A Corrente, passe adiante

10 agosto 2012
Perturbador e desesperador. Foi assim que defini “Poltergeist – O Fenômeno”, filme escrito e produzido pelo gênio Steven Spielberg e dirigido por Tobe Hooper, outro gênio criador do clássico “O Massacre da Serra Elétrica”.
Na época que assisti ao filme, estava com os meus belos e saudosos 21 anos e a cena daquela menina lourinha conversando com a TV fora do ar, durante a madrugada, me provocou calafrios. A coisa ficou pior quando a garota jurou para os seus pais que tinha alguém dentro do aparelho conversando com ela! O negócio degringola de vez quando aquela mão fantasmagórica sai da TV fora do ar!! Mas a tal da mão sai muito rápido do aparelho, quando ninguém espera; como uma cobra dando o bote. Cara, o coração do menino aqui – menino naquela época – quase parou. Se fosse hoje, a pressão subiria.
Ok, vamos lá... Em 2002, nos meus 41 anos, jornalista formado, trabalhando no meio há mais de duas décadas,  quando já havia ‘engolido’ e ‘vivido’ com vários sapos e pensava que nada surreal sem uma explicação lógica pudesse me influenciar; eis que... vem aquela Samara Morgan de “O Chamado” toda alquebrada, andando como uma múmia e rastejando como uma aranha para me quebrar joelho, clavícula, espinha e tudo mais.
Dez anos depois de Samara e três décadas depois da menina lourinha, eu já estava pronto para cantar de galo novamente. Nesse período já havia assistido, resistido e até mesmo dado risadas de muitas histórias arrepiantes, entre possessões, vodus, mortos-vivos, zumbis, etc e etc... Mas, logo, surge a tal Bruna, personagem do livro “A Corrente, passe adiante”, de Estevão Ribeiro. E pronto! Lá vem aquele terror que eu pensava que já havia dominado.
 Amigo, para que você tenha uma idéia dessa menina horrenda, basta dizer o seguinte: “Junte Samara mais a menina de Poltergeist - no momento em que ela conversa com os seres diabólicos da TV - que você terá Bruna. Outra “cosita” troque a TV de “Poltergeist” e de “O Chamado” pela tela do computador de “A Corrente, passe adiante” que você terá terror em dobro.
Estevão Ribeiro (escritor, roteirista e ilustrador)
O livro de Estevão Ribeiro fala de um hacker chamado Roberto Morate que, ao repassar um e-mail que recebeu de uma garota desconhecida, descobre que salvou a sua vida, mas por outro lado, condenou a sua alma e de todos que receberam a corrente. Explicando melhor: numa belo dia, Roberto que tem como profissão roubar senhas bancárias de incautos internautas, recebe um e-mail misterioso de uma garota que diz já ter morrido. Algo do tipo: “passe esse e-mail para outras sete pessoas e você terá muita sorte. Nem pense em mandar essa mensagem para lixeira. Se você apagá-la, em 48 horas eu irei atrás de você, onde estiver...”
Ok, se coloque no lugar de Roberto, o que você faria? Apagaria a mensagem? Tudo bem. Vamos supor que você excluísse a corrente para a lixeira, e imediatamente, ouvisse o sinal de seu computador lhe avisando da chegada de uma nova mensagem. Neste momento, você até já se esqueceu do suposto “trote virtual”, então a nova mensagem chega ‘rasgando’: “Eu não lhe avisei para não jogar a mensagem na lixeira!! Vou lhe dar uma nova chance de viver. Repasse, agora, essa corrente para outras sete pessoas se não irei atrás de você!! Vai querer contrariar a vontade de uma morta?”
Ehehehe.... Pergunto-lhe novamente: “O que faria? Mandaria a mensagem, mais uma vez, para a lixeira ou a enviaria para os endereços de sete amigos virtuais?”
Cara, esse foi o drama do Roberto. Mesmo pensando, ainda, se tratar de algum trote; aquele friozinho na base de sua espinha, o alertou que seria melhor ‘despachar’ a corrente. E foi o que fez.
Quer saber se o hacker se livrou do problema? A resposta é NÃO, e com todas as letras maísculas. A sua vida se transformou num verdadeiro inferno. Além disso, ele condenou outras sete pessoas a viverem um inferno pior do que o seu, já que a maioria optou por não repassar a corrente.
Aiii meus 21 anos!! Que medo essa lourinha me causou!!
Há passagens perturbadoras em “A Corrente, passe adiante”, todas elas envolvendo a personagem Bruna. Em uma delas, Jeremias, um pobre coitado que recebeu a corrente e decidiu apagá-la, percebe os breves momentos de sua vida passando na tela do computador numa seção de fotos que vai se abrindo, uma a uma, numa coluna de imagens. Uma imagem traz Jeremias olhando para o computador com uma expressão de espanto e horror; coisa que ele realmente fez há poucos segundos atrás. A outra imagem traz Jeremias esbarrando o cotovelo numa caneca que estava em cima da mesa do computador, derrubando-a no chão; algo, que de fato, aconteceu a pouco tempo atrás. E assim, o horrorizado internauta vai vendo as fotos na sequência até chegar na última; aquela que selará o seu destino. Cara, juro que fiquei incomodado com essa passagem do livro, tanto é que decidi parar a leitura, porque já era de madrugada, estava com a luz da sala queimada e blá, blá, blá, blá e mais blá, blá, blá e blá; enfim, tudo aquilo que já contei na introdução do post “A Tumba” de Lovecraft.
