Escritores malditos e suas obras também malditas

23 dezembro 2012


O escritor e ex-jornalista napolitano, Roberto Saviano, foi a minha grande inspiração para escrever esse post. Sei que para a maioria das pessoas, o termo ‘escritor maldito’ está relacionado aquele autor que teve a sua obra ou os seus pensamentos censurados em sua época, mas após dezenas ou trezenas de anos, essa mesma obra que foi considerada abominável no seu tempo, acaba sendo descoberta e reconhecida pelos críticos e o público em geral. Pronto! De censurada, a tal obra perto da excomunhão se transforma numa obra prima. O sujeito que a escreveu junta, também, à sua alcunha de maldito um novo termo: gênio.
Outro segmento considerável de leitores entende que ‘escritor maldito’ é o fulano ou beltrano que choca toda uma sociedade com as suas atitudes confrontando o ‘status quo’. Para esse rebelde o que vale é a arte e ponto final. O resto que se dane. Na primeira categoria  podemos destacar o  polêmico (para a sua época) D.H. Lawrence, criador de “O Amante de Lady Chatterley”, publicado clandestinamente em 1928, na França e taxado de leviano, obsceno e até mesmo maldito pelo puritanismo francês e inglês. Já o “rei dos ébrios”, o alemão Charles Bukowski  que se mudou ainda criança para Los Angeles, entra como uma luva no  segundo exemplo: do sujeito que choca a sociedade muito mais com as suas atitudes do que com o que escreve. Sem afeto familiar, Bukowski se tornou um alcoólatra homérico deixando as damas e os cavalheiros dos idos tempos escandalizados com as suas atitudes.
Quanto a Saviano fez o caminho inverso desses dois escritores e nem por isso deixou de ser considerado maldito e a sua obra mais maldita ainda; pelo menos para ele. O autor de Gomorra” - lançado no Brasil em 2009 com o título de “Gomorra: A História Real de um Jornalista Infiltrado na Violenta Máfia Napolitana” -  não foi um bad boy, alcoólatra, drogado, briguento ou revolucionário que escandalizou o seu país com o nseu comportamento. A sua obra, não foi censurada por navegar contra o estado atual das coisas de sua época, ou seja, há cinco anos atrás. Na minha opinião, Saviano pode ser considerado um escritor maldito por ter tido a coragem de romper um paradigma literário que nenhum outro autor teve ‘colhões’ para fazer. Ele escancarou para todo o mundo as portas da Máfia napolitana, uma das mais violentas. Abriu o jogo, literalmente! Fez um Raio X da organização. O livro bombou nas livrarias (no bom sentido, é claro), se tornando uma das obras mais lidas e comentadas pelos quatro cantos do mundo. “Gomorra” transformou Saviano num escritor milionário, mas para isso ele teve de pagar um preço muito caro. Como foi jurado de morte pela máfia, acabou sendo obrigado a viver nas sombras e com seguranças 24 horas por dia. Resumindo: a sua vida acabou aos 30 anos de  idade, pouco depois do lançamento de seu livro. Uma verdadeira maldição.
Inspirado pela história de Saviano, eu resolvi elaborar esse post. Fiz uma relação de dez autores que fazem jus à alcunha malditos. Vamos à eles!
01 – Salman Rushdie (Os Versos Satânicos)
Caso semelhante ao de Roberto Saviano, mas com um pequeno diferencial. Enquanto o autor napolitano atacou a Máfia; Rushdie estocou o islão. “Os Versos Satânicos”, lançado no Brasil em 1989, condenava o Islão por perseguição contra várias religiões cristãs e hindus, causando uma enorme controvérsia no mundo Islâmico. A obra de Rushdie foi considerada ofensiva ao profeta Maomé; o que fez o líder máximo do Irã, o  Aiatolá Khomeini (se lembram dele?) ordenar a execução do escritor indiano. Isso mesmo, por causa de seu livro, por causa de sua coragem em desmistificar uma organização ou instituição religiosa, o cara foi jurado de morte. Rushdie é ou não é um papel carbono de Saviano?  Khomeini chamou “Os Versos Satânicos”  de ‘blasfêmia contra o islão’.  O líder do Irã viria, também, condenar o escritor pelo crime de apostasia, ou seja, fomentar  o abandono da fé islâmica, o que de acordo com as leis de Maomé  é punível com a morte. Isto porque Rushdie comunicava através do romance que já não acreditava no Islão. 
