Clássicos da literatura ganham sequências pelas mãos de escritores desconhecidos – Parte II

25 junho 2011
Vamos prosseguir com a segunda parte do post sobre os herdeiros de escritores de sucesso que encontraram um meio de ganhar dinheiro fácil, nos últimos anos, contratando autores desconhecidos para continuar a obra do morto.
Robert Ludlum
Considero Robert Ludlum um dos mestres dos romances de espionagem. Prova disso é a trilogia Bourne composta pelos livros: “A Identidade Bourne”, “A Supremacia Bourne” e “O Ultimato Bourne”. Esta série de livros foi tão fenomenal que a indústria cinematográfica decidiu comprar os seus direitos para a adaptação de três filmes com o Matt Damon.
E para não fugir da velha rotina, lá estão os herdeiros, novamente, procurando alguém para continuar a obra do falecido pai, esposo, tio ou avô.
Dessa vez, os herdeiros de Ludlum foram mais felizes na seleção de um escritor para prosseguir saga do agente secreto Jason Bourne.
Eric Van Lustbader, sucessor de
Robert Ludlum
Penso que eles foram inteligentes na escolha porque o eleito Eric Van Lustbader, pelo menos conseguiu publicar uma obra de sucesso e que foi bem recebida pela crítica e também pelos leitores. Ele é o autor do romance “O Testamento” que mescla questões políticas e religiosas com pitadas de suspense. O livro chegou a ser comparado ao Código da Vinci, de Dan Brawn.
Outro exemplo que credencia Van Lustbader como o herdeiro ideal das histórias de Jason Bourne é que o livro “O Legado Bourne”, escrito por ele, já despertou o interesse da Universal que rapidamente adquiriu os direitos da obra para transformá-la no quarto filme da franquia Bourne.
4º livro do agente Jason Bourne;
este escrito por Lustbader
Estes dois motivos descritos acima me levaram a correr o risco de comprar “O Legado Bourne”, mesmo sem ter lido “O Testamento”. A obra está na minha pilha de livros á ser lida, por isso, ainda não tenho condições de opinar, mas pelo que os críticos e a maioria dos leitores disseram até agora, a história é muito boa. Tão logo termine a sua leitura farei a postagem do comentário neste blog.
Harold Robbins
A vontade de ganhar alguns dólares nas costas do falecido chegou ao cúmulo no caso do saudoso escritor Harold Robbins, famoso por seus romances que misturam sexo, traição e violência.
Robbins tinha o hábito de fazer várias anotações antes de escrever um livro. Era natural pegar uma folha de papel e rabiscar detalhes de alguns personagens, frações de enredos e assim por diante. Quando morreu, ele deixou várias dessas anotações que pretendia transformar em novos livros, futuramente.
A última mulher de Robbins acabou descobrindo essas anotações e após um “click” deve ter pensado: “porque não encontrar algum escritor e mostrar todas essas anotações para que ele as transforme em vários livros?” E foi assim que outro ilustre desconhecido chamado Junius Podrug entrou na história.
A viúva de Robbins fechou um acordo com o autor desconhecido, um velho amigo seu, que consistia no seguinte: Produg transformaria aqueles esboços em histórias completas mas, obrigatoriamente, o nome em destaque que apareceria no livro seria o de Harold Robbins. Quanto a Podrug teria um destaque ínfimo, em letras bem pequenas e logo abaixo do nome de Harold Robbins. E acreditem, Junius Podrug concordou!! A humilhação deve ter sido “engolida”, graças aos dólares que teria direito pela publicação da obra. Quanto a viúva herdeira de Robbins, ganharia a sua parte (a maior, diga-se de passagem) por não fazer simplesmente nada de nada. Afinal de contas, ela merece, pois foi esperta o suficiente para encontrar os esboços do marido, além de ter tido a idéia que pode ser considerada um verdadeiro golpe de mestre.
Livro escrito por Podrug, à partir das anotações
encontradas pela viúva de Harold Robbins
Os livros “Os Traidores” e “Sangue Azul” escritos por Podrudug, baseados nas anotações de Robbins, até que tiveram uma boa aceitação entre os fãs do veterano escritor que morreu em 1997.
J. D. Salinger
Sem comentários. Quando soube o que o autor sueco Fredrik Colting simplesmente “afanou”, “passou a mão”, “se aproveitou” – sei lá, entendam como quiserem – da obra “O Apanhador no campo de Centeio”, de J.D. Salinger, fiquei  P... da vida. Não é justo alguém utilizar personagens de uma determinada história sem autorização do seu criador. E foi isso que Colting fez. Tanto que quando soube do lançamento do livro, Salinger exigiu que ele fosse retirados das prateleiras. Começaria assim, uma longa briga judicial.
