Visconde de Bragelonne (Alexandre Dumas)

Este livro de Alexandre Dumas fecha a história da saga dos mosqueteiros composta pelos livros: Os Três Mosqueteiros, Vinte Anos Depois e O Visconde de Bragelonne. O detalhe é que a história foi publicada por Dumas no formato de folhetim – como fez com O Conde de Monte Cristo – e por isso, décadas depois, quando foi lançada no formato livro chegou a ter 10 volumes com aproximadamente 300 páginas cada.

Que eu saiba, a última edição de O Visconde de Bragelonne aconteceu nos anos 60 pela editora Saraiva que colocou no mercado 6 volumes. Antes tivemos publicações da editora Lello, se não me falhe a memória em sete volumes e ‘mais antes ainda’, lá pelos anos 50, a Livraria Fittipaldi Editora publicou a história em dez partes. Além dessas edições temos ainda um ‘resumão’ da história – de apenas 149 páginas, direcionando ao público infantojuvenil lançado pela editora Melhoramentos em 1964. Depois disso, nenhuma outra editora ousou publicar a última parte da saga Os Três Mosqueteiros.

Se alguém desejar concluir a leitura da antológica trilogia de Dumas, terá de recorrer aos sebos e torcer para encontrar O Visconde de Bragelonne em seis, sete ou dez volumes; sem contar a tradução desatualizada, ortografia antiga e o risco de topar com livros em estado precário de conservação. Quanto ao resumão da Melhoramentos, esqueça. Cara, resumindo: é muito pouco dos nossos editores com um enredo considerado essencial para a conclusão das aventuras dos quatro inseparáveis mosqueteiros.

É muita tortura você ter em mãos edições luxuosas de Os Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois, mas depois ficar chupando o dedo por um terceiro livro que você sabe...  não “existe” - pelo menos numa nova edição.

Fica aqui, um recadinho para a editor Zahar: “Poxa vida, vocês lançaram em edições luxuosas: Os Três Mosqueteiros e Vinte Anos Depois e agora empacaram na conclusão da saga?! Sem contar que relançaram O Conde de Montecristo que a exemplo de O Visconde de Bragelonne foi escrito no formato de folhetim. Por que não fazer o mesmo com o “nosso” Visconde?

04 – Depois da Meia-noite (Stephen King)

Depois da Meia-noite é uma coletânea de novelas escritas por Stephen King em 1988 e 1989 e publicadas em agosto de 1990. É seu segundo livro desse tipo, sendo o primeiro As Quatro Estações. A coleção ganhou o Prêmio Bram Stoker em 1990 para Melhor Coleção e foi indicada ao Prêmio Locus em 1991.

O livro de 667 páginas e que se tornou o sonho de consumo de 10 em cada 10 fãs de Stephen King reúne quatro noveletas – Os Longoliers, Janela Secreta, Secreto Jardim, O Policial da Biblioteca e O Cão da Polaroide. Desses contos, dois foram adaptados para as telas: Longoliers e Janela Secreta, Secreto Jardim. O primeiro foi parar na TV em 1995, se não me engano na Rede Record, no formato de uma minissérie chamada “Fenda no Tempo”; enquanto que o segundo acabou ‘aterrissando’ nos cinemas com o título resumido de “Janela Secreta” com ninguém menos do que Johnny Depp no papel de protagonista.

Depois da Meia-noite foi lançado pela editora Francisco Alves em 1992 e depois disso não teve nenhuma outra edição.

Se, por acaso, você tem esse livro, escute o meu conselho: jamais o empreste, nem mesmo para o seu pai, muito menos para o seu irmão. Guarde-o num cofre e esconda a chave.

Agora se prepare para o susto. Sugiro que tome algum calmante antes de ler as próximas linhas. Vamos lá: pesquisei bastante na internet e só consegui encontrar um exemplar usado num sebo filiado a Amazon pelo valor de... já tomou o calmante? Então lá vai: R$ 550,00!!

Putz Suma!! Tenha piedade de todos nós, fás de King, e coloque logo esse livro na série Biblioteca Stephen King!

05 – A Casa do Passado (Algernon Blackwood / Heloisa Seixas)

Quer levar mais um susto? Que tal pagar R$ 300,00 por um livro usado com aproximadamente 300 páginas? Entonce, esse é o valor de A Casa do Passado na Estante Virtual. Já um livreiro da Amazon teve um pouco mais de compaixão e resolveu fazer um corte menos profundo no bolso dos leitores: R$ 170,00. Qual outra prova será necessária para que os editores aqui da terrinha entendam a importância dessa obra e o quanto ela está merecendo uma republicação? Acho que essas editoras estão morgando.

A Casa do Passado é uma antologia de contos de terror do inglês Algernon Blackwood, um mestre do gênero, redescoberto no Brasil pela jornalista e escritora Heloisa Seixas. A obra reúne histórias como Os salgueiros, sua obra-prima, O quarto ocupado, A Ala Norte e A boneca, clássicos da literatura de horror.

Esta é a terceira coletânea de contos de terror organizada e traduzida por Heloisa Seixas. A obra foi lançada em 2001. Os personagens dos contos de Blackwood vivem situações horripilantes, que não imaginaríamos nos nossos piores pesadelos. São pessoas comuns, subitamente envolvidas em histórias que fogem ao controle da lógica e do que pode ser explicado.

Blackwood, que já foi tão famoso quanto seus contemporâneos Bernard Shaw, H. G. Wells e Conan Doyle, caiu em esquecimento logo após sua morte, há cerca de 50 anos. Hoje, os milhares de fãs do gênero, ávidos por uma história angustiante cercada de sustos, fantasmas e surpresas estão sofrendo porque não conseguirem encontrar mais o livro e quando o encontram quase caem de costas por causa dos preços “milionários”.

Parabéns à Heloísa Seixas pela sua iniciativa em resgatar esse importante autor e a minha indignação por nenhuma editora ter tomado, até agora, a iniciativa de relançar essa coletânea antológica de contos de terror.

Valeu galera!

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