 Da mesma maneira que os chefões mafiosos ordenaram aos seus clãs  uma caçada impiedosa à Saviano, colocando a sua cabeça à prêmio; Khomeini ordenou a todos os "muçulmanos zelosos" o dever de tentar assassinar Rushdie. Devido a este fato, o autor de “Os Versos Satânicos” foi forçado a viver no anonimato por mais de 13 anos. Atualmente, Salman Rushdie vive a maior parte de seu tempo em Nova York (EUA). Em 1998, o Irã garantiu que a sentença de morte não seria cumprida. No entanto, em 2005, o sucessor do aiatolá Khomeini disse que Rushdie poderia ser morto impunemente. Será que ele vive tranqüilo?
02 – Marquês de Sade (Os 120 Dias de Sodoma)
Donatien Alphonse Francois de Sade, o Marquês de Sade, passou os seus últimos dias encarcerado num hospício, solitário, escrevendo com sangue e com as próprias fezes para substituir a pena que havia sido tirada de suas mãos. Antes de ser preso, na juventude, tinha o hábito de praticar atos repulsivos e dolorosos em suas parceiras de sexo, como por exemplo, retalhar os seus corpos enquanto fazia amor. Esse ato lhe dava enorme prazer na conjunção carnal.
Uggghhh!!! Apaga! Pode apagar tudo isso que acabei de escrever acima! Essas atrocidades nunca fizeram parte da vida de Sade. Tudo não passou da mais pura lenda. Não que o famoso Marquês fosse santo. Ele era um devasso, um libertino, um mulherengo. Um baita de um tarado. Mas segundo os historiadores, Sade não era muito diferente da maioria dos homens do século 18. Naquela época a libertinagem era uma atitude normal entre os aristocratas. O mito em torno do Marquês de Sade começou a surgiu logo com as suas primeiras prisões. Depois de seu casamento, aos 23 anos, o rapaz foi denunciado por atos de devassidão ultrajante por causa de orgias que organizou numa casa que havia alugado para atividades extra-conjugais. Essa pisada na bola, irritou a família de sua esposa e fez com que a sua sogra obtivesse uma ordem de prisão contra ele. De nada adiantou esse corretivo. Após 15 dias de prisão, lá estava o jovem marquês de volta as suas festas orgiásticas das brabas. Depois seria acusado por quatro prostituas de sodomia, flagelação e ingestão forçada de afrodisíacos, fato que quase as levou a morte. O rapaz tinha ainda o hábito de fazer é...me desulpe o linguajar chulo, mas o termo correto seria esse mesmo: ‘suruba’ com mendigas que encontrava morando nas ruas da França. Todos esses fatos serviram para criar uma lenda em torno do Marquês de Sade. Lenda que ganhou ainda mais força quando ele começou a escrever os seus romances na prisão. Os leitores daquela época entendiam que os personagens e as histórias criadas por ele, eram na realidade algo autobiográfico. E assim, na cabeça das pessoas, Sade acabou se transformando num verdadeiro monstro.
“Os 120 Dias de Sodoma” é considerada a sua obra máxima. O texto foi dado como perdido e publicado apenas no início do século 20. O romance inspirou "Salò" (1975), filme de Pier Paolo Pasolini (1922-1975). O livro foi execrado no século 18 e teve a sua venda proibida. Mesmo assim, muitas pessoas optavam em correr riscos para obter exemplares clandestinos. Cara, o texto é violento. Aqueles que tiverem pensamentos mais puritanos nem sonhem em pegar a obra nas mãos, pois se tornarão candidatos de ponta à sofrerem um enfarto fulminante. Já os leitores mais liberais ou libertinos (rs), com certeza irão adorar a escrita e o estilo de Sade. Ah! “Os 120 Dias de Sodoma” foi relançado há poucas semanas e pode ser encontrado facilmente em qualquer livraria.
03 – Edgar Allan Poe (O Gato Preto)













