A Conquista da Honra

09 novembro 2011
No final da madrugada de 23 de fevereiro de 1945, um grupo formado por seis jovens fuzileiros navais ergueriam a bandeira norte americana no cume do Monte Suribachi, no Japão. A 2ª Guerra Mundial estava no auge e ainda longe de terminar, mas o ato de coragem daquele grupo de soldados serviu para elevar a moral dos combatentes norte americanos na ilha de Iwo Jima. Seria o primeiro passo, aliás, um passo muito importante, para que o exército americano vencesse os japoneses numa das batalhas mais sangrentas da história.
No momento em que os seis fuzileiros “cravavam” a bandeira de seu País nas entranhas do último “bastião” da resistência japonês, considerado por muitas pessoas até mesmo por grandes estrategistas militares ocidentais, um ponto inexpugnável, o fotógrafo estadunidense Joe Rosenthal – que acompanhava o exército aliado nesta batalha - gravava através de sua objetiva esse momento mágico.
A foto emblemática viria ser uma das mais reproduzidas em todo o mundo, se tornando a síntese da Segunda Guerra Mundial.
O livro de James Bradley, “A Conquista da Honra” revela todos os mistérios escondidos atrás dessa foto em preto e branco que se tornou o símbolo da vitória do exército aliado na batalha de Iwo Jima.
Li a obra de Bradley no começo desse ano e o motivo principal que me levou a comprar o livro foi a curiosidade, ou melhor, a imensa curiosidade em saber quem seriam aqueles rapazes com as mãos unidas no mastro da bandeira lutando para enterrá-la no solo do inimigo. Muitas perguntas e questionamentos foram ganhando “corpo” em minha cabeça. Será que eles já eram amigos antes da guerra ou apenas se conheceram no calor da batalha? Estavam naquele conflito sangrento contra a vontade ou felizes em “cumprir o seu dever”? Tinham namoradas? O que os levaram a tomar essa atitude? E principalmente, como foi a vida de cada um deles depois que a guerra terminou... será que todos eles sobreviveram as bombas e disparos dos japoneses em Iwo Jima? Nossa! Eu tinha tantas perguntas!
Foto famosa de Joe Rosenthal que correu o mundo
Fiquei surpreso ao ler as primeiras páginas porque, coincidentemente, os motivos que levaram Bradley a escrever o livro foram quase os mesmos que me levaram a ler a sua obra.  É importante destacar que James Bradley é filho de um dos seis soldados da foto emblemática: John Bradley, o paramédico do grupo. Ao descobrir que o seu pai era um daqueles seis homens, uma vontade quase incontrolável começou a nascer em seu coração: “conhecer toda a vida dos outros cincos heróis de Iwo Jima.
Após a morte do pai – que nunca havia tocado no assunto da guerra – James encontrou várias cartas e documentos que pertenceram ao seu velho e que puderam esclarecer muitas de suas dúvidas. Dessa maneira, começaria a nascer a idéia de escrever um livro que registrasse os  vários momentos da batalha desenrolada na pequena ilha japonesa de Iwo Jima e que foi fundamental para a vitória aliada. Um livro que resgatasse a história daqueles seis homens que conseguiram conquistar o Monte Suribachi.
Maquete da foto de Rosenthal com os nomes dos 6 fuzileiros
Ao saber dessa intenção do autor, não pestanejei um segundo sequer e corri para comprar o livro. Posso dizer com toda convicção que não me arrependi em nenhum momento.
“A Conquista da Honra” esclareceu todas as minhas dúvidas, não só com relação a vida dos seis soldados que se tornaram ícones da Segunda Guerra Mundial, mas também sobre os motivos que os levaram a escalar o morro do inimigo no meio de fogo cruzado para colocar uma bandeira dos Estados Unidos.
James Bradley foi honesto ao extremo, não escondendo “nada de nada” sobre a vida dos seis fuzileiros. Ele esmiuçou Ira Hayes, Franklyn Sousley, Michael Strank, Rene Cagnon, Harlon Block e o já citado John Bradley. Todas as qualidades e defeitos desses rapazes são colocadas à mostra, além da revelação de segredos que o governo americano vinha mantendo guardados a sete chaves durante a batalha em Iwo Jima, só sendo revelados tempos depois.
Foto tirada por um sargento - anterior a de Rosenthal -
que representa o momento exato que os fuzileiros
