Vende-se este Futuro

25 julho 2018

Com certeza, Beatriz Prata já entrou para o rol das minhas personagens femininas fodásticas da literatura. Ela se parece muito com uma Guinevere dos tempos modernos – mas a Guinevere idealizada por Bernard Cornwell em a saga “As Crônicas de  Artur” (ver aqui, aqui, aqui e mais aqui). À exemplo da personagem arturiana, Beatriz é destemida sem ser incauta, inteligente mas nem por isso arrogante, além de carismática e corajosa, aliás muito corajosa, ao ponto de romper paradigmas considerados imutáveis quando se vê acusada por algo que não cometeu.
Esta garota fantástica é a personagem principal do romance de ficção científica “Vende-se este Futuro”, livro de estréia do escritor paulista Bruno Miquelino, publicado pela editora Novo Século.
Beatriz é uma espécie de agente de viagens temporais. Explicando melhor: ela trabalha para uma agencia que promove viagens no tempo chamada Déja Vu que surgiu 2097 em São Paulo, numa época em que esse tipo de viagem era comum. A principal função da Déja Vu é transportar pessoas do passado para o futuro, para que elas  adquiram  outra identidade, longe dos holofotes, da polícia, de seus problemas, enfim, do que for. No futuro que elas escolhem, então lhes é concedida uma nova identidade e consequentemente uma nova vida.
No livro a protagonista só precisa levar o grande Charles Chaplin para o futuro, mas inúmeras coisas dão errado e ela se vê presa no início do século XX, sem ter como voltar para o tempos modernos.
“Vende-se este Futuro” consegue prender a atenção do leitor, logo de cara, já no prólogo quando Beatriz viaja para meados de 1970 com a missão de transportar para o futuro uma das personalidades mundiais mais famosas da cultura pop de todos os tempos.
Bruno Miquelino
A grande sacada do autor em sua trama foi promover uma interação entre o real e o imaginário. Achei fantástico ver, por exemplo, a agente de viagens temporais da Déja Vu se relacionando com grandes personalidades da história mundial e também da nossa cultura pop. Além dessa interação, digamos ‘diferente’, Miquelino ainda insere esses personagens fictícios em momentos importantes da História, como por exemplo no atentado da rua Tonelero, ocorrido na madrugada de 5 de agosto de 1954, considerado até hoje, um dos fatos mais importantes nos anais da política brasileira.
No que diz respeito à participação de Charles Chaplin no romance, com certeza, os leitores irão adorar os momentos de estranhamento, emoção, amizade e aventura vividos por Beatriz e o eterno Carlitos.
Nada foi jogado aleatoriamente no livro. Acredito que o autor deva ter desenvolvido um excelente trabalho de pesquisa para fazer dessa interação ‘ficção e realidade’ a mais convincente possível para leitor. No caso de Chaplin, para se ter uma idéia, ficamos sabendo inúmeros detalhes de sua vida particular. É interessante vê-lo discutindo alguns desses pormenores com Beatriz.
As reviravoltas na trama também são outros pontos positivos que valem a pena destacar. Algumas, de fato, irão pegar o leitor de surpresa, principalmente uma conspiração que mudará o destino da história, deixando o leitor muito surpreso.
Quanto ao final de “Vende-se este Futuro” é impagável, aliás, os finais porque há um exclusivamente dedicado a Charles Chaplin e ao seu filme “O Circo” e adianto que é emocionante. No outro “The End”, onde ocorre a conclusão de toda a trama, mais surpresas. Ri muito e também adorei aquele golpe do baú. Passei a gostar ainda mais de Beatriz.
O livro de Miquelino é dividido em ‘capítulos temporais’, ou seja, cada capítulo corresponde a determinado ano em que ocorre a trama. Dessa forma, ele mescla 2112 – período atual em que se desenvolve o romance - com outras épocas: 1926, 1964, 1968, 1977 e assim por diante.
Sem dúvida, um grande livro.


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