Poe é um dos principais escritores malditos. Enquanto em sua época, os escritores de terror apelavam para monstros ou fantasmas para assustar os seus leitores; Poe buscava esse medo na mente humana. Seus personagens neuróticos, atormentados e cheios de fobias esquisitas provocavam calafrios nos leitores. Muitos acreditavam que esses personagens eram fruto de uma mente transtornada e doentia o que colaborou para aura de ‘maldito’ de Poe.
A morte do escritor aos 40 anos de idade foi cercada de mistério – à exemplo de suas histórias. Menos de uma semana antes de falecer, Poe foi encontrado pelas ruas de Baltimore em completado estado de delírio, totalmente fora de si. Ninguém soube o que aconteceu. O mistério colaborou para o surgimento de inúmeras lendas urbanas sobre a morte do escritor.
“O Gato Preto” é uma das obras mais doentias e perversas de Poe, onde ele narra a história de um misterioso gato preto chamado Plutão que passa a despertar um sentimento de ódio em seu dono. Essa raiva que sente do animal faz com que o homem acabe enforcando o bichano. A partir daí, ele passa a ser perseguido pelo fantasma do gato. Ao decidir  adotar outro animal, com o tempo, descobre que passa a sentir  a mesma aversão. O novo gato tem a marca da forca em sua pelagem. História bem neurótica, não acham?
04 – Charles Bukowski (Crônica de um Amor Louco)
O hobby preferido desse contista e escritor de origem alemã e criado nos Estados Unidos era escrever sobre prostitutas, bêbados, mendigos e miseráveis. O sujeito vivia embriagado, se alimentava mal e dormia em quartos imundos de pensões de quinta categoria. Ganhava menos de R$ 200,00 pelos seus escritos, sendo explorado até a última gota pelos seus editores.
Quando criança, Charles Bukowski era constantemente espancado pelo seu pai por motivos fúteis. Na adolescência teve o seu rosto deformado por um tipo raro de acne, tornando-se motivo de chacota na escola. Com tantos problemas, o rapaz  resolveu fugir de casa e passar a viver em quartos de pensões. Neste período se entregou de corpo e alma as suas duas paixões: álcool e livros.
Repulsa, nojo, ódio, paixão e melancolia. Esses foram alguns sentimentos que inspiraram o autor alemão em sua obra, rejeitada no início, mas idolatrada ao final. Exemplo disso foram “Crônica de Um Amor Louco”, que passou de odiada e rejeitada na época de seu lançamento à amada e enaltecida, alguns anos depois.
05 – Henry Miller (Trópico de Câncer)
Henry Miller, por muitos anos foi considerado um escritor maldito. Seus livros foram taxados de obscenos e degradantes, sofrendo uma censura rígida, só sendo adquiridos clandestinamente.
“Trópico de Câncer”- sua obra-prima – lançado em 1934, sofreu dificuldades de distribuição, sendo banido em alguns países sob a acusação de pornografia. Depois dessa obra, ele continuou a escrever romances que foram proibidos de serem vendidos nos Estados Unidos sob a acusação de obscenidades. Miller já tinha ficado marcado como um escritor obsceno, um pornógrafo, por causa de “Trópico de Câncer” que foi repudiado na década de 30.
O reconhecimento ao talento de Miller só aconteceria 30 anos depois do lançamento de “Trópico de Câncer”. Na década de 60, suas obras que estavam censuradas foram liberadas e dessa forma, obteve grande sucesso, ganhando até mesmo, um memorial na Califórnia, onde morou.
Algumas de suas obras mais famosas que causaram grande impacto na sociedade, passando de malditas à adoradas foram “Sexus”, “Nexus” e “Plexus” que compõem a trilogia da crucificação encarnada; além de “O Mundo do Sexo”e “O Colosso de Marússia”.
Para que você tenha uma noção do poder de fogo de “O Trópico de Câncer”, basta citar que o governo brasileiro proibiu a venda da obra traduzida na década de 70, porém o livro continuou sendo vendido no País no original em inglês.
06 – D.H. Lawrence (O Amante de Lady Chatterley)
Escritor britânico que ganhou o estigma de maldito porque decidiu peitar as convenções estabelecidas e dar uma banana para o puritanismo inglês do início da século XX. Lawrence foi perseguido pela imprensa daquele período que taxou o seu livro mais famoso “O Amante de Lady Chatterley” como o mais imundo da literatura inglesa. Nem preciso disser escrever que essa obra foi expulsa a chibatadas das livrarias, se tornando uma verdadeira maldição para o seu escritor que passou a ser rotulado de pornógrafo.
O enredo desenvolvido por Lawrence explora abertamente o amor e o sexo, rompendo as convenções sociais e as relações de classe. O autor glorifica a alegria dos corpos durante o sexo ao narrar a história de Constance Reid, uma bela mulher que se casa com o aristocrata Clifford Chatterley, um oficial inglês. Logo após a lua-de-mel ele é chamado para uma das frentes de batalha da Primeira Guerra e retorna inválido, numa cadeira de rodas. Após a limitação física do marido, os desejos sexuais arrebatadores de Lady Constance Chatterley são satisfeitos pelo amante, Oliver Mellors, um dos empregados do solar dos Chatterley, tendo como cenário a Inglaterra conservadora do início do século XX.
