Beijo,

06 abril 2011
Deliciosamente fantástico. É dessa maneira que defino “Beijo”, livro de contos do grande Roald Dahl. Devorei o livro em apenas três dias, mesmo estando entupido de afazeres profissionais. Pois é caro amigo, quando a obra é boa e nos prende a atenção, damos um jeitinho pra tudo. Corre daqui, corre dali, estica pra lá e pronto! O sacrifício vale a pena, porque o livro é bom demais. São 11 contos que exploram a literatura fantástica, escritos com um humor da porra. Me perdoem o palavrão é que sempre que falo desse livro me empolgo, pois as histórias não tem nada a ver com o gênero de terror macabro que envolve devassidão sexual, deformação do corpo ou então aqueles monstros gosmentos. Considero “Beijo” uma coletânea de contos fantásticos finesse, onde o absurdo não precisa recorrer aos artifícios que já citei acima para assustar ou causar surpresa ao leitor.
Não sei bem onde li certa vez que escrever histórias de terror é muito difícil; mas creio que mais difícil ainda é escrever histórias de terror com humor. E Roald Dahl consegue fazer isso com maestria em “Beijo”.
Um dos motivos que me prendeu ao livro - não o soltando por nada – foi o caos intermitente presente das histórias, ou seja, você começa a ler e quando tudo parece seguir para um determinado caminho, o caminho que o leitor espera; pronto; a história dá uma reviravolta que lhe deixa de queixo caído.
Ler os 11 contos de “Beijo” é como andar por uma estrada de madrugada, sem luar e na completa escuridão, não sabendo se o caminho que você segue lhe reserva uma curva, um buraco ou pedras. A surpresa sempre está presente, como no conto “Willian e Mary”, sobre uma mulher fumante que sempre é censurada pelo marido ao pegar um cigarro; até o dia em que ele morre e um amigo cientista opta por guardar o seu cérebro vivo em um pote. É a hora da reprimida viúva dar o troco.
Há outros contos deliciosos tendo sempre por base o humor e a surpresa, alguns recheados com muito terror, mas um terror sutil. Em “Geléia Real”, um bebê se recusa a amamentar e por isso os pais passam a alimentá-lo com a geléia que é o título do conto, um produto nutritivo de origem das abelhas que substitui o leite materno. Cara! O final é surpreendente!
No conto “O Prazer do Pastor”, Dhal nos ensina que querer levar vantagem em tudo nas custas de outras pessoas, principalmente das mais humildes, pode custar caro. O Sr. Boggis, personagem central da história, que o diga. Ele é um comerciante de antiguidades que se disfarça de sacerdote para pode aplicar o golpe nos incautos e inocentes moradores de um vilarejo. A maioria das casas desse local tem móveis ou peças antiguíssimas e de raro valor. E assim, ele vai comprando essas peças, enganando os moradores, e se enriquecendo. Sua sorte muda quando encontra uma família mais do que ingênua e tenta dar o golpe da sua vida e que lhe renderá milhões. Só que o tiro sai pela culatra. Dei muitas gargalhadas com esse conto. Coitado do falso sacerdote.
Mas o conto que mais me impressionou foi “Porco”, onde Dhal escreve sobre um garoto criado por uma tia vegetariana e que o alerta dos perigos de se comer carne. O menino cresce seguindo os conselhos da tia e quando a parente morre, ele vai para a cidade em busca de sua herança. O encontro do inocente jovem com o advogado golpista é outro momento cômico do livro. Depois disso, a história é puro terror. Quando o rapaz vegetariano pára em uma lanchonete e em seguida num frigorífico..... Grrrr. Só de lembrar... Depois que li esse conto, fiquei sem comer carne de porco por um bom tempo, aliás, ainda hoje, superado o trauma, toda vez que vou saborerar uma costelinha ou um leitãozinho penso no danado desse conto. Por isso, está feito o alerta.
Boa leitura! Com certeza vocês irão gostar.

Postar um comentário

Instagram