A madrugada que eu quase perdi mais da metade dos meus livros

24 janeiro 2018


O susto foi tão grande que somente agora – após mais de um mês – consegui me recompor para escrever sobre o assunto. Imagine você, um leitor inveterado,  vendo ir para o saco um trabalho que ama e que demorou anos para edificá-lo. No meu caso, ‘esse trabalho’ se chama livros, muitos livros, mais de 300, o que para mim já é o suficiente para mensurar como ‘muitos’.
Tudo neve início em uma das madrugadas desse verão chuvoso que estamos vivendo. Percebi um barulho estranho no cômodo onde estão as minhas duas prateleiras de livros. Quando fui verificar... c-a-r-a-c-a!! Não estava caindo goteiras pelo teto; na realidade o teto tinha se transformado nas cataratas do Niágara! Cara, a água caia pelos quatro cantos do forro de alvenaria, além de escorrer por uma das paredes, justamente aquela que está próxima de uma das estantes de livros. Quanto a outra estante: pinga ni mim! Estava sendo bombardeada por um exército de goteiras.
Estantes esvaziadas às pressas
Naquele momento fiquei impotente. Começou a passar pela minha cabeça um filme dos anos que havia demorado para construir aquele pequeno acervo. Ali, na minha frente  – enfrentando a ira das água de um temporal recheado de raios e relâmpagos – não estavam simples livros que ao serem molhados e perdidos, poderiam simplesmente ser trocados por outros mais novos. Ali estava toda a minha história de leitor, desde os primórdios da infância até a fase adulta.
Bacias, plásticos e baldes tentando proteger o novo piso

Faziam parte daquelas estantes os primeiros livros que eu havia ganhado de minha mãe e que me instigaram o prazer pela leitura; ali estavam as pedras fundamentais da minha pequena biblioteca com mais de três centenas de livros, ou seja, os dois primeiros romances que deram início ao sonho de ter um acervo de obras literárias em minha casa; ali estavam os livros que ganhei de  Lulu e também de  amigos queridos, cada um deles com uma história diferente; ali estava o livro que recebi de uma grande editora antes do primeiro ano de blog, sem ter nenhum tipo de parceria – foi algo espontâneo dessa editora – enfim, naquelas estantes havia toda uma história que se sucumbia perante o forte temporal.
Única solução: isolar toda a sala de leitura até a troca de parte do telhado
Após superar o sentimento de impotência, cai na real e comecei a salvar o que era possível. Como caixas de papelão não combinam com água, apelei para as bacias de alumínio e literalmente derramei sobre elas todos os livros que podia. Cai 3, cai 5, cai 10, cai 15 e por aí foi.
Após todo esse trabalho durante parte da madrugada parecido com uma missão de resgate, não consegui voltar para cama e dormir. Como?!
Na mesma hora comecei a fazer uma análise do que havia perdido e do que poderia ser recuperado. À primeira vista, o panorama não era tão desalentador o que me deixou mais tranqüilo. Realoquei todos os livros nas mesas da sala, cozinha e nas camas dos quartos.
Hoje, sei o quanto Deus é bom; apesar do susto não tive prejuízos. Os livros que foram atingidos pela chuva – um deles de muita importância sentimental, além de raro – não estragaram e puderam ser restaurados, já que tinham as capas duras e plastificadas.
Em cada canto da casa, um montinho de livros
Costumo dizer que ‘eles’ eram os soldados da tropa de choque, do pelotão da frente, os infantes que encararam a violência da água com seus escudos (capas duras) protegendo as páginas de um estrago maior. Essas obras sofreram apenas algumas pequenas manchas nas páginas das lombadas superiores, nada grave. Um bibliotecário, amigo meu, já está cuidando de restaurá-los, assim como os outros livros que sofreram pequenas avarias, nada de mais grave.
Enquanto redijo essas linhas, fico pensando que essas pequenas ‘marcas de guerra’ que ficaram em algumas obras literárias entrarão para a minha história vida, pois toda vez que eu olhá-las me lembrarei daquela fática madrugada quando quase  perdi metade dos meus livros.
Depois do pânico, vale até uma brincadeira: “hoje deixei de encarar esses livros como livros, mas como verdadeiros soldados que resistiram bravamente ao ataque do inimigo (rs)”
Ah! Antes que me esqueça: O motivo da invasão das águas foram telhas que se deslocaram com a forte ventania.
Fazer o quê? Só resta providenciar a troca de parte do telhado velho por um novo.
Inté!

4 comentários

  1. Isso aí Guerreiro. Fico me imaginando no teu lugar na hora. Que horror!!! Mas que bom que teus "soldados" estão bem. Kkk

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    1. Marcos, não queira nem pensar amigo. A sensação de perder algo que você demorou anos para 'construir' é fodasticamente oprimente.
      Abraços e volte sempre

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  2. Minha nossa, Jam!
    Só imagino o susto e a sensação de terror que vc deve ter passado! Se algo parecido acontece com meus livros também iria partir para a guerra para salvá-los.
    Fico feliz que, no final das contas, tenha dado tudo certo!

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    1. Valeu Tex! Graças à Deus salvaram-se todos. Sem perdas definitivas. :)
      Abraço amigo!

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