Hoje, “O Amante de Lady Chatterley” é tido como obra-prima da literatura mundial, já tendo passado de mãos em mãos, de geração para geração. Um livro inesquecível...
07 - Nelson Rodrigues (Álbum de Família)
Quem disse que o Brasil não iria emprestar um nome para essa lista de escritores malditos? Vocês estavam pensando que apenas os autores europeus e americanos tinham direito a essa aura? Que nada! Nós temos um cara ‘trucão’ para competir com essa galera rebelde.
Estou me referindo ao mito Nelson Rodrigues, o cruel expositor das fraquezas humanas. E certamente, por isso, a sua obra tenha sofrido tanta censura por parte de governos ditadores e também dos leitores mais puritanos. Afinal, quem é que fica à vontade quando os seus piores defeitos são expostos de maneira nua e crua para a sociedade? E Nelson Rodrigues era mestre nessa arte. Ele conseguia através de seus personagens, expor as piores mazelas e os mais vergonhosos defeitos da sociedade brasileira. Com isso, muitos puritanos se sentiam os próprios personagens do nosso escritor maldito, como se fossem eles que estivessem ali nas páginas de um livro ou no palco de um teatro.
Tanto os livros quanto as peças teatrais de Nelson Rodrigues eram ‘violentas’ nesse sentido. Um verdadeiro tapa ‘sem luvas de pelicas’ na cara dos puritanos. Pra ser sincero, acho que um soco no rosto com direito a todos os dentes quebrados e lábios partidos cairia melhor.
Cara, não deu outra! A sociedade hipócrita daquela época juntamente com o governo milico caíram matando em cima de Rodrigues. Nasceria assim, o nosso ‘boca maldita’... o nosso escritor maldito.
Em “Álbum de Família” a ‘coisa pega’, mesmo partindo pelo lado freudiano, já que seria impossível uma família agir dessa maneira. Quando foi lançada, a obra escandalizou grande parte dos brasileiros, aumentando a fama de maldito do autor; mas atualmente é vista como um verdadeiro diamante lapidado. Neste livro, Rodrigues mostra o cotidiano de uma família aparentemente comum, formada pelo casal, os quatro filhos e a tia solteirona. A normalidade do clã, porém, logo é desmistificado para o público. Não há uma única personagem que não perca sua máscara em algum momento da peça. O incesto, grande tabu da humanidade, aparece aqui como uma das personagens principais. Glória, a filha, é apaixonada pelo pai; Edmundo, o filho, é apaixonado pela mãe; Guilherme, o primogênito, castrou-se para não ameaçar a virgindade da irmã, por quem ainda é apaixonado; Jonas, o pai... bem, Jonas, o pai... melhor deixar pra lá (rs).
Taí! Esse é o nosso grande Nelson Rodrigues. Vale ou não vale a fama de escritor maldito?
08 – Louis Ferdinand Destouches / L.F. Céline (Viagem ao Fim da Noite)
Só mesmo aquelas pessoas que colocam a arte acima de qualquer coisa, independente de quem a faça, para admirarem o francês, Louis-Ferdinand Destouches ou simplesmente L.F. Céline.
Que Deus o tenha, mas o sujeito era ‘podre’ em termos de moral e atitudes o que lhe garantiu, com um pé nas costas, o título de o ‘mais maldito de todos os escritores malditos’; mas um maldito dito com toda a raiva contida no peito, deixando de lado até mesmo a ortografia correta. Assim ó: “Mardito!!”. De novo; mas agora com a boca escancarada – ao extremo - e cheia de dentes (se ainda os tiver): “Marditoooooooo!!” Mas deixando o aspecto moral de lado, o sujeito era bom no que fazia, ou seja, na elaboração de sua arte. Bom não. Ele era ótimo, apesar dos seus escritos só terem recebido o reconhecimento merecido  décadas depois; à exemplo de outros escritores malditos. Talvez, porque as pessoas, naquela época, só levassem em conta as suas atitudes, passando assim, a desprezar a sua arte.
O escritor francês desempenhava as suas atividades jornalísticas na França quando a Alemanha nazista ocupou aquele país. Vocês pensavam que os alemães eram cruéis com os judeus? Então veja só os textos que Céline queria publicar: “É preciso matá-los todos, homens, mulheres, velhos e crianças, o mais rapidamente possível”. Arghhhhh!! Vou parar por aqui com as atitudes do francês. Por essa e por outras, ele foi rotulado com um festival de adjetivos “elogiosos”: de nazista a racista; passando por mentiroso, impostor, anti-semita e vingativo. Segundo a ótima reportagem de Edilson Pereira (aqui), L.F. Céline era tão radical que considerava Hitler um frouxo pelas suas atitudes anti-semitas!! Acho que ele queria um “negociozinho” mais quente, digamos assim.
