28 março 2023
Relendo “Presa” de Michael Crichton, novamente. Um techno-thriller que merece ser devorado várias vezes
Vai entender o nosso cérebro, né galera? Lemos algo, portanto
já sabemos o que aconteceu, passamos a conhecer as manias e trejeitos dos
personagens de cabo a rabo, mas... queremos passar por tudo isso novamente e
novamente e... ufa! Novamente! Não adianta dizer que fazemos isso porque
esquecemos do enredo e queremos revive-lo. Não esquecemos não; pelo menos em parte.
Basta iniciarmos a releitura de um livro para começar a pipocar em nossa mente
momentos marcantes da história ou então aquele personagem que deixou tanta
saudade no passado.
Por isso, reler um livro é algo especial; e esse
privilégio também só cabe a obras especiais, ou seja, livros que marcaram a
nossa vida de uma tal maneira chegando ao ponto de fazer com que queiramos
sentir tudo aquilo que já sentimos uma, duas, três ou mais vezes no passado. Presa de Michael Crichton é um desses
livros. É difícil mensurar, mas talvez chegue a superar até mesmo Mentirosos de E. Lockhat que me rendeu
uma ressaca literária dos infernos, a qual ainda não consegui superar. A
ressaca causada por Presa foi maior.
Dessa vez, Crichton mistura ficção científica hard com
suspense brindando os seus leitores com um excelente techno-thriller. O enredo
envolve nanotecnologia: um microorganismo artificial capaz de se mover em
nuvens, como um enxame de abelhas, e capaz de evoluir sozinho como um ser vivo.
Logo a tecnologia se torna uma ameaça, desenvolvendo inteligência e aprendendo
até mesmo a mimetizar seres humanos, e cabe a um programador chamado Jack
marido de Julia, uma das cientistas do projeto, buscar uma solução para o
problema.
A primeira parte da história é marcada pela tensão no
relacionamento do casal que se amam mas devido a chegada de alguns fatores
externos, essa união acaba dando uma balançada. O drama familiar enfrentado por
Jack e Julia prende muito o leitor, mas é na segunda parte do romance que o
bicho pega.
Quando Jack é convidado pelo seu ex-patrão para dar
assessoria na empresa onde sua mulher ocupa um cargo de destaque, ele descobre
que a companhia está trabalhando num projeto ultrassecreto de nanotecnologia
criando micro-robôs invisíveis à olho nu, com objetivos militares e comerciais.
Quando essa nuvem de nanopartículas sai do controle de seus criadores, ela
deixa um rastro de morte e destruição, além de sitiar o laboratório da empresa
que está localizado no meio do deserto. É a partir daí que começa a luta de um
grupo de cientistas orientados por Jack para tentar conter os micro-robôs
assassinos, que passam a reproduzir e pensar por conta própria.
Presa é
eletrizante e merece ser lido e relido muitas e muitas vezes.
25 março 2023
Apocalipse Z – Os Dias Escuros (Livro II)
Melhorou muito e quando digo muito entenda-se “muuuuuuuuuuuuuuuuito”.
Os Dias Escuros é um daqueles livros
cuja sequencia supera anos-luz o enredo raiz, ou seja, o enredo que dá origem a
uma trilogia, quadrilogia ou saga. É muito difícil isso acontecer tanto na
literatura quanto no cinema, mas as vezes acontece como aconteceu na saga
“Apocalipse Z” do jornalista e escritor espanhol Manel Loureiro.
A leitura do primeiro volume se arrastou; achei muito
monótona, praticamente sem diálogos, no formato de diário/blog e com poucos
personagens. Aliás, a história criada por Loureiro foi publicada originalmente num
blog e só depois foi parar nas páginas de um livro e mesmo assim, seguindo o
formato de um blog. Enquanto estava na blogosfera, o texto era publicado aos
poucos e isso acabava prendendo a tenção dos internautas, mas a partir do
momento que o autor decidiu publicá-lo num livro, o enredo foi despejado de uma
só vez nas páginas e - pelo menos, para mim – acabou se tornando cansativo
pacas. Agora, em Os Dias Escuros o estilo da escrita ficou
mais compatível com o chamado “formato livro”. A narração em primeira pessoa
continua, mas dessa vez muito mais dinâmica e... repito: com diálogos; e todo
leitor sabe que esse recurso narrativo deixa qualquer história muito mais ágil.
Escrevi em minha resenha sobre Apocalipse Z – O Início do Fim (ver aqui) que foi difícil engatar uma terceira
marcha; quanto a quarta marcha nunca chegou. Já nesse segundo volume, consegui
cambiar uma quarta. Apesar da obra não ter tido a capacidade de me tirar de uma
ressaca literária – bem longe disso - que já dura anos, não posso negar que se
trata de um bom livro.
Os
Dias Escuros tem conspirações, traições, ação,
suspense e... claro, zumbis, uma infinidade de zumbis. Os leitores que ficaram “fora
do ar” quando leram O Princípio do Fim,
já que o autor não deu nenhuma explicação científica sobre a origem do vírus
que transformou a população em zumbis, dessa vez, ao lerem a sequência da obra terão
uma noção de como tudo começou. Outra novidade é que o autor também mostra como
um zumbi pensa, ou seja, qual é a sua linha de raciocínio. O leitor fica
sabendo o que é ser um zumbi. Achei essa premissa muito interesse e deu um
tempero a mais na história. A narrativa também ganhou um vilão – humano e não
zumbi, ufa! – muito eficiente. Há ainda reviravoltas interessantes do tipo: “quem
você pensa que é não é”, entendeu? (rs). Ok; olha, não quero me aprofundar
muito para não liberar spoilers, mas há alguns personagens que não aparentam
ser aquilo que são, tanto para o bem quanto para o mal. Capiche? Acho melhor
parar por aqui (rs).
