A Canção da Espada (Crônicas Saxônicas – Livro IV)

07 novembro 2015
O 4º  livro de “Crônicas Saxônicas” é ambientado cinco anos após os acontecimentos narrados em “Os Senhores do Norte” e conta como o  exército de Alfredo, ‘O Grande’, expulsa os dinamarqueses de Londres, dando início ao antigo sonho do rei em fundar  um novo reino chamado Inglaterra.
Mas quer saber de uma coisa? Esqueça todo esse lance de História sobre fundação de um novo reino ou país, pretensões reais e o escambau a quatro; e mergulhe de cabeça nos conflitos envolvendo os personagens Uhtred, Ethelred, Ethelflaed, Pyrlig (mesmo aparecendo pouco) e Alfredo, é claro.
Acredito que o segredo para devorar “Crônicas Saxônicas” é não direcionar o foco de leitura, inteiramente, para o intrincado aspecto histórico que abrange a transformação de Wessex, Mércia, Lundene e outros reinos saxões na Inglaterra que conhecemos hoje. Não podemos negar que a saga escrita por Bernard Cornwell é rica em detalhes históricos já que ele mistura eventos e personagens reais com fictícios. O problema é que muitos leitores acabam ficando fissurados pelo lado histórico do enredo e então meu amigo... eles acabam esquecendo-se de viajar nas aventuras, conflitos e romance vividos por esses personagens. Lembrando que muitas dessas situações são fantasiosas como o próprio autor afirma no capítulo “Notas Históricas”, publicado no final de cada livro. Por exemplo: o enigmático personagem Svein do Cavalo Branco que aparece com destaque em “O Cavaleiro da Morte” não existiu; ele foi inventado por Cornwell. O trecho fantástico em que Uhtred queima os barcos de Svein também está à margem da história.
E as deliciosas invenções do autor no meio do bolo histórico não param por aí. Ragnar, Kjartan e Gisela – por quem me apaixonenei - são fictícios.
A grande sacada de Cornwell foi fazer com que esses personagens fictícios contracenassem com os verdadeiros. Quer outra sacada de gênio do autor? Foi criar situações fictícias para os seus personagens reais. Todas essas nuances deram um tempero especial para “Crônicas Saxônicas”, mas então, chega o leitor chato que opta por ler a saga em companhia do “Santo Google”, somente para conferir datas, eventos, locais de batalhas, nomes de reis ou então para certificar-se de que o autor não cometeu nenhum erro relacionado a unificação dos reinos saxões na ‘nossa’ gloriosa Inglaterra dos tempos atuais.
Mêo! O lado ficção das “Crônicas” é divinamente fantástico! Taí, Uhtred que não me deixa mentir. O arrogante guerreiro faz parte do elenco ficcional criado pelo autor. A saga ‘enormemente e saborosamente’ longa é para se ler descompromissadamente, como um romance; aproveitando cada batalha, cada conflito, cada desafio e cada lágrima. E, quando sobrar um tempinho; tudo bem, aproveite o lado histórico da trama; mas nada de fanatismo.
É dessa forma que estou encarando os livros e confesso que estou amando. Em “A Canção da Espada” não foi diferente. Este 4º volume é recheado de relações conflituosas entre os personagens. São momentos tão intensos que conseguem superar, em importância, as batalhas descritas com extremo realismo e violência pelo autor.
O relacionamento do tipo ‘pega prá capá’ entre Uhtred e seu primo Ethelred faz com que o leitor agarre o livro com uma vontade enorme, sem querer largá-lo jamais. Ethelred é um mala aberta sem alças e ainda com as rodinhas quebradas: incompetente, arrogante, falso, puxa saco do rei, traiçoeiro e ainda adora bater em mulher. O problema é que Alfredo, O Grande dá um crédito danado para o sacana. Então, de repente, o leitor fica torcendo para Uhtred dar aquelas chicotadas verbais no FDP do rei e alguns petelecos bem dados no seu genro puxa-saco.
Outro momento tenso na história é o casamento entre a encantadora Ethelflaed (filha de Alfredo) com o ‘novamente’ FDP do Ethelred. Caraca, nunca desejei tanto que a menina assumisse a mesma postura rebelde que tinha antes de se casar com aquele crápula.
O reencontro de Uhtred e o padre Pyrlig é outro momento  chapado e que deixa o leitor numa puta expectativa. O guerreiro pagão, seduzido pelos chefes dinamarqueses e noruegueses que querem invadir Wessex, prometendo-lhe a coroa de um reino, fica muito próximo de quebrar um juramento feito à Alfredo, então ele reencontra Pyrlig que lhe dá uma baita lição de moral. Uma lição tão grande que faz com Uhtred faça um outro juramento, fugindo inteiramente de suas convicções religiosas, deixando os leitores boquiabertos. Outro lance imperdível, ainda sobre os dois personagens, é o embuste que Uhtred aplica nos captores do padre que querem crucificá-lo vivo. Que que é aquilo!!
Prestem atenção, também, no guerreiro norueguês Erik irmão do temível Sigefrid. Ele será responsável por uma reviravolta incrível na história. Reviravolta que envolve Ethelflaed, Ethelred e Uhtred. O final desse conflito à três, certamente, irá render algumas lágrimas para os leitores mais sentimentais.
Tá bem, mas aí você me pergunta: - Pôxa, “A Canção da Espada” só tem conflitos? E quanto as batalhas?! – É claro que não! As três batalhas do livro são ótimas, mas os conflitos vividos pelos personagens principais são tão profundos que você acaba se esquecendo das escaramuças.
 O confronto que mais me impressionou não esteve relacionado às paredes de escudo envolvendo centenas de guerreiros, mas a luta entre Steapa e um brutamontes dinamarquês. PQP! Como o saudoso  Kid Tourão costumava dizer: - O duelo fedeu chifre queimado. Palavra, galera, que fiquei muito impressionado.
Livraço, livrão!

Novamente, valeu a pena.

2 comentários

  1. Finalmente iniciei a série ! Estou terminando o primeiro e estou gostando muito, pois a escrita do autor faz toda diferença.

    bomlivro1811.blogspot.com.br

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    1. Fico feliz que esteja gostando. O melhor ainda está por vir.
      Boa leitura :)

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