Mas com relação à sua arte, não podemos negar; Céline era um gênio. A sua obra mais famosa foi “Viagem ao Fim da Noite” que é um grande retrato da loucura de toda uma sociedade, e não apenas de um homem só. O escritor francês revolucionou o romance tradicional com o seu vocabulário ao mesmo tempo vulgar e científico.
09 – Ana Cristina César (A Teus Pés)
Hã... hã! Pensaram que essa lista só teria “escritores”, não é?? Sinto dizer, escrever, mas se enganaram. Ana Cristina César a rainha da poesia marginal também faz jus a essa relação. Ela se matou em 1983, ao se atirar do sétimo andar do apartamento onde moravam os seus pais. Ana Cristina já estava muito deprimida e por isso, contava com a assistência constante - à domicílio - de um psicólogo. Inclusive esse profissional, juntamente com a empregada da família, foi testemunha da tragédia. Deve ter sido uma cena chocante, ver a escritora se encaminhar para a janela do edifício de maneira tranqüila e despretensiosa e depois se atirar do sétimo andar.
O suicídio dessa poetisa ainda é cercado de mistérios. Ao invés de bilhetes de despedida, ela deixou apenas poesias. Um detalhe que poucos biógrafos sabem é que Ana Cristina tinha acabado de voltar de uma viagem à Londres e estava muito deprimida, o que fez com que os seus familiares procurassem um psicólogo para lhe dar assistência. Antes, de se atirar do prédio onde morava, ela já havia tentado o suicídio se afogando no mar.
Podemos afirmar que Ana Cristina foi uma poetisa da época do mimeógrafo... da época da ditadura, quando esses artistas eram obrigados a procurar caminhos alternativos para distribuir as suas poesias, os seus pensamentos livremente, sem interferência de militares, torturadores e delatores. Naquele tempo, o mimeógrafo a álcool fazia sucesso, pois era através dele que os pensamentos desses poetas e escritores marginais ganhavam vida, chegando ao conhecimento de um grande número de pessoas.
Ana Cristina presenciou e viveu tudo isso, já que era uma dessas escritoras marginais.
Acredito que pela morte prematura e misteriosa e também por ter vivido com poetas marginais de seu tempo, Ana Cristina acabou ganhando o rótulo de escritora maldita. Um rótulo que não tem nada a ver com as suas obras que foram escritas num estilo bem cerebral, completamente diferente daqueles enredos proibidos e loucos que escandalizaram tantas pessoas ao longo de décadas passadas.
“A Teus Pés” foi o último livro escrito pela poetisa carioca, um ano antes de seu suicídio. Misturando prosa e poesia e gêneros de prosa (carta e diário), o livro possui poemas fragmentados, com uma linguagem íntima e confessional, que relatam o cotidiano de maneira construtiva e desconstrutiva.
10º - Roberto Saviano (Gomorra)
Fecho esse post da mesma maneira que abri: escrevendo sobre o autor que serviu de inspiração para o tema “Escritores malditos e suas obras malditas”. E não poderia ser diferente, já que tenho uma grande admiração por Saviano. Sua coragem e determinação em quebrar um tabu perigoso e mortal que é a máfia merece todo o nosso respeito.
“Gomorra” pode ser considerado um ‘livro-denúncia’ sobre a Camorra, como é conhecida a máfia napolitana. O tráfico de drogas e a extorsão são as atividades mais comuns desenvolvidas pela Camorra, passando pela prostituição, tráfico de pessoas, jogo ilegal, ameaças e chantagens. E Saviano – após uma pesquisa profunda – abriu as portas da máfia napolitana para o mundo, revelando segredos que vinham sendo guardados a sete chaves; segredos ligados à código de honra, administração das famílias, transações realizadas pelos altos escalões e muito mais.
Saviano disse que escreveu Gomorra porque lhe era impossível ficar calado. “Alguém tinha que fazer algo”, disse ele. De fato, ele fez algo, só que a partir daí ficou jurado de morte pela máfia.
Depois dessa ameaça confirmada pelo governo italiano, Saviano vive sob escolta permanente de cinco policiais, desde 13 de outubro de 2006. Ele muda constantemente de endereço e não frequenta lugares públicos, em virtude de ameaças de morte feitas pelos mafiosos. O escritor deixou de ter residência fixa; não atende telefonemas; não recebe ninguém, a não ser que essa pessoa tenha a sua vida inteiramente vasculhada por serviços de inteligência da polícia; além de se comunicar esporadicamente com os seus familiares, usando apenas SMS do celular. Em outras palavras: a vida do ex-jornalista e escritor italiano foi para o espaço. Uma definição correta seria: “morto em vida”.
Quer maldição pior do que essa? Se transformar num escritor milionário, sem poder usufruir de toda essa grana. Não é permitido nem mesmo, abrir a veneziana de uma janela, pois ele corre o risco de levar um tiro na cabeça disparado por um assassino de aluguel da máfia.
Espero que tenham gostado do post. Inté galera!!