Para aqueles que ainda não conhecem a trilogia, em Apocalipse Z, Loureiro narra em tempo
real uma hipotética invasão de zumbis na Espanha do ponto de vista de um
advogado morador da cidade de Pontevedra. A invasão que teve origem no
Daguestão, uma república russa, acaba explodindo pelo mundo afora num
verdadeiro apocalipse.
Neste segundo volume da trilogia, os sobreviventes
Viktor Pritchenko, Lúcia, irmã Cecília e o advogado (protagonista da história
cujo nome continua sendo um mistério) que haviam decidido fugir em busca de um
lugar seguro que imaginam ser nas ilhas Canárias, um dos únicos pontos que
ainda pareciam seguros na Terra, ao chegarem no local, eles tem uma surpresa
inesperada. Como não bastasse, ainda recebem uma missão quase suicida: devem
acompanhar uma equipe de soldados até Madri e saquear um hospital que fora um
dos primeiros locais a ser invadido pelos zumbis, a fim de conseguir
medicamentos imprescindíveis para os sobreviventes.
Com isso, o advogado, Viktor Pritchenko e os demais
soldados terão de voltar a um inferno inimaginável: uma cidade
pós-apocalíptica, cheia de zumbis agressivos que colocarão à prova seu desejo
de lutar pela vida.
Agora, vamos ver se A Ira dos Justos, terceiro volume da trilogia mantém o mesmo nível
de seu antecessor.
19 março 2023
Pequenas grandes mentiras
Se você gosta de livros que exploram dramas e
conflitos familiares, Pequenas Grandes
Mentiras da escritora australiana Liane Moriarty é a pedida certa, mais do
que certa. A leitura é bem fluida e a trama reserva algumas reviravoltas
incluindo o plot twist final bem ao estilo “Hercule Poirot”. Não tem como não
fazer uma analogia com os livros do famoso detetive belga escritos por Agatha
Christrie. Não; não estou querendo dizer que Moriarty “implantou” em seu enredo
um detetive para solucionar um crime que acontece logo no início da história,
mas só é esclarecido no final. Nada disso; esqueça o detetive inteligente e com
uma alta capacidade de dedução O que estou querendo explicar é que nas últimas
páginas de Pequenas Grandes Mentiras
a autora reúne todos os principais personagens num local – uma varanda, para
ser mais específico – e então, pimba! O culpado pela morte de fulano é
revelado. Mais do que isso, o nome da vítima também é revelado. Taí! Méritos
para Moriarty que conseguiu criar dois plot twists finais numa tacada só: a
revelação do nome do criminoso (a) e também do nome da vítima. Bem diferente
dos livros policiais onde a vítima é conhecida logo no início, deixando os holofotes
para o seu algoz que é revelado apenas no “The End” da trama. Esta cartada da
autora australiana foi um dos pontos fortes do livro, pois o leitor não vê a
hora de descobrir quem matou e quem morreu; além dos motivos que provocaram o
crime. E posso garantir que essas revelações valem a pena. Trata-se, sem
dúvida, de um plot twist muito interessante.
Além desse twist final, o livro traz outras
reviravoltas menos bombásticas ao longo da trama mas nem por isso, menos
interessantes. Portanto ao unir drama familiar com vários plot twists, além de
um assassinato misterioso, a autora criou uma fórmula infalível de leitura
fluida.
Pequenas
Grandes Mentiras centra o seu enredo em três personagens
principais: Madeline, Celeste e Jane. Três mães, cujos filhos estudam na Escola
Pública de Pirriwee. É importante frisar que além delas existem outros
personagens secundários que dão um gás a mais na trama. Aliás, acho que nem
posso chamá-los de secundários porque a importância deles para os rumos da
história é muito importante.
Pequenas
Grandes Mentiras aborda alguns assuntos pesados como
bullying e violência contra a mulher no próprio lar. Há trechos bem “trucões”
nesse sentido.
O crime acontece logo no início do romance durante um
evento promovido pela Escola Pública de Pirriwee envolvendo somente os pais dos
alunos. Com muita bebida e pouca comida, o encontro de pais dos alunos da
escola tem tudo para dar errado. Fantasiados de Audrey Hepburn e Elvis Presley,
os adultos começam a discutir já no portão de entrada, e, da varanda onde um
pequeno grupo se reuniu, alguém cai e morre.
Quem morreu? Foi acidente? Se foi homicídio, quem
matou?
Voltando ao tempo até alguns meses antes desse
incidente, Moriarty conta a história dessas três mulheres, cada uma delas com
os seus segredos diante de uma encruzilhada.
Madeline é forte e decidida que está no seu segundo
casamento. Celeste é uma mulher invejável; bonita e rica tem um casamento que
parece perfeito demais para ser verdade. Elas ficam amigas de Jane, uma jovem
mãe solteira que semudou para a cidade com o filho Ziggy, fruto de uma noite
malsucedida.
Quando Ziggy é acusado de bullying, as opiniões dos
pais se dividem. As tensões nos pequenos grupos de mães vão aumentando até o
fatídico dia em que alguém cai da varanda da escola e morre. Os envolvidos
revelam impressões frequentemente contraditórias tornando cada vez mais difícil
descobrir a verdade que só será revelada no final.
O romance reúne num mesmo
enredo: ex-maridos e segundas esposas, mães e filhas, bullying e escândalos
familiares. Tudo permeado com perigosas meias verdades que os personagens
contam para si mesmos na esperança de esconderem ou amenizarem certas situações
constrangedoras ou complicadas demais.
Um livro muito da hora.