A Essência do Mal

16 agosto 2012

Talvez eu desagrade muitas pessoas que lerem esse post; pessoas que devoraram as páginas de “A Essência do Mal”, de Sebastian Faulks e... gostaram.
O livro foi cercado de “expectativas mil’ por causa das suas credenciais. Afinal de contas, depois de um verdadeiro morticínio contra 007 cometido por pseudo-autores que se auto-entitulavam os verdadeiros sucessores de Ian Fleming; familiares do escritor conseguiram dar uma bola dentro e convidaram um sujeito de peso para escrever uma nova aventura que marcasse as comemorações do nascimento de Ian Fleming. O sujeito de peso se chama Sebastian Faulks; um baita escritor! Para que você tenha uma idéia da capacidade de Faulks, basta citar que, em 2008,  ele foi considerado pela crítica especializada, o escritor britânico mais  conceituado da atualidade. Em 1995, foi nomeado Autor do Ano pelos British Book Awards com “O Canto dos Pássaros”, o seu quarto romance. Quatro anos depois, ele lançaria a sua obra prima: Charlotte Gray, que em 2001 daria origem ao filme “Charlotte Gray – Uma Paixão sem Fronteira”. Esta produção cinematográfica, impecável, com a talentosa Cate Blanchett, à exemplo do livro, arrancou elogios de público e crítica. Pois é, foi essa fera com credenciais de sobra que escreveu “A Essência do Mal”. E quer saber de uma coisa: o livro saiu uma porc... Ok, me desculpe; sendo mais ameno: foi uma grande decepção, pelo menos para mim. Olha, juro que queria escrever bem sobre o livro, queria mesmo, afinal de contas sou fã de carteirinha de 007 e vinha aguardando com ansiedade, expectativa, sofreguidão, desespero e isso e mais aquilo, o lançamento de “A Essência do Mal”. Também não era para menos, já que a obra iria marcar o centenário do nascimento de Fleming! Tinha de ser algo de primeira! Mas então, sai um James Bond amorfo, um capanga de vilão esquisito e sádico ao extremo, um vilão sem graça e uma Bond-girl... Bond girl? Onde??  Pra ser sincero, nem me lembro da personagem.
Culpa de quem? De Sebastian Faulks? Na realidade, ele é o menos culpado nesse ‘samba do crioulo doido’. A maior responsabilidade irresponsabilidade é dos herdeiros de Ian Fleming. Essa cambada de  gananciosos que não satisfeitos em concordar com a produção de filmes cada vez piores sobre o personagem, decidiram dar continuidade a publicação de livros escritos por ‘sucessores’ de Fleming.
A carnificina começou poucos anos após a morte do autor quando a Fundação Fleming, controlada por seus familiares, decidiu contratar outros escritores para seqüenciar o grande legado deixado, pensando é claro no faturamento, na mina de ouro que as histórias de Bond haviam se transformado. A partir daí foi lançado um turbilhão de livros, inclusive novelizações de filmes horrorosos que arrebentaram o agente inglês. Mas isso é assunto para um outro post. O tema agora é “A Essencia do Mal”. Essa  divagada legal que o blogueiro aqui cometeu, até que foi importante, para que você entenda a seguinte lição: em obras primas ou personagens lendários não se mexe, porque eles tem um elo de ligação muito forte com os seus criadores. Assim, a partir do momento que outros escritores decidem assumir a paternidade dessas obras primas ou personagens emblemáticos, eles estarão atirando no escuro e para todos os lados, pois os segredos da criação, composição, enfiam, da alma dessas histórias e personagens foram enterrados com os seus criadores. Resumindo foi isso que aconteceu com “A Essencia do Mal”.
Sebastian Faulks
Faulks até que tentou seguir a risca o estilo de escrita de Fleming; até que tentou criar um 007 semelhante ao original; até que tentou elaborar um vilão que se aproximasse dos emblemáticos Goldfinger, Dr. No, Rosa Klebb ou Blofeld; mas, não conseguiu.
O enredo de “A Essência do Mal” se passa na década de 60, em plena Guerra Fria. O vilão Dr. Gorner pretende iniciar um ataque terrorista contra a União Soviética, usando como arma um avião britânico seqüestrado. A culpa do ataque seria creditada à Inglaterra que, certamente, seria devastada por conta da retaliação do governo russo. Parte do plano acaba vazando e chega ao conhecimento do MI6 que envia 007 para investigar, de perto, Dr. Gorner e descobrir como o vilão pretende seqüestrar um avião em território inglês.
Dr. Gorner não é um vilão a altura do agente inglês. Deixe-me explicar melhor: ‘a altura o agente inglês criado por Fleming’; porque o 007 de Faulks é tão fraco quanto o vilão da história. Resultado: ambos se anulam, deixando o enredo sem sal e açúcar. O guarda-costas de Gorner, o chinês Chagrin não passa de um sádico, e chato ainda por cima! Devido a um experimento realizado em seu cérebro, o cara não sente dor e tem como hobby ficar enfiando espetinhos de madeira nos ouvidos de suas vítimas.
Fico pensando em Oddjob, o guarda costa de Goldfinger; aquele oriental forte e atarracado de chapéu côco com uma aba afiada e mortal.  Apesar de mudo, Oddjob tinha carisma suficiente para gerar tensão nos leitores. Quanto a Chagrin, não assusta ninguém; só gera um sentimento de repulsa e mau estar pelo seu sadismo.
Enfim, um livro que ficou devendo e muito nas comemorações do centenário de nascimento de Ian Fleming. Depois dessa frustração fiquei receoso de encarar o novo livro do agente inglês, dessa vez, escrito por  Jeffery Deaver, outro escritor muito competente, à exemplo de Faulks. Deaver é o autor de Carte Blanche..
 Enquanto o receio de uma nova decepção não me abandona, prefiro deixar de lado Carte Blanche e encarar outros livros...

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