14 comentários

  1. Teu melhor post.

    Abraço.

    gatosmucky.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Vlw Augusto;
    fico feliz que vc tenha curtido. Acho que as noites insones valeram à pena (rs).

    ResponderExcluir
  3. Olá! Encontrei seu blog através de uma busca por opiniões sobre o livro Tubarão, gostei bastante do teu estilo de escrita e de como se expressa. Já entrou para os meus blogs favoritos.

    Um abraço!
    Anna - Dose Literária http://www.doseliteraria.com.br/

    ResponderExcluir
  4. - Luiz Pacheco- escritor portugues dos tempos da ditadura

    ResponderExcluir
  5. só faltou H.P Lovecraft fora isso ficou foda

    ResponderExcluir
  6. excelente!
    só que voce chamou o Nelson Rodrigues de Nelson Rubens a certa altura do texto.

    ResponderExcluir
  7. ahuahaua!! Verdade!! (rss). Já reportei o erro.
    Thanks!!

    ResponderExcluir
  8. Li completamente tudo...mas faltou o maior rebelde/maldito de todos os tempos: Rimbaud.

    ResponderExcluir
  9. Amei seu post!!! Até fiz uma comprinha depois de ler tantas indicações interessantes... Acho que esse post merece uma parte 2 heim! bjao

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que legal Daniele! Estou feliz, mesmo. Que bom poder ajudá-la na sugestão de alguns livros. Qto a uma possível continuação do post é pra se pensar com muito carinho.
      Grde abraço!!

      Excluir
  10. Sinceramente, gostei do artigo. Mas, com todo o respeito, você precisa aprender a usar a crase, ou melhor, a não usá-la. Você sabe o que é crase? Pegue um livro de gramática e vá fundo nesse estudo. Depois, revendo o seu texto, verá que tenho razão. Mas, por favor, não me leve a mal, só quero ajudar.

    ResponderExcluir
  11. Charles Baudelaire,Arthur Rimbaud acho que faltam tbm

    ResponderExcluir
  12. Muito obrigado por isso!!!! Mto bom

    ResponderExcluir

Instagram