tomaram o Monte Surubachi
Para recompor a vida dos fuzileiros da foto, o autor foi em busca das pessoas, parentes e companheiros desses soldados que colaboraram com informações preciosas. Bradley telefou para prefeituras e xerifes das cidades em que os levantadores da bandeira haviam nascidos, solicitando pistas que o pusessem em contatos com os seus parentes e familiares. Dessa forma, após muitas viagens e sacrifícios, Bradley conseguiu descobrir a viúva, o irmão, o primo de cada um daqueles rapazes que haviam segurado e “fincado” o mastro no Monte Surubachi. E assim, foi nascendo o livro “A Conquista da Honra”.
Ao ler a obra de Bradley fui transportado décadas e décadas atrás, ganhando a oportunidade mágica de conhecer a infância e a adolescência de Ira, Franklyn, Michael, Rene, Harlon e John. Como foi o período de treinamento no exército. Como se conheceram. Como era o relacionamento dos seis. Os seus sonhos, as suas frustrações, os seus segredos. Tudo, absolutamente tudo foi despejado enquanto lia a obra.
Após o “hasteamento” da bandeira americana no “bastião” japonês, a batalha em Iwo Jima prosseguiu cada vez mais violenta e sangrenta culminando com a morte de três dos seis soldados. Bradley conta que o alto comando do exército americano, com a intenção de explorar o momento de fama dos outros três sobreviventes, que ganharam o status de heróis, optou por retirá-los do campo de batalha, preservando assim, as suas vidas. Mas essa atitude teve um preço: eles teriam de começar a trabalhar como relações públicas da guerra. Os Estados Unidos estava com o caixa baixo e precisava com urgência que os cidadãos estadunidenses comprassem os chamados “bônus de guerra” para abastecer o exército. Para isso, nada melhor do que usar os três remanescentes do Monte Surubachi para essa finalidade.Bradley conta em detalhes como cada um deles reagiu ao ser retirado da batalha para se tornarem simples objetos de exposição para os curiosos. Posso adiantar que Ira Hayes foi o fuzileiro que mais sofreu com essa decisão de seu País e assim, foi se destruindo aos poucos. Todos esse processo de destruição é acompanhado passo a passo pelo leitor.
Cena do filme de Clint Eastwood baseado no livro
de James Bradley
Mas “A Conquista da Honra” não se resume apenas ao relato sobre esses seis valorosos homens, mas também sobre a batalha na ilha japonesa, de um modo geral. O autor narra de forma nua e crua como foram os combates em solo japonês. Como as granadas e os disparos encerravam os sonhos daqueles jovens fuzileiros.
Enfim, “A Conquista da Honra” pode ser considerado um livro desmistificador sobre a Segunda Guerra Mundial, onde temos a oportunidade de desvendar vários segredos não só referentes a vida dos seis hasteadores da bandeira no Surubachi como também também da batalha de Iwo Jima, num todo... Inclusive, a história dos dois hasteamentos da bandeira americana no monte japonês. Você sabia que a foto antológica feita por Joe Rosenthal e que correu mundo não foi feita no momento que os soldados americanos conquistaram o Surubachi? A foto que documenta o momento exato dessa conquista foi feita por um sargento. Mas porque será que a foto desse sargento ficou esquecida no tempo, enquanto a de Joe Rosenthal conquistou o mundo além de ter ganho prêmios e mais prêmios? Tudo isso é desvendado no livro.
Leiam, vale à pena. Ah! Em tempo! O livro de Bradley foi transformado em filme por Clint Eastwood em 2006.
Inté!

Um comentário

  1. Infelizmente, em 2016 os Fuzileiros informaram que o soldado John Bradle NÃO PARTICIPOU na famosa foto. Quem está de fato ali é o soldado HAROLD SCHULTZ, falecido em 1995 aos 70 anos e que nunca tocou no assunto... Ou seja, mais um equívoco histórico corrigido, invalidando de certa forma o livro do filho de Bradley e, de certa forma, a realidade histórica do filme. Sim, isso é verdade. Bradley não estava lá.Fonte: https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/internacional/2016/06/24/exercito-dos-eua-confirma-homem-da-foto-em-iwo-jima-teve-identidade-trocada.htm

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