A saga ‘novos autores versus grandes editoras’ prossegue

13 março 2016
Com freqüência me surpreendo com a força de vontade, luta e perseverança dos novos autores brasileiros que buscam um lugar ao sol. E esse lugar ao sol tão desejado é a guarita de uma grande editora brasileira. Comparo essas pessoas - que nasceram com o dom de elaborar enredos fantásticos - a verdadeiros lutadores de boxes talentosos que no ringue só recebem golpes baixos. Quem aplica esses golpes baixos? As editoras. Quais são esses golpes? Caraca, são tantos! É a editora que anuncia em seu site que está recebendo originais para análise, mas nunca responde ao e-mail do autor. É a editora que só acredita nos jovens autores enlatados. E finalmente, as editoras que dão a chamada resposta política: “Sua história é muito boa, mas não tem o perfil dos nossos leitores”. Oohohohoh! Então num belo dia... a tal editora ‘política corretamente’ solta um livro mal escrito e com um enredo pobremente desenvolvido, mas cuja trama é vagamente parecida com a sua. É meu amigo, com a sua! Aquela mesma trama inicial que os editores figurões disseram que não iria de encontro aos interesses dos seus leitores. Então, você urra, grita, esperneia, dá socos na parede, mas não adianta nada porque o golpe baixo já foi aplicado
E olha que são muuuuitos golpes baixos. E com isso, nós leitores, vamos perdendo a oportunidade de ler histórias excelentes que acabam indo parar numa lixeira ou então no formato pdf  em algum site obscuro.
Ontem a noite recebi o e-mail de um autor brasileiro me contando os bastidores dessa luta injusta e desigual. Como blogueiro e leitor voraz fiquei muito triste com a situação dos nossos escritores que buscam uma primeira oportunidade.
Galera, nós que estamos do lado de fora do sistema não sabemos nem a metade da missa. A situação é mais complexa do que pensamos. Para evitar retaliações não vou revelar o nome do autor que me enviou o e-mail, nem da editora envolvida.
Vamos à missa.
Esse autor (li o seu livro: é ótimo!) após ter o original de sua obra recusado por, praticamente, todas as grandes editoras, acabou descobrindo outra, mas fora do País, que parecia ser um verdadeiro Oasis, mas se revelou um ardente deserto. Apesar de editar a obra – mediante o pagamento de determinada quantia – a editora, simplesmente, não distribui o livro para as principais lojas (físicas e virtuais) do Brasil. O autor teve que se virar, colocando alguns exemplares debaixo do braço e saindo de porta em porta tentando fechar as vendas. Mas, nós sabemos que as grandes lojas e livrarias – quase sempre multinacionais – não dão importância para esse tipo de relação comercial mais intimista. A diferença, em termos de importância, entre um autor desconhecido que faz o papel de divulgador de sua obra (também desconhecida) e de uma editora que abrace essa missão através de seu departamento de marketing e vendas é brutal.
Portanto quem opta por uma editora com essas características vai ralar muito. Cara, pensa bem: de que adianta ter um livro publicado se ele não é divulgado e tampouco distribuído?
Os autores que conseguem publicar suas obras através dessas empresas devem ficar cientes que jamais irão ver os seus livros nas vitrines de portais como Submarino e Americanas ou então na Saraiva, uma das principais livrarias do País.
A maioria das editoras – que inicialmente abrem as portas para os novos autores brasileiros não acreditam na divulgação em lojas, por isso, não têm um departamento de marketing. Dessa forma, a propaganda  e venda do livro é feita, apenas na página dessas editoras.
Nesta madrugada, após uma zapeada na Net, percebi que os livros de uma certa editora - que se enquadra nesse contexto - não estão em nenhuma loja de grande rede no Brasil. O argumento é que a empresa é nova no Brasil, mesmo já estando por aqui há mais de dois anos.
Uma autora que encerrou o contrato com um desses ‘falsos Oasis’, descobriu que os responsáveis não tinham nenhum acordo com algumas grandes lojas e livrarias, porque não aceitavam os termos das redes, impedindo que os livros fossem vendidos por lá.
Outros autores estão comendo o pão que o diabo amassou, tentando fazer com que essas mesmas editoras distribuam os seus livros, mas aparentemente isso não acontece porque quando uma loja se mostra interessada em comprá-los para venda, a editora quer vender junto todo o seu catálogo de livros, o que acaba sendo recusado pelas lojas.
E a missa termina por aqui.
Querem saber o que dói mais? É ver tantos autores fantásticos, apesar de jovens, obrigados a se submeter a um sistema humilhante para poder ter as suas obras publicadas.
E eu que pensava que a maioria das grandes editoras brasileiras estava cometendo apenas um pecado mortal: acreditar e investir em blogs que tem milhões de curtidas e seguidores, apesar de terem sido criados há pouco tempo. Coisa do tipo, um blog ou fanpage com pouco mais de um ano de atividade, com um pequeno número de postagens  e mesmo assim, com 40 ou 50 mil seguidores ou likes. Convenhamos que para um blog iniciante essa ‘peripécia’ é quase impossível, mesmo gastando, todos os dias, uma fortuna em campanhas de Ads . Então o que sobra? Obvio: as compras ou trocas de curtidas.
Mas agora, vejo que essas mesmas grandes editoras estão cometendo um segundo pecado mortal: descrer do talento dos novos autores, aqui, da terrinha. Se existir sete pecados mortais dentro desse contexto, os editores ‘bambans’ já deram um bom ‘ponta-pé’ inicial.

Inté

4 comentários

  1. Que texto magnífico! Isso explica muita coisa e nos mostra que as editoras literárias não estão isentas das mazelas que a cultura nacional vem sofrendo nos últimos anos... Acredito que os concursos literários (que ainda são poucos no Brasil) seja o caminho menos perigosos para o novo autor. Mesmo assim, em meio a todos estes problemas ainda emergem ótimos autores nacionais que merecem ser lidos como Eduardo Spohr, Raphael Montes, Enéias Tavares e, principalmente, Marcos Peres... Vou deixar o link das duas resenhas que fiz dele... Abraços e continue este trabalho fenomenal...

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    1. Obrigado Marcelo,
      Também acredito que os concursos literários sejam uma saída para essa triste situação.
      Conferi os links indicados e me interessei pelos livros. Postei comentário em sua página.
      Abcs!

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  2. Esse texto descreve bem a nossa luta. Aprendi a lição, tive dois livros publicados, mas não teve distribuição, nem divulgação, tenho muitos originais, mas agora tenho receio de enviar para editoras.

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    1. O que me entristece é saber que existe um grande numero de autores brasileiros talentosos vivendo essa saga. Nunca desista Rui, a perseverança é fundamental nessas horas.
      Abcs!

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