A Estrada para Gandolfo

22 junho 2012
Imagine esta situação: João Paulo II, o papa mais querido da história e amado por todos, sendo seqüestrado. Os criminosos conseguem ludibriar o forte aparato de segurança do pontífice e levá-lo para um lugar desconhecido onde o mantém refém. O preço do resgate: um dólar por cada católico existente no mundo.
Esta situação assusta não é mesmo? Errado. Pelo menos para o consagrado autor de livros de espionagem Robert Ludlum, criador da “Saga Bourne”. Guardadas as devidas proporções, e essas “devidas proporções” dizem respeito ao nosso saudoso João Paulo II, que não participa do livro, Ludlum fez desse enredo uma história leve e por incrível que possa parecer: engraçada. Isso, mesmo! Engraçada! Não estou delirando. O mestre dos romances de espionagem e contra-espionagem “da pesada”, com muitas intrigas, mortes, traições e violência, criou um enredo carrego no humor.
Em “A Estrada para Gandolfo”, o autor conta a história fictícia do espetacular seqüestro do também fictício papa Francisco I, o mais querido pontífice depois de João XXIII, este real. Vale lembrar que na época em que o romance foi escrito, 1975, Karol Woityla ainda nem sonhava ser chamado de João Paulo II. O papa naquela época era Paulo VI que sucedeu João XXIII em 1963, mas que nunca conseguiu alcançar a popularidade do seu antecessor. Por esse motivo, Ludlum resolveu “pular” Paulo VI e “pegar” João XXIII  para uma pequena ponta em seu livro.
A história do advogado atrapalhado Samuel Devereaux e de um general de meia idade aposentado e também ‘maluco de pedra’’, Mackenzie Hawkins,  que um dia resolvem seqüestrar o famoso Papa é hilariante. Mas não se enganem os leitores acreditando que o enredo só trás risadas e trapalhadas. Nada disso. Afinal de contas, a história foi escrita por um dos maiores autores de romances de espionagem do mundo e que num belo dia, sofreu uma recaída e resolveu escrever um “textinho” diferente, saindo da sua rotina de tiros, traições, mortes e espiões perigosos. Nasceria, assim, “A Estrada para Gandolfo”.  
A estória de Devereaux,  Mackenzie e Francisco I tem muito humor sim; mas também tem doses na medida exata de suspense, intrigas e porque não, espionagem; mas no final o que prevalece mesmo é o humor e aquele humor leve, gostoso que prende o leitor do começo ao fim, fazendo com que devore as páginas do livro rapidamente.
A sacada de Ludlum foi fantástica, daquelas que os escritores só tem uma vez na vida. Imagine só, o maior mandatário religioso do mundo sendo seqüestrado, com os seus algozes pedindo como resgate um dólar de cada um dos católicos espalhados pelo mundo afora. Não há como negar que se trata de um enredo que foge da rotina habitual. Não é para menos que o livro se tornou Cult em todo mundo, transformando-se num dos maiores sucessos literários do “pai” do perigoso espião Jason Bourne.
A trinca de personagens principais formada por Devereaux, Mackenzie e o papa Francisco I é divertida sem ser sem graça. Os dois seqüestradores vivem uma situação conflituosa, recheada de discussões. É o seqüestrado, o papa Francisco I, que acaba sendo o ponto de equilíbrio nesses conflitos, procurando sempre acalmar os ânimos do advogado atrapalhado e do major tresloucado.
Querem uma prova da falta de malícia de Devereaux e da loucura de Mackenzie? Está bem... basta dizer que o primeiro cometeu um dos maiores erros de investigação que o mundo já conheceu, ao acusar um inocente em vez do culpado!! A causa? É que ambos eram muito parecidos, além de serem primos e generais do exército americano. Essas semelhanças teriam causado uma certa confusão em Devereaux, dando um nozinho em sua cabeça. Quanto ao general Mackenzie, considerado um verdadeiro herói de guerra ‘recheado’ de condecorações e respeitado por todos os americanos, na realidade não passa de um cabeça dura e desequilibrado. Caso contrário, ele não teria destruído os órgãos genitais de um estátua sagrada na China e mijado na bandeira dos Estados Unidos. Após esses gestos, Mackenzie, seria preso na China e abandonado pelo governo de seu país.
Agora imagine o que acontece quando essas duas pessoas se encontram!! Pior do que isso: quando resolvem seqüestrar um líder religioso respeitado em todo mundo?!
O final do livro é do tipo “engana leitor”. Sabe aqueles enredos que vão sendo bem amarrados e que prometem caminhar para um final esperado? Novamente, esqueça. “A Estrada para Gandolfo” apresenta um final, digamos que pouco convencional e o responsável por essa reviravolta na história é ninguém mais, ninguém menos do que o papa  Francisco I.
Acho que vou parar por aqui, senão vou acabar ‘spoilando’ a obra de Ludlum o que seria um grande pecado.
Leiam; com certeza gostarão!

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