Bruna é o resultado da soma de Samara + a menina de Poltergeist
Outra passagem que me fez “tremer na rampa” foi a de uma colega do Roberto que estava namorando numa sala de bate-papo, quando de repente, todos os nicknames que estavam na referida sala vão saindo, deixando o espaço virtual completamente vazio, à exceção da menina que estava por lá namorando e conversando com as amigas. Quando ela percebe, um outro Nick entra na sala.... Adivinha quem? Será que eu preciso falar? A tal da diabinha Bruna!! E então começa o diálogo entre as duas que provoca calafrios.
Além dessas duas passagens, há muitas outras bem tensas e até mesmo chocantes, como a de uma bonequinha mais feia do que o c..... bem, esquece; que aparece, de uma hora para outra, na tela do computador, com um sorriso bizarro e induzindo um assustado policial a fazer gestos semelhantes ao seu, como se o internauta’ fosse a sua marionete. Brrrrrrrrrr....
Citei essas cenas para que os leitores entendam que todo aquele medo que os diretores dos filmes “O Chamado” e “Poltergeist” canalizaram para uma televisão; o autor de “A Corrente, passe adiante” canalizou para um computador. Se naquela época, muitos deixaram de assistir televisão sozinhos até altas horas da madrugada; hoje, com certeza, vários leitores que já tiveram a oportunidade de ler o livro de Estevão Ribeiro ficaram receosos de abrir aquelas correntes que entopem as nossas caixas de e-mails. E mais do que isso, ficaram receosos de zapear na net até de madrugada. Acredite, “A Corrente...” tem esse poder.
Enfim, um livro que impressiona e como já disse, incomoda e muito. Uma leitura obrigatória para os fãs do gênero terror. Se tivesse de encontrar uma definição para o tipo de terror criado pelo autor no contexto de sua obra, acho que o termo correto seria: visceral. Isso mesmo; o tipo de medo que vem do fundo das nossas entranhas; um medo desconhecido.
Ao ver os seus e-mails voce pode dar de cara com a Bruna!
Quanto aqueles que não botam fé que autores brasileiros tem capacidade para escrever histórias de terror; aconselho dar uma olhadinha na orelha de “A Corrente, passe adiante”, onde está a apresentação da obra e também do escritor feita por ninguém menos do que Aguinaldo Silva.
Considero Aguinaldo o cara mais “crica’ do meio artístico. Ele fala o que quer, critica quem lhe der na ‘teia’, dá declarações polêmicas sem se preocupar se fulano é grande ou pequeno... talvez por ser tão sincero, ele tenha conquistado a fama de chato. Mas, algo não podemos negar jamais: a capacidade, talento e profissionalismo desse fantástico autor de novelas, minisséries e escritor. E tenham certeza de que Aguinaldo Silva não faz nada obrigado ou por amizade. Portanto, para ganhar uma apresentação sua, de próprio punho, o sujeito tem que ser bom mesmo; e o Estevão Ribeiro conseguiu essa proeza.
Quanto ao Roberto Morate, fica aquela perguntinha no ar. Será que ele vai conseguir se salvar a si mesmo e também as outras sete pessoas que condenou com o envio da diabólica corrente? E quanto a Bruna? Qual a origem desse ser hediondo?.
Só lendo o livro.
Inté!


4 comentários

  1. Oi José, tudo bom? Parabéns pelo blog e pela resenha. Eu também aprecio os livros, principalmente aqueles do gênero Fantástico. Li recentemente "A Corrente" e também fiz uma resenha. Passe lá no meu blog e veja sobre o que eu escrevi do livro. Um abraço e sucesso!

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    Respostas
    1. Obrigado Angelo!
      Tbém visitei o seu blog e gostei muito. Não sabia que tinhamos uma editora especializada na publicação de antologias de jovens escritores brasileiros em início de carreia. Achei um projeto louvável; bom de fato.... Até me interessei pela antologia "Caminhos do Medo"... Os contos devem ser bem interessantes.
      Abcs!!

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  2. Claro, esqueci de informar o endereço do meu blog: geopraticando.blogspot.com. Aguardo a sua visita lá!

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