Mas falando da obra em si, posso dizer que agora estou respirando mais aliviado, pois por pouco não adquiri o livro numa biblioteca virtual. Estava ansioso para saber como aquele menino desbocado e ao mesmo tempo autentico de “O Apanhador No Campo de Centeio” tinha ficado na velhice. Mas antes de fechar a compra, resolvi acessar algumas críticas e me assustei com a rejeição do romance, tanto pelos críticos como pelos leitores.
O autor sueco, Fredrik Colting que escreveu a polêmica
continuação de O Apanhador no Cam,po de Centeio
O que li é que Colting simplesmente “matou” Holden Caulfield, agora na velhice, transformando-o num personagem chato, sem nenhum atrativo. E para piorar a situação, ele ainda transformou o autor de “O Apanhador no Campo de Centeio” em personagem de seu livro. Por essa, J.D. Salinger não esperava... ele deve ter ficado uma fera!
Capa do polêmico livro de Fredrik Colting
Ah.... escrevi, escrevi e acabei não revelando o nome do livro de Frederik Colting. Deu pra sentir como estou interessado nele. Anotem aí: “60 Anos Depois – Do Outro Lado do Campo de Centeio”. Como éí? Arrisca comprar?
Margaret Mitchell
A famosa autora de “E O Vento Levou” deve estar se remexendo na cova, rogando pragas em seus herdeiros que concordaram, após tantas décadas, em publicar a sequência do romance histórico que arrebatou multidões, provocando um verdadeiro frenesi nos leitores de todo o mundo.
Durante toda a sua vida, Mitchell resistiu ferozmente a qualquer idéia de continuação para seu livro. No entanto, em 1991, a escritora norte-americana, Alexandra Ripley publicou uma continuação autorizada pelos herdeiros de Mitchell para “E O Vento Levou”, um romance intitulado “Scarlett” que foi massacrado pela crítica. Maldição de Mitchel? Quem sabe? Quem mandou desrespeitar o último desejo da falecida...
Scarlett, a sequência de "E O Vento Levou" foi
massacrada pela crítica
“E O Vento Levou” teria ainda outra sequência autorizada pelos herdeiros do espólio de Mitchell, mas sem nenhuma relação com os personagens, enredo e cronologia da obra de Alexandra Ripley. “O Clã de Rhett Butler”, lançado em 2007 e escrito por Donald McCaig, narra a história a partir da perspectiva de Rhett Butler, desconsiderando totalmente Scarlett do enredo. Nem preciso dizer que a obra também foi um verdadeiro fiasco.
"O Clã de Rhett Butler", mais um livro
baseado na obra de Mitchell que se tornou
um grande fiasco
Pensou que parou por aí? Pois é, tem mais. Antes do lançamento de “O Clã de Rhett Butler”, em 2001, a escritora Alice Randall lançaria uma paródia não autorizada da obra, onde uma mulata, filha de um fazendeiro seria meia-irmã de Scarlett. A história é contada a partir do diário da mulata que faz revelações surpreendentes e apimentadas.
Depois do lançamento desses três livros só tenho uma coisa a dizer: “Coitada da Margaret Mitchell”...
J. M. Barrie
Nem mesmo o conhecido personagem infantil Peter Pan conseguiu escapar de uma nova sequencia. Criado pelo escritor escocês, James Matthew Barrie, o personagem ganhou várias adaptações e sequências, autorizadas ou não. Em 2006, a escritora inglesa Geraldine McCaughrean lançou "Peter Pan Escarlate", após vencer um concurso para escrever uma continuação oficial. O concurso, à exemplo da vencedora tiveram o apoio dos herdeiros do espólio de J.M. Barrie
Vou me eximir de fazer qualquer comentário sobre a obra, pois ainda não tive oportunidade de lê-la, e talvez nem venha a fazer isso, já que não faz parte da minha relação de obras preferidas. 
Capa do livro considerado a sequência
oficial de Peter Pan
Mas pelo que pesquisei, a história se passa 100 anos depois do enredo original criado por J.M. Barrie, onde Peter Pan, Wendy e os Meninos Perdidos na Terra do Nunca estão em busca do tesouro do Capitão Gancho, escondido no Monte do Nunca. Como na história original, eles usam a imaginação para inventar os inimigos e enfrentá-los, fazer aparecer comida e mudar tudo de acordo com sua vontade. Mas a estranha influência de um adulto chamado Sr.Novello deixa a história sombria e cheia de perigos quase impossíveis de superar.
O livro de 344 páginas foi lançado no Brasil pela editora Salamandra e teve uma vendagem satisfatória.
Por hoje é só!


Um comentário

  1. Umas das continuações que estou interessada pra ler é da Coleção "O Guia do Mocholeiro das Galáxias" do Douglas Adams, e que agora será escrita pelo Eoin Colfer, autor de Artemis Fowl... Pena que ainda não chegou ao Brasil,mas parece que esse ano vai!
    Tem tbm a assistente da Marion Zimmer que finalizou alguns livros da autora depois da sua morte, mas nesse caso coloco bastante fé, já que ela estava diretamente envolvida com o trabalho.

    ResponderExcluir

Instagram